De conformidade com nossa maneira de compreender a interpretação profética, acreditamos que o livro de Apocalipse descreve as cenas finais no grande drama da redenção. Olhando através dos séculos, João contemplou a luta do dragão contra a igreja. Esta peleja entre as fôrças do bem e as do mal é vividamente descrita no capítulo doze. Ê proferido um “ai” sôbre os “que habitam na Terra e no mar; pois o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo” (versículo 12).
Através dos séculos protegeu o Senhor Sua igreja, providenciando muitas vêzes lugares de refúgio onde as pessoas perseguidas pudessem ser “sustentadas” “fora da vista da serpente” (versículo 14). Terminando o capítulo, o profeta descreve a luta final, dizendo: “E o dragão irou-se contra a mulher [a igreja cristã], e foi fazer guerra ao resto [a última parte] da sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus, e tèm o testemunho de Jesus Cristo” (versículo 17). Até o fim da história terrestre Deus terá filhos leais e fiéis. De acôrdo com a nossa interpretação da profecia, vemos no versículo 17 uma nítida descrição da batalha final entre Satanás e aquêles que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo. Aquêles que experimentarão todo o furor da ira do dragão são mencionados como sendo “o resto” da descendência da mulher, ou na linguagem adventista, a “igreja remanescente”.
É com um sentimento de profunda humildade que aplicamos esta passagem ao Movimento do Advento e à sua obra, pois reconhecemos as tremendas conseqüências de semelhante interpretação. Embora creiamos que Apocalipse 12:17 se refira a nós como o povo da profecia, não é com espírito de orgulho que aplicamos êste texto desta maneira. Para nós constitui isso a conclusão lógica de nosso sistema de interpretação profética.
Todavia o fato de que empregamos esta passagem dêste modo não significa absolutamente que pensemos que somos os únicos cristãos verdadeiros no mundo, ou que sejamos os únicos que serão salvos. Conquanto creiamos que a Igreja Adventista do Sétimo Dia é a organização visível por intermédio da qual Deus está proclamando ao mundo esta última mensagem especial, lembramo-nos do princípio que Cristo enunciou ao dizer: “Ainda tenho outras ovelhas que não são dêste aprisco” (S. João 10:16). Os adventistas do Sétimo Dia crêem firmemente que Deus possui um precioso remanescente, uma multidão de crentes fervorosos e sinceros, em tôdas as igrejas, não excetuando a comunidade católico-romana, que vivem à altura da luz que Deus lhes outorgou. O grande Pastor das ovelhas os reconhece por Seus, e os está convocando para um grande rebanho e uma elevada comunhão, como preparo para Sua volta. Nossa posição a êsse respeito é indicada claramente por Ellen G. White:
Entre os habitantes do mundo, espalhados por tôda a Terra, há os que não tèm dobrado os joelhos a Baal. Como as estréias do céu, que aparecem à noite, êsses fiéis brilharão quando as trevas cobrirem a Terra, e densa escuridão os povos. Na África pagã, nas terras católicas da Europa e da América do Sul, na China, na Índia, nas ilhas do mar e em todos os escuros recantos da Terra, Deus tem em reserva um firmamento de escolhidos que brilharão em meio às trevas, revelando claramente a um mundo apóstata o poder transformador da obediência a Sua lei. — Profetas e Reis, págs. 188 e 189.
Tôda jóia será distinguida e reunida, pois a mão do Senhor está estendida para recobrar o remanescente de Seu povo. — Early Writings, pág. 70.
Cremos que a maioria dos filhos de Deus ainda se acham espalhados dêste modo, por todo o mundo. E, naturalmente, a maior parte dos que se encontram nas igrejas cristãs ainda observam conscienciosamente o domingo. Nós mesmos não podemos fazer assim, pois cremos que Deus exige uma reforma neste ponto. Contudo, respeitamos e amamos os cristãos que não interpretam a Palavra de Deus exatamente como nós.
Nosso estudo da profecia, em conformidade com o sistema histórico de interpretação, nos convence de que justamente antes do aparecimento de nosso Senhor e Salvador, importantes questões agitarão tanto á igreja como o mundo. As circunstâncias se ajustarão de tal forma que cada alma sôbre a Terra será provada em sua lealdade para com Deus. De acôrdo com os ensinamentos de Cristo, acreditamos que muitos dos que hoje professam Seu nome e pretendem ser seguidores de Sua verdade, naquele tempo comprometerão sua fé, negando realmente a seu Senhor.
Julgamos que aquilo que levará a esta crise está esboçado em Apocalipse 13. Nesta profecia aparecem dois grandes poderes sob o simbolismo de uma bêsta de dez chifres que sai do mar, e outra de dois chifres que emerge da Terra. Êstes poderes dominantes são vistos unindo-se num único propósito, o de opor-se a Deus e perseguir Seu povo. Sua oposição conjunta será universal, e tão influente que êles conseguirão que seja aprovado um decreto, provàvelmente através de alguma assembléia legislativa do mundo, estabelecendo que aquêles que se opõem a essa proclamação serão impedidos de realizar qualquer negócio; e que até mesmo o alimento lhes será negado.
