É surpreendente verificar como o princípio do dízimo é questionado por muitas pessoas, apesar do sólido fundamento bíblico sobre o qual está construído, dos esclarecimentos fornecidos pelos escritos de Ellen White, e de sua antiguidade na Igreja Adventista.

Sentindo a necessidade de enfatizar o assunto é que oferecemos, através deste artigo, uma contribuição aos líderes, oficiais e membros da Igreja, no sentido de intensificar a conscientização acerca de tão importante doutrina, para cuja prática o Senhor Deus prometeu grandes bênçãos espirituais e temporais.

Um estudo acurado sobre a prática de dizimar, nos dias do Velho Testamento, leva-nos à conclusão de que eram três os dízimos estabelecidos por Deus. Isso é confirmado tanto pela Bíblia como pelos escritos de Ellen G. White e pelos escritos judaicos. O Talmude, Flávio Josefo e outros autores sustentam esse ensinamento. O curioso é que, atualmente, as igrejas cristãs dão ênfase a um dízimo, e muitas pessoas acham demais.

Vejamos então o que envolvia cada um dos três dízimos divinamente estabelecidos.

O primeiro dízimo

De acordo com Levítico 27:30 e 32, “todas as dízimas da terra, tanto do grão do campo, como do fruto das árvores, são do Senhor; santas são ao Senhor. No tocante às dízimas do gado e do rebanho, de tudo o que passar debaixo da vara do pastor, o dízimo será santo ao Senhor” .

Esse mandamento foi dado por Deus no Monte Sinai (v. 34), apesar de, à semelhança dos princípios expostos nos Dez Mandamentos, existir muito tempo antes: “Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou ele a Abrão, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus altíssimo; que possui os céus e a terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abrão o dízimo.” (Gên. 14:18-20). “Fez também Jacó um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta jornada que empreendo, e me der pão para comer e roupa que me vista, de maneira que eu volte em paz para a casa de meu pai, então o Senhor será o meu Deus; e a pedra, que erigi por coluna, será a casa de Deus; e de tudo quanto me concederes, certamente eu te darei o dízimo.” (Gên. 28:20-22).

Tal como o sábado (Isa. 58:13), o dízimo foi declarado “santo ao Senhor” (Lev. 27:32). Aliás, Ellen White estabelece uma relação entre o caráter santo do dízimo e do sábado. Diz ela: “Deus dá ao homem nove décimos, ao passo que reclama apenas um décimo para fins sagrados, da mesma maneira que deu ao homem seis dias para seu trabalho, e reservou e pôs à parte o sétimo dia para Si. Pois, como o sábado, um décimo da renda é sagrado; Deus o reservou para Si.” (Testemunhos Seletos, vol I, pág. 374).

“Deus santificou o sétimo dia. Essa porção específica de tempo, separada pelo próprio Deus para culto religioso, continua hoje tão sagrada como quando pela primeira vez foi santificada pelo nosso Criador. De igual maneira, o dízimo de nossas rendas ‘santo é ao Senhor’. … Enquanto nós como um povo estamos procurando dar fielmente a Deus o tempo que Ele conservou como Seu, não lhe daremos também nós aquela parte de nossos meios que Ele reclama?” (Mordomia e Prosperidade, pág. 66).

Como não poderia deixar de ser, nosso Senhor Jesus Cristo aprovou o sistema do dízimo: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da lei, a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém fazer estas coisas, sem omitir aquelas.” (Mat.23:23; Luc. 11:42).

Aqui, Jesus mostra Sua aprovação ao dízimo. Nem Ele, nem qualquer outro escritor do Novo Testamento diminui, no mínimo que seja, esta obrigação. Cristo deixa claro que não Se opõe ao dízimo, mas ao espírito hipócrita dos escribas e fariseus, cuja religião consistia na observância minuciosa dos aspectos externos da lei.

Sendo “santo ao Senhor”, o dízimo foi separado por Deus para uma finalidade sagrada e específica, isto é, o sustento dos levitas e do sacerdócio levítico: “Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que prestam, serviço da tenda da congregação. Porque os dízimos dos filhos de Israel, que apresentam ao Senhor em oferta, dei-os por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão. Comê-lo-eis em todo lugar, vós e a vossa casa, porque é vossa recompensa pelo vosso serviço na tenda da congregação.” (Núm. 18:21, 24 e 31). “As primícias da nossa massa, as nossas ofertas, o fruto de toda árvore, o vinho e o azeite, traríamos aos sacerdotes, às câmaras da casa do nosso Deus; os dízimos da nossa terra aos levitas, pois a eles cumpre receber os dízimos em todas as cidades onde há lavoura.” (Nee. 10:31).

