A formação de um ministro não pode ser tarefa exclusiva dos professores no seminário,

A eles devem se unir pastores experientes, que já atuam nos Campos

A educação teológica adventista, ou a formação para o ministério consiste na formação do caráter e a preparação para o desempenho da missão partilhada por Jesus Cristo à Sua Igreja, segundo Mateus 28. Esses objetivos podem ser melhor compreendidos e alcançados quando se estabelece uma sociedade entre os pastores e professores do seminário e os pastores conselheiros do Campo; incluindo-se aí o secretário ministerial ou um pastor de experiência sob cuja orientação o aspirante ao ministério é indicado para trabalhar.

Visão adventista

Como é a educação teológica na maior parte dos seminários não adventistas? A abundante literatura atual expõe a preocupação de que ela seja meramente funcional; uma tendência que, na verdade, não é nova. A ênfase funcional já estava presente, tanto na formação ministerial como em sua prática, nos dias do ministério de Ellen White. Em 1899, William R. Harper, um educador hebraico, fundador da Associação de Educação Religiosa dos Estados Unidos, e um dos fundadores da Universidade de Chicago, publicou seu chamado a uma exaustiva reforma na educação teológica.1 Para esse autor, a educação teológica deveria preparar o ministro para realizar um trabalho pastoral local efetivo.

Ellen White, contemporânea de Harper, propôs uma formação ministerial com alcance e visão muito maiores. No marco da filosofia religiosa da educação que caracterizou seus escritos, ela afirmou que a formação ministerial é um empreendimento que transcende os tempos, alcançando a eternidade. Também escreveu que os estudantes continuariam alunos por toda a eternidade.Portanto, a Sra. White concebia a formação ministerial como parte de um processo mais extenso da educação cristã; este último compreendido como sendo equivalente ao processo de salvação.3 De um modo mais específico, Ellen White escreveu que a formação ministerial obedece a dois objetivos principais: 1) A formação do caráter; e 2) o cumprimento da comissão evangélica.4

Tendo em vista que, para Ellen White, a educação é um meio para se alcançar um fim, e que seu fim não é outro senão o desenvolvimento do caráter, duas importantes implicações podem ser mencionadas. A primeira é que a formação ministerial não pode ser uma tarefa exclusiva dos professores de teologia.5 Esses professores, mesmo que possam iniciar formalmente a educação teológica e encabeçá-la por um período de tempo, ela transcende seus esforços e possibilidades reais.

A segunda implicação é que outros agentes qualificados poderiam somar-se à tarefa de formar ministros religiosos adventistas. Visionariamente, Ellen White propõe que pastores de experiência no campo de trabalho sejam os agentes que devem se associar aos professores de teologia nessa importante tarefa.6 Estamos falando de uma sociedade formal entre os dois grupos: pastores e professores. Talvez, essa seja uma forma efetiva de tomar realidade o desafio que a Sra. White assinalou para os seminários adventistas, no sentido de que o trabalho desses seminários seja diferente do que o que se observa nos seminários seculares.7

Razões para a sociedade

Que condições representam a justi­ficativa para a existência de uma socie­dade entre pastores e professores, em prol da formação ministerial? Existem pelo menos três razões para isso.

Primeiramente, observa-se que as si­tuações que levam um pastor a abando­nar o ministério, ou que redundam na retirada de sua credencial pastoral, ge­ralmente são assuntos relacionados com o caráter.

Depois, olhando desde outro ponto de vista, tanto os pastores do Campo como os do seminário se encontram na mesma escola de Cristo, em relação ao desenvolvimento do caráter.

Em terceiro lugar, essa sociedade é favorecida pelo fato de que existe um vínculo natural entre pastores e profes­sores do seminário. Tal situação é ex­plicada pelo fato de que, seguindo as instruções de Ellen White, os professo­res do seminário são oriundos do Cam­po, foram escolhidos tendo em vista possuírem uma significativa experiência cristã e ministerial.8

A sociedade entre pastores do semi­nário e os pastores conselheiros do Campo, em caráter de sugestão, deve­ ria ter o seguinte conteúdo:

  1. Faz-se necessária uma intencionalidade de pensamento e ação, que seja traduzida em contatos formais re­gulares, em uma agenda a tratar, nos conteúdos e atitudes a serem transferi­ dos aos aspirantes ao ministério.
  1. . Nas reuniões formais de estudo e oração, poderiam ser estudados o perfil de sua personalidade; o perfil do jovem pastor na sociedade atual; alcances e limitações das matéria do currículo do bacharelado, ca­racterísticas das práticas pastorais da missão experimental, etc.

Conselheiros e aspirantes

Do ponto de vista do desenvol­vimento do caráter, é possível des­tacar as seguintes considerações:

O que se busca não é um aspi­rante ao ministério à semelhança do pastor conselheiro, mas à se­melhança de Cristo. Isso requer humildade. O Espírito Santo é o grande motivador e o único capaz de transformar uma pessoa. O conselheiro facilita; não substitui a obra do Espírito.

