O poder transformador da pregação narrativa

Richard Duerksen

A pregação narrativa começa com a busca por histórias, e isso começa com o ato de estimar as pessoas a ponto de ouvir suas esperanças, dores, necessidades, lágrimas; enfim, escutar seu coração. Se isso não ocorrer, as histórias escolhidas ou ilustrações de sermão não serão adequadas e não ajudarão seus ouvintes a se tornarem plenos. Por outro lado, se você ouvi-los, perceberá quando corações partidos precisam ser abraçados ou corações irados devem ser acalmados.

Enquanto você escuta as pessoas, narrativas que refletem a vida dos membros surgirão em seu coração, implorando para serem contadas de maneira a reunir a família da fé diante de Deus, levando as pessoas a acreditar que as Escrituras falam hoje tanto quanto falavam antigamente.

Além disso, quando você se dispõe a ouvir as pessoas, seus sermões se tornam transformacionais, uma experiência compartilhada semanalmente que responde a perguntas com as quais elas lutam no dia a dia. Elas compartilham histórias da vida entre si, e geralmente deixam Deus de fora delas.

Seu ministério, seus sermões, podem mudar isso. Eles podem tornar Deus tão real às pessoas que Ele Se tornará a essência de suas histórias. Como dizem Ryan Mathews e Watts Welker: “Muito antes de o primeiro negócio formal ser estabelecido, antes do primeiro acordo, as cinco palavras mais poderosas em qualquer idioma eram ‘deixe-me contar uma história’.”*

A pregação narrativa não ignora Deus, as doutrinas nem a exposição bíblica. Ela se baseia em tudo isso, tecendo-os com histórias que tornam significativas a verdade divina no mundo em que vivemos. Essas histórias ilustram os preceitos da verdade, cobrindo-os de pele e dando-lhes fôlego de vida. Peça continuamente ao Senhor que lhe revele as histórias que Ele quer contar. Sem um relacionamento pessoal entre Deus e o pregador, os sermões se tornam como palha em terra seca.

Eu costumava me perguntar: “O que devo e como devo pregar?” Então, um dia um professor me fez refletir ao dizer que eu estava pregando apenas para mim, não para as pessoas. Agora me pergunto: “Como esse público ouve e o que gostaria de ouvir?” A verdade bíblica é atemporal, mas a maneira de cada geração ouvir e se apropriar da verdade é bem diferente. Perguntar como meus ouvintes escutam me forçou a perceber como eles vivem. Eles olham para seus smartphones. Eles tiram mil fotos. Eles assistem a vídeos e filmes em várias plataformas. Eles deixam a TV ligada durante as refeições. Geralmente, quatro ou cinco dispositivos são ligados ao mesmo tempo, e todos eles reproduzem imagens e histórias, em vez de fatos.

Nos “velhos tempos”, as pessoas pareciam satisfeitas com um sermão estruturado em três pontos e um poema. Atualmente, isso não funciona mais. Então, pensei: E se eu pregasse de maneiras que correspondem ao modo com que eles estão ouvindo? Depois de tentar isso por quatro décadas, descobri cinco razões pelas quais a pregação narrativa é uma boa ideia.

Vantagens da pregação narrativa

Em primeiro lugar, a pregação narrativa toma informações complexas e as torna simples, compreensíveis e praticáveis. Se minha congregação tem dificuldades para encontrar uma forma de responder à violência, desconfiança e exploração na sociedade, vou a 2 Reis 5 e analiso a história da menina israelita que testemunhou sobre Deus na casa de Naamã. Ela permaneceu fiel ao Senhor e sua postura ajudou a fechar uma brecha entre as nações. Uma história simples como essa cria a oportunidade para uma conversa sobre como ser “filho de Deus” em nossa comunidade.

Além disso, a pregação narrativa é mais do que informacional, mas transformacional, entrando no coração e na mente, dando a Deus maior acesso à alma. Algumas pessoas já me disseram: “Você não me conhece, mas quando eu era adolescente, você pregou em minha escola e contou a história de Elias fugindo de Jezabel. Essa história mudou minha vida e me ajudou a ver Deus de maneira diferente. Penso nisso toda vez que estou em uma situação difícil.”

Eu poderia ter pregado um sermão estruturado em três pontos explicando por que é tolice fugir dos problemas. Poderia ter compartilhado 12 textos que provam que Deus nunca nos deixa, mesmo quando O deixamos. Poderia ter apresentado vários argumentos fundamentados em fatos. Em vez disso, escolhi contar a história de um Deus amoroso que correu com um profeta vacilante em sua jornada até o Céu.

A pregação narrativa também permite alcançar um público mais amplo. Da próxima vez que você pregar, observe se as crianças estão ouvindo. Descobri algo fascinante sobre a pregação. Quando conto histórias, todo mundo escuta. Uma boa história, bem contada, captura a mente e o coração, independentemente da idade. Se escutei bem o que diz minha comunidade, a história que conto à minha congregação ajudará a esclarecer os desafios que os profissionais de saúde estão enfrentando, será significativa para os adolescentes que se apaixonam e útil para as mães que amamentam seus bebês.

Qualquer apresentação elaborada para promover mudança de vida requer acesso à mente e ao coração. Você não pode ganhar um sem o outro. A pregação narrativa convence a mente da verdade e, ao mesmo tempo, enche o coração de esperança. Aqui está outra maneira de explicar o que acontece com a pregação narrativa. Para pessoas sentimentais, as emoções de uma história interessante permitem que a “verdade” entre e capture a mente e o coração. As pessoas racionais, por outro lado, concentram-se na “verdade” e, de repente, sentem o coração tocado.

