W. E. MURRAY

(Presidente da Divisão Sul-Americana)

“PORQUE nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus”, foram as palavras do apóstolo Paulo, ao dirigir-se aos anciãos da igreja de Éfeso, junto à praia. A histórica reunião congregou um grupo de líderes na causa de Deus pela última vez na vida. Ao pensar o apóstolo sôbre que diria a êsses homens que iriam enfren-tar dificuldades na igreja, dentro em pouco, deve ter êle buscado diligentemente alguma coisa que comunicasse ânimo e instrução para o futuro. Buscou em sua própria experiência de ministro e de líder, algum conselho que pudesse ser-lhes um auxílio eficaz. Poderia haver-lhes relatado seus longos anos de ministério e exortado a seguir-lhe o exemplo. Poderia haver citado a sua bravura em face do perigo como obreiro evangélico. Poderia ter apresentado o seu exemplo de repartir as suas posses pessoais com os coobreiros para a causa de Deus.

Pôs êle de lado tudo isso e disse a êsses irmãos que sua maior satisfação era que fôra fiel no anunciar-lhes “todo o conselho de Deus.” A fidelidade no transmitir aos crentes o plano de Deus, a instrução da Palavra, a exortação das Santas Escrituras, era o maior gôzo e satisfação do apóstolo. Ensinar a Palavra de Deus, dar conselho, apegar-se aos retos princípios da verdade, defender a fé, contra os insidiosos ataques dos professos crentes e dos estranhos ao rebanho, mostrar aos gentios como o homem do seu tempo podia e de-via ser cristão, essas, atentai bem, eram as qualidades do ministro, que o apóstolo exaltou como tocha esplendente perante os obreiros de tôdas as eras, por preceito e exemplo.

O apóstolo escreveu ao seu filho na fé, Timóteo, e exortou-o a examinar o seu próprio ministério, evidentemente a intervalos freqüentes, para ver se afinal seria aprovado como obreiro. Sem dúvida o apóstolo Paulo examinou seu próprio ministério muitas vêzes para ver se estava sendo orientado em rumo certo. Seus escritos dão prova dêsse exame constante. Como ministros e obreiros nesta época da história da igreja, bem faremos em examinar o nosso ministério freqüentemente, para ver se estamos sendo guiados por princípios que nos serão afinal uma satisfação, e se seremos afinal aprovados pelo Grande Juiz no término de nossa carreira. Não me resta dúvida de que alguns bem-intencionados obreiros cristãos de hoje em dia estão empregando o seu tempo, em grande parte, em coisas secundárias, com negligência das essenciais. Alguns põem ênfase nas aparências exteriores, quando a nossa ênfase deve ser posta na experiência do coração. Alguns po-dem estar empregando a maior parte do seu tempo numa série de atividades, quando deveriam es-tar tomando mais tempo para oração e meditação. Alguns podem haver perdido o conhecimento e o censo de “pôr em primeiro lugar as coisas essenciais.” O apóstolo, nas palavras citadas a princípio, lança-nos a todos um desafio para corrigirmos o nosso ministério segundo o grande princípio de declarar todo o conselho de Deus à igreja de Deus hodierna. Cada dia da vida do obreiro deve ser um dia de exame. Todos os obreiros cristãos bem farão em “fechar o estabelecimento para balanço” uns poucos minutos em cada dia de sua vida.

O apóstolo mostra alguns princípios importantes da carreira no ministério evangélico, ao insistir no princípio de tornar conhecidos todos os conselhos de Deus neste capítulo vigésimo dos Atos. No vigésimo versículo expõe êle à atenção dos irmãos que o declarar todo o conselho de Deus só é feito mediante trabalho árduo. Declara que lhes “anunciou” e “ensinou”. Invocou todos os princípios de pedagogia dêle conhecidos, na momentosa tarefa de incutir no coração dos crentes as lições da Palavra. Ilustrou as verdades. Apelou para a lógica. Comparou as lições que desejava ensinar a fatos e princípios dêles conhecidos. Avançou do conhecido para o desconhecido. Foi, a seguir, “pelas casas”. Trabalhou com as pessoas, uma a uma.

Podemos nós imaginar o apóstolo indo às mais distantes partes da cidade, em busca de um irmão ou irmã desanimados, assentando-se com êles e apontando-lhes o caminho, corrigindo-os, suplicando-lhes a que confiassem em Deus, cressem em Jesus, e finalmente, com êles se ajoelhando em oração? Vinha depois a despedida, e o apóstolo rumava para a sua humilde sede, talvez meditando se conseguira o fim almejado na visita. Surgia-lhe então na memória a lembrança do seu chamado no caminho de Damasco. Lembrava-se, então, de que essa era justamente a maneira de Jesus trabalhar, e compreendia que não é o servo maior que seu mestre. Então, por certo, ajoelhava-se junto à sua habitação simples, e agradecia a Deus que por seu trabalho fiel de revelar ao povo “todo o conselho de Deus”, o reino tinha que ser edificado. Êsse foi o trabalho de cada ia do apóstolo durante os longos anos de seu ministério. Depois, ao aproximar-se do fim de sua carreira, e lançar sôbre êsses anos um olhar retrospectivo, a recompensa do seu ministério é a fidelidade à tarefa de revelar por meio de trabalho árduo e pela graça de Jesus todo o conselho de Deus. É-lhe a tocha que lhe alumia o caminho para o reino.

