Fortaleça o relacionamento com seus filhos por meio das brincadeiras

Richard Daly

Minha esposa costumava dizer que tinha quatro crianças em casa, nossos três filhos e eu. Tornar-me criança e brincar com eles acabou sendo um dos meus melhores remédios contra o estresse. Eu tinha permissão para fazer coisas bobas como rolar no chão, brincar de pega-pega e emitir sons engraçados. Tudo isso provocava a única coisa que muitas vezes havia deixado de fazer: rir. Então, para mim, ser um pai brincalhão era mais terapêutico do que qualquer outro recurso que a vida pudesse me oferecer. E os benefícios para o relacionamento pai-filho foram enormes.

Atualmente meus filhos são adolescentes. Ser um pai brincalhão exige um tipo diferente de brincadeira agora. Mas os alicerces de um relacionamento sólido construído por meio da diversão e de fazer coisas juntos permanecem em nossa memória.

Nossa última aventura foi em um parque de diversões, onde andamos na montanha-russa. Quando eles eram mais novos, não podiam ir comigo nesse brinquedo. Agora, acima da altura mínima, eles quiseram ir e insistiram que eu os acompanhasse. “Vamos, pai!”, disseram. “Ou você está com medo?” Essas palavras me provocaram, então aceitei o desafio. É desnecessário dizer que fiquei muito feliz quando a brincadeira acabou. No caminho, descobri que havia criado uma nova geração de apaixonados por montanhas-russas que insistiam em que eu sentisse a emoção com eles a cada volta.

Efeitos positivos

Um artigo do Belfast Telegraph1 relata que pesquisadores do Imperial College de Londres, do King’s College de Londres e da Universidade de Oxford analisaram como os pais interagiam com seus filhos, e depois mediram o desenvolvimento cognitivo. As crianças cujos pais apresentaram comportamento mais retraído e deprimido quando elas tinham três meses tiveram uma pontuação mais baixa nos testes cerebrais que incluíram o reconhecimento de cores e formas.

“A mensagem clara para os novos pais aqui é ficar e brincar com seu bebê.”2 Muitas pesquisas semelhantes parecem confirmar que brincar com seu filho traz uma riqueza de resultados positivos futuros que superam em muito a alegre experiência do momento.

Efeitos emocionais

Ser um pai brincalhão também ajuda muito no desenvolvimento emocional da criança, uma dinâmica que, segundo Paul Roberts e Bill Moseley, “se torna mais evidente à medida que os relacionamentos entre pais e filhos entram em seu segundo e terceiro ano. Ao brincar, os pais tendem a ser mais físicos com as crianças – descansando, brincando de pega-pega, etc. – enquanto as mães enfatizam as trocas verbais e a interação com os objetos, como brinquedos. Em quase todos os casos, […] os pais são muito mais propensos a ‘deixar os filhos inquietos, negativa ou positivamente, com medo e prazer, forçando-os a aprender a regular seus sentimentos’.

“De certa forma, os pais incentivam os filhos a lidar com o mundo fora do vínculo mãe-filho […] “Primeiro, as crianças aprendem a ‘ler’ as emoções de seu pai por meio de suas expressões faciais, tom de voz e outras sugestões não verbais, e respondem de acordo […] “Segundo, as crianças aprendem a comunicar claramente suas próprias emoções aos outros”,3 ao chorar, não responder nem divagar. “Finalmente, as crianças aprendem a ‘ouvir’ seu próprio estado emocional. Por exemplo, uma criança logo descobre que, se ficar ‘estressada’ e começar a chorar, poderá afastar seu parceiro de brincadeira.

“As consequências desse domínio emocional são de grande alcance.”4 Portanto, existem vínculos entre a qualidade das interações pai-filho e o desenvolvimento posterior de certas habilidades na vida da criança, incluindo a capacidade de lidar com a frustração, a vontade de explorar coisas novas e a persistência na resolução de problemas.

Efeitos sociais

Tão importante quanto aprender a regular a intensidade emocional de suas interações é a capacidade de as crianças desenvolverem uma comunicação social interativa. Roberts e Moseley defendem que “as crianças que aprendem a decodificar e codificar emoções em seus primeiros anos terão melhor desempenho mais tarde quando estiverem em qualquer encontro social.”5

Eles também estudaram esses benefícios na área de relacionamentos entre irmãos, concluindo: “As ‘lições’ de gerenciamento de emoções que as crianças aprendem de seus pais durante as brincadeiras são posteriormente aplicadas nas interações com irmãos e, finalmente, com pessoas de fora da família, levando a mais cooperação e menos brigas.”6

Efeitos negativos

Os pesquisadores também descobriram que “enquanto a abordagem mais íntima e relacionada à mãe, em geral, continua a consolidar seu vínculo com os filhos, o estilo mais brincalhão do pai perde seu apelo. Aos oito ou nove anos, uma criança já pode estar entediada ou irritada com as provocações de seu pai.

