Considerando isto dêste modo, ver-se-á que tôdas as 70 hebdomads são computadas na íntegra quando sucederam historicamente os eventos da “metade” da setuagésima ou última hebdomad. A fração da setuagésima hebdomad que restou após a morte, ressurreição e ascensão de nosso Senhor, não era mais então uma questão de conseqüência material. As condições da profecia exigiam um grupo de sete eventos (seis no verso 24 e um no verso 27), todos os quais deviam ocorrer na “metade” da última, ou setuagésima, hebdomad. E todos êles sucederam no tempo designado. Repetimos, porém, que não é predito evento algum para assinalar o término da última unidade. As primeiras 69 hebdomads atingem à manifestação do Messias, e a setuagésima — a hebdomad restante — é computada como uma unidade pelos eventos centralizados no Calvário e ocorrendo na “metade” da semana. Caso algum evento devesse acontecer na metade de determinado dia, e êle ocorresse exatamente na hora indicada, não estaria a expectativa perfeitamente cumprida, não importando o que acontecesse durante ou no final da metade restante dêsse dia?

Cremos que sucedeu assim com a setuagésima hebdomad, ou unidade de 7, na série das 70. A data exata, ou ponto de partida, da primeira hebdomad de tôda a série de 70 foi estabelecida como 457 A. C. Isto é essencial. E o ano inicial da última hebdomad.(27 A. D.) também é conhecido. Possuindo-se êstes fatôres identificados, não pode haver êrro na computação do tempo dos eventos a ocorrerem na “metade” da setuagésima hebdomad, que é o ponto focal de tôda a profecia.

Assim, embora vários expositores (como Hales, Tanner, Taylor etc.) sugiram o martírio de Estêvão como evento final da setuagésima semana — e isso pode ser bem razoável — nenhum marco histórico é realmente necessário, e talvez nenhum possa ser indicado com certeza. 

Reconhecemos portanto que a setuagésima hebdomad tem sua ênfase fundamental no transcendente evento da morte de Cristo, junto com os seis grandes corolários, todos agrupados no meio da última hebdomad.

10. Outras desditas a recaírem sôbre os judeus. — Em seguida são preditas as espantosas adversidades a ocorrerem após o término das 70 semanas. Elas vieram em conseqüência da rejeição do Messias pelos judeus, e abrangiam a destruição do Templo, o arrasamento da cidade de Jerusalém, a dispersão do povo judeu e uma sucessão de calamidades irrompendo sôbre Jerusalém como um dilúvio de desolação (Daniel 9:26). O tempo exato não foi predito, mas os eventos ocorreríam após haverem terminado as 70 semanas de anos, em 34 A. D. E convém notar especialmente que essa trágica retribuição não era um dos atos específicos que assinalariam a setuagésima semana — acabar com a transgressão, dar fim aos pecados, fazer reconciliação, trazer justiça eterna, selar a visão e ungir o Santo dos Santos. Foi o terrível resultado e a inevitável conseqüência da rejeição do Messias, por parte de Israel.

A temível “abominação da desolação,” mencionada por Daniel, o profeta, foi citada pelo próprio Cristo em Sua grande profecia: “Quando pois virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê atenda” (S. Mat. 24:15-20; comparar com S. Mar. 13:14). Isto é explicado mais detalhadamente pelas palavras: “Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei então que é chegada a sua desolação” (S. Luc. 21:20). Centenas de milhares foram mortos, dezenas de milhares foram vendidos em cativeiro, e houve guerra após guerra.

