Wellington Barbosa

O cenário profético apresentado em Joel capítulo 2 indica alguns detalhes importantes referentes ao tempo do fim. Seu trecho mais conhecido (Jl 2:28-32) foi citado por Pedro no sermão do Pentecostes (At 2:16-21), e seu cumprimento pleno ainda está no futuro, quando o Espírito Santo será derramado profusamente antes da consumação final.

Essa ideia do duplo cumprimento tem sido entendida pelos adventistas a partir da conexão com o texto de Joel 2:23, em que Deus promete derramar “em justa medida a chuva; […] a chuva temporã e a serôdia”. As palavras temporã e serôdia indicam, a princípio, o regime de chuvas que caem no Oriente Médio durante o outono (setembro/outubro) e a primavera (março/abril). Desse modo, em sua aplicação imediata, a promessa estava relacionada com a restauração das chuvas que, para uma comunidade agrícola como Judá, resultaria em grande fartura, símbolo das bênçãos celestiais.

Contudo, quando consideradas sob uma perspectiva profética, as chuvas simbolizam a obra do Espírito Santo na história da igreja cristã: primeiramente no Pentecostes e, futuramente, para a “maturação da colheita”, antes da segunda vinda de Cristo (Comentário Bíblico Adventista, v. 4, p. 1044).

O texto de Joel deixa claro que o cumprimento dessas promessas em seus dias seria resultado de um grande avivamento. O Senhor Se dirigiu a Judá por meio de sentenças como: “Tocai a trombeta em Sião” (2:1), “convertei-vos a Mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto” (v. 12), e “rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes” (v. 13). Nesse contexto, que faz alusões ao Dia da Expiação, é inegável o protagonismo dos líderes espirituais da nação (v. 15, 17).

Se o primeiro “tocai a trombeta em Sião” (v. 1) era ordenado a um atalaia, com o propósito de advertir o povo sobre um perigo iminente, o segundo (v. 15) se dirigia aos sacerdotes, com o objetivo de promulgar “um santo jejum”, “uma assembleia solene”. À frente desse grande chamado nacional (v. 16) por arrependimento e reconsagração, os ministros do Senhor deveriam chorar e interceder pelo povo e suplicar a misericórdia divina (v. 17). Como resultado, Deus Se compadeceria de Judá e a prosperidade material e espiritual seriam vistas, porque Ele estaria “no meio de Israel” (2:27).

A história sagrada mostra que a consagração dos primeiros líderes cristãos foi uma condição determinante para que o Espírito Santo fosse derramado no Pentecostes, promovendo uma poderosa semeadura espiritual. O que poderia nos fazer pensar que no antitípico Dia da Expiação, na iminência da colheita final, os ministros do Senhor teriam menor responsabilidade?

De fato, a espiritualidade da igreja nunca será maior do que a espiritualidade de sua liderança. Por isso, devemos viver em íntima comunhão com Deus, para que nossas palavras e nosso exemplo levem nossas congregações a um patamar mais elevado de compromisso com o Senhor. Ellen White foi direta ao afirmar: “É necessária uma reforma entre o povo, mas essa deve começar seu trabalho purificador pelos pastores” (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 469).

Essa reforma demanda de nós a disposição para deixar o Espírito Santo nos moldar conforme Seu querer, ainda que isso seja dolorido e mexa com aspectos acariciados em nosso coração, muitos deles legítimos, que, de alguma forma, têm nos impedido de experimentar ao máximo a presença de Deus em nossa vida. Como também escreveu Ellen White, no contexto de reconsagração de líderes e membros, “cumpre-nos trabalhar para remover do caminho todas as pedras de tropeço. Temos de remover todos os obstáculos. Confessemos e abandonemos todo pecado, para que o caminho do Senhor seja preparado, para que Ele venha a nossas reuniões e comunique Sua preciosa graça” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 123).
A pergunta é: quantos de nós se levantarão para responder positivamente a esse apelo de Deus? 

Wellington Barbosa, doutorando em Ministério, é editor da revista Ministério