Autoridades em Confronto

  • 1. Os esquemas cronológicos da Torre de Vigia partem das seguintes datas estabelecidas historicamente: 539 A. C. (queda de Babilônia) e 537 A. C. (decreto de Ciro autorizando o retorno dos judeus a sua terra).
  • 2. De posse de tais dados, chegam a 607 A. C., supostamente o ano da desolação de Jerusalém por Nabucodonosor. A partir de 607 A. C. é que traçam um esquema que leva ao “ano marcado” de 1914.
  • 3. Os historiadores e obras citados em Certificai-vos de Todas as Coisas, capítulo “Cronologia”, como autoridades que atestam as datas acima:
  • A) The Encyclopedia Americana, Vol. III, p. 9 (ed. 1956), s/ queda de Babilônia em 539 A. C.
  • B) Jack Finegan, Light From the Ancient Past (publicação da Princenton Univ.), pp. 227-229 (ed. 1959), s/ queda de Babilônia em 539 A. C.
  • C) James B. Pritchard, Ancient Near Eastern Texts Relating to the Old

* N. R.: Este artigo é reprodução parcial de uma das seções da apostila, “O Desafio da Torre de Vigia”. Dita obra destina-se a um trabalho em prol das “testemunhas de Jeová”, muito ativas e prósperas ultimamente. Trará estudos bíblicos apropriados, além de uma coleção de 42 páginas fotocopiadas de livros raros da Sociedade Torre de Vigia, contendo fatos inéditos e comprometedores às suas pretensões atuais.

Testament (publicação da Princenton Univ.), p. 306 (ed. 1955).

  • D) Werner Keller, E a Bíblia Tinha Razão …  (S. Paulo, 1958), pp.

264 e 265 s/ retomo dos judeus em 537 A.C.

  • 4. Raciocínio para estabelecer 607 A. C como o ano da desolação de Jerusalém pelos babilônios e início do cativeiro:

“70 anos, contados para trás, desde o retomo dos judeus à Judéia em 537 A. E. C., até o tempo da desolação completa do país após a destruição de Jerusalém em 607 A. E. C.” — Certificai-vos de Todas as Coisas, p. 140.

Obs.: Referências fornecidas: Dan. 9:2; Jer. 25:11, 12; 29:10; II Crôn. 36:20, 21 e obras de Flávio Josefo.

  • 5. Contudo o testemunho unânime das mesmas autoridades citadas para atestar as datas 539 e 537 A. C., indicam 586 como a data correta para a desolação de Jerusalém, e não 607 A.C.:
  • A) The Encyclopedia Americana, Vol. XVI, (ed. 1959), p. 31, art. “Jerusalém” :

“Senaqueribe, o sucessor de Sargão, que destruiu Samaria em 722 A. C. e enviou as dez tribos para o exílio, marchou contra Jerusalém em 701 A.C.; mas ele não a conquistou. Mais de um século depois, quando o rei Jeoaquim de Judá rebelou-se contra Nabucodonosor, o exército babilônico ‘transportou a toda a Jerusalém, como também a todos os príncipes e a todos os homens valorosos. … E o rei de Babilônia estabeleceu a Matanias, seu tio, rei em seu lugar, e lhe mudou o nome em Zedequias, (II Reis 24:14, 17). Zedequias, porém, rebelou-se igualmente, de modo que Nabucodonosor retornou, destruiu Jerusalém e o templo e levou os judeus para Babilônia em 586 A. C.

“Quando Ciro da Pérsia conquistou Babilônia em 539 A. C., permitiu aos judeus retornarem a Jerusalém e reedificar o templo”.

  • B) Jack Finegan, Light From the Ancient Past, pp. 114 e 115:
  • ”7. O Novo Império Babilônico, 612-539 A. C.

“O Novo Império Babilônico logo teve de enfrentar um desafio do Egito. Em 605 A. C. o Faraó Neco marchou até o Eufrates. Nabopolassar enviou o seu filho, Nabucodonosor II, para enfrentá-lo e a batalha decisiva foi deflagrada em Carquemis. Neco foi derrotado e Nabucodonosor II perseguiu-o através da Palestina e até a fronteira do Egito. (Cf. Jeremias 46). Ali chegou a Nabucodonosor a notícia da morte de seu pai e ele apressou-se em voltar à pátria a fim de assumir o trono (605-562)”. (Ver também p. 188).