11. Terrível castigo incide sôbre Jerusalém.— O próprio Cristo, predizendo a completa destruição e desolação a O Ministério Adventista sobrevir a Jerusalém devido às suas iniqüidades acumuladas, declarou: “Em verdade vos digo que tôdas estas coisas hão de vir sôbre esta geração” (S. Mat. 23:36). Essas condenações profetizadas sôbre Jerusalém e o Templo sucederam depois do término das 70 semanas, mas no período da geração especificada. Eram inevitável conseqüência do supremo pecado de Israel em rejeitar o Messias. Destarte encheu-se a medida de sua iniqüidade (verso 32). Olhando para o futuro imediato, nosso Senhor chorou sôbre a cidade, dizendo:

“Ah! se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! mas agora isto está encoberto aos teus olhos. Porque dias virão sôbre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te estreitarão de tôdas as bandas; e te derribarão, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem; e não deixarão em ti pedra sôbre pedra, pois que não conheceste o tempo da tua visitação” (S. Luc. 19:42-44).

A partir de 66 A. D. irrompeu a guerra entre os judeus e os romanos, atingindo seu clímax em 70 A. D. O Templo deixou de ser o lugar da habitação de Deus, e seus sacrifícios terrestres perderam o significado. Os zelotes foram denunciados por Josefo como a causa direta da destruição (Wars iV. 3. 3). Êsses sicarii (“assassinos”) profanavam tudo o que era santo, e suas atividades caracterizavam-se por atrocidades, profanação e violência. O resultado foi completa destruição.

Poucos dias antes da Páscoa de 70 A. D., os destruidores romanos, chefiados por Tito, chegaram a Jerusalém. Atacaram a cidade e logo abriram uma brecha no muro. A cidade foi subjugada. Ao serem tomados os recintos do Templo, cessaram os sacrifícios diários. O Templo foi queimado e destruído, e os judeus massacrados impiedosamente — seu sangue, conforme declara Josefo, escorria pelos degraus abaixo. Viera o assolador. A cidade e o Templo estavam em ruínas; efetuara-se a desolação.

12. Relação entre as 70 semanas e os 2300 dias. — Devido ao fato de que a crucifixão de Cristo na metade da semana comprova definitivamente o início correto das 70 semanas, e como elas foram subtraídas dos 2.300 dias, afirmamos que os dois períodos começaram simultaneamente na completa restauração de Jerusalém e do templo-santuário, bem como das leis e do govêrno judaico, em 457 A. C. Numerosos expositores adotaram 457 A. C. como a data determinante. Declarou o Dr. Tiago Strong, do Seminário Teológico Drew, tradutor para o inglês e revisor de Zöckler (Lange’s Commentary, sôbre Dan. 9:24-27): “A única ‘ordem’ que corresponde à do verso 25 é a de Artaxerxes Longímano, promulgada no sétimo ano do seu reinado, e registada no sétimo capítulo de Esdras, como foi demonstrado copiosamente por Prideaux, e é aceito por muitos críticos.” *

Com isso concordaram, de maneira plena e independente, dezenas e dezenas de eruditos em diversos países e pertencendo a muitas religiões, desde o tempo de João Petri, da Alemanha — 1768 em diante. (Ver a evidência histórica apresentada na Pergunta 27.)

* Funck, Nigrinus, Bullinger, Coceius, Sir Isaque Newton, Cappel, Horch, Bengel e Petri encontravam-se entre os dirigentes da Reforma e pós-Reforma dos séculos dezesseis e dezessete, que aceitaram a data do sétimo ano de Artaxerxes (457 A. C.).

Os escritores do Velho Mundo, em princípios do século dezenove, incluem Prideaux, Faber, T. Scott, A. Clarke, Cuninghame, Mason, Brown, Frv, White, Cooper, Homan, Keyworth, Addis, Hoare, Digby, Keith, Habershon, Bickersteth e Gaussen. E os expositores do Nôvo Mundo, em princípios do século dezenove, incluem Boudinot, R. Scott, Livermore, Wheeler, Shannon, Tyng e Hinton.

Entre os eruditos mais recentes, podem ser citados Jamieson, Faucett e Brown, Rule, Pusey, Auberlen, Blac-kstone, Leathes, Tanner e Boutflower. — Questions on Doctrine, págs. 290-295.