Um missionário certa vez contou-me que viu uma menininha órfã, na Angola, ser vendida em leilão, como escrava. A lei tribal requeria que as crianças sobreviventes fossem vendidas como escravas quando morriam ambos os pais. Que cena patética! A pequena menina, com o olhar voltado para o chão, esperando temerosamente enquanto o chefe da aldeia pedia lances. Um aldeão ofereceu alguns escudos; outros ofereceram diversos artigos. Finalmente, um homem ofereceu um leitão. Este foi o lance mais alto. Um ser humano sendo trocado por um porco! Poderia o preço de uma alma ser reduzido para menos do que isso? O pensamento é hediondo e repulsivo. Será, porém, que mesmo nós, como cristãos e pastores adventistas do sétimo dia, compreendemos realmente o valor de uma alma? Diz Ellen White: “Vi que o povo de Deus está em terreno encantado, e que alguns têm quase perdido o senso da brevidade do tempo e o valor da alma.’’ — Primeiros Escritos, pág. 120.

Quanto vale realmente uma alma aos olhos de Deus? Apreciamos e compreendemos o preço pago pelo Céu? “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo.” I S. Ped. 1:18 e 19.

Podemos comparar o valor de uma alma com aquilo que os seres humanos consideram mais valioso? Acharíamos suficientes diamantes, ouro ou moedas correntes nas nações para comprar uma só alma?

Se juntássemos todo o ouro e todos os diamantes já extraídos, e todas as coroas de todos os monarcas que já reinaram na Terra, e formássemos um enorme montão com tudo isso, acrescentando então todo o dinheiro circulante dos países do mundo, e colocássemos do outro lado a menininha órfã da Angola, o que seria de maior valor aos olhos de Deus? Não há dúvida quanto a isso. As riquezas do mundo se reduzem a uma insignificância em comparação com o valor de uma só alma pela qual morreu nosso Senhor.

Por que gastamos, então, tanto de nosso tempo em “coisas corruptíveis”, e tão pouco trabalhando a fim de salvar almas para a eternidade? Não deveria haver — por parte da maioria de nós — algumas modificações drásticas em nossas prioridades?

Obviamente, a vida humana é mais valiosa do que as coisas materiais; até pessoas que não são cristãs reconhecem isto. O indivíduo mais abastado sobre a Terra trocaria de bom grado todas as suas riquezas pela vida. Dizem que a Rainha Elizabeth I exclamou no leito de morte: “Daria todo o meu reino por um pouco mais de tempo!” Um médico ou uma mãe permanecerão dia e noite ao lado da cama de uma criança doente, a fim de preservar-lhe a vida. Equipes de salvamento efetuarão atos heróicos para salvar vidas humanas, livrando-as de calamidades. Os Adventistas do Sétimo Dia se abstêm de tudo que encurta a vida, e estarão dispostos a comer quase tudo que tenda a prolongá-la! Nada é demasiado dispendioso, e nenhum regime é muito rigoroso para preservar a vida durante mais alguns anos neste mundo de pecado.

O valor da alma supera, porém, consideravelmente tudo isso. Não mediremos esforços para livrar alguém da morte; quão mais importante é, porém, salvar uma vida que se comparará com a vida de Deus! Por que será que fazemos tanta coisa por este pequeno, insignificante e breve período de vida, por este corpo mortal, e tão pouco para salvar almas para a eternidade?

Alguns homens e mulheres que permaneceram bem perto de Deus viram com mais clareza do que a maioria de nós o valor que Ele confere à salvação eterna de um ser humano. Após o grande pecado de Israel no Sinai, Moisés subiu novamente ao monte para interceder pela vida do povo. “Tornou Moisés ao Senhor, e disse: Ora o povo cometeu grande pecado, fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me, peço-Te, do livro que escreveste.” Êxo. 32:31 e 32. Com exceção de Cristo no Getsêmani e no Calvário, nenhuma outra pessoa sobre a Terra já ousou pôr em risco sua vida eterna para que outras almas humanas pudessem ser salvas. Creio que Moisés compreendia a avaliação de uma alma feita pelo Céu. Seu coração pulsava em uníssono com o coração de seu Salvador, em prol da humanidade pecaminosa. Mesmo que isso significasse eterna separação do Pai, ambos estavam dispostos a pagar o preço. Não admira que fosse dito a respeito de Moisés: “Falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala a seu amigo.” Êxo. 33:11. Este amor pelos perdidos torna-se o laço mais íntimo entre Cristo e Seus obreiros na Terra. “Quanto mais nos assemelharmos a nosso Salvador no caráter, tanto maior será nosso amor por aqueles pelos quais Ele morreu.” — Ellen G. White, Testimonies for the Church, vol. 5, pág. 167.

Finalmente, para compreendermos o verdadeiro valor de uma alma, precisamos olhar para Cristo sobre a cruz. Precisamos procurar sondar as profundezas das águas que foram atravessadas, e medir a densidade das trevas pelas quais Ele passou para encontrar a ovelha que estava perdida.

“Quem pode calcular o valor de uma alma? Se quiserdes conhecê-lo, ide ao Getsêmani, e vigiai lá com Cristo durante aquelas horas de angústia, quando suava grandes gotas de sangue. Contemplai o Salvador crucificado! Ouvi o brado de desespero: ‘Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?’ ” — Ellen G. White, Parábolas de Jesus, pág. 196.

Que foi que arrancou da alma de Cristo essa exclamação de angústia e o suor de sangue? Foi a ira de Seu Pai contra o pecado, o afastamento da presença divina, o Filho de Deus sofrendo a eterna separação de Deus por toda alma vivente sobre a Terra. Este é o preço que nenhum dos resgatados compreenderá plenamente. É verdade que nossa mente finita não consegue avaliar devidamente o valor de uma alma; se, porém, nos aproximarmos da cruz e procurarmos compreender o que Jesus sofreu, suportando a morte eterna em nosso lugar, poderemos avaliar melhor quanto vale realmente cada pessoa.

À medida que a cruz do Calvário transmitir essa verdade ao nosso coração, qual será nossa reação? Até quando o Salvador terá de prodigalizar-nos Seu incalculável amor antes que esta Terra e tudo que ela considera valioso desapareça na insignificância? Até quando, para que a conquista de mais uma alma para o Céu tenha a máxima prioridade em nossa vida?