Tesoureiro da DSA ensina o caminho para fugir das dividas e esclarece a dinâmica das finanças eclesiásticas

Algumas pessoas têm alimentado e propagado suas dúvidas quanto ao destino e aplicação de ofertas e dízimos, às vezes dividindo congregações. Também há pastores que, capturados pelas armadilhas consumistas da época, enveredam pelo desequilíbrio financeiro e acabam deixando as fileiras ministeriais. Como se vê, o trato com as finanças é uma questão espinhosa. Requer fidelidade e inteligência, reveladoras do grau de primazia que Deus ocupa no coração de uma pessoa.

É sobre esse tema que o Pastor Marino Francisco de Oliveira fala a Ministério, nesta entrevista.

Desde julho de 2000, o Pastor Marino é o tesoureiro da DSA, onde chegou com uma experiência acumulada em 29 anos servindo ao Instituto Adventista Cruzeiro do Sul, às Associações Catarinense e Sul-Rio-Grandense, e à União Sul-Brasileira.

Nascido em Rolante, RS, e graduado em Administração de Empresas, o Pastor Marino fez cursos de especialização em finanças, além do curso de Complementação Teológica. É casado com Warlei Krummenauer de Oliveira (secretária) e tem duas filhas: Wilmara (psicóloga) e Lucimara (médica).

Ministério: Como a Igreja Adventista na Divisão Sul-Americana convive com um cenário econômico mundial pouco favorável e, ao mesmo tempo, alcança notável crescimento evangelístico?

Pastor Marino: A estrutura financeira da Igreja foi estabelecida sob orientação profética, muito estudo e oração. Isso tem permitido à liderança estabelecer diretrizes seguras e eficazes para enfrentar os cenários mais adversos. Creio também que Deus está orientando as diferentes comissões na tomada de decisões conservadoras, que estão em sintonia com a urgência da pregação do evangelho e de acordo com as necessidades de um mundo que experimenta rápidas mudanças. Muitos irmãos, diante da instabilidade do cenário econômico ou de crises iminentes, buscam uma parceria e maior fidelidade para com Deus. Por outro lado, o cenário econômico difícil estimula as pessoas a se voltarem para Deus e a buscar nEle a solução e estabilidade para a vida.

Ministério: Como as instituições denominacionais estão reagindo aos desafios próprios da época atual, de estagnação e até mesmo da discreta retração de consumo, desemprego e juros altos!

Pastor Marino: Nossas instituições estão procurando adequar-se, fazendo os ajustes necessários para manter o equilíbrio financeiro. A Igreja tem instruções e regulamentos claros que, quando estudados e postos em prática, garantem bons resultados. Temos observado, com muita alegria, que os administradores dessas instituições estão fazendo os ajustes necessários, salutares, com oração e determinação. A segurança reside em seguir as diretrizes definidas pela Igreja e em buscar o aconselhamento das comissões. Esta é uma época em que temos de nos antecipar aos problemas.

Ministério: Que avaliação o senhor faria da Igreja, na América do Sul, quanto à fidelidade por parte dos membros e as finanças locais!

Pastor Marino: Creio que a maioria dos membros é fiel, apesar de vivermos em um continente marcado por crises. Mas existem desafios a serem alcançados no que tange ao ensino e à pregação sobre o fiel exercício da mordomia cristã, que reconhece a soberania de Deus em todas as coisas. Pesa sobre nós, pastores, uma tremenda responsabilidade: “Se os pastores não se demonstrarem aptos para o cargo, se deixarem de apresentar à igreja a importância de devolver ao Senhor o que Lhe pertence, se não cuidarem de que os oficiais que estão sob suas ordens sejam fiéis, e que o dízimo seja trazido, estão em perigo. Estão negligenciando uma questão que envolve uma bênção e uma maldição para a igreja. Devem ser afastados de sua responsabilidade, e outros homens devem ser experimentados e provados.” Estamos crescendo e necessitamos assumir cada vez mais essa responsabilidade, com determinação, no poder do Espírito Santo.