A orientação quanto ao emprego do dízimo não foi mudada nos dias do Novo Testamento. Paulo falou disso, garantindo tratar-se de um mandamento do Senhor. Eis suas palavras: “Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados, do próprio templo se alimentam; e quem serve ao altar, do altar tira o seu sustento? Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho, que vivam do evangelho.” (I Cor. 9:13 e 14).

Segundo o Comentário Bíblico Adventista, “Deus tem ordenado, em geral, que Seus ministros sejam aliviados da dupla responsabilidade de pregar o evangelho e de ganhar seu sustento material. Jesus enviou Seus discípulos aos povos e às aldeias da Palestina, e lhes disse que não se preocupassem por suas necessidades físicas, porque disso se encarregariam aqueles por quem eles iam trabalhar (Mat. 10:9 e 10; Luc. 10:7).

“Deus informou aos isrealitas que uma décima parte de todas as suas posses era dEle, e que o dever deles era entregar um fiel dízimo aos sacerdotes do templo (Lev. 27:30 e32; Núm. 18:21; Mal. 3; 10 e 11; Heb. 7:5).

“Jesus sancionou esse plano quando esteve na Terra (Mat. 23:23). Assim foi estabelecido claramente o modelo do método divinamente ordenado que deve seguir a Igreja cristã para o sustento material do ministério”, (vol. 6, pág. 726).

“Deus não mudou. O dízimo tem de ser ainda empregado para a manutenção do ministério. O dízimo é separado para um uso especial… Deve ser dedicado especialmente ao sustento dos que estão levando a mensagem de Deus ao mundo; e não ser desviado desse propósito.” (Mordomia e Prosperidade, pág. 103).

Como vemos, o primeiro dízimo não deveria jamais ser usado em benefício de qualquer outra finalidade. As orientações inspiradas são no sentido de que “comete-se grande erro quando se retira o dízimo do fim em que deve ser empregado – o sustento dos ministros”. “Não deve ser considerado fundo para os pobres. Não deve ser usado para atender a despesas ocasionais da igreja. Nem para se cuidar da casa de culto.”

“Devem-se estabelecer provisões para esses outros ramos da obra. Eles devem ser mantidos, mas não do dízimo.” (Mordomia e Prosperidade, págs. 102 e 103).

No entanto, o sustento dos levitas e seu sacerdócio, e do ministério da Igreja, não é o único propósito para os quais o Senhor instituiu o dízimo, “o sistema dos dízimos e ofertas destinava-se a impressionar a mente dos homens com uma grande verdade – verdade de que Deus é a fonte de toda bênção a Suas criaturas, e de que a Ele é devida a gratidão do homem pelas boas dádivas de Sua providência.” (Patriarcas e Profetas, pág. 525).

E mais. Deus queria desenvolver, aprimorar e aperfeiçoar o caráter do homem, extirpando dele o egoísmo e restaurando nele a Sua imagem; tornando-o, desse modo, co-participante de Cristo no maraviIhoso plano da redenção e nas alegrias da recompensa eterna. Em Isaías 53:11, lê-se que Jesus Cristo “verá o fruto do penoso trabalho de Sua alma e ficará satisfeito”. Sim, Ele deseja que o homem participe também dessa grande felicidade.

“Deus planejou o sistema de beneficência sistemática a fim de que o homem se pudesse tornar como Seu Criador: de índole benevolente e abnegada, e ser finalmente coparticipante de Cristo, da eterna glória, gloriosa recompensa.” (Mordomia e Prosperidade, pág. 15).

Ainda segundo o Comentário Bíblico Adventista, vol. 6, página 726, “entregar o dízimo e dar ofertas é uma repreensão contínua ao egoísmo humano. Ademais, ajuda ao doador a pôr sua confiança em Deus e não nas coisas materiais (Mat. 6:19-21). Desse modo fica evidente que a entrega do dízimo e a generosa doação de ofertas para o sustento do ministério e o progresso da Obra de Deus em toda a Terra, proporciona bênçãos ao que dá e ao que recebe. Refreia-se o egoísmo, fomenta e mantém o interesse na obra da Igreja. Os ministros têm o dever de educar nesse assunto de ordem econômica aos membros da igreja, para que os crentes possam receber as bênçãos que Deus tem prometido aos que cumprem com o plano divino contido nessa ordenança (I Cor. 9:13 e 14), e também para fazer prosperar a proclamação do evangelho em todo o mundo”.

