Ellen G. White, Este artigo, que salienta a solene importância da obra do pastor, foi escrito enquanto a autora se encontrava em Basel, Suíça, e foi publicado originalmente na revista Review and Herald, em 22 de fevereiro de 1887, sob o título: “Nossa Sagrada Vocação.”

Vivemos num importante período da história deste mundo, e precisamos ter agora constante ligação com Deus. Os atalaias sobre os muros de Sião precisam ser vigilantes e fiéis. Os que pretendem transmitir as palavras do Senhor ao povo devem atingir a mais alta norma de elevação espiritual; então eles não darão ao povo suas próprias palavras. Cristo nos diz: “Aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração.” Os que aprendem na escola de Cristo vigiarão e orarão. Crerão que Deus os imbuirá de Seu Santo Espírito, para que não falem suas próprias palavras ao povo, e, sim, as palavras que o Senhor lhes der. Os homens que labutam para ganhar almas para Cristo terão intenso interesse de ser bem-sucedidos neste trabalho.

Não queremos perder de vista o caráter sagrado e peculiar desta missão de ministrar ao povo na palavra e na doutrina. A obra do pastor é falar ao povo as palavras da verdade — solene e sagrada verdade. Alguns adquirem o hábito de relatar anedotas em seus discursos, as quais têm a tendência de divertir a mente do ouvinte, removendo dela a santidade da Palavra de que estão tratando. Tais indivíduos deviam considerar que não estão transmitindo ao povo a palavra do Senhor. Demasiadas ilustrações não exercem uma influência correta; elas diminuem a sagrada dignidade que sempre deve ser mantida na apresentação da Palavra de Deus ao povo.

A ocupação especial do mensageiro comissionado por Deus é falar a verdade em toda a sua simplicidade e pureza. Se ele aprender na escola de Cristo, não depreciará seus discursos por meio de ideias irrelevantes e relatando anedotas. Deve considerar que se encontra entre o eterno Deus e as almas que perecem. É o dever do ministro do evangelho cultivar o senso de sua elevada e sagrada vocação e evidenciar que aprecia os privilégios e as oportunidades colocados ao seu alcance por meio do exemplo de mansidão e amor de Cristo, e deve refletir sobre os Seus sofrimentos e morte, para que possa apoderar-se desses privilégios. Nunca deve tornar-se pusilânime e sem vivacidade em seus esforços, mas prosseguir constantemente para o alto e procurar tornar-se melhor habilitado pela graça provida por Cristo. Não deve contentar-se em ser meramente um pastor comum, mas um instrumento polido nas mãos de Cristo. Deve procurar constantemente, por suas palavras, por seu procedimento e por sua piedade, elevar os semelhantes e glorificar a Deus.

A obra e como ela é realizada tem grande importância; portanto, realizá-la devidamente requer a mais alta cultura e pureza de alma. Todo pastor deve tirar o máximo proveito das inestimáveis oportunidades colocadas ao seu alcance, e ter grande e santa confiança em Deus. Deve aumentar, pelo uso apropriado, os talentos que lhe foram confiados, e então serão ampliados seus poderes para fazer o bem; e seu empenho especial deve ser ganhar almas para Cristo. Alguns fazem tão grandes esforços para exibir sua oratória que exibem a si mesmos e mostram sua própria habilidade, mas não exaltam a Jesus Cristo perante as pessoas. Alguns procuram ardentemente ser perspicazes na argumentação, mas não evidenciam diante das pessoas o amor e a graça de Cristo no coração. Não deixam a impressão nas pessoas de que têm uma solene mensagem de Deus para os homens e de que conhecem a Jesus Cristo.

É importante que o pastor tenha o espírito de Jesus. Seus ensinos devem mostrar que ele se alimenta de Cristo, que vive de acordo com toda palavra que procede da boca, de Deus; e, em sua familiaridade com a Palavra de Deus, instará, quer seja oportuno, quer não, a fim de trazer coisas novas e velhas do tesouro de Deus. Revelará que se acha imbuído de solene senso do valor das almas, e que perde de vista o próprio eu ao apresentar ao povo as sagradas verdades de Deus. Não dará a impressão de que está buscando fazer uma ostentação intelectual, e, sim, apresentar a Jesus Cristo, e Este crucificado, diante do povo. Todo aquele que procura expor as Escrituras aos outros deve ter um senso permanente de sua responsabilidade para com Deus e compreender que se encontra diante de uma congregação de almas com quem terá de encontrar-se novamente no Tribunal de Cristo, e que sua mensagem será um cheiro de vida para vida ou de morte para morte. Apresentai diante de vossos ouvintes, em linguagem simples, as reivindicações da lei de Deus sobre os homens, enquanto vosso próprio coração é abrandado e enternecido por Seu Espírito. Esta é nossa mensagem. Deus deu ao homem Sua regra de vida em Sua santa lei, para orientar e controlar-lhe as palavras e ações. Esta lei não admite neutralidade. Ela tem relação com a vida de todo homem, e não abrandará sua autoridade enquanto cada caso não tiver sido decidido para a vida eterna ou para a perdição.