Ministério: Que conselhos o senhor daria a uma igreja que sofre com a falta de dinheiro para suprir suas necessidades básicas!

Pastor Marino: Primeiramente, deve considerar o conselho inspirado, segundo o livro Administração Eficaz: “Foi-me mostrado que é um erro usar o dízimo para atender às despesas ocasionais da igreja.” Então, o tesoureiro deve organizar, em forma de balancete, um demonstrativo claro de quais são as receitas e quais são as despesas operativas, demonstrando também o déficit operativo mensal. Em seguida, deve discutir o que ficou demonstrado com o pastor, o ancião e o secretário, e apresentar o assunto à comissão da igreja. Com sua aprovação, devem ser apresentados à igreja a situação real e um plano para satisfazer as necessidades de equilíbrio operativo. O Manual da Igreja prevê que “o método mais satisfatório de prover gastos locais da igreja é o plano de orçamento”. É imperioso lembrar que o plano de Deus requer nossa adoração também por meio de ofertas voluntárias.

Ministério: Em alguns lugares existem questionamentos sobre o uso do dízimo e sua aplicação. Qual deveria ser a atitude dos pastores diante desse fato?

Pastor Marino: Creio que os pastores devem simplesmente seguir a orientação inspirada, de acordo com o livro Obreiros Evangélicos: “Alguns se têm sentido mal-satisfeitos, e dito: Não devolverei mais o dízimo; pois não confio na maneira por que as coisas são administradas na sede da Obra. Roubareis, porém a Deus, por pensardes que a administração da Obra não é correta? Apresentai vossa queixa franca e abertamente, no devido espírito, e às pessoas competentes. Solicitai em vossas petições que se ajustem as coisas e ponham em ordem; mas não vos retireis da obra de Deus, nem vos demonstreis infiéis porque outros não estejam fazendo o que é correto.”

Ministério: Quais são as orientações da Igreja quanto à distribuição das ofertas?

Pastor Marino: A Igreja está recomendando um sistema simplificado para o membro ofertar. Em resumo, ele entrega a sua oferta e, a menos que designe um fim específico para ela, o tesoureiro fará a distribuição, destinando 20% para as missões mundiais, 10% para projetos missionários, 10% para o programa de desenvolvimento do Campo local e os 60% restantes serão destinados à igreja local. Apreciaria pontuar que não é uma alteração nos princípios ou critérios já estabelecidos pela Igreja, como o respeito à vontade do doador. Se este especificar uma aplicação para suas ofertas, a tesouraria deve respeitar. Mas essa simplificação veio para facilitar a compreensão dos doadores e mostra a clareza do plano financeiro da Igreja como um todo.

Ministério: Existe alguma orientação inspirada que o pastor deva partilhar com aqueles irmãos que, residindo em uma de-terminada região, costumam enviar seus dízimos para outra?

Pastor Marino: Desconheço qualquer orientação inspirada específica, mas o Manual da Igreja cita que “o dízimo é do Senhor e deve ser entregue, como ato de adoração, à tesouraria da Associa-ção/Missão, através da igreja a que o membro pertence. Onde as circunstâncias são incomuns, os membros da igreja devem consultar os administradores da Associação/Missão”. Isso foi estabelecido em assembléia mundial, o que, para mim, é como uma orientação divina. A Igreja reunida em assembléia estabeleceu o sistema do dízimo partilhado, que permite o atendimento a todas as necessidades em qualquer área geográfica.

Ministério: Como o senhor define a im-portância da vida financeira no sucesso do trabalho pastoral?

