Quando Jesus declarou serem “bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mat. 5:8), estava Se referindo a algo além das cerimônias e da religiosidade exterior. Não estava apenas expressando um reconhecimento àqueles cuja mente é isenta de lascívia e concupiscência, embora isso finalmente se enquadre na moldura. O que Jesus mostra nessa afirmação é que Deus Se interessa pelo coração, de onde procedem as saídas da vida. Isto é, enfatiza o homem interior, o caráter, a própria condição de ser do homem.
De acordo com o uso geral na poesia e nas Escrituras, o coração significa o centro de nossa personalidade. Não apenas o centro dos afetos e emoções: inclui a mente e a vontade. É o homem todo. Assim, “bem-aventurados os limpos de coração” expressa que são felizes os puros, não somente na superfície do ser. mas no íntimo, no centro e fonte de cada uma das suas atitudes. Isso quer dizer fidelidade nos mais íntimos motivos e desígnios da alma, isenção de orgulho. egoísmo e hipocrisia. Presença de humildade, abnegação, autenticidade, sinceridade e simplicidade.
Nos dias de Jesus Cristo, muitos dos líderes religiosos que se diziam servos do povo, não eram puros de coração. Longe disso! Eram falsos e hipócritas, homens que representavam um papel, sem integridade interior. Em Mateus 23, encontramos severas repreensões contra a hipocrisia. Contrariamente às oito bem-aventuranças, vemos oito vezes repetida a expressão “ai de vós”, relacionada aos “escribas e fariseus, hipócritas”.
Parece pouco provável que Cristo desprezasse qualquer outro defeito de alguém que se dizia servo de Deus, mais do que desprezava a hipocrisia, a antítese da pureza de coração. No entanto, aqueles homens aparentavam ser ótimos em questões de leis e regras, mas fracos em santidade e sinceridade nos relacionamentos. Ótimos na aparência exterior, mas fracos nos motivos íntimos. Fantásticos em mandamentos públicos, mas fracos na obediência pessoal. Exteriormente pareciam justos diante dos homens, mas interiormente estavam cheios de ossos, podres.
Os limpos de coração possuem a graça da transparência, da simplicidade. São corretos, direitos, facilmente compreendidos. Em seu caráter não há ocultamentos que devam ser explicados, não há gretas onde se encontrem teias, nem obscuridade na qual traças e morcegos pretendam se esconder. Estão livres de suspeitas secretas. Não têm gestos misteriosos em sua maneira de agir, qualquer que seja a área de atuação, nem no seu relacionamento pessoal. São indivíduos honrados e honestos. Nada necessitam encobrir. Levam o Céu no coração. Assemelham-se às superfícies inoxidáveis, que não escapam ao contato com a impureza, mas não se contaminam.
O limpo de coração tem burilado os motivos da alma. Atuará limpo porque é limpo. Os princípios corretos estão entronizados em seu coração. Não trabalhará inspirado pelo temor do castigo, nem pela esperança de recompensa ou promoção, mas porque é fiel e puro em seus motivos.
Sabendo, entretanto, que “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto” (Jer. 17:9), precisamos lembrar sempre de que jamais ele poderá ser purificado através de nossas decisões, vontade ou nosso esforço Como disse Ellen White, “o coração deve ser renovado pela graça divina, ou será debalde procurar pureza de vida”. Por isso devemos fazer nossa a prece do salmista: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro” (Sal. 51:10).
A recompensa dos limpos de coração é garantida nas palavras “verão a Deus”, que têm duas aplicações. A primeira é imediata, referindo-se aos que recebem compreensão e visão interiores da natureza e da pessoa de Deus. É uma ênfase no reino da graça divina no coração, nesta hora presente. A segunda aplicação refere-se ao dia de gozo maior, quando O veremos em Seu reino de glória. Noutras palavras, os limpos de coração têm o privilégio de ver a Deus agora, com os olhos da fé, e, finalmente, O verão face a face.
Contemplando-O com os olhos da fé, somos progressivamente transformados à Sua semelhança (II Cor. 3:18). Depois, se cumprirá em nós a promessa: “contemplarão a Sua face, e na sua fronte está o nome dEle” (Apoc. 22:4). – Zinaldo A. Santos.