Se os ministros da Palavra se lembrassem de que terão de encontrar todo ouvinte individual perante o tribunal do Céu e prestar contas a Deus pela maneira em que sua missão tem sido realizada, e pelo motivo e espírito que têm incentivado suas ações, haveria um ministério mais elevado. Esta é uma responsabilidade de que os mensageiros da verdade não podem eximir-se, e o pastor que tem o senso da elevada natureza de sua obra, pode muito bem perguntar com Paulo: “Quem… é suficiente para estas coisas?” Sois um espetáculo para o mundo, para os anjos e para os homens. Os anjos se compadecem dos obreiros em suas responsabilidades, e vós, obreiros, não quereis cultivar ideias corretas de vossa elevada vocação e sagradas responsabilidades? Poderieis ficar desesperados se não fosse a evidência e certeza de que vossa suficiência vem de Deus. O encargo que Paulo deu a Timóteo é o encargo que é dado a todo aquele a quem Deus enviou para labutar na grande seara. “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus que há de julgar vivos e mortos, pela Sua manifestação e pelo Seu reino; prega a Palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de evangelista [isto significa muito mais do que o simples sermonar], cumpre cabalmente o teu ministério.”

Ministrar abrange muito mais do que meramente pregar. A fim de cumprir esta sagrada e importante obra repleta de interesses eternos, o pastor precisa ser um homem de piedade vital, senão seus labores não serão aceitos por Deus. Tem de ser um homem que não tenha elevada opinião de si mesmo ou de sua própria capacidade, mas perca o senso de sua importância na eleva

da concepção que ele tem da incomparável misericórdia e amor de Jesus Cristo. Anda então bem perto de Deus. Sua vida de piedade e verdadeira santidade que ele leva consigo aonde quer que vá e que está entretecida em todas as suas obras torna-o um obreiro bem-sucedido e eficiente. É colaborador de Jesus Cristo, e é fiel na obra que lhe foi designada como Cristo foi fiel em Sua obra. Por palavra e ação, não exaltará a si mesmo, mas falará de Cristo em suas conversações; orará a Cristo e pregará a Cristo. Esta é a espécie de ministério que prova que o obreiro foi chamado e escolhido por Deus para Sua sagrada obra. Em todo discurso Cristo é apresentado e exposto entre eles, não meramente na repetição de palavras, mas no profundo fervor do espírito; e a influência divina que acompanha a palavra dá prova cabal de seu ministério. Apenas sermonar não fará isto. É o espírito da labuta fora do púlpito que atesta o verdadeiro caráter do obreiro. A obra especial para este tempo precisa ser efetuada entrando em contato com as pessoas por meio do esforço pessoal; é a revelação de Cristo no profundo interesse demonstrado pelas almas daqueles por quem Cristo morreu. A piedade habitual que acompanha o obreiro cristão causará sua impressão, e o pastor não achará que é suficiente por si mesmo. Com frequência se encontrará em oração, derramando a alma, como seu Mestre fez antes dele, com forte clamor e lágrimas. Então suas súplicas fervorosas e constantes o aproximarão de Deus. Viverá como se estivesse na luz de Sua presença. Seu procedimento e sua conversação quando está com os outros estarão voltados para o mais alto interesse da alma dessas pessoas. Levará os indivíduos a um lugar à parte, conversará e orará com eles; e é esta espécie de trabalho que será muito bem-sucedida.

Oh! há grande necessidade, por parte dos obreiros desta Causa, de ardente e profundo amor pelas almas daqueles pelos quais eles trabalham! Deus requer mais de Seus servos do que estes Lhe dão. Alguns formam o hábito de apresentar argumentos pelos quais obtêm um conhecimento superficial da verdade. Têm um conjunto de alguns discursos doutrinários e não almejam algo mais elevado. Não buscam familiarizar-se com as Escrituras, estudando as profecias para que possam manuseá-las em todas as ocasiões e em todos os lugares. Não têm no coração o Cristo que vive e permanece, e, portanto, não gostam de demorar-se sobre os ensinos práticos de Cristo. Em vez de dar prova cabal de seu ministério, revelam ter apenas conhecimento restrito da verdade. Desconhecem tanto as Escrituras como o poder de Deus. Não passam tempo em meditação e oração. Não estão familiarizados com as atuações do Espírito de Deus. Não oram nem vigiam em oração. Mantêm Cristo afastado de sua vida. Seus discursos são insípidos, sem vida, sem Cristo, e tão destituídos dos elementos vitais como a oferta de Caim, na qual não estava expresso o Redentor do mundo e a eficácia do sangue de Cristo.