Obs.: a) De acordo com II Reis 25:8-22, foi no 19.° ano de Nabucodonosor que ocorreu o ataque decisivo dos babilônios a Jerusalém. Uma vez que Nabucodonosor assumiu o trono em 605 A. C., isso nos leva a 586 como o tempo da desolação de Jerusalém (605—19=586). Essa data, 586, é atestada pelos mais consagrados historiadores, como Jack Finegan, ao falar do início do reinado do herói babilônico em 605 A. C.

b) A verdade é que a “Sociedade” revela-se incapaz de indicar qualquer historiador ou obra de gabarito que dê apoio a sua data 607 A. C. para a desolação de Jerusalém.

  • C) James B. Pritchard, The Ancient Near East, An Anthology of Texts and Pictures, (publicação da Princenton Univ. — 1958), p. 205: “Nabucodonosor II (605-562)

“1) Dos documentos administrativos encontrados em Babilônia pode-se reunir agora alguma informação concernente à sorte de Jeoaquim, rei de Judá. Esses tabletes cuneiformes alistam entregas de óleo para subsistência a indivíduos que eram prisioneiros de guerra ou dependentes de outras espécies da casa real. São identificados pelo nome, profissão, e/ou nacionalidade” [II Reis 25:27-30, indicado ao lado].

Obs.-. Nessa obra ainda mais recente do autor J. Pritchard, com novos dados da Arqueologia, ele confirma que Nabucodonosor começou a reinar em 605 A. C. O contexto da passagem de II Reis 25 indicada (vs. 8, 9 e ss), revela que foi no 19.° ano de reinado que Nabucodonosor investiu contra Jerusalém, destruindo a cidade e o templo; portanto, em 586 infalivelmente.

  • D) Werner Keller, E A Bíblia Tinha Razão . . ., pp. 245, 246 e 248:

“… os recibos de barro babilônios continham como data o 13.° ano do reinado do rei Nabucodonosor, isto é, o ano 592 A. C.” (p. 245).

Obs.: a) Se o 13.° ano de Nabucodonosor corresponde a 592 A.C., o 19.° ano obviamente será 586 A. C.

b) Na página 242 desse livro há a confirmação de que Nabucodonosor ocupou o trono em 605 A. C.

“No ‘décimo mês’ (IV Reis 25-1) do mesmo ano de 588 A. C. — era ‘o nono ano’ do rei Sedecias — Nabucodonosor chegou de Babilônia com um exército poderoso. As forças punitivas avançaram com a rapidez do raio contra Judá rebelado. … [p. 246]

“Durante dezoito meses Jerusalém foi sitiada e heroicamente defendida. ‘E a cidade ficou fechada e circunvalada até ao undécimo ano do rei Sedecias’ (IV Reis 25-2).” [p. 248].

Obs.: Se o 9.° ano de Sedecias (Zedequias) foi 588, o seu 11.° ano correspondia a 568.

  • 6. Outras obras abalizadas (e muito citadas pela “Sociedade”) que confirmam a data 586 A. C. como a da desolação de Jerusalém pelos babilônios: The Enciclopaedia Britannica (vb. “Jews” — Vol. 13, p. 48); The International Standard Bible Encyclopaedia (vb. “Temple”, Vol. V, p. 2934); Dictionary of the Bible, W. Smith, pp. 445 e 768 (s/ Nabucodonosor, e Zedequias, respectivamente); The New Schaff-Herzog Enciclopedia of Religious Knowledge, Vol. XII, p. 501  (s/ Zedequias);

Collier’s Enciclopedia (s/ Nabucodonosor — Vol. 17, p. 270); C. W. Ceram, Deuses, Túmulos e Sábios, p. 384. (Ver também Harper’s Bible DictionaryDicionário da Bíblia de John Davis.

Passagens Sobre o Cativeiro Explicadas:

  • 1. Jeremias 25:11 e 12.
  • A) O texto simplesmente diz que as nações serviríam, por 70 anos, ao rei de Babilônia. “Servir” não implica necessariamente uma deportação e desolação da terra durante 70 anos (ver Jer. 27:8 e 11).
  • B) Comparando-se Jer. 25:1 e 27:3 percebe-se que a recomendação do profeta no cap. 27 foi feita depois do que consta no capítulo 25. As nações continuariam servindo ao rei de Babilônia sem serem afastadas de seus territórios.
  • C) Que Jerusalém não precisava estar em ruínas para que se cumprisse a profecia de servidão sob Babilônia, torna-se evidente por Jer. 27:16 a 22.
  • D) Em II Reis 24:1, no tempo da primeira invasão de Nabucodonosor em 605, já o rei de Judá teve de servir ao rei de Babilônia (ver Jer. 25:1; Dan. 1:1, 2; II Crôn. 36:7).
  • 2. Jeremias 29:10.
  • A) O capítulo começa informando (vs. 1 a 4) que o profeta enviou uma carta aos cativos já em Babilônia, e nela se mencionam indivíduos levados para lá em cativeiro na primeira investida de Nabucodonosor; antes, pois, da destruição de Jerusalém em 586 A.C.
  • B) Ao que parece, alguns estavam querendo livrar-se logo do cativeiro (vs. 8 e 9). O profeta, porém, lhes escreve reassegurando a duração do mesmo como sendo de 70 anos (v. 10). Deveriam ter paciência e esperar, conforme a Palavra do Senhor.
  • C) Evidentemente a carta foi enviada como confirmação das profecias anteriores (cap. 25:11, 12) e a dedução lógica é que o período de 70 anos já havia começado quando do seu envio.
  • D) Embora não esteja datada com precisão, a carta foi enviada quando Zedequias ainda ocupava o trono (v. 3). Portanto, em período anterior à destruição de Jerusalém em 586 A. C.
  • 3. Daniel 9:2.
  • A) É aos escritos de Jeremias, discutidos acima, que a referência de Daniel se aplica.
  • B) É significativo que Daniel (que fora levado em cativeiro na l.a invasão de Nabucodonosor, 605 A. C.) se refira às “assolações”, portanto usando o plural. Isso só pode referir-se às múltiplas investidas contra a cidade (II Reis 24:1-3, 12-17; 25:8-10; Jer. 52:30).
  • C) A palavra “assolação”, no hebraico, refere-se “àquilo que foi destruído em guerra, ou negligenciado” (cf. Kitto’s Cyclopaedia of Biblical Literature, ver Deserto). Após progressivas desolações do território e da cidade pelas invasões de Nabucodonosor, na primeira metade de seu reinado, as “assolações” foram completadas por posterior abandono da região durante uns cinqüenta anos.

Obs.: O próprio contexto do trecho de E A Bíblia Tinha Razão, citado em Certificai-vos de Todas as Coisas, p. 140, demonstra que o período de cativeiro referido deve ser considerado a partir de 587/586:

“É compreensível que, cinqüenta anos depois da deportação, nem todos aproveitassem a licença de voltar à terra de seus pais. Era uma empresa arrojada …” — Op. Cit., p. 264.

  • D) Os setenta anos, portanto, cumpriram, ou completaram, “as assolações de Jerusalém”.
  • 4. II Crônicas 36:21.
  • A) As palavras de Jeremias são, novamente, a base para compreender-se o texto. Já vimos que Jeremias não confirma a tese de que os 70 anos seriam de completa desolação. O cronista não iria contradizer o profeta.
  • B) O texto na versão Almeida fala que a terra repousaria até que se agradasse dos seus sábados. Tenha-se em mente que a transgressão do sábado foi um dos fatores para o castigo do cativeiro (cf. Jer. 17:19-27).
  • C) A passagem diz que a terra repousou por ocasião de sua desolação. Isso, porém, não implica que tal desolação seja de 70 anos (ver s/ Jer. 25:11 e 12). A servidão (tributo, cativeiros, etc.) durou, sim, 70 anos, mas a desolação da terra, entre 586 a 537/6, estava incluída dentro desse período.
  • 5. Interpretação judaica dos 70 anos de cativeiro:

“Enquanto os eventos que acabamos de descrever ocorriam na Judéia, os exilados levados por Nabucodonosor estabeleciam-se na Babilônia. Quando lá chegaram, já encontraram dois outros grupos de hebreus. Um era constituído de seus amigos íntimos e parentes: era o grupo que os babilônios tinham levado para o exílio no ano 597 A. E. C., onde anos antes da destruição total de Jerusalém”. — Salomon Grayze, História Geral dos Judeus (Biblioteca de Cultura Judaica), p. 57.

“No ano 516 o modesto Templo foi terminado. Tinham-se passado exatamente setenta anos desde que o Primeiro Templo fora destruído e cerca de vinte e um anos desde que o primeiro grupo de exilados retornara da Babilônia. Deve-se notar que os judeus continuam a contar setenta anos de Exílio babilônico, pois consideraram a reedificação do Templo destruído, e não o Edito de Ciro, como o evento que determinou o fim do Exílio”. — Ibid., p. 62.

