Desde o princípio, o plano de Deus era unir as pessoas em laços de afeto e relacionamento humano. De acordo com a Bíblia, o vínculo mais significativo e íntimo é aquele experimentado no casamento. Apesar dos esforços do inimigo para destruir essa instituição sagrada, Deus a manteve e a protegeu, visando cumprir Sua vontade para a humanidade e oferecer às famílias um refúgio de amor. Embora muitas pessoas, em diferentes contextos, tenham se afastado dos ideais do casamento, a Palavra de Deus nos convida a resgatar e exaltar essa aliança como parte essencial de Seu propósito de restauração da humanidade.

O vínculo mais sagrado

Aqueles que planejam se casar devem estar cientes das implicações morais, sociais e espirituais do casamento, assim como de sua projeção eterna. Ellen White declarou: “Os que pretendem se casar devem avaliar o modo de pensar e observar o caráter daquele com quem desejam unir sua vida. Cada passo em direção ao casamento deve ser caracterizado pela modéstia, simplicidade, sinceridade e pelo firme propósito de agradar e honrar a Deus. O casamento afeta a vida futura tanto neste mundo quanto no porvir.”1

O casamento e a família são dádivas de Deus para a humanidade, representando uma expressão do Seu amor por Suas criaturas. A serva do Senhor escreveu: “O vínculo da família é o mais íntimo, o mais afetuoso e sagrado de todos na Terra. Foi designado para ser uma bênção à humanidade. E assim ocorre sempre que o pacto matrimonial é firmado de forma inteligente, no temor a Deus, e com a devida consideração de suas responsabilidades.”2 Apesar do tempo em que vivemos, marcado pela degradação moral e pela diversidade cultural, a Bíblia apresenta princípios permanentes estabelecidos por Deus para sustentar e governar o casamento. A Igreja Adventista sustenta que “o casamento, assim instituído por Deus, é um relacionamento monogâmico e heterossexual entre um homem e uma mulher. Assim sendo, o casamento é um compromisso vitalício público e legalmente válido que um homem e uma mulher fazem entre si e entre o casal e Deus”.3

União plena e duradoura

O compromisso do casamento é descrito nas Escrituras como uma aliança, ou seja, um pacto solene entre duas pessoas na presença de Deus (Ml 2:14; Pv 2:16 e 17). Assim como a aliança entre Deus e Seu povo, esse compromisso é caracterizado por sua permanência, obrigatoriedade e fidelidade mútua (Ef 5:21-23). A família e a comunidade são testemunhas desse compromisso de amor, reconhecendo que é Deus quem sustenta e protege essa união, destinada a durar por toda a vida (Mt 19:6). Inevitavelmente, a quebra dessa aliança solene traz sérias consequências para o casal, seus descendentes e a sociedade como um todo.

Preparação para o casamento

A preparação é fundamental para garantir uma união conjugal saudável e duradoura. Alguns aspectos fundamentais precisam ser considerados:

Aconselhamento: O aconselhamento pré-matrimonial é essencial para aqueles que desejam se casar. O casamento não deve ser feito às pressas, e a orientação necessária deve ser dada. O pastor responsável por essa tarefa pode preparar módulos abordando os temas mais relevantes sobre o casamento ou utilizar o Curso Para Noivos desenvolvido pelo Ministério da Família da Divisão Sul-Americana.

Requisitos legais: É necessário cumprir os requisitos legais em relação ao casamento, seja no cartório correspondente ou solicitando a presença de um responsável civil autorizado no local em que será realizada a cerimônia religiosa. Em alguns países, o casamento pode ter efeito civil e religioso, desde que isso tenha sido combinado com o pastor oficiante e com a igreja, e que o pedido de autorização correspondente tenha sido protocolado no registro civil correspondente.4

Requisitos eclesiásticos: Devem ser observados os seguintes aspectos:

1. Na cerimônia religiosa do casamento, a exortação, os votos, a oração e a declaração de casamento são realizados apenas por um pastor adventista ordenado.5

2. Os noivos deverão apresentar, antes da cerimônia, a certidão de casamento civil (se a cerimônia tiver apenas efeito religioso).

3. Espera-se que os noivos não estejam vivendo fisicamente juntos, pois a Bíblia apresenta uma ordem lógica que estabelece a bênção divina antes da união do casal (Gn 1:27 e 28; Gn 4:1). O noivado é reconhecido como um período preparatório para o futuro casamento.6 As práticas sexuais antes ou fora do casamento são consideradas uma violação dos mandamentos de Deus (1Co 6:18; Mt 19:9).

