Dez benefícios que os ouvintes querem receber durante o sermão

Em uma ousada e controvertida decisão, Mel Gibson filmou A Paixão de Cristo em latim, o idioma de Pilatos e dos soldados romanos que crucificaram Jesus, e em aramaico, o idioma falado por Cristo e Seus discípulos. Ele pretendia que o filme fosse visto sem legendas, combinando, assim, a mídia moderna com idiomas quase não falados nem compreendidos por mais ninguém. Contudo, na época em que o filme foi liberado, Gibson mudou de idéia e acrescentou legendas.

Essa decisão é estranhamente reflexiva de um dos dilemas enfrentados pelos pregadores atualmente. Não raro, as igrejas contam a velha história do amor de Deus em uma linguagem (música, terminologia, símbolos, etc.) que somente os crentes compreendem, deixando na escuridão os recém-conversos ou não crentes. Em contraste, igrejas missionárias direcionam seu foco para um grupo diferente: pessoas que estão desejosas de ouvir a bela e velha história, mas não falam necessariamente o “igrejês” tradicional.

Algumas igrejas tentam construir uma ponte que une essas duas formas de agir, como que providenciando legendas, para poder falar e interpretar o que deseja dizer aos recém-conversos e não crentes. É interessante notar que o sermão pode ser essa ponte, ou uma delas, porque, no fim de tudo, tanto crentes como não crentes buscam as mesmas coisas no sermão. Quais são essas coisas? No meu modo de ver, existem dez elementos básicos que os ouvintes querem ouvir em um sermão. Aqui estão eles:

Prenda minha atenção, tão logo você comece a falar. Os grandes pregadores do passado sabiam como se ligar muito rapidamente com a audiência. Porém, muitos pregadores modernos, mesmo aqueles considerados bons, tendem a começar a mensagem com frases “clichês” como, por exemplo: “Vamos abrir nossa Bíblia no livro de…” Isso nem sempre funciona, no sentido de captar a atenção. Você tem muitos modos de alcançar esse objetivo: uma declaração forte, dramática mesmo; uma pergunta, uma história, um clip, entre outras opções. O certo é que, nesse momento, o pregador não deve dar aos ouvintes outra opção a não ser parar e ouvi-lo.

Ensine-me alguma coisa que eu ainda não saiba. Ao preparar o sermão, pergunte-se: “Se eu fosse ouvir esta mensagem, que parte dela, que pontos eu seria compelido a escrever de modo que nunca mais esquecesse?” Se a resposta for “nenhum”, comece tudo de novo. Todo ouvinte quer descobrir novas informações, novas abordagens, novos vislumbres e novas perspectivas.

Fale-me o que Deus diz, não sua própria opinião. Todo ouvinte, convertido ou não convertido, está muito mais interessado em ouvir o que a Palavra de Deus tem a dizer, e não o que o pregador pensa a respeito de determinado assunto. Os bons sermões, independentemente do público-alvo, fundamentam-se na Bíblia e deixam que ela fale.

Não me faça sentir que sou néscio, só porque não conheço a Bíblia tão bem quanto você. Muitas pessoas, quer sejam membros ou interessados, não usam a Bíblia durante o culto. Elas se sentem embaraçadas com sua incapacidade para encontrar livros como os de Rute ou Ageu em poucos segundos. Por essa razão, em minha igreja, sempre que mencionamos um texto durante o sermão, nós projetamos na tela o índice dos livros da Bíblia, destacamos o livro em pauta e dizemos algo como: “Rute é o oitavo livro da Bíblia, e encontra-se na página tal…”, conforme a versão que providenciamos para uso dos presentes.

Deixe-me gostar de você; ajude-me a conhecê-lo um pouco mais. Todo orador deveria ser encorajado a aproveitar a oportunidade da introdução de sua fala, para dar aos ouvintes algumas informações sobre sua vida e personalidade. Não se trata de autopromoção nem apresentação de currículo. É justamente o contrário. Funcionará muito melhor se o que for mencionado revelar que ele é um ser humano normal; semelhança com o povo, simplicidade e simpatia.

Faça-me sorrir. O púlpito não é um picadeiro, mas também não é um túmulo. Portanto, o pregador não deve ser um iceberg. Nem todo mundo sabe contar uma história engraçada, mas esse não é o único modo – e talvez não seja o melhor – de injetar graça no sermão. Observações cândidas sobre nossas tolices são algumas das formas efetivas de colocar um pouco de humor no sermão.

