“Senhor, quando me vires em perigo de estacionar, por piedade — por terna piedade —coloca um espinho em meu abrigo, para livrar-me disto!” — Jorge Whitefield.

3.422 quilos de pura prata (87.420 dólares ou uns 280 mil cruzeiros novos) é muito dinheiro. Embora Amazias não fôsse tesoureiro, preocupou-se com essa prata. “Que se fará, pois— lamentou êle — dos cem talentos de prata que dei às tropas de Israel?” II Crôn. 25:9. Amazias era um administrador cauteloso e um dirigente progressista. Planejando uma cruzada de grande envergadura, êle convocou “cem mil homens valentes” (verso 6) e pagou-lhes adiantadamente cem talentos de prata. Isto constituía um gigantesco invesmento, uma considerável parcela do orçamento de Judá naquele ano, e o rei almejava que não fôsse em vão.

Justo quando êle acabara de pagar os mercenários de Israel, recebeu uma advertência de Deus. O profeta declarou que o Senhor não estava com o exército de Israel, e que se êles marchassem com o exército de Judá, a Sua bênção não os acompanharia. Agora Amazias encontrava-se num verdadeiro dilema! Conhecendo muito bem os co-irmãos hebreus, sabia que nunca recuperaria um centavo sequer; a perda seria total! Perguntou pois para o homem de Deus: “Que faremos?” A resposta foi segura e devia vibrar as cordas do coração de cada dirigente no tempo atual: “Muito mais do que isso pode dar-te o Senhor.” Vers. 9. Aquilo que parecia grande aos olhos de Amazias era insignificante aos olhos de Deus.

Será que essa mesma tendência de Amazias constitui um entrave ao progresso denominacional? Em razão de ficarmos deslumbrados com as centelhas de nossas “brilhantes” atividades, tornou-se a nossa visão tão empanada e míope que deixemos de discernir o muito mais que o Senhor deseja dar-nos? Conforme adverte a mensageira de Deus: “Enquanto a igreja se contentar [e ocupar] com coisas pequenas, estará inabilitada para receber as grandiosas coisas de Deus.” — Review and Herald, 15 de novembro de 1892.

Estais Satisfeitos?

Êsse perigo torna-se mais insidioso e fatal por causa da natural inclinação da degradada índole humana. “A mente aprende naturalmente a satisfazer-se com o que requer pouco cuidado e esfôrço, e a contentar-se com o que é barato e inferior.”— The SDA Bible Commentary, Comentários de Ellen G. White sôbre Provérbios 22:29. A inspiração adverte-nos aí contra o sentimento de satisfação, contentamento ou de estar realizado na vida. Os que julgam haver alcançado o ponto culminante, e que começam a seguir uma linha horizontal, estão em realidade iniciando a escalada descendente do outro lado do cume!

Ciente da mesquinha propensão do homem, Jorge Whitefield orava: “Senhor, quando me vires em perigo de estacionar [literalmente: aninhar, isto é, sentar-se junto aos insignificantes ovos do status quo], por piedade — por terna piedade — coloca um espinho em meu abrigo, para livrar-me disto!” — Citado por C. William Fisher, em Don’t Park Here, pág. 70. Não importa a posição atual que ocupemos no serviço de Deus, o ‘perigo de estacionar” é um dos maiores que enfrentamos. Precisamos orar fervorosamente por espinhos remediadores — por farpas espirituais que nos tirem do comodismo.

Durante um recente congresso na União do Congo, os secretários do Departamento de Publicações na África estavam escolhendo o melhor nome em Swahili para os diretores de colportagem. Alguns sugeriram a costumeira palavra para superintendente: Msimamizi. Sabendo que a origem desta palavra — kusimama — significa “parar” ou “deter-se,” opusemo-nos imediatamente a essa sugestão. Não queríamos nada disso em relação com o ministério da página impressa! Então alguém propôs a palavra Mwendeshaji. Esta era mais apropriada, pois derivava do verbo kuwenda, que significa “ir.” Tinha literalmente o sentido de fazer as coisas funcionar. Infelizmente, em quase todos os setores do programa da igreja de Deus há pessoas do tipo Msimamizi. Tendo já estacionado, contentam-se com o pouco que realizaram. A necessidade do momento atual é a de mais homens do tipo Mwendeshaji — dirigentes que nunca se sintam satisfeitos consigo mesmos e creiam de todo o coração que “o Senhor pode dar-nos muito mais do que isto.”