Jesus não é pregado em muitos dos púlpitos hoje em dia. É pregada toda e qualquer coisa, menos a Cristo, pela simples razão de que o pregador não está familiarizado com Cristo. Alguns têm o costume de estudar diversos autores, pensando que isto os ajudará grandemente em seus discursos. Adulam a si mesmos, supondo que têm um discurso muito intelectual, e talvez seja assim; mas o rebanho não é alimentado com o pão da vida; a manjedoura é colocada fora de seu alcance. O que o mundo e as igrejas necessitam hoje em dia é da pregação do sangue de Cristo e da virtude de Sua expiação, e de que lhes seja ensinado o que constitui pecado e de que o espírito de Cristo seja entretecido em todos os seus trabalhos. O que o mundo necessita hoje em dia é saber o que precisam fazer para ser salvos. Há muitos discursos interessantes e agradáveis que o orador considera um grande êxito, mas não são registrados desse modo por Aquele que pesa tais discursos nas balanças do Santuário e declara estarem em falta. Falta o único elemento que poderia torná-los um sucesso — Jesus, a Luz do mundo.

Há necessidade de mais fervente oração, do coração do obreiro, pela bênção divina, antes que ele se aventure a falar ao povo. Quando o coração está em paz com Deus, quando a luz do Céu ilumina a alma, os lábios certamente proferirão as palavras de Cristo, apresentando os méritos do sangue de um Salvador crucificado e ressurreto. A atmosfera do Céu circundará o orador, e as almas sentirão realmente que estão assentadas nos lugares celestiais em Cristo Jesus. Não há um assunto mais necessário do que ensinar às pessoas, por preceito e exemplo, verdadeira piedade, fé e amor em Jesus Cristo. A maior parte do povo é mais ignorante do que muitos supõem. Precisam ser instruídos regra sobre regra, e preceito sobre preceito, no tocante ao que devem fazer para ser salvos. Diplomados em colégios e pessoas nas esferas mais altas da vida, oradores eloquentes, hábeis estadistas e homens em elevadas e importantes posições de confiança têm dedicado as faculdades de seu ser e de seu intelecto a outras questões, em detrimento das coisas de maior importância para eles. Não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus. Quando tais homens são vistos na congregação, o orador geralmente se esforça ao máximo para pregar um sermão intelectual, e é escolhido um assunto que terá o menos possível da simplicidade da autêntica religião bíblica e de sincero serviço a Deus. Eles não pregam a Cristo. Não definem que pecado é a transgressão da lei. Raramente tornam claro o plano da salvação. Raramente declaram o que precisamos fazer para ser salvos. O que teria tocado o coração das pessoas cultas, dos homens em posições de responsabilidade, teria sido mostrar-lhes a Cristo sobre a cruz do Calvário, para colocar a redenção ao seu alcance. Deve-se-lhes ensinar, como crianças, a tornar a Jesus seu amigo, a introduzi-Lo no trabalho de sua vida.

Os pastores precisam ter uma maneira mais clara e simples de apresentar a verdade assim como é em Jesus. Sua própria mente precisa compreender mais plenamente o grande plano da salvação. Então eles podem desviar a mente dos ouvintes das coisas terrenas para as espirituais e eternas. Há muitos que desejam saber o que precisam fazer para ser salvos. Querem uma explanação clara e simples dos passos requeridos na conversão, e não deve ser proferido um sermão sem que uma parte desse discurso esclareça especialmente a maneira pela qual os pecadores podem dirigir-se a Cristo e ser salvos. Devem apontar-lhes a Cristo, como João o fez, e com comovente simplicidade, e com o coração imbuído do amor de Cristo, dizer: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” Fortes e fervorosos apelos devem ser feitos ao pecador para arrepender-se e converter-se. Os que negligenciam esta parte da obra precisam converter-se eles mesmos antes de aventurar-se a fazer um discurso. Aqueles cujo coração está repleto do amor de Jesus e das preciosas verdades de Sua Palavra conseguirão tirar do tesouro de Deus coisas novas e velhas. Não terão tempo para relatar anedotas; não farão esforço excessivo para tornar-se oradores, voando tão alto que não possam levar o povo consigo; mas, em linguagem simples, com comovente fervor, apresentarão a verdade como é em Jesus.

Precisamos de piedade vital a fim de ensiná-la a outros. Os que vivem a religião de Cristo darão vivo testemunho de Jesus. Dos tais Cristo diz: “Vós sois as Minhas testemunhas.” Temos uma verdade sagrada e santificadora a apresentar a um mundo descrente e contestador. Temos fiéis testemunhos de advertência a serem dados ao mundo, e só podemos alcançar as pessoas por meio de Deus. Devemos introduzir a santificadora influência da verdade em nossa própria vida diária, e Deus nos habilitará para a obra de despertar a consciência entorpecida e embotada dos pecadores. Não devemos ficar satisfeitos enquanto os ouvintes não tenham o coração traspassado pelas poderosas convicções do Espírito de Deus, de sua culpa e pecaminosidade, e, sob o senso de seu perigo, exclamem: “Que farei para ser salvo?!”