4. A Igreja Adventista do Sétimo Dia, de acordo com a Bíblia, não realiza casamentos entre pessoas de diferentes religiões (2Co 6:14 e 15).

5. A igreja não realiza casamentos nas tardes de sexta-feira ou aos sábados, devido às preocupações relacionadas aos preparativos e às atividades de celebração.7

6. Sobre o novo casamento, o Manual da Igreja afirma: “Um cônjuge que tenha violado o voto matrimonial e se tenha divorciado não tem o direito moral de casar-se com outra pessoa enquanto o cônjuge que permaneceu fiel ao voto ainda vive e permanece sem casar-se e casto. Se ele se casar, deverá ser removido do rol de membros. A pessoa com quem se casar, se for membro da igreja, também deverá ser removida do rol de membros.”8

7. Qualquer outra situação deve ser submetida, quando relevante, à Associação/Missão para análise.

Estrutura e natureza da cerimônia

Embora as diferenças culturais tenham integrado formas e símbolos específicos à cerimônia de casamento, a Igreja Adventista orienta que essa celebração siga uma ordem e estrutura coerentes, sem esquecer que, em alguns casos, também é necessário cumprir os protocolos estabelecidos pela lei. “Embora o casamento tenha sido realizado primeiramente por Deus só, sabe-se que as pessoas hoje vivem sob governos civis; portanto, o casamento tem dois aspectos: o divino e o civil. O aspecto divino é regido pelas leis de Deus; o civil, pelas leis do Estado.”9

Como em toda cerimônia cristã, o centro e objeto de adoração é sempre Deus. Ele deve ser honrado como o Autor e Mantenedor dessa sagrada união. O casal se apresenta para reconhecer a soberania de Deus e buscar Sua bênção. Os noivos são adoradores que, em reverência e gratidão, convidam sua família e amigos para celebrar na presença do Criador. Com essa abordagem, tanto os noivos quanto o pastor devem garantir que essa ocasião alegre reflita claramente os valores e princípios bíblico-adventistas.

Embora o programa possa conter várias partes, existem pelo menos quatro que são essenciais e constituem o centro da cerimônia. Essas seções devem ser dirigidas única e exclusivamente por um pastor ordenado.

Sermão e exortação: Uma mensagem clara e direta da Bíblia será necessária para que todos os presentes entendam a importância do momento. Essa mensagem não deve durar mais do que “cinco ou dez minutos e centralizar-se no plano de Deus para o casamento e a unidade da família, o amor de um para com o outro no casamento […]”.10 A “exortação” é o que o pastor diz ao casal após a mensagem bíblica e imediatamente antes dos votos matrimoniais.11

Votos: Podem ser pronunciados pelo pastor oficiante, e os noivos respondem afirmativamente, comprometendo-se diante de Deus a amar seu cônjuge por toda a vida. Os noivos também podem repetir os votos enquanto o pastor os apresenta, ou podem pronunciar os votos preparados com antecedência, conforme as orientações do ministro responsável.12

Oração: Essa oração pastoral deve, preferencialmente, ser realizada de joelhos, salvo em casos de impedimento justificado, pois representa um momento de profunda solenidade.13

Declaração: A declaração padrão que o ministro deve fazer seguirá a seguinte estrutura, dependendo de a cerimônia ter cunho legal e/ou religioso: “Pelo poder a mim concedido como ministro do evangelho de Jesus Cristo, e pela [jurisdição legal], declaro que [noivo e noiva] são marido e mulher, segundo a ordem de Deus e de acordo com as leis de [jurisdição legal]. ‘O que Deus uniu não o separe o homem’.”14

Planejamento

É recomendado que o ministro incentive a simplicidade e a economia na realização da cerimônia. Com a devida antecedência, o pastor e os noivos devem fazer planos específicos, preparando uma ordem definida para a cerimônia. Além disso, é fundamental que os princípios relacionados à música, vestimenta e alimentação sejam conversados previamente.