Pastor Marino: Não existe êxito verdadeiro e genuíno sem uma vida financeira planejada e equilibrada; porque, quando existem desequilíbrio e endividamento, não há produtividade nem ânimo, o que acaba refletindo na vida espiritual pessoal. Creio ser oportuno lembrar algumas citações esclarecedoras: “A dívida é um jugo – um jugo que prende e mortifica.” “Nenhum obreiro deve manejar seus negócios de modo a incorrer em dívidas. … Envolvendo-se voluntariamente em dívidas, ele se está emaranhando numa das redes de Satanás colocada para apanhar almas.” E necessário seguir a orientação de Cris-to, expressa em Lucas 14:28 e 29, principalmente quanto à recomendação para assentar-se primeiro e realizar os cálculos para a construção da torre do orçamento familiar.

Ministério: Quais são os principais aspectos que, a seu ver, devem ser considerados na busca do equilíbrio financeiro familiar?

Pastor Marino: No livro O Homem de Hoje, o autor escreveu que “hoje os homens são consumidos pelo desejo de comprar coisas de que não precisam, com dinheiro que não têm, para impressionar pessoas de quem não gostam”. Infelizmente, estamos inseridos num contexto em que há um templo ao consumismo erguido em cada esquina. Mas um planejamento financeiro e um orçamento bem estudado e discutido ajudarão a “blindar” a família contra o ataque consumista. O orçamento familiar deve contemplar a fidelidade a Deus na devolução do dízimo e entrega de ofertas proporcionais às receitas. Sua elaboração deve envolver toda a família. Deve ser seguido estritamente, não se gastando antes de receber, nem gastando tudo o que se recebe. Saber gastar os recursos é mais importante e exige mais ciência e disciplina do que para ganhar. Normalmente nos preparamos durante 15 a 20 anos para desempenhar uma atividade profissional, e não nos preparamos para gastar ou aplicar os recursos obtidos. A regra é não ultrapassar os limites orçamentários. Práticas simples que ajudam incluem não ir com fome nem levar crianças ao supermercado, ir com uma lista do que comprar, investigar o preço e a qualidade do que se compra; gastar um pouco de tempo pesquisando, antes de gastar o dinheiro.

Ministério: Quem deveria ser o responsável pelo cuidado das finanças da família pastoral?

Pastor Marino: O pastor e a esposa devem estabelecer quem será o primeiro responsável pela administração dos recursos. Porém, tudo deve ser feito com o envolvimento dos membros da família. Um dos cônjuges deve ser responsável pelo registro de todas as entradas e saídas, para que haja o confronto com o que foi planejado. Os filhos devem ser envolvidos no assunto, ser informados de todos os detalhes, segundo a compreensão que tenham. É importante lhes dar uma pequena mesada, ensinar-lhes a dizimar, ofertar e aplicar os recursos de modo inteligente e econômico, incutindo neles os princípios de poupança. Este é um assunto importante, que merece a atenção dos líderes da área financeira e de mordomia cristã, e deveria ser considerado em todos os concílios ministeriais.

Ministério: Que avaliação poderia ser feita sobre o fator de manutenção que os pastores e obreiros estão recebendo hoje?

Pastor Marino: É perfeitamente suficiente para vivermos com decoro e decência. Acrescente-se o fato de que a Igreja está recebendo os recursos necessários para honrá-lo. Ressaltamos que o valor é fixado em consenso e por solicitação das Uniões que, interagindo com os Campos locais, têm sugerido sua alteração, quando necessária. Outros fatores também são levados em consideração, como o custo de vida, a capacidade de pagamento dos Campos e instituições, bem como o contexto do cenário econômico.

Ministério: Deveria o pastor preocupar-se em ter prioridades materiais e patrimoniais?

Pastor Marino: Segundo orientações da Sra. Ellen White, é responsabilidade do pastor tomar providências envolvendo os aspectos materiais e patrimoniais. Trata-se de uma recomendação inspirada e o pastor deve pensar e planejar os anos de jubilação, para evitar desanimar-se ou trazer encargos desnecessários para os familiares. Em nosso entender, as prioridades na aplicação dos recursos economizados deveriam ser feitas desde o recebimento do primeiro provento, depois de alocar o necessário para a manutenção da família e vida educacional dos filhos. Seguem-se os imóveis, móveis e, então, automóveis. Planejar um teto para o futuro gera elevada auto-estima, autoconfiança, segurança pessoal e familiar. Inicie por um terreno, planeje e aproveite oportunidades. Os móveis devem ser confortáveis, simples e de bom gosto; porém, adquiridos com estudo e análise. Em relação ao automóvel, deve ser tido como última prioridade, por exigir estudo mais acurado quanto à aquisição e manutenção. Antes de adquiri-lo, consulte a razão e as necessidades do trabalho e da família. As prioridades anteriores devem receber recursos mensais, por menores que sejam.