Por isso, há necessidade de que a igreja nomeie “pastores ou anciãos que sejam dedicados ao Senhor Jesus, e cuidem esses homens de que se escolham oficiais que se encarreguem fielmente ao trabalho de recolher o dízimo. Se os pastores não se demonstrarem aptos para o cargo, se deixarem de apresentar à igreja a importância de devolver ao Senhor o que Lhe pertence, se não cuidarem de que os oficiais que estão sob suas ordens sejam fiéis, e que o dízimo seja trazido, es-tão em perigo. Estão negligenciando uma questão que envolve uma bênção ou maldição para a igreja. Devem ser alijados de sua responsabilidade, e outros, homens devem ser experimentados e provados”. (Mordomia e Prosperidade, pág. 106).

O segundo dízimo

Enquanto o primeiro dízimo era separado exclusivamente para o sustento dos levitas, do sacerdócio levítico, e posteriormente também do ministério da Igreja, um segundo dízimo era requerido, com outra finalidade: “A fim de promover a reunião do povo para serviço religioso, bem como para se fazerem provisões aos pobres, exigia-se um segundo dízimo de todo o lucro”. (Patriarcas e Profetas, pág. 530). Quer dizer, um fim puramente social, caritativo, e também religioso.

Diz a Bíblia; “Certamente darás os dízimos de todo o fruto das tuas sementes, que ano após ano se recolher do campo. E, perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o Seu nome, comerás os dízimos do teu cereal, do teu vinho e do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer ao Senhor teu Deus todos os dias. Então virá o levita (pois não tem parte nem herança contigo), o estrangeiro, o órfão e a viúva, que estão dentro da tua cidade, e comerão, e se fartarão, para que o Senhor teu Deus te abençoe em todas as obras que as tuas mãos fizerem.” (Deut. 14:22, 23 e 29).

Desse “banquete eucarístico”, como o chamava John Davis, em seu Dicionário da Bíblia, banquete das coisas dizimadas, participavam, além do próprio dizimista e sua família, seus servos, o levita, o estrangeiro o órfão e a viúva.

É importante observar ainda alguns procedimentos, no tocante ao segundo dízimo, que deveriam ser cumpridos pelo povo. Cada ano, por dois anos consecutivos em um ciclo de três, o dízimo era se-parado e levado “perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o Seu nome”, ou ao lugar em que estava estabelecido o santuário. Antes de o governo central ser estabelecido em Jerusalém, onde foi construído o grande templo, Deus fez habitar o Seu nome em vários lugares onde o santuário era fixado (I Sam. 7:16; Amós 4:4)

Segundo Ellen White, “depois de apresentarem uma oferta de agradecimento a Deus, e uma especificada porção ao sacerdote, os ofertantes deviam fazer uso do que restava para uma festa religiosa, da qual deviam participar os levitas, os estrangeiros, os órfãos e as viúvas. Assim, tomavam-se providências para as ações de graças e festas, nas solenidades anuais, e o povo era trazido á associação com os sacerdotes e levitas, para que pudesse receber instrução e animação no serviço de Deus”.

No terceiro ano, o plano sofria alteração, e o segundo dízimo devia ser comido em casa, na própria cidade ou lugar onde o dizimista morasse: “Ao fim de cada três anos, tirarás todos os dízimos do fruto do terceiro ano, e os recolherás na tua cidade.” (Deut. 14:28). “Quando acabares de separar todos os dízimos da tua messe no ano terceiro, que é o dos dízimos, então os darás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas cidades, e se fartem.” (Deut. 26:12).

Então, o dizimista orava solenemente: “Tirei o que é consagrado de minha casa, e dei também ao levita, e ao estrangeiro, e ao órfão, e à viúva, segundo todos os teus mandamentos que me tens ordenado; nada transgredídos teus mandamentos, nem deles me esqueci. Dos dízimos não comi no meu luto, e deles nada tirei estando imundo, nem deles dei para a casa de algum morto; obedeci à voz do Senhor meu Deus; segundo a tudo o que me ordenaste, tenho feito. Olha desde a Tua santa habitação , desde o Céu, e abençoa o Teu povo, a Israel, e a terra que nos deste, como juraste a nossos pais, terra que mana leite e mel.” (Deut. 26:13-15).