O poder e a fôrça do exemplo pessoal são expostos com todo o fulgor no versículo 35, em que o apóstolo declara: “Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, …” Os ministros e obreiros cristãos de hoje bem farão em lembrar-se do exemplo do apóstolo, ao declararem “todo o conselho de Deus.” Muitas doutrinas importantes são muitas vêzes pregadas aos ministros hoje em dia. Eu quero pôr ênfase na palavra “todo”. A nossa pregação deve conter uma larga margem dos temas fundamentais de nossa esperança. Todo ministro pode com proveito planejar uma série de sermões para o ano inteiro, os quais devem incluir as verdades básicas da Igreja cristã.

Deve o ministro pregar de forma que atinja o indivíduo com o seu apêlo. Deve ser procurado pelo ministro bem desperto, novo material que ilustre os velhos temas, numa imitação do apóstolo, quando diz que anunciava aos crentes e ensinava-lhes. Nós, como ministros, precisamos despertar-nos para os tempos em que vivemos. Diz o mundo que esta é a Era Atômica. Para o ministro, a era deve ser impelente e desafiadora. Não deixemos de preparar o povo para encontrar-se com o seu Deus.

Tempos de grande provação estão para sobrevir-nos. Paulo advertiu os anciãos de Éfeso dos males que logo lhes sobreviríam. Se quisermos merecer o reconhecimento de uma igreja agradecida, devemos ser homens, com a bravura para expor aos crentes os perigos iminentes, e isto não é uma linguagem incerta. Os membros indiferentes do rebanho de Deus, caso não forem cuidadosamente advertidos dos perigos iminentes, serão apanhados de surprêsa por não estarem preparados quando o Senhor vier. Nosso dever é-nos mais evidente ainda, ao pensarmos em que al-guns dos indiferentes podem ser membros de nos-sa própria família. Oh! ministros de Deus, ergamo-nos para declarar “todo o conselho de Deus”, e fazê-lo “pelas casas”, “com muitas lágrimas”.

Uma maneira tôda especial há em que o ministro de Deus deve tornar conhecido o conselho de Deus. Precisamos aconselhar e instruir os indivíduos. Muitas pessoas na igreja necessitam de conselho pessoal. Alguns vêm ter conosco, mas, na maioria dos casos, o ministro precisa ir ter com as pessoas. Bem posso imaginar que o ministério de São Paulo incluia grande número de colóquios pessoais com pessoas em suas próprias casas. Declara êle que não cessou “noite e dia, de admoestar com lágrimas a cada um”. Apelo aos nossos ministros adventistas para uma renovada ênfase no trabalho pessoal. Demos, todos, mais atenção às nossas entrevistas pessoais! Ao fazermos admoestações pessoais, mostremos nosso aprêço pelas boas qualidades da pessoa a quem queremos corrigir. A lisonja arruina, ao passo que a apreciação anima e edifica a alma. Ao buscarmos mostrar a outros o “conselho de Deus”, sejamos cuidadosos com nossas palavras. As palavras ofensivas despertam a ira. “Sob tôdas as circunstâncias, a censura deve ser expressa com amor.” — Parábolas de Jesus, pág. 337. “Os errantes só podem ser encaminhados com um espírito de mansidão, bondade e terna simpatia.” — Test, para a Igreja, pág. 182.

O conselheiro bem sucedido sempre ora muito antes de ter uma entrevista. Pedi do Senhor sabedoria e graça. Com acêrto, escreveu alguém: “Os homens que advertem outros homens, devem ser homens de oração, estudiosos profundos da Bíblia, observadores cuidadosos dos procedimentos de Deus, humildes ao extremo, devotos, zelosos, pes-soas fiéis que preferem morrer a exagerar alguma coisa ou negligenciá-la.”

Ao nos aproximarmos do fim de tôdas as coisas, não poremos nós nova ênfase no trabalho individual com as almas? Aproveitemos tôda oportunidade que surja. Oremos fervorosamente a Deus para que nos depare as oportunidades de dar o “conselho de Deus” aos que dêle careçam. Reestudemos os nossos métodos. Examinemos as Santas Escrituras em busca de meios e modos de mostrar e ensinar o caminho certo às pessoas, individualmente. Imitemos o apóstolo Paulo em seu grande esfôrço de, pela graça divina, declarar “todo o conselho de Deus” à igreja. Que experiência extraordinária terão os ministros adventistas ao exercerem a mesma confiança do apóstolo quando, no nome de Deus, nos aproximarmos do fim de nosso ministério!