(Excertos do discurso do paraninfo da turma de 1975 da Faculdade Adventista de Teologia do IAE. Dezembro, 14 de 1975)

Meus diletos teologandos:

“Servir Como Cristo Serviu” é o lema a que vos propondes como meta de vossa vocação ministerial. Vosso lema é simples, claro, profundo e direto. Mas, ele exige uma pergunta: “Como servir como Cristo serviu?”

Em resposta a cada um de vós nesta noite, meu conselho é: Sendo sadios e poderosos pregadores da Palavra de Deus!

Ser pregador é o que deveis ser e para o que sereis chamados; pregadores da Palavra de Deus, esta Palavra que é sempre viva e eficaz e mais penetrante que qualquer espada, que fere sem matar e penetra até salvar!

Permiti-me apresentar-vos a Cristo como o vosso exemplo.

Cristo foi um nítido pregador da Palavra de Deus e para isto foi Ele enviado pelo Pai. Não veio para ocupar esta ou aquela posição, fazer valer este ou aquele título, mas para pregar e com poder anunciar o plano de salvação de Deus para nós. (S. João 4:18, 19).

Foi pregando que Jesus serviu. Serviu ao Pai e a nós. Ele pregava curando, ensinando, doutrinando, expulsando demônios, perdoando pecados, profetizando e especialmente salvando a qualquer que O aceitasse como Salvador.

Jesus foi pregador genuíno e poderoso, sadio, cheio de vida e atrativo. Sabia falar a intelectuais como a um Nicodemos, aguçar a curiosidade duma samaritana, levar um Pedro orgulhoso e impetuoso à confissão e ao arrependimento, levar ao perdão uma Madalena e salvar a qualquer que fosse a Ele em busca de salvação.

Como pregava Jesus?

No livro “O Desejado de Todas as Nações”, páginas 213 e 214, a Sra. White diz que Sua mensagem era de misericórdia, variada e de acordo com Sua audiência; falava no tempo certo, da maneira mais atrativa e com muito tato; usava ilustrações que atraíam a atenção e apelavam à imaginação. Suas ilustrações eram das coisas diárias da vida, como as aves, os lírios, a semente, o pastor e a ovelha; eram ilustrações simples mas de significado profundo. Ele nunca adulava os ouvintes, nunca alimentava suas fantasiosas imaginações, nem lhes dirigia louvores por suas habilidades brilhantes. Usava linguagem simples em Suas pregações, mas sempre tinha uma mensagem para o pagão e o analfabeto; manifestava terna compaixão e estava sempre rodeado duma atmosfera de paz. Seu semblante era belo, Seu caráter amável, revelando amor no olhar e no tom da voz, manifestando sempre um espírito dócil e simpático em cada olhar e palavra.

Era com este tipo de pregação que Jesus penetrava na alma humana, como a espada de dois fios, ferindo as barreiras do egoísmo e operando contrição e gratidão nos Seus ouvintes.

Hoje a Igreja de Deus necessita de pregadores como Jesus, que estejam cheios do mesmo Espírito de poder, que sejam corajosos, interessantes, e que levem almas a Cristo.

O maior problema hoje não é ter pregadores, porque os temos, mas ter poder.

Quando falta o poder, falta a visão do chamado do pregador. Faltando visão faltam os pregadores.

Está sendo revelado que nos Estados Unidos os Batistas do Sul estão perdendo 1.000 pastores cada ano. Deixam o ministério. Três crises são apontadas como ocorrendo na vida destes pregadores, levando-os ao desânimo e ao abandono da visão: a primeira crise vem depois dos 3 a 5 anos, quando deixam o Seminário e descobrem que sua igreja é constituída de membros imaturos, egoístas e teimosos; a segunda crise vem quando eles têm 40 anos de idade e chegam à realidade de que nunca serão presidentes de nada, ou pastores de alguma igreja grande na área; e, a terceira crise vem perto do tempo da aposentadoria, ali pelos 60 anos de idade, quando as comissões já não demonstram muito interesse neles para outros pastorados mais importantes. São 1.000 pregadores frustrados cada ano. Por quê? Por certo porque perderam a visão do chamado de pregador e também o poder. Têm outra visão e buscam outro poder, o das coisas materiais.

Como é com o pregador adventista? Sofremos do mesmo mal? Felizmente, parece que não, ainda que haja falta de mais pregadores em nossos campos.

Mas há um mal que nos está preocupando bastante: o nosso púlpito; o púlpito adventista está doente!

É difícil diagnosticar a doença que está atacando os nossos pregadores, mas o que estamos vendo é que a pregação carece de vida e de poder. Não alimenta e não abala. É rotineira e acadêmica. Não pregamos o que o povo necessita. A verdade é que as ovelhas espirituais estão passando fome espiritual e vão buscar no mundo o alimento que não salva.

Faltam mensagens espirituais, Cristocêntricas, poderosas, que falem ao coração em vez de falarem ao intelecto.

Permiti-me introduzir aqui um trecho dos escritos inspirados do Espírito de Profecia: “Há muitos pregadores que podem dizer coisas cortantes e agudas… mas são poucos os que são ferventes obreiros para Deus. … Os ministros deviam buscar um preparo do coração antes de entrarem na obra de ajudar a outros… Quando o amor de Deus arder no altar de seus corações, não pregarão para exibir Sua própria inteligência, mas para apresentarem a Cristo que tira os pecados do mundo”. — Testimonies, Vol. 5, pp. 165-167.