Defronte de Uma Empresa Fúnebre

Esta convicção de que sempre existe um caminho melhor, explica por que C a r lo s Ketering, o grande gênio automobilista, inventou o arranque automático e tantos outros melhoramentos existentes nos automóveis modernos. Êle expressa sua filosofia de maneira inequívoca: “A mudança parece vagarosa, mas é tão veloz que qualquer grande companhia industrial, apesar de próspera, que continuar fazendo as coisas como sempre, logo entrará em dificuldade. . . . Nenhuma emprêsa de qualquer espécie pode prosseguir indefinidamente fazendo o que faz agora. Terá de modificar-se ou fracassar. E de maneira geral isso também se aplica aos indivíduos. … Se recusais modificar-vos, se apenas permaneceis em ociosidade, será melhor vos assentardes defronte de uma emprêsa fúnebre!” — Idem, pág. 68.

E o mesmo sucede na obra de Deus e na vida. Nunca atingimos realmente um ponto de estacionamento. Precisamos continuar subindo, ou como o avião com os instrumentos controlados para uma aterrissagem, começar a perder altitude. Deve haver constante estender de asas em direção a picos mais altos, a muito mais, a coisas maiores e melhores, pois do contrário ha verá gradual e às vêzes imperceptível perda de altitude até nos aninharmos “na congregação dos mortos.”

Escalando Quilimanjaro

Durante uma aventura de cinco dias ao altaneiro pico de 6.010 m do monte Quilimanjaro, o mais alto da África, nós missionários sentimos de nôvo algumas das grandiosas lições de ascensão na vida. Na maior parte do primeiro dia caminhamos ao longo de veredas escuras e emaranhadas, através da quase impenetrável floresta conhecida apenas nas encostas equatoriais de montanhas vulcânicas. Durante a primeira noite, na cabana de Pedro, começamos a sentir os efeitos nauseantes da falta de oxigênio. No dia seguinte atravessamos um terreno árido e rochoso, até chegar à cabana Quibo, situada a mais de 4.500 metros de altitude. O oxigênio se tornara bastante escasso, e nosso coração batia umas 130 vêzes por minuto. Com essa pulsação dobrada, a choupana primitiva, as camas duras e rústicas, e a temperatura pungentemente fria, quase não conseguimos dormir. Durante essas horas desagradáveis tive tempo para meditar a respeito das escaladas de montanhas. Recordando as estatísticas de que duas dentre cada três pessoas que tentam fazê-lo não conseguem alcançar o esquivo cume de Quilimanjaro, ouvi vozes em conflito dentro de mim, dizendo: “O que adianta chegar realmente ao pico? Valerá a pena correr êste risco para a saúde?”

Havia, porém, uma farpa interna que insistia: “Não pare agora! Mostre que você é um homem! Continue subindo!”

Portanto, às duas horas da madrugada saímos da cabana Quibo para iniciar a arremetida final em direção à escura cratera do monte Quilimanjaro. Dentro em pouco estávamos avançando com dificuldade entre os cascalhos, num ângulo bastante acentuado. Era um processo torturante: sete ou oito passos resolutos, e então uma pausa convulsiva em busca de mais oxigênio.

Cinco horas mais tarde, logo após o nascer do Sol, demos os vacilantes mas triunfantes passos finais até o cume, até a culminância da África! Admirados com as cintilantes formações de gêlo, vislumbramos as glórias das vasta cratera do Quilimanjaro. O sentimento de exultação, como o que Hilário deve ter sentido no pico do monte Evereste, e a rude grandeza de tudo isto, recompensaram abundantemente os rigores da escalada!

