Há um novo tipo de liderança para a igreja do amanhã. Necessitamos dele na igreja de hoje

Os pastores necessitam de habilidades para liderança eficaz. Adquiri-
las é um processo de toda a vida. Aulas no seminário são apenas o ponto de partida. Cada situação provê um desafio novo que pode levar a um modelo diferente. Henri J. M. Nouwen escreveu: “Um novo tipo de liderança é requerido para a igreja de amanhã, uma liderança que não seja modelada pelo jogo de poder do mundo, mas pelo Líder-servo Jesus, que veio dar a vida para resgate de muitos… O caminho do líder cristão não é o caminho da mobilidade ascendente, mas o caminho da mobilidade descendente que termina na cruz.”1

Preparando para o êxito

Jesus investiu longos dias demonstrando para Seus discípulos a vida no reino. Às vezes, eles poderiam ter usado o jogo de poder do mundo, mas Jesus pacientemente insistiu no caminho do amor. Ensinou-lhes: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos Céus” (Mt 5:16).

Mateus 10 é o que chamo de manual de Jesus para liderança. Ele ensinou isso aos discípulos e então os enviou dois a dois para colocar em prática o manual. Estava estabelecendo o alicerce para o sucesso deles. Pastores experientes, abençoados com a responsabilidade de mentorear pastores jovens têm como objetivo contribuir para o êxito deles. Isso requer tempo, instrução, confiança, envio correção e afirmação.

Cuidadoso e compassivo

Uma forma de ajudar outros a ter êxito é ser cuidadoso, solícito e compassivo. Eu estava no meio de uma partida de baseball num acampamento de verão quando recebi a visita do presidente da Associação. Ele tinha viajado quase uma hora para me dar a má notícia. Minha esposa estava no hospital por causa de um aborto. Com o braço ao redor dos meus ombros, ele disse: “Volte para casa e fique um bom tempo cuidando de sua esposa. E não desconte isso das férias.”

O mesmo líder estava no auditório, sentado na última fila, numa noite durante minha deficiente primeira tentativa de evangelismo público. No fim da palestra, convidei o povo para que aceitasse Jesus como Salvador e Senhor. Ele sentiu que eu estava pouco à vontade com aquele apelo. Na saída, ele me disse: “Sua fala foi muito boa; mas, lembre-se de que as melhores decisões são feitas nos lares, não em público.” Sua compaixão ficou em minha mente durante décadas. Invejo esse tipo de liderança.

Tentativa de novos caminhos

Frequentemente, Jesus Se encontrou “pintando fora das linhas tradicionais” do judaísmo. As pessoas ficavam entusiasmadas diante de Sua abordagem nova sobre a vida no reino. Ele usava uma forma diferente de ensinar pessoas de origens e classes diferentes.

Certo dia, meu pastor me disse que tinha uma pilha de manuais sobre evangelismo. Porém, acabou descartando todos eles, porque ele gosta de usar a criatividade e, à sua maneira, levar pessoas a Jesus. Parabenizei-o por “pintar fora das linhas”.

Uma jovem notou que em sua igreja os métodos tradicionais de evangelismo não funcionavam. Ela e outros jovens resolveram fazer algo novo. Então se dispuseram a pintar o albergue dos sem-teto da cidade. Também serviram aos internos e conseguiram alimentos. Distribuíram rosas nas ruas, para comerciantes e transeuntes. Um homem cego que fazia compras recebeu uma rosa. O guia que o acompanhava também recebeu e perguntou: “Onde fica sua igreja? Esse é o tipo de igreja que eu gostaria de frequentar.”

Líderes efetivos não dependem apenas de programas gerados no topo da hierarquia. Eles incentivam o planejamento na base da pirâmide, como fez aquele grupo de jovens.

Há um preço a ser pago pela liderança que colore fora das linhas. Estigma de deslealdade, rebelião e orgulho podem ser atribuídos a esse tipo de liderança. Mas a liderança efetiva evita essas acusações, tendo boa vontade de explicar os métodos antes de implementá-los.

Fora das torres de marfim

Perguntei à secretária social de um famoso médico a razão pela qual seu hospital mundialmente conhecido havia falido. Ela não titubeou: “Foi a torre de marfim.” O diretor pensava que seus métodos fossem os únicos! Médicos jovens não tinham privilégios, por isso acabaram fundando seu próprio hospital para a comunidade.

O diretor de outro hospital, mergulhado em débitos, foi sábio. Ele formou uma comissão que criou um plano para reduzir o débito. Então o executivo gastou tempo em cada departamento buscando ideias para economizar. Seu escritório estava sempre aberto a qualquer empregado. Isso conquistou confiança e cooperação. Em dois anos, o hospital estava sem débitos.