O Pastor A. G. Daniells, que foi presidente da Associação Geral anos atrás, costumava dizer:

“Nenhum homem tem o direito de ser um pregador adventista se não for ele mesmo uma chama de fogo”.

Em Obreiros Evangélicos, p. 56, está escrito que “o coração do apóstolo Paulo ardia em amor pelos pecadores”, e em Jeremias 20:9 lemos que o coração do profeta ardia pelas necessidades do povo.

Sim, nosso púlpito está enfermo porque nossos corações não estão ardendo com a mensagem que devemos pregar. Não necessitamos de pregações que apenas arrebatam, de verdadeiras peças de oratória, estudadas e medidas, mas daquelas que ferem o coração para injetar nele o amor de um Pai divino por Seus filhos pecadores.

Certa feita Moody estava pregando. No seu auditório estava uma senhora com o seu filhinho. Moody pregava de tal maneira que atraía a atenção do menino. Num momento ele disse: “Mamãe, ele está pregando para mim!”

É isto que precisamos — pregadores que falem para nós. Que tristeza quando o pregador assume ao púlpito e não está preparado, não está ardendo com a mensagem e prega de tal maneira que não fere o coração, não mata o pecado que está lá dentro e não leva o pecador a Jesus.

Citamos Paulo. Ele é outro exemplo para os pregadores de hoje. É verdade que Paulo foi um pregador de classe, fino, com boa educação e um cabedal de conhecimentos, invejável. Era ele um pregador persuasivo, com grandes recursos de oratória, eloqüente e até filósofo. Mas ele nunca disse que eloqüência, persuasão, oratória e filosofia são poderes para o pregador da Palavra. É verdade que usou estas e outras coisas como recursos, mas não como o meio de alcançar o coração. O meio foi Cristo, a graça de Deus e a fé que deve brotar no coração do pecador. Ele considerou tudo como nada diante da simplicidade poderosa e atuante da pregação. Podemos ter bonita voz, forte e até retumbante. Podemos dizer palavras estudadas, ter gestos e histórias planejadas, estar bem vestidos e impressionar etc., mas isto não é poder. Poder só vem de poder. E o poder na pregação só vem e é outorgado pela presença do poder do Espírito Santo na vida do pregador, impressionando seu coração e também os que o ouvem.

Aqui está o que Paulo ensinou:

“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro… que maneja bem a palavra da verdade…. Evita os falatórios profanos. …” — II Timóteo 2:15, 16.

“Conjuro-te pois diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo … que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo …, porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina, mas… amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências. … Mas tu sê sóbrio em tudo …, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério ” .— II Timóteo 4:1-5.

Como é possível?

Paulo mesmo responde com a sua própria experiência: “Já estou crucificado com Cristo e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim. …”. Gálatas 2:20.

“Para mim o viver é Cristo….” Filipenses 1:21.

Meus queridos teologandos: Saireis daqui dentro em pouco com um diploma e um título, com livros e uma boa bagagem de conhecimento e sabedoria. Assim foi com muitos de nós também que por aqui passamos. Mas nossa experiência ao pregar a Palavra agora é que o poder nunca nos veio do diploma, ou do título; dos livros e do conhecimento adquirido, mas, sim, daquela comunhão e dependência diária que mantivemos e ainda mantemos com nosso Pai celestial, Seu Filho Jesus Cristo e o Espírito Santo. Daí vem o poder!

Eu disse que o nosso púlpito está doente e é certo. Não por falta de pregadores, mas de poder. São poucos os que pregam com poder, porque são poucos os que comungam diariamente com Deus e a Palavra que vão pregar. Por isso Jesus disse : “Estai em Mim…. Quem está em Mim e Eu nEle, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer”. — S. João 15:4, 5.

Paulo viveu esta permanência com o seu Mestre e pregou com poder. Eis o que escreveu E. G. White do seu ministério e pregação na igreja de Corinto:

“Hoje os ministros de Cristo deveriam ter o mesmo testemunho que a igreja de Corinto deu dos trabalhos de Paulo. Mas conquanto neste tempo haja muitos pregadores, há grande escassez de ministros santos e capazes — homens cheios do amor que havia no coração de Cristo.

“O orgulho, a confiança própria, o amor do mundo, a crítica, o rancor, a inveja são frutos que apresentam muitos que professam a religião de Cristo….

“Não pode um homem receber maior honra que ser aceito por Deus como hábil ministro do Evangelho. Mas os que o Senhor abençoa com poder e êxito em Sua obra não se envaidecem. Reconhecem sua inteira dependência dEle, sentindo que não possuem por si mesmos nenhum poder”. — Atos dos Apóstolos, pp. 328 e 329.

Lembrai-vos: Uma das mais efetivas maneiras de “Servir Como Cristo Serviu” é pregar a Palavra de Deus com poder e êxito, como Jesus. Anelo ver em cada um de vós um pregador poderoso, destemido, dirigido e cheio do Espírito Santo nestes dias, antes que Jesus volte. Quero ver-vos detrás do púlpito, não dum púlpito doentio, ardendo com a mensagem que o Senhor vos entregou para dardes ao mundo.

E então quando o Senhor vos chamar para a prestação de contas, oxalá possais dizer: “Senhor, preguei o bom sermão e com poder, conquistei corações e acabei a carreira”.

Então o Senhor vos dirá: “Vinde pregadores de Meu Pai. Possuí o Reino do qual pregastes com poder e que vos está preparado. Entrai no gozo do vosso Senhor”.

Pastor Moisés S. Nigri (Vice-Presidente da Associação Geral)