— Por favor, venha a tempo esta tarde, querido. Tenho que ir a uma reunião e queria que você ficasse com a Viviana.
A esposa olhou ansiosamente para o marido.
— Não se preocupe — disse ele, acariciando o rosto da esposa. — Estarei em casa às seis horas, e eu e Viviana passaremos um tempo maravilhoso.
— Obrigada, querido!
Enquanto ele se afastava, ela o acompanhou com o olhar, até que o automóvel desapareceu. Ouvira tantas vezes a mesma promessa de seu esposo, mas sempre algum imprevisto fazia com que se atrasasse. O jantar sempre era deixado para mais tarde. Parecia um problema sem solução. Talvez essa tarde ela poderia confiar em que nada perturbaria os seus planos.
Às cinco da tarde soou o telefone.
— Querida, vou ter de atrasar-me um pouco. Surgiu um compromisso de última hora. Por favor, tenha paciência!
— Mas… — disse ela, procurando ocultar sua decepção — Viviana nunca fica com você.
— Sinto muito, querida, mas é um compromisso importante. Prometo que amanhã passaremos um serão juntos.
Contrariada, ela desligou o telefone e foi para a cozinha, onde havia começado a preparar o jantar. Chamou a Sra. Rojas, para ver se Viviana poderia ficar com ela. Antes de sair, deixou um bilhete na porta, o qual dizia: “Viviana está com a Sra. Rojas. O jantar está em cima da mesa e na geladeira. Eu vou à reunião. Passe bem sozinho!”
Consideremos um pouco este incidente. Há vários pontos de interesse que fazem parte do conflito nesse lar.
1. Num lar deve haver prioridades que os cônjuges estabeleçam de comum acordo. Essas prioridades abrangem diversas áreas que definem os limites do lar e fazem parte de sua paz. Por exemplo, o número de refeições diárias e as horas em que são tomadas devem ser definidos e cumpridos na forma mais conveniente. Os cônjuges devem estar de acordo no tocante ao regime alimentar seguido em seu lar. Muitos preferem comer só duas vezes por dia, outros preferem três. Quer haja duas ou três refeições por dia, cada uma delas deve ter primazia sobre todas as outras atividades, e não devem ser assumidos compromissos durante essas horas, a menos que os cônjuges estejam de acordo a esse respeito.
Por que isto é importante? Em Ezequiel 4:10, Deus explicou para o profeta a alimentação que ele devia seguir durante um período de mais de um ano: “De tempo em tempo a comerás.” Em Eclesiastes 10:17, Salomão acrescenta: “Ditosa, tu, ó terra,… cujos príncipes se sentam à mesa a seu tempo.” Lemos também no Salmo 145:15: “Em Ti esperam os olhos de todos, e Tu, a seu tempo, lhes dás o alimento.”
Referindo-se a este problema, Ellen White nos diz o seguinte: “E de vital importância a regularidade no comer. Deve haver tempo determinado para cada refeição. Nesta ocasião, coma cada um o que o organismo requer.” — Conselhos Sobre o Regime Alimentar, pág. 179.
“Em caso algum devem as refeições ser irregulares. Se se faz o almoço uma ou duas horas antes do tempo usual, o estômago não está preparado para o novo encargo, pois não dispôs ainda o alimento tomado na refeição anterior…. Tampouco devem as refeições ser retardadas uma ou duas horas, para se acomodarem às circunstâncias, ou para se poder terminar certa porção de trabalho. O estômago pede alimento na ocasião em que está acostumado a recebê-lo.” — Ibidem.
“A regularidade nas refeições deve ser fielmente observada…. A irregularidade na alimentação arruina a saúde dos órgãos digestivos, com detrimento da saúde em geral, e da alegria.” — Idem, pág. 180.
Há alguma razão científica para comer na hora certa?
Numa pesquisa, por meio de Raios X e acrescentando bário à comida, foi medido o tempo em que o estômago se esvazia depois de ser tomada uma refeição. Á prova foi efetuada com um desjejum que consistia de cereal, fruta, pão, leite e ovo. O estômago estava vazio depois de quatro a quatro horas e meia. Durante esse período não era ingerido nenhum alimento. Depois os pesquisadores decidiram ver o que acontecia se após o desjejum, a cada hora e meia ou duas horas, se ingeria um pedaço de pão com manteiga ou um sorvete. Com este último, o estômago demorou seis horas, e com o pão e manteiga, depois de nove horas ainda havia um resíduo no estômago. Este requer que a comida seja ingerida com regularidade para efetuar seu trabalho eficientemente.
Outra prioridade é ter uma noite designada só para a família, sem planejar nenhuma outra atividade. Esse período dedicado aos filhos constitui uma excelente oportunidade para fortalecer os laços familiares e fazer com que os filhos se sintam seguros e contentes em seus lares.
2. Não demos lugar a frustrações e “agendas ocultas” pela falta de disciplina em nossos lares. Levantar-se cedo para o desjejum, bem como deixar uma comissão quando há importantes decisões a serem tomadas, para ir comer, parece ser perda de tempo. Mas, somos seres humanos com exigências energéticas e reparadoras. O alimento nos ajuda a trabalhar e a enfrentar nossas responsabilidades. As decisões tomadas em comissões podem ser mais justas depois de uma boa refeição.
