(Os pontos de vista aqui expostos são os de um leigo examinando o ministério. Achamos que merecem a nossa consideração, pois devemos ver-nos da maneira como os outros nos encaram. — Os EE.)

A ocupação do ministério é de tal natureza que as faltas que nêle se cometem têm conseqüências muito mais graves do que em qualquer outra atividade. As Escrituras estabelecem elevadas qualificações para os líderes do povo de Deus — “Irrepreensível”, “temperante”, “hospitaleiro, apto para ensinar”, “não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento”, “não . . . neófito.” “É necessário que êle tenha bom testemunho dos de fora.” I Tim. 3:2-7. Estas são algumas das qualidades que a congregação espera encontrar no ministério.

Estas normas abrangem uma vasta área do desenvolvimento do caráter. Esteja êle certo ou errado, espera-se que o ministro atinja um nível muito mais elevado de consecuções espirituais do que os membros leigos. Êstes precisam inteirar-se de que todos devem ter o mesmo ideal de perfeição, mas o ministério é tido por “exemplo dos fiéis”.

Sinceridade

Um dos requisitos preliminares que a congregação espera do ministro é a sinceridade. Diz uma das Bem-aventuranças na versão de Phillips: “Felizes os que são inteiramente sinceros” (S. Mat. 5:8). A tradução de Almeida declara: “Bem-aventurados os limpos de coração”. A congregação que reconhece o seu pastor como um cristão completamente sincero e consagrado, fará quase qualquer coisa razoável que o ministro sugira. Jamais deve êle realizar sua obra de tal maneira que os membros se ponham de sobreaviso, querendo saber o que êle intenciona no íntimo. Seus atos e palavras devem estar inteiramente fora de suspeita, de modo que os membros e oficiais de sua igreja possam discernir exatamente das palavras que profere, qual o objetivo do apêlo que faz, ou o propósito de suas ações. Usar de evasivas é comum nos negócios. O emprêgo psicológico de subterfúgios é estudado cuidadosamente pelos vendedores de diferentes categorias. Na interpretação das leis o subterfúgio é um instrumento de que se servem tanto a acusação como a defesa. Mas isto não pode ocorrer na vida daquele que é pastor do rebanho de Deus. Perfeita sinceridade, e nada menos, é o que se espera de sua conduta.

Confiança

Ao lado desta, naturalmente, deve estar a completa fidedignidade. Estamos todos sujeitos a cometer erros. A falta que se comete sem querer é compreendida e passada por alto. Todos nós podemos ser mal-interpretados naquilo que dizemos e fazemos. Mas a congregação tem o direito de esperar que o ministro seja fidedigno — um tipo de pessoa em que todos podem depositar inteira confiança. Não é correto que êle encubra os fatos a fim de favorecer os seus próprios objetivos, especialmente se notar que os oficiais da igreja não concordam com êle em determinada questão. Encobrir os fatos para obter o que se considera apropriado para a igreja é minar a confiança no ministério. Aproveitar-se da ignorância de alguém em assuntos temporais é tido por nós, como um povo, na conta de furto.

O mesmo é verdade quando o ministro lida com a congregação e os oficiais da igreja em particular. Pode êle dispor de informações que indiquem que, embora os membros de sua igreja não estejam de acordo com êle em certa questão, êles estão certos. Se esta informação fôr deliberadamente retida, não perceberá o Senhor a presença de um motivo desonroso? Não o descobrirão também os membros, mais cedo ou mais tarde, perdendo Conseqüentemente a confiança?

Delegando Responsabilidades

Quão pronto está o ministro a delegar responsabilidades aos oficiais de sua igreja? Procura êle atrair para si tôdas as responsabilidades da igreja local, encarregando-se de todos os pormenores? Cuida o diretor missionário das atividades missionárias da igreja, ou é o pastor que o faz? É o ancião local o auxiliar do pastor, ou é êle um dirigente nominal? A congregação provàvelmente reconhece que elegeu os oficiais para desempenhar certos deveres, e gosta de vê-los crescendo no serviço do Senhor, à medida que executam suas funções.

Quão paciente é o pastor com os oficiais que talvez não sejam tão bem qualificados para os cargos a que foram eleitos, como deviam? É provável que êles constituam os membros mais preparados da igreja local, e todavia deixem ainda muito a desejar no tocante ao que se exige para os seus respectivos cargos. Ê êle suficientemente paciente para trabalhar com êles, ajudando-os a aprender como devem desempenhar as suas funções? Ou prefere assumir os deveres de determinado cargo a permitir que alguém os efetue dum modo que êle considera desacertado? Declaram as Escrituras: “Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita” (S. Tiago 1:4), e o ministro terá muitas oportunidades para verificar a veracidade e sabedoria dêste conselho, ao trabalhar junto com os seus bem-intencionados e fervorosos, mas inexperientes companheiros. As correções não são tão difíceis como pensamos, se vierem envoltas em paciência e bondade!

