Eu esperava realizar um vôo tranqüilo de Londres aos Estados Unidos. A partida foi anunciada um pouco mais cedo do que a hora programada. A nossa passagem pela alfândega foi rápida, e a voz compassada do comissário logo nos convidou a entrar no espaçoso avião a jato, transatlântico. Esse vôo certamente teria início na hora certa. Os passageiros encontraram seus lugares, guardaram a bagagem de mão e prenderam os cintos de segurança, enquanto as aeromoças, sempre atentas, desempenhavam suas funções com calma e dignidade.

Dentro de alguns instantes, porém, tornou-se evidente que nossa partida não seria regular. As aeromoças trocaram olhares sobressaltados. Oficiais passaram rapidamente da porta principal do avião para a carlinga. O piloto apareceu, denotando a falta de afável serenidade relacionada com o seu posto. O tempo da partida passou, e as conversas triviais de familiarização com as pessoas sentadas nas poltronas ao lado, bem como as vozes mais excitadas de viajantes mais turbulentos, deram lugar a um silêncio forçado. “Qual é o problema?” tornou-se a pergunta que pairava na mente de todos.

Finalmente o comandante se postou na frente da cabina. De modo cadenciado e com clara voz ele expôs a situação. Ele e seu co-piloto estavam prontos para partir. O avião também estava preparado para o vôo, e certamente os passageiros se achavam ansiosos de que a viagem logo tivesse prosseguimento. Todos os tripulantes se encontravam em seu posto designado, com exceção do engenheiro mecânico. O indivíduo escalado para desempenhar essa função em nosso vôo deixara de apresentar-se ao serviço. Devido a alguma singularidade de falta de compreensão humana ele ainda estava de férias no Sul da França. Era necessário providenciar urgentemente um substituto, mas levaria algum tempo até a sua chegada. Havia passageiros a serem apanhados numa parada intermediária, e o programa de trabalho da tripulação poderia sofrer alterações. Por conseguinte, teríamos um atraso de pelo menos quatro horas. “Creio que é melhor dizer-vos a verdade e expor a realidade dos fatos”, declarou o comandante. “Só posso pedir desculpas pelo que ocorreu. ”

Cinco horas mais tarde éramos finalmente transportados pelo ar, e comecei a refletir sobre o incidente. Como administrador, fiquei impressionado com a conduta do comandante. Ele demonstrou ser um líder numa situação crítica.

Primeiro, falou aos passageiros pessoalmente. Poderia haver-se ocultado detrás do anonimato do sistema de alto-falantes. Poderia ter recorrido a um subordinado para esquivar-se a uma situação desagradável; mas, como verdadeiro líder, enfrentou a questão diretamente.

Segundo, apresentou os fatos. Poderia ter usado de evasivas e subterfúgios. Poderia haver acusado sua aeronave — elas costumam ser impetuosas. Poderia haver enevoado a questão, empregando uma linguagem técnica. Mas preferiu falar com franqueza e diretamente, e assim ele se comunicou. A serena acolhida que teve a sua alocução atestou a sua liderança.

Terceiro, ele falou com calma. Talvez estivesse agitado interiormente, mas sua atitude exterior e sua voz permaneciam tranqüilas. Indubitavelmente, tinha sido frustrado. Planejara e orientara a partida como introdução a um bom vôo. Uma falha humana desbaratara os seus preparativos. No entanto, não manifestou irritação alguma, e sua serenidade inspirou os passageiros a agirem de modo análogo. Sua liderança foi genuína e eficaz. A respeito de um de seus conterrâneos no passado, escreveu-se que “ele realizava as melhores coisas nos piores momentos”. Os líderes modernos precisam ter idênticas motivações, especialmente os que dirigem e administram em assuntos espirituais. Esta citação expressa-o com mais exatidão:

“A maior necessidade do mundo é a de homens — homens que se não comprem nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao pólo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus.” — Educação, pág. 57.

Tal espécie de liderança conduzirá o povo de Deus até onde é Seu desígnio que eles estejam.