O comportamento de Jesus nem sempre parecia lógico do ponto de vista humano. Há muitos relatos bíblicos, especialmente no livro de Marcos, em que as ações de Jesus são surpreendentes e fora do comum. Nesse evangelho, encontramos o que alguns teólogos chamam de “o segredo messiânico”: após realizar milagres, Jesus frequentemente pede aos beneficiados ou às testemunhas que não revelem o ocorrido.
Podemos citar vários exemplos. Em Cafarnaum, um homem possesso afirmou que Jesus era o Filho de Deus, e Cristo lhe ordenou: “Cala-te” (Mc 1:25). De fato, como regra geral, Jesus não permitia que os demônios “falassem, porque sabiam quem Ele era” (Mc 1:34; Mc 3:12). Ao curar um leproso, Ele disse: “Não conte nada a ninguém” (Mc 1:44). Quando ressuscitou a filha de Jairo, Cristo determinou “expressamente que ninguém o soubesse” (Mc 5:43). Da mesma forma, após curar o surdo e mudo, “ordenou que não contassem isso a ninguém” (Mc 7:36).
É interessante notar que a última declaração de Jesus pedindo segredo ocorre justamente quando, pela primeira vez, os discípulos O reconhecem como Messias. Em Marcos 8, Jesus pergunta aos Doze: “Quem os outros dizem que Eu sou?” (Mc 8:27). Pedro, expressando claramente o sentimento geral, responde: “Tu és o Cristo” (Mc 8:29, ARA). Ao ouvir essa resposta, Jesus “advertiu de que a ninguém dissessem tal coisa a Seu respeito” (Mc 8:30).
Por que Jesus pedia segredo às pessoas beneficiadas por Seus milagres? Isso parece ilógico! No entanto, os milagres de Jesus demonstravam, sem sombra de dúvida, que Ele era o Messias prometido, o que podia ser um problema para os judeus, pois eles esperavam um Messias muito diferente. Eles queriam um conquistador que derrotasse os romanos e restabelecesse Israel como um poderoso reino político. Esperavam um rei vitorioso, enquanto o verdadeiro Messias deveria ser um Servo sofredor (Is 53). Jesus precisava explicar essa realidade antes de Se revelar como tal. Por isso, pediu segredo até que pudesse esclarecer que “era necessário que o Filho do Homem sofresse muitas coisas, […] fosse morto e que, depois de três dias, ressuscitasse” (Mc 8:31). Depois de dizer como seria o Messias, Jesus não mais pediu sigilo sobre Seus milagres.
Por que entender isso é importante? Porque Jesus não apenas explicou aos Seus discípulos como o Messias deveria ser, mas também como Seus seguidores devem agir. Ele afirmou: “Se alguém quer vir após Mim, negue a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me” (Mc 8:34). Em outras palavras, seguir o Messias Servo significa também tornar-se um servo.
Essa ideia se repete nos evangelhos, em que Jesus deixa claro que, “se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos” (Mc 9:35). Isso é especialmente relevante para os líderes cristãos, que devem imitar o comportamento de Cristo e servir à igreja, não esperar ser servidos. Jesus disse: “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10:45), e “basta ao discípulo ser como o seu mestre” (Mt 10:25).
Manter viva essa lição de Cristo é um remédio preventivo para o problema abordado nesta edição da revista Ministério. Seguir a Cristo, especialmente em funções de liderança, implica não buscar autopromoção ou o próprio bem-estar. Ao servir à igreja e ao próximo, não damos espaço ao egocentrismo. Ao seguir Jesus, abandonamos o eu.
Sigamos o Messias Servo. Imitemos o Mestre.
Eric Richter, editor da revista Ministério, edição em espanhol