Compreensão

Muitos ministros são capazes de ver que os membros locais constituem uma valiosa posse para a obra, e dêles se servem com proveito. Mas é. o pastor compreensivo quando um membro discorda dêle? Procura ver o assunto do ponto de vista do leigo com o qual trabalha? Interessa-se em apurar, na medida do possível, quais as razões dêsse leigo discordar? Talvez o mesmo tenha tido experiência com um problema semelhante. Se assim fôr, êle pode sentir sinceramente que certa maneira de realizar êsses objetivos é preferível àquela que o pastor esteja sugerindo. Quem sabe êle perceba que embora determinada linha de procedimento não seja particularmente desconcertante para muitas pessoas, pode sê-lo para certos membros da congregação local. Procura o ministro inteirar-se de algumas dessas coisas com o leigo que difere de sua opinião? Ou julga êle que êsse membro leigo está simplesmente tentando lançar-lhe uma pedra de tropêço, procurando valer-se de sua autoridade como ancião, diácono, tesoureiro, ou qualquer outro cargo que possa ter? Se o pastor reagir imprudentemente, pode manifestar-se de pronto um espírito de antagonismo. A comissão e os membros notam isso, e ambas as partes envolvidas perdem o respeito. Nutrem-se dúvidas sôbre se as pessoas implicadas no caso estão de fato seguindo o exemplo do humilde Nazareno. Pode ser que êles não se preocupem tanto com o antagonismo manifestado pelo membro leigo como pelo que é externado pelo pastor. Mais uma vez, êsse raciocínio pode não ser correto, mas não deve haver duas normas, uma para os leigos e outra para o pastor.

Afabilidade

A afabilidade está intimamente relacionada com o assunto em consideração. A congregação espera que o pastor seja um bom ouvinte quando surge algum problema, princípalmente se fôr um problema pessoal. É dever do ministro ter sempre a porta aberta, por assim dizer, para que os membros possam aproximar-se livre e confiantemente dêle, sejam quais forem as perplexidades com que se defrontem. Pode haver ocasiões em que algum membro apresente um problema para o qual, naquele momento, o pastor não encontre solução. Não lhe fará mal admitir que precisa de tempo para pensar e orar sôbre isso. Talvez êle possa dar algum conselho provisório e mais tarde, após ter considerado cuidadosamente o assunto, encontrar-se outra vez com êsse membro, apresentando-lhe então a solução que achar apropriada. Pode ser que esta não seja muito agradável para o membro, pelo  que sempre é necessário ter um período de oração. Nunca, porém, deve o ministro, por palavras, atos ou atitudes, dar a impressão de que está repelindo qualquer pensamento, argumento ou raciocínio, embora inadmissível, que os membros lhe queiram apresentar. Espera-se que o ministro seja acessível.

Cooperação e Espírito de Equipe

O membro leigo aprecia estar na presença de seu ministro; gosta de trabalhar com êle, principalmente se percebe que é uma parte do grande Movimento do Advento e que é um com o ministro na obra de levar o evangelho ao mundo. Uma das maneiras em que isto pode ser realizado é através do reconhecimento por parte do ministro de tôda autoridade e procedimento devidamente constituídos pela administração da igreja local. Bem faria o membro que aceitou um cargo e que conscienciosamente deseja desempenhar os deveres atinentes ao mesmo, em estudar o Manual da Igreja, esforçando-se por descobrir o que dêle se espera. Procurará cumprir as responsabilidades de seu cargo em harmonia com as recomendações dêsse livro. Na coordenação do trabalho dos departamentos da igreja, na admissão de candidatos para o batismo, e em tôdas as atividades da igreja, o oficial consciencioso estudará o Manual da Igreja e esperará que os processos recomendados pelo mesmo sejam seguidos pelo pastor. Se êste passa por alto essas recomendações e segue uma atitude sua própria, os membros ficarão desapontados. Desejarão algo que seja mais cooperativo e inspirador. Espera-se que tanto o pastor como os membros tenham espírito de equipe, e ditosa é a igreja em que isto ocorre.