“Desterro — (heb. galut). Tomado em sentido mais nacional que individual, aplica-se, tal termo, ao exílio babilônio que durou desde a destruição do Estado da Judéia em 586 A. E. C. por Nabucodonosor, até 538, em que Ciro autorizou o regresso dos judeus a Jerusalém, e em segundo lugar o exílio romano. …

“A tradição judaica conta às vezes a emigração de Jacó e seus filhos ao Egito como o primeiro exílio e considera que o segundo, ou babilônio, durou de 586 a 516 A. E. C., ou seja, até a reconstrução do Templo.

“A deportação babilônia realizou-se paulatinamente. O primeiro grupo de desterrados se compunha do infortunado rei Jeoaquim, sua família, sua corte, 7000 soldados escolhidos e mil artesãos (597). Em conseqüência de certas desordens, também os sacerdotes foram levados a Babilônia. A destruição de Jerusalém em 586 foi seguida da deportação de 40.000”. — Enciclopédia Judaica Castelhana, Vol. 3, pp. 463 e 464 (cidade do México, 1948).

Obs.: Segundo tais opiniões, portanto, o Templo, centro da vida religiosa judaica, definia o período de cativeiro. Enquanto desolado, representava a própria desolação nacional.

  • 6. Os 70 anos de cativeiro segundo o Prof. E. R. Thiele (citado como autoridade em Cronologia Bíblica no número de 8/11/1972, pp. 27 e 28, da revista Despertai!
  • A) A desolação do Templo não teve lugar numa simples e grande destruição. Igualmente, a sua restauração e o retorno dos judeus não se deram num único momento, mas transcorreram durante vários anos, a partir do decreto de Ciro em 537 A. C.
  • B) Jeremias profetizou por duas vezes um período de 70 anos de cativeiro.

Obs.: a) Sua primeira predição ligava-se ao começo da regência de Nabucodonosor em 605 A.C. (Jer. 25:1, 11, 12).

b) A segunda foi dada durante a regência de Zedequias, pouco antes da desolação de Jerusalém em 586, quando muitos, já estavam cativos em Babilônia, deportados em 605 ou 597 A. C. (Jer. 29:1-10).

  • C) A oração de Daniel dizia respeito fundamentalmente ao Templo que jazia desolado desde 586 A.C. (Dan. 9:17).
  • D) Em 537 A. C., quando os judeus retornaram após o decreto de Ciro, os fundamentos do Templo não haviam sido lançados (Esd. 1:1-3, 7-11 e 3:6).

Obs.: Somente no 2.° ano de seu retorno é que os judeus empreenderam a obra de restauração. Isto seria 535 A. C.

  • E) A obra só foi concluída no 6.° ano de Dario (Esd. 6:15) em 516, 70 anos após sua destruição em 586 A. C.

Obs.: Confirmação da data 516 A.C. para restauração do Templo pela própria Torre de Vigia: ver Toda Escritura é Inspirada por Deus e Proveitosa, p. 83, § 10.

  • 7. CONCLUSÕES:
  • A) Por uma questão de coerência, se certas autoridades em História são repetidamente citadas para confirmar certas datas, deverão ser aceitas quando assinalam outras datas próximas a tais.
  • B) Decorreram exatamente 70 anos desde o começo da desolação do templo por Nabucodonosor em 605, até o começo de sua restauração em 536/5 (Dan. 1:1; II Crôn. 36:5-7, cf. Esd. 3:8-12).
  • C) Houve também exatamente 70 anos desde a completa destruição do Templo em 586 A. C. por Nabucodonosor, até sua completa reedificação em 516 A.C. (II Reis 25:8-11, cf. Esd. 6:15).
  • D) Logo, o período de cativeiro deve ser datado primariamente desde o
  • l.° ano de Nabucodonosor, quando de sua primeira invasão a Judá (605 A. C.), e não quando em seu 19.° ano destruiu Jerusalém. Não obstante, a 2.a data (586 A.C.) também é válida para uma consideração do cativeiro cessando na restauração do Templo, conforme a tradição judaica e as conclusões do Prof. E. R. Thiele, indiscutível autoridade no assunto.

Obs.: Integra do artigo em que o ilustre autor adventista, Edwin R. Thiele, expõe documentadamente tais pontos de vista em O Atalaia de agosto de 1975.