Mostre que você me compreende. Uma das mais cruciais e primeiras tarefas de todo pregador é identificar-se com seus ouvintes. Em um sermão sobre “como sobreviver ao sofrimento”, iniciei dizendo o seguinte: “Algumas vezes um pregador morde mais do que ele pode mastigar”. E então, fui detalhando por que me sentia incapaz de falar a um grupo composto de pessoas que sofriam mais do que eu tinha sofrido: um empresário fracassara em seus negócios; um casal lutava com doenças debilitantes; uma mãe tinha perdido seu filho, e assim por diante.

Admissão sincera de nossas próprias lutas, ou breve demonstração de conhecimento sobre situações reais da vida, que outros estão enfrentando, é fundamental para nos identificarmos com nossos ouvintes.

Toque minhas emoções. Ouvintes, membros da igreja ou não, querem ser inspirados. Desejam que as cordas do seu coração sejam tocadas. E embora, particularmente os descrentes, estejam atentos quanto a qualquer tipo de manipulação, eles são ansiosos por um pregador que os ajude a não apenas pensar, mas também a sentir. Qualquer sermão que falhe em ligar mente e coração, provavelmente, causará desapontamento.

Satisfaça uma necessidade. A primeira pergunta que um escritor ou um pregador deve responder é: “Qual é o objetivo desta mensagem?” Se, como leitor ou ouvinte, eu não consigo identificar, desde o início, uma promessa de que terei o que desejo, imediatamente começarei a desviar minha atenção para qualquer outra coisa: algum evento esportivo, meus negócios, lazer com a família, e por aí adiante. Pior que isso, se eu identificar a promessa de algum benefício e ela não for cumprida, dificilmente voltarei para ouvi-lo na próxima semana.

Diga-me claramente como posso aplicar sua mensagem à minha vida, hoje e durante a próxima semana. Quando eu concluo um sermão, assumo que todos os meus ouvintes estejam interessados em seguir e fazer o que Deus lhes pediu durante a mensagem. Assim, além de fazer um apelo para entrega, oro com eles e coloco-me à disposição deles para aconselhamento posterior, tentando sugerir algumas formas de praticarem o que aprenderam. Às vezes, os encorajo a escrever uma declaração pessoal de missão, a qual possam ter consigo durante a semana; ou enviar um cartão postal a alguém, convidando-o para ir à igreja.

A pregação não é muito diferente, para crentes ou interessados. É verdade que temos alguma liberdade em relação aos membros batizados. Talvez, ainda tenhamos alguns tabus com os que estão chegando. Porém, os dois grupos buscam essencialmente as mesmas coisas, ao ouvirem um sermão. Nenhuma dessas coisas é nova, mas necessitamos aplicar todas elas à mensagem que pregamos.

Robert R. Hostetler, pastor em Oxford, Ohio, Estados Unidos

EM NOSSA IGREJA, TREINAMOS NOSSOS PREGADORES A AVALIAREM O SERMÃO COM BASE NESTES CRITÉRIOS:

• Prendo a atenção dos ouvintes tão logo começo a falar?

• Começo onde as pessoas estão, levando em conta sua cultura, seus problemas e necessidades?

• Estou ensinando o que os ouvintes ainda não sabem?

• Comunico o que Deus diz, em lugar das minhas opiniões pessoais?

• Costumo incluir palavras de boas-vindas aos ouvintes e digo algo apropriado a meu respeito, na introdução?

• Tenho oferecido uma explicação elementar do texto?

• Interajo com os ouvintes, mencionando-os pelo nome ou fazendo perguntas?

• Tenho colocado, em algum momento, uma pitada de humor no sermão?

• Mostro-me realista, em vez de superficial?

• Crêem meus ouvintes que eu, realmente, os compreendo?

• Tenho tocado as emoções dos ouvintes?

• Minha mensagem tem direção certa, no sentido de satisfazer necessidades?

• As soluções que proponho são realistas, relevantes e bíblicas?

• A estrutura da minha mensagem leva a uma conclusão e aplicação lógicas?

• Tenho deixado de abordar alguma coisa importante, crucial?

• Deixo claro como a mensagem pode ser aplicada no dia-a-dia?

• Faço apelos e coloco-me à disposição dos ouvintes para ajuda posterior?