Assim como primeiro dízimo, o segundo também foi ordenado por Deus para ser uma grande bênção espiritual e temporal ao povo, uma vez que “proveria um fundo para fins de caridade e hospitalidade”. Diante disso, é fácil entender a declaração do salmista: “Fui moço, e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão.” (Sal. 37:25).

Cremos, particularmente, que o princípio assistencial envolvido no segundo dízimo também é válido para os nossos dias. “Não é propósito de Deus que os cristãos, cujos privilégios excedem em muito aos da nação judaica, dêem menos abundantemente do que deram eles. ‘A qualquer que muito for dado’, declarou o Senhor, ‘muito se lhe pedirá.’ (Luc. 12:48). A liberalidade requerida dos hebreus era-o em grande parte para beneficiar sua própria nação: hoje em dia a obra de Deus se estende por toda a terra. Cristo tinha colocado nas mãos de Seus seguidores os tesouros do evangelho, e sobre eles colocou a responsabilidade de dar as alegres novas de salvação ao mundo. Nossas obrigações são muito maiores, seguramente, do que o foram as do antigo Israel.” (Atos dos Apóstolos. pág. 337 e 338).

O terceiro dízimo

Um terceiro dízimo existente na Bíblia é chamado de “dízimo dos dízimos”, conforme Números 18:26: “Também falarás aos levitas, e lhes dirás: quando receberdes os dízimos da parte dos filhos de Israel, que vos dei por vossa herança, deles apresentareis uma oferta ao Senhor: os dízimos dos dízimos.”

Os levitas, como é sabido, não receberam herança na terra de Canaã, tendo o Senhor lhes destinado os dízimos do povo de Israel. Privilegiado com o ministério sacerdotal, Arão, sendo da tribo de Levi, igualmente não recebeu herança. Mas o Senhor mesmo Se declarou sua herança (Núm. 18:20).

Para manutenção dessa nobre classe sacerdotal e suas respectivas famílias, Deus instituiu uma lei que estabelecia os direitos e deveres dos sacerdotes e levitas, no tocante às ofertas e dízimos. Essa lei tinha o resguardo da imutabilidade: “Disse mais o Senhor a Arão: Eis que Eu te dei o que foi separado das Minhas ofertas, com todas as coisas consagradas dos filhos de Israel: dei-as por direito perpétuo como porção a ti e a teus filhos.” (Núm. 18:8).

Nos versos 26 e 28 do mesmo capítulo, é dito que de todos os dízimos recebidos do povo, os levitas deveriam separar a décima parte, ou seja, o dízimo dos dízimos, e entregá-la aos sacerdotes. A tríplice repetição dessa ordem (vs. 29, 30 e 32) indica que o que fosse separado pelos levitas, como dízimo dos dízimos, deveria ser a melhor parte de tudo, sugerindo assim que a seleção deveria ser bastante criteriosa.

Esse era o “dízimo dos dízimos” – o terceiro dízimo. Não se tratava dos dízimos do povo. Era o dízimo dos levitas, se-parado dos dízimos recebidos dos filhos de Israel, para manter com dignidade a grande linhagem sacerdotal.

E assim deve ser ainda hoje. Ao receberem sua porção, ou auxílio de manutenção, dos dízimos que fiéis irmãos fazem chegar ao tesouro do Senhor, pastores e obreiros devem também separar o seu dízimo e devolvê-lo ao Campo ao qual servem. É o dízimo dos dízimos.

O princípio do dízimo prevalece na Igreja Adventista, porque é o plano divino para sustento do seu ministério em todos os níveis. Vivê-lo e ensiná-lo às nossas congregações é nosso dever, como adverte Ellen White:

“Solene responsabilidade repousa sobre os pastores, qual seja a de expor perante as igrejas as necessidades da causa de Deus e ensiná-las a ser liberais. Quando isto é negligenciado, e as igrejas deixam de contribuir para as necessidades de outros, não somente a causa do Senhor sofre, mas é retirada a bênção que deveria vir sobre os crentes.” (Atos dos Apóstolos, pág. 341).