Quando os nossos guias africanos, com aclamações apropriadas, ofertaram a cada um de nós uma grinalda de sempre-vivas coloridas — o símbolo que usam para uma conquista bem sucedida — gravou-se para sempre em nosso coração o fato de que não haverá realmente quaisquer coroas para os que se contentam em permanecer nas planícies da mediocridade. Os lauréis são obtidos pelos que continuam ascendendo, que avançam através das emaranhadas florestas da vida, em demanda a excelsas alturas.

Quando Termina a Vida?

O famoso filósofo e educador João Dewey ouviu um dia pacientemente a péssima opinião que um jovem doutor nutria a respeito da filosofia. “Qual é a utilidade de semelhante parlapatice?” disse êle com insolência.

O Sr. Dewey respondeu calmamente: “A sua utilidade consiste em nos fazer escalar montanhas.”

— Escalar montanhas! — disse o jovem de modo desdenhoso. —E qual é o objetivo de fazer isso?

O Sr. Dewey fixou o olhar nos olhos do doutor, e replicou:

— Quando se acaba de escalar uma montanha, avistam-se outras montanhas a serem escaladas! E, jovem, quando não se tem mais interêsse em escalar montanhas para descobrir outras montanhas a serem escaladas, a vida terminou!

Sem dúvida, os líderes do povo de Deus, cujos ideais são “mais altos do que o mais elevado pensamento humano,” deviam ter o máximo interêsse em galgar os mais altos cumes de realização e bênção estabelecidos por Deus.

“O Milionário do Congo”

O dirigente de publicações, J. T. Knopper, trouxe êste espírito da Holanda, ao aceitar nosso chamado para o Congo. Foi um dos primeiros missionários a ir para lá depois que o tiroteio dos exércitos das Nações Unidas e dos catangueses quase destruira o escritório da União em Elisabetevil’e. Encontrando o escritório em desordem, os registros destruídos, os colportores espalhados e exaurida a reserva de livros, êle poderia haver usado isso tudo como legítimo pretexto para exclamar o mesmo que Amazias. Mas pensou apenas em maiores possibilidades, e dentro em pouco começou a enviar relatórios de vendas no Congo.

Depois de dois anos de miraculoso progresso, quando imaginamos que êle quase atingira o ponto culminante naquelas instáveis circunstâncias, enviou-nos esta breve mensagem: “Há muitas nuvens escuras aqui no Congo, que tornam impossível avistar os cumes mais altos das montanhas, mas sabemos que êles estão ali, e com a ajuda de Deus pretendemos continuar ascendendo através das nuvens em direção a essas consecuções mais elevadas!” Assim, de modo audaz e enfrentando problemas acabrunhantes, êste intrépido dirigente desafiou seus homens a transpor essas alturas invisíveis. No ano seguinte, as vendas elevaram-se a milhões de francos congoleses, e apelidamos o Pastor Knopper de “Milionário do Congo.”

O próprio Mestre regulou a marcha durante Seu ministério terrestre. “Longas noites, transcorria-as, prostrado em oração, pedindo graça e paciência para poder fazer um trabalho mais amplo.” — A Ciência do Bom Viver, pág. 500. (Grifo nosso.) Êle sugere que a nossa oração diária deveria ser: “Ensina-me a fazer melhor trabalho.” — Idem, pág. 474. (Grifo nosso.)

Irmãos, sempre haverá nuvens e problemas, e às vêzes, como sucedeu com Amazias, perdas e investimentos insensatos. Queira Deus ajudar-nos, porém, a olhar além e acima, em direção aos picos mais altos que Êle deseja que escalemos. Nunca nos contentemos com o que já realizamos, mas creiamos sempre que onde Êle nos deu centenas no passado, poderá dar-nos milhares e até milhões no futuro. A promessa é segura: “Muito mais do que isso pode dar-te o Senhor.”