Os anais da história humana estão repletos de exemplos de homens que se tornaram líderes da melhor qualidade. Um, dentre esses, foi Moisés, citado na Bíblia como um homem que marcou profundamente a vida do grupo sobre o qual liderou – os hebreus.
Moisés levava uma vida comum, pacata, nas terras de Mídia, quando recebeu o chamado de Deus, para libertar Seu povo das amarras do cativeiro egípcio. “Vem, agora, e Eu te enviarei a Faraó para que tires o Meu povo, os filhos de Israel, do Egito”, disse-lhe o Senhor (Êxodo 3:10). Tamanha incumbência o deixou supreso e perplexo. Ele não possuía dotes extraordinários inatos. Consciente dessa realidade, tentou argumentar com Deus: “Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel? … eu nunca fui eloqüente, nem outrora, nem depois que falaste a Teu servo; pois sou pesado de boca e pesado de língua.” (Êxodo 3:11 e 4:10).
Apesar disso, ou por causa de tudo isso, Deus lhe concedeu qualidades que foram desenvolvidas no exercício da liderança.
Delegação de responsabilidades
Desde o início, Moisés procurou orientar-se por uma visão que ultrapassava os limites do imediatismo, interpretando sua função não como uma tarefa qualquer, mas como uma verdadeira e sagrada missão.
Exemplo de paciência, cheio de confiança, ânimo e entusiasmo, ele transmitia tais sentimentos nos momentos de crise. Com tato e diplomacia, sabia administrar muito bem os conflitos internos e externos de seu grupo. Colocava-se como consultor para as decisões importantes e, nessas ocasiões, mostrava-se humilde e sábio o suficiente para aproveitar a experiência dos mais velhos unida à pujança dos mais jovens.
Moisés garantia as normas básicas que deviam orientar sua “congregação”, mas aceitava mudanças que enriqueciam as relações entre os seus membros. Sua postura ética era respeitada por todos.
Aconselhado por seu sogro, Jetro, e sob a orientação divina, aceitou nomear auxiliares, dividindo com eles suas pesadas responsabilidades: “Procura dentre o povo homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; põe-nos sobre eles por chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinqüenta, e chefes de dez, para que julguem este povo em todo tempo. Toda causa grave trarão a ti, mas toda causa pequena eles mesmos julgarão; será assim mais fácil paia ti, e eles levarão a carga contigo.” (Êxodo 18:21 e 22).
Dessa maneira, o grande líder coordenava a ação de todos em sintonia com um planejamento global.
Na qualidade de líder máximo, o apoio de Moisés ao grupo era sempre benéfico. Sua preocupação principal era levá-lo a alcançar as metas estabelecidas. Mostrava que as conquistas do grupo exigiam o esforço e a participação de todos, deixando bem claras as regras fundamentais a serem seguidas.
Para Moisés, as mudanças aconteciam quando as pessoas eram intimamente convencidas de sua importância. Nenhuma mudança externa pode ser incompatível com as convicções pessoais. O que uma pessoa crê está intimamente ligado com o seu modo de agir.
Uma preocupação mais estava sempre presente na mente de Moisés. E esta era relacionada com a formação e o desenvolvimento dos novos membros, responsabilidades que ele colocava nas mãos dos auxiliares mais experientes. Atraía o respeito de cada um, procurando manter num plano elevado o sentimento de estima própria, entusiasmo e otimismo de cada pessoa. Acima de qualquer coisa, ele colocava o bem comum.
Por tudo isso, e muito mais, Moisés acabou sendo imortalizado na memória do povo judeu.
Modelos que se repetem
A lei da vida é aplicável a todos os indivíduos. Ela determina, às vezes, a mu-dança de homens em qualquer ramo de atividade. Quando isso se faz necessário, na indicação dos traços que devem caracterizar os líderes candidatos a algum posto, numa instituição ou numa igreja, a extraordinária figura de Moisés não pode ser esquecida, como padrão do líder. Quem quer que seja encontrado na contingência de assumir uma função de liderança. deve espelhar-se em Moisés, aprendendo de suas virtudes, seu caráter e comportamento. A imitação desse modelo tornará o líder moderno capaz de enfrentar, com êxito, os desafios que lhe estão reservados.
Hoje, a velocidade das transformações exige líderes dotados de agilidade, abertos ao diálogo, inteligentes, atualizados e dispostos a acompanhar as mudanças da época.
O acesso cada vez mais rápido às informações bem como as oportunidades de desenvolvimento pessoal, conferem uma autonomia também crescente às congregações, que começam a substituir certos modelos de liderança heróica por aqueles de liderança de sinalização. Nesse caso, os líderes de valor passam a ser aqueles que se destacam nos grupos como “batedores”, os que abrem caminho, que municiam as equipes com idéias e instrumentos compatíveis com os desafios que lhe são atribuídos.
O antigo conceito de motivação começa a ser substituído por aquele de automotivação, considerado como grau superior para a ação. O comprometimento de todos na elaboração e prática dos programas e estratégias organizacionais é o novo nome do desenvolvimento de uma empresa e, também, de uma corporação religiosa qualquer.
Nos dias de hoje, estamos vivendo o fim da concentração absoluta de poder e informações no nível da chefia. E por uma razão óbvia: todas as pessoas devem ter acesso rápido às informações de que dependem para agir.
Conhecer e segmentar as necessidades e expectativas de cada pessoa é uma outra im-portante característica da liderança, muito valorizada no mundo empresarial. Isto contribui para a agilização do trabalho de cada um, evitando desperdícios e, por conseguinte, o sentimento de inutilidade. Com isso, estamos progredindo em direção a uma nova era – a dos processos permanentes de melhoria.
A partir do momento em que os liderados começam a usar bem a automotivação, a supervisão passa por uma fase de reestudo de sua missão principal. Os líderes adquirem um novo perfil, passando a atuar como facilitadores e sinalizadores da ação, modernizadores de processos, canalizadores de informações rápidas, valorizadores de desempenho e emanadores de desafios para pessoas e equipes.
A maioria das pessoas não tem nada contra o fato de alguém tornar-se “senhor”. Mas há muito pouca atração em tornar-se servo.
O líder, segundo Jesus Cristo, deve ser o primeiro no serviço entre iguais. Certa ocasião, percebendo que Seus discípulos ainda estavam distantes de compreender a verdadeira natureza de Seu reino e Sua missão, o Mestre pulverizou mais uma disputa interna por melhor status. Eis Suas palavras: “Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo; tal como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos.” (Mat. 20:25-28).
Esse pensamento, obviamente, não torna desnecessária a existência de uma hierarquia. Do contrário, o processo se tornaria anárquico. Mas o que realmente importa não é função, ou o status. O que conta é sempre a atitude. Não importa onde alguém esteja atuando, desde que tenha uma mentalidade de servir. Todo líder cristão necessita espelhar-se nAquele modelo que veio “para ser-vir e dar a Sua vida em resgate por muitos”.
Assim aconteceu com Moisés. E por isso que o Senhor refere-Se a ele como “Moisés, Meu servo”; e não “Moisés, o líder”, “Moisés, o chefe”, ou “Moisés, o senhor”.
Em suma, o líder de sucesso é aquele que tira do seu tesouro coisas novas e velhas. As “coisas velhas” são constituídas pelo perene e sempre necessário ensinamento adquirido dos líderes antigos e experientes, provados pelo tempo. As “coisas novas” podem significar aquela atenção permanente, com disposição para adequar-se, aos novos tempos e desafios do momento atual.