Se não temos ordem em nossos hábitos, ou se não nos conformamos com o que de comum acordo temos delineado no lar, isto causará frustrações entre os cônjuges e “agendas ocultas”, que são decisões tomadas quando um dos cônjuges fica contrariado. A falta de uma tarde somente para a família pode produzir “agendas ocultas”, como no caso da esposa de nosso exemplo. Ao preparar um delicioso jantar para o marido, ela recebe a mensagem de que ele não poderá vir por razões mais importantes do que a companhia das pessoas do lar.
A tendência moderna de comer a qualquer hora que seja conveniente, sem ater-se a um horário, não é necessariamente o melhor sistema para manter a saúde. Isto não significa que o horário deve ser tão exato que não se possa atrasar um minuto. Mas deve haver coerência nas horas de comer.
3. A hora da refeição deve ser aguardada com alegria, como uma atividade agradável.
Conheci uma família numerosa que todas as tardes se reunia para o jantar. A mesa grande sempre tinha uma toalha limpa e flores. A melhor baixela e serviço de mesa era indispensável, embora a comida geralmente fosse simples, mas servida com delicadeza. O que mais chamava a atenção era a alegria de viver de todos os comensais. Havia conversação animada, risadas e participação de todos nos acontecimentos do dia, nas experiências pessoais e no desejo de partilhar sentimentos e pensamentos. Era o momento que todos almejavam para relaxar tensões, olvidar o trabalho e as dificuldades, e abrigar-se no seio da família, onde todos se sentiam felizes e seguros.
É este o modelo que devemos deixar a nossos filhos para seu desenvolvimento emocional, físico, intelectual e espiritual. Isto ajudará a estimular a estima própria para triunfar na vida. O sábio Salomão nos exorta em Eclesiastes 9:7: “Vai, pois, come com alegria o teu pão…”
O ato de comer é complexo, pois não constitui somente uma atividade física, mas envolve todo o ser. Usamos os cinco sentidos. Além disso, comemos com nossos sentimentos. Nós nos baseamos em experiências anteriores para o gosto, fastio ou satisfação que o alimento nos dá. O meio social que nos rodeia é poderoso em formar nossos hábitos no comer, e o estado de ânimo determinará como nosso organismo reagirá diante das diversas emoções. Comer com alegria é convidar o organismo a desenvolver-se da melhor maneira possível.
No século passado um médico canadense teve a singular oportunidade de observar o que sucede no estômago de uma pessoa. Um caçador de peles foi ferido no estômago por uma bala. A ferida sarou, mas ficou uma abertura pela qual o médico podia olhar para dentro do estômago. Baseado em suas observações, o médico escreveu um livro sobre a fisiologia da digestão. Observou que quando o paciente estava calmo e contente, o estômago ficava rosado e com muitas dobras. Quando o paciente se irava, o estômago ficava bem vermelho e inflado, sem mostrar nenhuma dobra. Quando o paciente estava ressentido, havia supersecreção de suco gástrico, o que geralmente está relacionado com a formação de úlceras e outros transtornos gástricos. Quando o paciente estava deprimido, a secreção gástrica cessava e o estômago não podia digerir a comida. Quando o paciente tinha medo, a mucosa do estômago ficava lívida e parecia que os vasos sangüíneos haviam desaparecido. As observações do médico canadense foram corroboradas neste século com instrumentos mais aperfeiçoados.
“Na hora da refeição, expulsai o cuidado e os pensamentos ansiosos; não estejais apressados, mas comei devagar e satisfeitos, o coração cheio de gratidão para com Deus por todas as Suas bênçãos.” — A Ciência do Bom Viver, pág. 306.
4. Os hábitos alimentares são formados no lar. A influência da mãe e do pai é poderosa na formação dos hábitos da criança. Se o Joãozinho vê o pai rejeitar a cebola ou a cenoura, ele fará a mesma coisa. Se o vê faltar às refeições ou chegar constantemente tarde, tomará este comportamento como modelo.
Quando o pai está presente às refeições, terá a oportunidade de comunicar-se com os filhos e a esposa para conhecê-los mais intimamente e prover o ambiente para o crescimento da família em todas as suas dimensões. Ao redor da mesa, ingerindo alimentos que proporcionam a energia que gastamos para viver, trocando idéias e fomentando um espírito alegre e de companheirismo, são fortalecidos os laços de amor e de confiança, e os filhos não experimentarão a lacuna das idades.
José, nos tempos bíblicos, ao estar com seu pai em suas atividades ou ao sentar-se junto à mesa familiar, aprendeu não somente bons hábitos alimentares, mas também o senso de honestidade, integridade e lealdade que constituiu a salvaguarda de sua vida futura. Lemos em Provérbios 22:6: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele.”
Em todo lar a hora da refeição é “um compromisso importante”. Não a olvidemos. Com uma alimentação saudável, simples, nutritiva, deliciosa e atraente, com um espírito de regozijo, de gratidão e de tolerância para com os outros, podemos crescer dia a dia, compreendendo o amor de Deus ao dar-nos esta vida tão maravilhosa e Suas bênçãos ao ensinar-nos como manter nosso organismo em boas condições de saúde.
Com o salmista podemos dizer: “Rendei graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque a Sua misericórdia dura para sempre.” Sal. 136:1. — Dra. Irma B. de Vyhmeister