FOI um terrível golpe! Eu sempre admirara o Pastor Fulano de Tal. Ele era um líder dinâmico. Sua pregação nunca deixou de comover-me. Para mim, como estudante no colégio, era ele o próprio epítome de tudo o que deveria ser um administrador adventista. Por certo a notícia não podia ser verdadeira!

Infelizmente ela era verdadeira. O Pastor Fulano de Tal se achava fora da obra e perdera suas credenciais. Não era eu a única pessoa na União cuja fé foi abalada pela queda moral deste líder popular.

“Aproximamo-nos do juízo,” escreveu a serva do Senhor, “e os que dão a mensagem de advertência ao mundo, devem ter mãos limpas e corações puros. Devem ter uma ligação íntima com Deus.” 1 Uma das maiores tragédias da obra é ver um homem que desfrutou o respeito e a confiança de seus irmãos ser obrigado a abandonar o trabalho e trazer vitupério à causa de Deus devido a indiscrição ou deslize moral. Esses “dolorosos desenvolvimentos do mal são uma das maiores evidências que temos de que o fim está próximo.” 2

Não devemos surpreender-nos de que Satanás dirija seu ataque contra o ministério — os líderes na causa de Deus — pois vivemos nos derradeiros dias da história terrestre, e ele manifestará seu furor e empregará suas subtilezas de modo especial contra os escolhidos embaixadores de Deus. Ele sabe que quando cai um ministro sua influência provavelmente induzirá outros a perder a fé e a cair talvez também na beira da estrada.

E o que deveria alarmar cada obreiro adventista é a triste realidade de que nenhum de nós está livre de perigo. Não importa quanto tempo tenhamos seguido a verdade, quão impecável seja nosso registo ou quão elevada seja a posição que ocupamos, não estaremos seguros um momento sequer se nos demorarmos no terreno encantado de Satanás.

Alguns “casos” começam de modo bastante inocente — excessivas relações de amizade com obreiros ou membros do sexo oposto — muitas vezes no cumprimento do dever. Em certas ocasiões isto se dá durante o trabalho realizado à noite ou em outros períodos extras nos quais as pessoas se encontram sozinhas no escritório. Outras vezes acontece em viagens de automóvel — talvez a serviço. Mesmo as atividades espirituais de conselho pastoral no lar ou na escola podem tornar-se fatores envolventes. Satanás pode inventar milhares de armadilhas para seduzir obreiros desprevenidos que não mantêm constante vigilância. Como ministros do evangelho, convém que ponderemos cuidadosamente os trágicos resultados de nos tornarmos presa de Satanás.

Os Dolorosos Resultados do Pecado

A indiscrição e a lassidão moral causam a perdição de almas. Lembro-me de um de nos-sos ministros que fôra enviado a uma cidade aonde não chegara ainda a mensagem adventista. Ele labutou com afinco. Evidentemente o Senhor abençoara seu ministério. Dentro de alguns meses vinte e duas pessoas estavam-se preparando para o batismo. Então Satanás iniciou sua obra enganosa. Aquele homem dedicava excessiva amizade a uma das candidatas ao batismo. De repente ele desapareceu, abandonando a esposa e a família. Poucas semanas mais tarde, ao chegar outro ministro e procurar restabelecer o interesse despertado, obteve fria recepção. Que certeza tinham as pessoas interessadas de que ele seria correto moralmente? Das vinte e duas pessoas apenas algumas se uniram finalmente à igreja.

Um deslize moral produz imensa aflição, pesar e desonra nos lares das partes afetadas. A confiança da esposa e dos filhos fica abalada quando se torna conhecido que o marido e pai foi infiel. O homem a quem respeitavam e admiravam é subitamente removido de seu pedestal por sua própria indiscrição. Corações inocentes têm sido despedaçados pela ignomínia na cruel seqüência dos acontecimentos.

O desvio moral destrói a confiança entre os membros e os obreiros e traz opróbrio à causa de Deus. “A conduta dum ministro de Cristo proporciona fatos para serem comentados por línguas difamatórias.”3 Disse Natã a respeito do adultério de Davi’: “Com este feito deste lugar sobremaneira a que os inimigos do Senhor blasfemem.” II Sam. 12:14. Quando cai um ministro ou outro dirigente, o impacto de sua transgressão é tão amplo quanto a influência de seu cargo. Com muita freqüência, outros que perdem a fé devido a ficarem desapontados com a queda de seu líder, mais cedo ou mais tarde também acabam abandonando a verdade. Os jovens e os membros mais fracos são especialmente afetados por tais experiências.

A lassidão moral prende as mãos dos dirigentes. Escreveu a mensageira do Senhor a respeito de Davi depois que este cometera sua grande transgressão: “Uma intuição de sua culpa conservava-o silencioso quando ele teria condenado o pecado; tornava fraco o seu braço para executar justiça.” 4 O dirigente está com as mãos amarradas ao tratar com as indiscrições de outros obreiros se suas próprias vestes estão manchadas — se o dedo acusador é apontado para ele.