Ministério: Certa ocasião, a Sra. White fez o seguinte comentário: “E onde vejo obreiros desta causa que têm sido fiéis e leais à obra, que são deixados a sofrer, é meu dever falar em seu favor. Se isto não comove os irmãos a ajudados, então eu devo ajudá-los, mesmo que para isto eu seja obrigada a usar uma parte do meu dízimo.” Por que ela disse isso?

Pastor Marino: Acredito que a observação, no contexto e época em que foi proferida, era pertinente, oportuna, e contribuiu para que a igreja se organizasse. Vale ressaltar que a orientação da irmã White, no livro Testemunhos Para Ministros, à página 26, apresenta as razões primordiais da organização ou o estabelecimento da ordem eclesiástica: “A organização era indispensável para prover a manutenção do ministério, para levar a obra a novos campos, para proteger dos membros indignos tanto as igrejas como os ministros, para a conservação das propriedades da igreja, para a publicação da verdade pela imprensa, e para muitos outros fins.” Hoje temos uma estrutura que atende equilibradamente a todos os obreiros, incluindo os jubilados.

Ministério: Falando do casal pastoral, ela também disse: “O método de pagar aos homens que trabalham e não às suas esposas é um plano que não está de acordo com a ordem do Senhor. ” Pode-se deduzir que as esposas de pastores devem também ser remuneradas, ou há um contexto específico?

Pastor Marino: Essa afirmação foi feita em 22/03/1898 num contexto específico, no qual ela se referia a “mulheres que trabalham tão devotadamente como seus esposos e que são reconhecidas por Deus como sendo tão necessárias à obra como seus maridos.” Um mês depois, ela voltou a tratar do mesmo problema, especificando nomes de esposas de pastores (Starr, Haskell, Wilson e Robinson) que estavam “dando estudos bíblicos e orando com as famílias”. Ou seja, ao analisar tais declarações, devemos nos lembrar que a irmã White falava de esposas que trabalhavam como obreiras bíblicas, tinham despesas pessoais ao se dedicarem integralmente ao ministério, permanecendo sem salário. Ela estava trabalhando para corrigir um erro. Hoje, esposas que trabalham em tempo integral como obreiras bíblicas, em áreas educacionais ou quaisquer outros setores da Igreja, recebem o respectivo provento.

Ministério: Como os tesoureiros que trabalham em diferentes áreas da Igreja podem apoiar de maneira mais ampla o programa de Evangelismo Integrado?

Pastor Marino: Em primeiro lugar, sendo fiéis a Deus em um plano pessoal de adoração a Ele, por meio dos dízimos e ofertas. Em segundo lugar, sendo exatos, pontuais e fiéis na administração das finanças da Igreja, na área de sua responsabilidade, mantendo uma contabilidade precisa, eficiente e transparente. Em terceiro lugar, seguindo a orientação dos regulamentos e votos estabelecidos pelas comissões nas diversas instâncias denominacionais. Em quarto lugar, trabalhando em harmonia com os líderes da organização imediatamente superior. Então, em quinto lugar, atuando com austeridade, economizando cada centavo para que possa ser aplicado no cumprimento da missão. O tesoureiro deve manter uma visão permanente da urgência da pregação do evangelho, canalizando, de maneira equilibrada, todos os recursos orçamentários e superávits na missão. Para manter sempre acesas a visão e a missão da Igreja em seu coração e mente, ele deve se envolver, no mínimo, em uma campanha de evangelismo por ano.