Finalmente, a pregação narrativa resulta em escuta interativa e, quando todos estamos juntos na história, o resultado é compreensão e impacto. Narrativas exigem respostas. Boas histórias me envolvem emocionalmente até eu fazer parte do enredo, da tensão, dos desafios, das oportunidades e, finalmente, da resolução. Um sermão narrativo faz com que os ouvintes façam perguntas, busquem mais informações, avancem e se tornem parte da história à medida que você a conta.

O que o melhor sermão narrativo faz é estabelecer uma conexão entre o público, o pregador e os personagens da história. Uma história bem contada cria algo novo a partir de uma experiência genuína, e essa é uma das maneiras mais poderosas de ligação que existe. Lembre-se, porém, de que isso é mais do que contar uma história, é aproximar de Deus as pessoas.

Como contar histórias

Vimos por que sermões narrativos são uma boa ideia. Agora veremos como contar histórias. Jesus, o maior Contador de histórias de todos os tempos, tinha uma abordagem única para se comunicar por meio das narrativas. Ele contou histórias para que as pessoas não entendessem a mensagem que estava enviando (ver Lc 8:10). Então, à noite, ao redor da fogueira, interpretava as histórias a Seus seguidores mais próximos, para que pudessem explicá-las às pessoas – e a nós.

Cristo sabia que se dissesse claramente o que tinha a dizer, Seu ministério chegaria ao fim precocemente. Para que a mensagem fosse absorvida lentamente e ficasse na mente de Seus ouvintes, Jesus usou histórias, parábolas e narrativas que diziam a verdade de maneira mais eficaz do que se Ele desse três argumentos e possivelmente fosse apedrejado.

Ele não contou apenas parábolas. Ele recontou histórias do Antigo Testamento, referiu-Se a notícias contemporâneas, falou sobre o trabalho de um fazendeiro ao semear o campo e ilustrou a generosidade da fé com uma pequena semente de mostarda.

Como desenvolver a capacidade de fazer pregações narrativas? Gostaria de compartilhar algumas dicas.

Use palavras simples. Palavras simples são as melhores, especialmente para iniciantes. Linguagem rebuscada, múltiplos adjetivos e descrições áridas mais atrapalham do que ajudam. Finja que você está falando com uma criança de 12 anos. Isso forçará você a usar descrições simples. Surpreendentemente, quando você se concentra em crianças de 12 anos, todo mundo ouve.

Leia bastante. Leia para ver como os outros contam histórias. Leia para encontrar palavras que você nunca usou. Leia bons testemunhos e biografias. Leia o que seu público está lendo, a fim de que suas histórias o ajudem a preencher os quebra-cabeças da vida.

Escolha frases descritivas. Com cuidado, comece a usar algumas frases lapidares descobertas em suas leituras. Essas frases, pérolas que contadores de histórias usam para iluminar as ilustrações, vão esclarecer emoções, ligar os ouvintes à sua história e proporcionar momentos em que a narrativa ficará mais próxima de cada coração.

Conecte-se com o conhecido. Sua história cativará o público se conectá-lo a uma história maior que ele conhece.

Fontes de histórias

A maioria das narrativas bíblicas fornece o básico: um personagem crível, um problema, muita complexidade, algo positivo e uma celebração. Pense em Jonas e seu medo de fazer a vontade de Deus; na viúva de Sarepta, a quem Deus providenciou para cuidar de Elias; ou no coxo do tanque de Betesda.

Além disso, existem as histórias que você coleta a cada semana, que servem como boas ilustrações. Lembre-se de que os sermões narrativos requerem uma boa e constante escuta. Por isso, acompanhe os sites de notícia, dê estudos bíblicos, tome uma refeição com três bons amigos um dia por semana, leia revistas cristãs e ouça as notícias no rádio. Geralmente, as melhores histórias surgem enquanto você trabalha para Deus. Sua família também pode ser uma fonte de ilustrações, mas tenha cuidado ao fazer isso. Suas histórias nunca devem ser contadas para autopromoção, tudo deve ser direcionado para glorificar somente a Deus. Por último, sempre diga a fonte da ilustração.

Conclusão

O refrão de uma música cristã diz: “Saberão quem nós somos pelo amor.” Se você primeiro investe tempo ouvindo a voz de Deus e depois demonstra quanto gosta de ouvir a família da igreja, o Senhor o guiará a contar histórias que lidam com as necessidades das pessoas e lhes dão esperança. Essa esperança produzirá uma disposição profunda que encherá a igreja de afirmação, estudo e regozijo.

A pregação significativa é construída sobre o fundamento da oração, do estudo da Bíblia e do poder do Espírito Santo. Esses elementos, misturados com partes iguais de determinação e humildade, fornecem a voz certa para que o amor de Deus conquiste até o coração mais endurecido. E esse deve ser o propósito de cada pregador.

Referência

Ryan Mathews e Watts Wacker, What’s Your Story? Storytelling to Move Markets, Audiences, People, and Brands (Upper Saddle River, NJ: FT Press, 2007), p. 1.

Richard Duerksen, membro da equipe de comunicação da Igreja Adventista para e estado de Oregon, Estados Unidos