O ministro não deve atuar como coordenador do casamento, mas como o principal conselheiro. Muitos dos participantes de uma cerimônia de casamento não estão acostumados a estar diante de uma audiência e podem se sentir inseguros e nervosos. Um ensaio prévio pode reduzir significativamente as tensões e proporcionar maior segurança ao grupo envolvido na cerimônia. Em cooperação com o coordenador do casamento, será muito valioso reunir os participantes para organizar o processo, criar um senso de companheirismo e oferecer orientação espiritual.16

Em resumo

O apóstolo Paulo declarou: “Maridos, que cada um de vocês ame a sua esposa, como também Cristo amou a igreja e Se entregou por ela” (Ef 5:25). Nesse versículo, Paulo utiliza a imagem de um casamento para ilustrar o vínculo entre Cristo e a igreja; e usa esse relacionamento para fortalecer e exemplificar o vínculo matrimonial. Vejamos algumas características desse amor:

Amor sacrificial: É o amor que desafia o marido a amar sua esposa assim como Cristo amou a igreja. Esse amor não é apenas declarativo, poético ou enunciativo, mas envolve sacrifício, até mesmo o da morte.

Amor santificador: É o amor que santifica pela Palavra, pela verdade e pelo Senhor. Separado para um uso sagrado.

Amor protetor: É o amor que ampara, cuida e protege.

Amor fiel: É o amor que estabelece um compromisso de fidelidade. Somente Cristo garante o cumprimento fiel desse compromisso.

O casamento foi estabelecido por Deus no Éden e confirmado por Jesus (Mt 19:4 e 5) como uma união vitalícia entre o homem e a mulher, em companheirismo amoroso. Para o cristão, o casamento é um compromisso com Deus e com o cônjuge, devendo ser celebrado apenas entre um homem e uma mulher que compartilham a mesma fé. O amor mútuo, a honra, o respeito e a responsabilidade constituem a base desse relacionamento, que deve refletir o amor, a santidade, a intimidade e o compromisso duradouro que existem entre Cristo e Sua igreja.

Uma história de amor

Ida Blun nasceu em Worms, Alemanha, e era a quinta de sete irmãos. Em 1871, casou-se com Isidor Straus, com quem teve sete filhos. Em uma ocasião, ambos estavam na Europa e, originalmente, deveriam embarcar em outro navio, mas devido a uma greve no setor de carvão na Inglaterra, precisaram embarcar no Titanic. Na noite do famoso naufrágio, o casal estava próximo ao bote 8, juntamente com sua criada, Ellen Bird. Embora o oficial encarregado da embarcação tenha tentado convencê-los a subir no bote, Isidor se recusou a embarcar enquanto houvesse mulheres e crianças no convés. Ele encorajou sua esposa a embarcar, mas ela decidiu ficar com ele. Visivelmente, não havia espaço suficiente para os dois se salvarem. Com apenas um lugar disponível e diante do naufrágio iminente, ambos tentaram, impacientes, convencer o outro.

O amor fez com que cada um priorizasse o outro, e o amor fez com que nenhum quisesse se salvar às custas do outro. Ninguém conseguiu convencê-los. Segundo testemunhas, suas últimas palavras foram: “Vivemos juntos há quarenta anos; se não podemos continuar vivendo juntos, vamos morrer juntos.” E assim, abraçados, afundaram. O corpo de Isidor foi recuperado, mas o de Ida nunca foi encontrado. No cemitério de Woodslawn, no Bronx, em Nova York (EUA), há uma lápide localizada no mausoléu dos Straus, cuja inscrição diz: “As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios, afogá-lo” (Ct 8:7).

Valorize seu casamento, dedicando tempo, recursos e intencionalidade para fortalecer o vínculo com seu cônjuge. Lembre-se de que o casamento é um reflexo do amor de Cristo pela igreja e, como tal, deve ser cultivado com paciência, perdão e dedicação.

Bruno Raso, vice-presidente da Igreja Adventista na América do Sul

Josué Espinosa, secretário ministerial associado para a Igreja Adventista na América do Sul

Referências

1 Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021), p. 222.

2 Ellen G. White, O Lar Adventista (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021), p. 14.

3 Manual da Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2023), p. 166.

4 Divisão Sul-Americana. Requisitos Para o Casamento na IASD. Voto 2014-110.

5 Manual da Igreja, p. 170.

6 Manual da Igreja, p. 164.

7 Divisão Sul-Americana. Requisitos Para o Casamento na IASD. Voto 2014-110.

8 Manual da Igreja, p. 152, 153.

9 Manual da Igreja, p. 169.

10 Guia Para Ministros Adventistas do Sétimo Dia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010), p. 180.

11 Manual da Igreja, p. 200.

12 Guia Para Ministros Adventistas do Sétimo Dia, p. 181, 182.

13 Manual da Igreja, p. 166; 201.

14 Guia Para Ministros Adventistas do Sétimo Dia, p. 182.

15 White, A Ciência do Bom Viver, p. 222.

16 Guia Para Ministros Adventistas do Sétimo Dia, p. 176, 177.