Devemos lembrar que os hábitos e o caráter são de mais importância que as qualificações literárias,9 e que o que um indivíduo pensa é mais im­ portante do que o que ele faz.10

Tanto o conselheiro como o aspi­rante “estão conscientes de que os ca­racteres na Bíblia não foram apresenta­ dos como brilhantes ou isentos de de­ feitos. Os escritores bíblicos, sob a dire­ção do Espírito Santo, no-los apresen­tam com seus defeitos e virtudes.

Se um aspirante ao ministério é um projeto de Deus e da Igreja para os próximos 35 anos, então, os critérios pelos quais será avaliado não devem ser apenas resultados quantitativos, mas o conteúdo do seu caráter.

Outrossim, esta é uma sociedade que acontece em um marco familiar, no qual os pastores de vasta experiência recebem esperança e força dos jovens; e estes recebem sabedoria para viver a vida e desenvolver seu trabalho com vistas à glória de Deus e benefício da humanidade.

Trata-se de uma sociedade com projeções eternas, cujos sócios o serão por toda a eternidade. Mais que uma sociedade como a “lua de mel” do ca­samento, é a prática conjunta do ro­mance do ministério. Ali são retrans­mitidos os princípios de um ministério eficaz e eficiente. Uma sociedade tão forte que ocorre, não porque o aspirante confia no conselheiro, mas por­ que existe confiança mútua. É uma so­ciedade de tal natureza que vai além de simples cooperação, interdepen­dência e harmonia. Equivale à forma­ção do caráter de ambos.

Considerações práticas

A educação teológica básica (ba­charelado) é somente o ponto de par­ tida na formação ministerial. Quatro ou cinco anos de estudo no seminário habilitam um jovem para ingressar como aspirante ao ministério ou como pastor associado, sob a supervisão de um pastor conselheiro. Os requeri­ mentos para que os estudantes de teologia recebam uma completa preparação para o ministério, nestes anos iniciais, poderiam ser uma evidência de um conceito distinto do que foi divul­gado por Ellen White com respeito à educação teológica.

A disciplina é necessária para a alma humana. A obrigatoriedade é ne­cessária para a disciplina. O conselhei­ro facilita a decisão do aspirante ao ministério em relação ao dever de assumir uma determinada disciplina na vida.

O conselheiro assinala os efeitos per­niciosos dos maus hábitos sobre carac­teres geralmente bons. Uma única mos- ca pode fazer “o ungüento do perfumador exalar mau cheiro” (Ecl. 10:1).

Olhando sob uma perspectiva tríplice, as conquistas de um conselheiro na vida do aspirante ao ministério podem ser:

• Teológicas, ou seja, habilidade para aplicar a Palavra às situações da atualidade, tanto nos estudos bíblicos como nas pregações.

• Estéticas – sua apresentação pes­soal, higiene, personalidade da família. Mais importante que o rosto é a expressão do caráter cristão.

• Éticos, isto é, uma vida à seme­lhança de Cristo tanto na comunidade religiosa como na secular.

Outras conquistas mais impor­tantes são uma Bíblia bem marca­ da, estante com livros, sistema de arquivo, filhos pastoreados, esposa envolvida nas atividades da igreja, com prudência, discrição e tato.

O caráter do aspirante não apenas é a chave para a sua vida, mas também para seu trabalho.

A guerra entre o bem e o mal não o faz mudar de opinião a respeito do ministério, mas o leva a permitir que o Espírito Santo o transforme à semelhança de Cristo.

A formação ministerial adventista precisa de pastores e profes sores que, sob a direção do Espíri­to Santo, possam trabalhar pelo crescimento do ministério em geral, especialmente os jovens pastores; pelo desenvolvimento do caráter e uma participação cada vez mais eficaz e eficiente na missão de pregar o evange­lho de Jesus.

Referências:

  • 1. William R. Harper, American Journal of Theology, 1899, págs. 45-66,
  • 2. Ellen G. White, Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, pág. 413.
  • 3. Juan Millanao, An Evaluation of the Concept of Seminary in Mission with Reference to the Latin-American Adventist Theological Seminary, 1992, págs. 55-59.
  • 4. Ibidem, pág. 60.
  • 5. Se bem que Ellen White escreveu em 1912 que a quantidade de ministros no Campo dependería da quantidade de professores que pudessem preparar novos pastores, seu conselho quanto a conseguir um ministério mais preparado incluiu outros agentes, junto aos professores nos colégios.
  • 6. Ellen White, Obreiros Evangélicos, pág. 76.
  • 7. Idem, pág. 209.
  • 8. Ellen White, Testimonies for the Church, vol. 6, págs. 134 e 135.
  • 9. Idem, Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, pág. 77.
  • 10. Idem, A Fe’ Pela Qual Eu Vivo, pág. 222.