Poucos anos depois, aquele hospital foi adquirido por outra organização. Os líderes passaram a dar ordens. A comissão foi dissolvida, e a confiança decaiu. O hospital foi novamente vendido a outro grupo. O conceito de torre de marfim de liderança falhou.

Líderes efetivos nunca insistem que sua maneira de liderar seja a única. Eles costumam se aconselhar com muitas pessoas e estão prontos a aceitar a melhor ideia.

Conhecimento das pessoas

George Pocock praticou uma liderança muito hábil. Pocock construiu um barco e treinou nove jovens remadores que ganharam a medalha de ouro nas olimpíadas de Berlim em 1936. Ele aprendeu muito sobre o coração e alma dos jovens. Viu esperança onde um garoto pensava que não havia esperança, e habilidade onde ela estava ofuscada pelo ego ou ansiedade. Notou a fragilidade da confiança e o poder redentor da confiança. Pocock foi um líder verdadeiro.2

Seja o líder que conhece o nome das pessoas e vê além dos nomes.

Mãos sujas

Certa ocasião, durante uma campal, tivemos que montar e desmontar tendas para as famílias. Isso pareceu difícil para alguns pastores desacostumados com o trabalho duro. Mas, com muito esforço, as tendas foram armadas. De repente, observei o presidente da Associação tentando erguer uma tenda. Apreciei ver o líder trabalhando com os liderados. Isso foi mais importante do que dar ordens.

Em um programa de televisão chamado Undercover Boss [Chefe Secreto], o proprietário de uma grande empresa disfarça sua identidade e trabalha em muitas funções na empresa. As pessoas com as quais o disfarçado trabalha pensam que ele é um novo empregado. O resultado disso é que, trabalhando ao lado de pessoas que lutam arduamente para ganhar a vida, o proprietário é levado a melhorar os salários e as condições de trabalho. Calçar os sapatos de um liderado ajuda a abrir os olhos.

Aprendizado constante

Uma graduação em liderança obtida no século 20 pode não capacitar você para exercê-la no século 21. Hudson T. Armerding escreveu: “Simplesmente ter mais tempo de vida não qualifica uma pessoa para ser líder… O líder efetivo está continuamente buscando aprender de suas experiências e se tornar ainda mais proficiente em seu trabalho.”3 Leith Anderson disse que um líder deve manter uma “linha de aprendizagem”.4

Um pastor metodista no Texas sempre argumentava que um líder de pastores deveria voltar a pastorear uma igreja a cada quatro ou cinco anos. Não existe nada melhor do que aprender fazendo, ele insistia.

Certo administrador de igreja percebeu quão desatualizado estava ficando e lutou contra isso. Meses depois, ele renunciou à função de liderança e se tornou pastor de igreja numa grande cidade. Esteja disposto a aprender continuamente e a ser guiado pelo Espírito Santo para onde Deus determinar que você trabalhe.

O amanhã é hoje

O líder que nunca questiona não merece ser líder. Por que eu estou fazendo isso? Essa é a melhor maneira de fazer isso? O que eu estou realizando faz alguma diferença? O que eu estou fazendo é resultado de minhas pesquisas, ou é apenas impulso de ordens superiores? Sou entusiasmado com o que estou fazendo? Estou disposto a ser avaliado por outros?

Deixar de fazer perguntas pode levar à ineficácia, lealdade cega às tradições gastas pelo tempo, e ao desperdício.

Pastores que dependem de outro líder para dizer a eles o que e como devem fazer estão se privando das emoções da criatividade e inovação. Líderes que se curvam às pressões estão construindo a própria mediocridade.

Nossos jovens hoje estão fazendo importantes perguntas. Mas os líderes não precisam ter medo delas; são apenas portas para uma igreja crescente em um mundo de mudanças. No mundo em que os jovens vivem, cada fase da vida está em transformação. Alguns trabalham em grandes empresas que os convidam a dar opiniões e ideias. Isso cria lealdade e entusiasmo pela empresa. Eles desejam essa mesma abertura na igreja, mas alguns líderes não compartilham a mesma esperança.

Parece haver um novo interesse no aprimoramento da liderança na igreja. Estudiosos estão expressando a necessidade de mobilidade descendente no estilo de liderança, um estilo que promete renovar o interesse e o engajamento entre os jovens. Nouwen falou a respeito de um novo tipo de liderança na igreja do amanhã. Necessitamos dele na igreja de hoje.