A indiscrição e a debilidade moral dissipam dinheiro sagrado. Às vezes certos atos que se aproximam de repulsiva indiscrição enfraquecem tanto a influência de um ministro ou dirigente que ele precisa ser transferido para outra localidade. Ocasionalmente missionários têm de ser enviados de volta para a pátria. Milhares de dólares são gastos devido ao mau pro-cedimento de alguém — dinheiro este que de outro modo poderia ser empregado para o avanço da causa de Deus. Às vezes a conduta insensata origina boatos que causam tanto dano como os atos de indiscrição, e os obreiros têm de ser transferidos ou enviados de volta. O dinheiro do Senhor é desperdiçado!

Deus Exige Ação

Deus exigiu que Israel removesse o anátema do meio deles (Jos. 7:12). “Limpai o acampamento, pois nele há anátema.” 5 Não resta dúvida de que Deus aborrece o pecado no arraial de Israel. Ele não o tolerará. Nós como dirigentes também não o devemos fazer.

“Limpai o campo dessa corrupção moral, atinja ela os mais altos homens nas posições mais elevadas. Deus não será escarnecido.”Uma posição de responsabilidade não é proteção contra as tentações da carne. Deus expõe com clareza como se deve agir quando aparecem tais situações.

“Quando homens e mulheres de ampla experiência, e que têm sido considerados modelos de piedade, se revelam em seu verdadeiro caráter — não santificados, sem santidade, de pensamentos impuros, de conduta degradante — então é tempo de tais pessoas serem tratadas de maneira decisiva.” 7

Ter Certeza Antes de Acusar

Em nenhum caso de disciplina devem os dirigentes estar mais seguros de sua atitude do que ao lidar com a acusação que envolva o bom nome de um obreiro. Através dos anos tenho conhecido boateiros que procuravam difamar certas pessoas de que não gostavam. Nalgumas regiões do mundo a primeira acusação lançada contra um inimigo é a de deslize moral. Nalgumas ocasiões descobre-se que não há fundamento para tais acusações, e a pessoa inocente sofre devido à acusação que lhe foi feita, mas o causador da dificuldade sai impune.

Às vezes há pessoas que pretendem saber muito, mas não têm a coragem de enfrentar um irmão ofendido, pois não possuem realmente qualquer prova. Aceitaram apenas o que ouviram dizer, ou, se muito, evidências circunstanciais que não resistirão ao peso da investigação.

Em certa localidade recebi uma carta anônima contendo acusações morais contra um de nossos melhores obreiros. Fiquei abatido. Deveria enfrentar aquele jovem com a acusação, ou não? Se eu o fizesse, e ele fosse inocente, seria um terrível golpe. Mesmo que ele fosse reabilitado, sempre acharia que eu tinha alguma dúvida a seu respeito. Depois de lutar vários dias com o problema, resolvi abrir os olhos e fechar a boca, visto que o acusador não tivera suficiente coragem para assinar o nome.

Anos mais tarde, quando fui transferido para milhares de quilômetros de distância, quão contente fiquei ao receber outra carta anônima na mesma caligrafia da anterior. Dizia assim: “Prezado Pastor Pierson, faz alguns anos escrevi-lhe acusando o Pastor Fulano de adultério. Depois desse tempo eu me converti. Por favor, perdoe-me, A tanto que eu saiba, o Pastor Fulano nunca cometeu aquela falta, Eu apenas estava procurando vingar-me dele por aparente desprezo que ele me fez.”

É terrível acusar de deslize moral a uma pessoa inocente!

Nossa Necessidade Como Obreiros

“Purificai-vos, os que levais os vasos do Senhor,” admoesta o profeta do evangelho (Isa. 52:11). A mensagem pura de Deus requer mensageiros puros!

Nossa única segurança consiste em permanecer completamente afastados do terreno encantado de Satanás — cortar pela raiz qualquer tendência que afinal nos exponha a descrédito e nos faça cair.

“Abstende-vos de toda a aparência do mal,” adverte Paulo em I Tess. 5:22. “Fugi e afastai-vos dele — em qualquer forma ou natureza em que se manifeste.” — The Amplified Bible. Nossa segurança está em “afastar-nos do mal cm qualquer forma.” — The New Testament in Modern English.

Como obreiros na causa de Deus, não ousamos brincar com fogo. “Tomará alguém fogo no seio, sem que as suas vestes se incendeiem? Ou andará alguém sobre brasas, sem que se queimem os seus pés?” pergunta o sábio Salomão (Prov. 6:27 e 28).

Esta advertência aponta o perigo, não importa quão casual ou aparentemente inofensivo, que pode conduzir a ruína moral e profunda, aflição.

Graças a Deus, há auxílio para nós neste mundo corrompido. Não somos deixados a batalhar sozinhos! Existe Alguém que é poderoso para guardar á vós e a mim de tropeçar, e de “apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a Sua glória.” S. Judas 24. Só estamos realmente seguros quando todas as nossas emoções se acham sob o Seu controle. A fim de ser puros ao levar os vasos dó Senhor, “devemos conservar-nos bem perto de nosso grande Líder.” 8

REFERÊNCIAS:

  • 1.  Testemunhos Para Ministros, pág. 426.
  • 2. Ibidem.
  • 3.  Testimonies, Vol. 3, pág. 236.
  • 4.  Patriarcas e Profetas, 2.a ed., pág. 777.
  • 5. Testemunhos Para Ministros, pág. 428.
  • 6. Idem, pág. 427.
  • 7. Idem, pág. 426.
  • 8. Idem, pág. 432.