“Essa discrepância geralmente se torna evidente quando os filhos atingem a adolescência. Pesquisas sugerem que pré-adolescentes e adolescentes de ambos os sexos continuam a confiar na mãe em busca de intimidade e suprir necessidades, e a preferem cada vez mais em áreas que exigem sensibilidade e confiança. Em contraste, […] o estilo brincalhão que fica tão bem no pai durante a infância pode começar a alienar os adolescentes, dando-lhes a impressão de que ele não leva a sério seus pensamentos e necessidades.”7

“Supõe-se que o estilo menos íntimo do pai possa facilitar, embora não seja mais agradável, que ele fique com a parte ‘pesada’. Seja como for, os adolescentes passam a ver o pai como alguém mais severo e distante.”8

“Claramente, a distância entre pais e filhos adolescentes não é apenas resultado da brincadeira dos pais na infância. Uma função central da adolescência é o movimento gradual da criança em direção à autonomia emocional e física de ambos os pais.”9

“Até os pais mais dedicados descobrem rapidamente que o caminho para a paternidade moderna está repleto de obstáculos […] Jerrold Lee Shapiro, professor de psicologia na Universidade de Santa Clara, diz que entender seu relacionamento com seu pai é o primeiro passo. Caso contrário, você vai repetir automaticamente e inconscientemente as coisas da sua infância.”10

Diversão cotidiana

Há algo de especial na brincadeira que cria sentimentos e memórias felizes e genuínas. Aprendi que criar atividades divertidas não exige levar as crianças para grandes eventos nem gastar muito dinheiro. São coisas simples como brincar de cavalinho, jogar bola ou cantar juntos. Isso faz a diferença. Revista de diversão as atividades cotidianas, como levar seus filhos à escola, comer juntos ou prepará-los para dormir. Esqueça as listas de tarefas momentaneamente e adicione um pouco de leveza à sua paternidade.

Tempo de qualidade

Como pastor de várias igrejas, constantemente precisei reavaliar meu tempo. Isso ficou mais claro para mim certa noite, quando eu estava em uma visita pastoral. No meio da visita, o pai pediu desculpas, dizendo que precisava preparar os filhos para dormir e contar uma história para eles. Após essa visita, decidi fazer mudanças significativas em minha agenda pastoral.

Muitos pais acreditam que, desde que tenham algum tempo de qualidade com seus filhos no fim da semana, isso compensará as horas ausentes durante o restante da semana. Embora horas mais longas tenham seu valor, pesquisas mostram que períodos mais curtos, porém mais consistentes, todos os dias, têm resultados mais gratificantes. Quando se trata de responder sobre o que é melhor, tempo de qualidade ou quantidade, precisamos reconhecer que os dois são igualmente importantes.

Um estudo publicado pela Academy of Management Perspectives em 2015 sugeriu que os pais que passam mais tempo com seus filhos terão maiores níveis de satisfação no trabalho do que aqueles que não fazem isso.11 Por sua vez, outro estudo, publicado em 2006, afirmou que “desde o nascimento, as crianças que têm um pai envolvido têm maior probabilidade de ser emocionalmente seguras, confiantes em explorar o ambiente e, à medida que envelhecem, têm melhores conexões sociais com os colegas. Também é menos provável que elas tenham problemas em casa, na escola ou na vizinhança.”12

Conexão constante

Como os pais ainda podem brincar com seus filhos adolescentes, envolvidos em um mundo totalmente novo de entretenimento? Uma resposta fácil é: simplesmente juntando-se a eles. Um dia, meu filho de 14 anos estava jogando videogame. Quando perguntei se poderia jogar contra ele, meu garoto respondeu com um sorriso, como se dissesse: “Bem-vindo ao meu mundo!” Senti a empolgação de meu filho apenas por saber que havia feito uma tentativa de entrar em seu domínio e provar o que ele acha interessante. É desnecessário dizer que perdi feio, algo que lhe deu grande prazer. Por 15 minutos, brincamos e conversamos, o que foi uma oportunidade valiosa.

Entrar no mundo dos adolescentes significa entender o que eles gostam de fazer. Isso cria um profundo sentimento de gratidão. Embora os amigos e outros interesses possam anular a influência que receberam de nós quando crianças, manter contato com eles e não recuar muito é a chave. Ainda que o tipo de brincadeira seja diferente, construir um relacionamento forte com o adolescente não envolve nada além de estar ao seu lado.

Transmissão de valores

A disposição de Cristo de separar tempo para as crianças, apesar de Sua agenda lotada de ensino e cura, é um exemplo perfeito para nós, pais. Ele não apenas reforçou a importância das crianças no reino de Deus, mas também deu uma lição valiosa sobre o que deveria ser prioridade para os pais hoje, apesar das pressões do tempo e das demandas da vida.

Manter-se ligado ao seu filho adolescente abrirá novas portas de atividades divertidas que podem variar de sair juntos para refeições rápidas, participar de um evento esportivo ou, ouso dizer, andar nas maiores montanhas-russas. São as impressões das atividades divertidas que permanecerão com seu filho em crescimento e farão com que ele transfira essas práticas, quando for a vez dele.

Referências

1 Ella Pickover, “Playful Dads ‘Have Babies

Who Grow to Be Brainier’”, disponível em

<https://tinyurl.com/w7zktaq>, acesso em 26/2/2020.

2 Pickover, “Playful Dads”.

3 Paul Roberts e Bill Moseley, “Father’s Time: Understanding the Challenges of Fatherhood”, disponível em <https://tinyurl.com/r9e4usu>, acesso em 26/2/2020.

4 Roberts e Moseley, “Father’s Time.”

5 Ibid.

6 Ibid.

7 Ibid.

8 Ibid.

9 Ibid.

10 Ibid.

11 Nedune, “Seven Reasons Why It’s Essential Children Spend Time With Their Fathers”, disponível em <https://tinyurl.com/sfu78rr>, acesso em 26/2/2020.

12 Jeffrey Rosenberg e W. Bradford Wilcox, The Importance of Fathers in the Healthy Development of Children (Washington, D.C.: U.S. Department of Health and Human Services, 2006), p. 12.

Richard Daly, líder de comunicação para a Igreja Adventista na Inglaterra