Guardar Sigilo

Outro ponto em que a congregação espera que o pastor use de cautela é em guardar segrêdo. Quando o membro se defronta com alguma dificuldade — seja ela uma questão familiar ou um problema pessoal que afeta sua relação para com o Senhor — deve sentir-se livre para falar com o pastor, sem receios de que no dia seguinte, ou noutra ocasião, os membros de alguma igreja do distrito, ou mesmo de sua própria igreja, fiquem sabendo de seu problema. Talvez nada do que mencionámos contribua tanto para destruir a confiança no pastor, como isso de êle espalhar segredos. Dentro em pouco encontrará os membros se debatendo com problemas para os quais necessitam de ajuda, mas que procuram solucionar por si próprios, desprezando o instrumento que o Senhor colocou na igreja para fazer frente a essas situações.

Sabedoria e Conhecimento

Bàsicamente, muitas das questões que estivemos ventilando resumem-se na pergunta: É o ministério tão-sòmente uma profissão para o ministro que o exerce, ou é êle uma autêntica vocação? Ê bem verdade que o ministério hoje se tornou uma profissão e que o ministro precisa estar familiarizado com muitos aspectos administrativos, mas se aquêle fôr sòmente uma profissão e não uma genuína vocação, a congregação o perceberá. Há dois importantes versículos que podem ser considerados aqui. Em 1 Coríntios 8:1 diz-se que “o saber ensoberbece”, e em Eclesiastes 7:12 declara-se que a “sabedoria … dá vida”. Ora, suponho, como é natural, que tem de ser admitido que quando se diz que “o saber ensoberbece”, isto se refere ao saber que não vem acompanhado pela sabedoria. Assim também, quando as Escrituras afirmam que “a sabedoria … dá vida”, elas indicam que essa sabedoria vem acompanhada de suficiente conhecimento para capacitar o indivíduo a ser eficiente no ramo de trabalho que escolheu. As duas precisam estar ligadas. Se o ministério é apenas uma profissão para aquêle que o segue, acaso não é possível que o conhecimento conduza à exaltação própria? Foi-nos declarado que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria”. Sal. 111:10. Simultâneamente com a educação formal e a experiência, precisamos de uma íntima comunhão com o Senhor dos Exércitos.

No livro Meditações Matinais para 1953, às págs. 215 e 216, apareceu êste trecho do Espírito de Profecia: “Não necessitais ir às extremidades da Terra em busca de sabedoria, pois Deus está perto. . . . Anseia que estendais as mãos a Êle pela fé. Anseia que espereis grandes coisas dÊle. Anela dar-vos sabedoria tanto nos assuntos temporais como nos espirituais. Pode atilar o intelecto. Pode dar tato e habilidade. … A cada um que submete sua vontade à vontade do Infinito, para ser conduzido e ensinado por Deus, é prometido um constante desenvolvimento das coisas espirituais. Deus não estabelece limite algum para o avanço daqueles que são ‘cheios do conhecimento de Sua vontade, em tôda a sabedoria e inteligência espiritual’. Aquêles que fazem de Deus sua eficiência, compreendem suas próprias fraquezas, e o Senhor os supre com Sua sabedoria. À medida que dia a dia confiam em Deus, aceitando humildemente Sua vontade e de todo o coração e com a mais completa integridade, crescem em entendimento e habilidade. Desejosos de serem obedientes, demonstram reverência e honra a Deus, e são por Êle honrados.”

“Não é suficiente ter sabedoria. Devemos ter a habilidade necessária para usá-la corretamente. Deus nos chama a mostrarmos boa conversação, livre de tôda aspereza e vaidade. Não faleis palavras de vaidade nem palavras de áspera autoridade; elas gerarão discórdia. Falai, ao contrário, palavras que produzirão luz, conhecimento, informação, palavras que restaurarão e edificarão. Um homem mostra que tem a verdadeira sabedoria usando o talento da voz para produzir música na alma daqueles que estão buscando fazer suas tarefas designadas e que estão em necessidade de ânimo.” — Idem, pág. 218.

Diz Ellen G. White noutro lugar: “Existe o perigo de aquêles a quem são confiadas responsabilidades só reconhecerem um poder — o poder da vontade não santificada.” — Test. Sel., Vol. 3, pág. 48. Se desatendemos essa advertência, é provável que nos tornemos vítimas dêsse perigo.

Tôdas estas sugestões não se referem a qualquer pessoa em particular. Pode ser que haja alguns em nosso ministério aos quais nenhuma destas insinuações dizem respeito, mas talvez a maioria ache que uma ou duas delas exigem ponderação. Se assim fôr, isso poderá fazer com que o ministro, os membros e os oficiais da igreja desfrutem uma comunhão mais íntima e feliz.