O efeito dêsse decreto atingirá a todos — “pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos”. Ninguém escapará. Isto resultará em boicotagem total dos que servem a Deus. Nessa crise muitos comprometerão seus princípios e negarão sua fé.
Cremos que Deus quer que todos, especialmente aquêles que O amam e servem, estejam preparados para êsse terrível desfecho. Por esta razão está Êle enviando uma mensagem especial a todos os povos da Terra. Esta mensagem convida primeiro os homens a aceitar a salvação através de Sua graça, apresentando em seguida o assunto claramente diante dêles, desmascarando o homem do pecado e revelando a subtileza de seus ataques, de maneira que quando vier a prova, cada indivíduo possa fazer uma escolha inteligente. Em harmonia com essa interpretação da profecia, achamos que Deus está provando a lealdade dos homens hoje, para que quando vier o desenlace final e o mundo todo se dividir no tocante à questão de lealdade a Deus ou submissão ao satânico edito do mundo, estejam êles prontos para a prova.
Em tôdas as grandes crises, teve Deus pessoas dedicadas e fiéis, cuja lealdade para com Êle era mais preciosa do que a própria vida. E nesta hora de provação que se aproxima, cremos que Êle terá um “remanescente” fiel. Acreditamos que o povo “remanescente” finalmente abrangerá todos os verdadeiros e fiéis seguidores de Cristo. Temos a convicção de que Deus nos confiou a solene responsabilidade de levar Sua derradeira mensagem de advertência ao mundo — “o evangelho eterno” (Apoc. 14:6).
Nossa compreensão a respeito do lugar que nos cabe na preparação para êsses acontecimentos, é delineada na seguinte declaração de Ellen G. White:
No tempo do fim, tôda instituição divina deve ser restaurada. A brecha feita na lei quando o sábado foi mudado pelo homem, deve ser reparada. O remanescente de Deus, em pé diante do mundo como reformadores, deve mostrar que a lei de Deus é o fundamento de tôda reforma perdurável, e que o sábado do quarto mandamento deve permanecer como memorial da criação, uma lembrança constante do poder de Deus. De maneira clara e distinta devem apresentar a necessidade de obediência a todos os preceitos do decálogo. Constrangidos pelo amor de Cristo, devem cooperar com Êle na reconstrução dos lugares assolados. Devem ser reparadores das roturas, e restauradores de veredas para morar. — Profetas e Reis, pág. 678.
Resumindo o assunto: Cremos que através de todos os séculos Deus teve os Seus eleitos, que se distinguiram por sua sincera obediência a Êle, relativamente a tôda a luz que lhes foi revelada. Êstes constituem o que pode ser descrito como a igreja invisível. Cremos também que em diversos períodos da história terrestre Deus chamou um grupo de pessoas, tornando-as os únicos depositários e exponentes de Sua verdade. Isto é admiràvelmente ilustrado pela história de Israel e, como já foi mencionado, por certos movimentos reformatórios na história da igreja cristã.
Cremos que na derradeira hora da Terra Deus tem uma mensagem especial para o mundo, a fim de preparar a todos os que a atenderem para resistir aos enganos dos últimos dias e estar prontos para o segundo advento de Cristo. Cremos que Êle despertou um movimento — conhecido por Igreja Adventista do Sétimo Dia — com o explícito propósito de torná-lo, num sentido especial, o depositário e expoente dessa mensagem. Embora êste ajuntamento de filhos de Deus possa ser qualificado como igreja, achamos que o têrmo “movimento” deixa transparecer com mais precisão a natureza e o propósito essencial dêste grupo característico e de sua distintiva mensagem.
Entendemos que nossa tarefa seja a de persuadir os homens a se prepararem para o dia de Deus, convidando-os assim a aceitarem a mensagem especial do Céu e a se unirem conosco na proclamação da grande verdade de Deus para êstes dias. Sustentando, como o fazemos, que Deus suscitou êste movimento e lhe deu uma mensagem, acreditamos que antes da derradeira hora de crise e provação todos os verdadeiros filhos de Deus — agora tão amplamente espalhados — unir-se-ão conosco, prestando obediência a esta mensagem, da qual o sábado do sétimo dia é uma parte essencial.
Finalmente, com todo o ardor e franqueza de que dispomos, desejamos declarar que repelimos a ilação de que sòmente nós somos amados por Deus e temos direito ao Céu. Cremos que todos aquêles que servem a Deus com inteira sinceridade e de acôrdo com tôda a compreensão que agora têm da vontade revelada de Deus, são presentemente membros potenciais daquele último grupo “remanescente”, como é descrito em Apoc. 12:17. Cremos ser o solene dever e o jubiloso privilégio do movimento do advento tornar as últimas mensagens probantes de Deus tão claras e persuasivas, a ponto de atrair todos os filhos de Deus para aquêle grupo que foi predito na profecia e que se prepara para o dia de Deus.