A singularidade de O Desejado de Todas as Nações deve ser encontrada em seu uso prático das Escrituras e seu realce sobre as realidades espirituais e devotamento pessoal, em lugar de na originalidade do seu conteúdo.

Em que grau dependeu Ellen White de fontes literárias ao escrever O Desejado de Todas as Nações? Fez ela mesma o manuscrito ou este foi feito por suas assistentes literárias? Poderia ela ter inconscientemente usado as expressões literárias de outros autores — teria ela memória fotográfica? Nossa longa e minuciosa investigação levou a cinco conclusões gerais que lançam luz sobre estas questões essenciais, surgidas na introdução ao estudo. As conclusões se baseiam principalmente mas não exclusivamente, nas respostas geradas pelas 14 perguntas que fizemos a cada capítulo do texto de o DTN.1  Elas incluem também interpretações dos dados, e em que grau envolvem o julgamento pessoal. Procurei, contudo, separar minha opinião daquilo que eu diria que a evidência indica ser um fato.

Procurei expor as cinco declarações conclusivas de maneira tão concisa quanto o permitiu a exatidão. Para entender de maneira conveniente o significado pretendido, o leitor deve dispensar consideração especial às explicações que acompanham e os argumentos que apóiam, por breves que sejam.

Como acontece com a maioria das atividades investigatórias, o processo de tirar conclusões despertou questões adicionais que, em minha maneira de ver, exigem estudo mais demorado. Espero que a compreensão dessas questões desafie alguns leitores a juntarem seus esforços aos meus e de outros que têm procurado lançar mais luz sobre a obra e os escritos de Ellen White. Entendo perfeitamente que estas perguntas não são apresentadas para desfazer a razoabilidade dos argumentos ou sugerir que esta investigação é incompleta e, por isso, suas conclusões são inúteis.

1. Ellen White usou fontes literárias ao escrever O Desejado de Todas as Nações?

O objetivo desta pergunta fundamental — para muitos uma verdade clara — é deixar claros os fatos que seguem. É de primordial importância notar que nem Ellen White nem suas assistentes literárias, formaram o conteúdo básico do texto do DTN. Ao assim fazer, foi ela quem tirou expressões literárias das obras de outros autores, sem dar-lhes crédito, como sendo suas fontes.Em segundo lugar, seria compreensível quo Ellen White usasse os escritos de outros consciente e intencionalmente. As semelhanças literárias não são o resultado de acidente ou memória fotográfica.

Quanto ao fato de ter ela usado assistentes editoriais, nossa evidência mais clara do empréstimo literário de Ellen White provém de seus diários pessoais e seus manuscritos. Se quisermos determinar mais precisamente o grau de dependência literária, seria bom estudarmos os manuscritos como estes saíram de suas mãos, comparando tanto as sentenças dependentes como as independentes. Cada manuscrito deve ser considerado como um todo. Quando tomamos o capítulo como a unidade básica da composição, afastamo-nos vários passos do trabalho básico de Ellen White.

Esta primeira e fundamental conclusão jamais deixa de pedir uma inquirição posterior quanto a suas complicações. Implícita ou explicitamente, Ellen White e outros que falam em seu nome não admitiram e até negaram dependência literária de sua parte.3 À luz desse estudo e de outros, o que devemos fazer com tais negativas? Creio que qualquer tentativa de dedicar-se a este problema, deve incluir uma séria consideração da compreensão que tinha Ellen White de inspiração e de seu papel como profetisa. Tal estudo deve ser feito de acordo com o contexto do século dezenove de conceito de inspiração, em especial no meio do Adventismo.

2. O conteúdo do comentário de Ellen White sobre a vida e ministério de Cristo, O Desejado de Todas as Nações, é em sua maior parte derivado em lugar de original.

À luz dos dados que nossos estudos de fonte sobre o texto do DTN proveram, esta conclusão pode parecer injustificável para alguns leitores.4 Para aqueles a quem se tem dito que as fontes literárias desempenharam um papel insignificante nas composições de Ellen White, tal declaração pode ser inacreditável. Obviamente, esta segunda conclusão geral exige algum esclarecimento.

Como expliquei no primeiro artigo, a dependência de fonte envolve mais do que as semelhanças verbais. Não devemos considerar apenas o texto do DTN como se acha escrito hoje, mas também os escritos anteriores de Ellen White, a estrutura temática de seus escritos e o conteúdo de seu material, mesmo quando não exista nenhuma semelhança literária direta. Quando assim fazemos, notamos que ela dependeu de suas fontes em grau muito maior do que das semelhanças verbais do texto do DTN, para as fontes indicadas.

Não devemos dar tanto peso aos argumentos do silêncio. É, porém, digno de nota que o material do DTN, que classificamos como independente, era muitas vezes material que lidava com questões que normalmente não eram discutidas numa obra sobre a vida de Cristo. Uma vez que nosso estudo se limitou em grande parte a essa espécie de literatura, o leitor deve considerar o nosso julgamento do nível de dependência da fonte, em O Desejado de Todas as Nações, como conservador.5

Em linguagem prática, esta conclusão declara que ninguém é capaz de distinguir nos escritos de Ellen White sobre a vida de Cristo qualquer categoria geral de conteúdo ou catálogo de idéias que fosse exclusivo para ela. Encontramos semelhanças originais no material teológico, devocional, narrativo, descritivo e espiritual, quer na referência ao conteúdo bíblico quer no extrabíblico.

Desde o surgimento da questão do empréstimo literário de Ellen White, a questão de quanto tem ocupado o centro do palco. Os adventistas têm sido levados a realçar a singularidade, a originalidade do conteúdo dos escritos de Ellen White. Sem dúvida, essa pretensão é decorrente do ponto de vista de que suas obras são o resultado de inspiração, posição defendida por Ellen White e ensinada pelos adventistas em geral. Mas num sentido espiritual final, Ellen White sempre insistiu em que suas obras eram derivadas. Ela recebia a informação de que escreveu suas percepções, através de visões, mediante alguma espécie de impressão sobre a mente, e das Escrituras. Ela se considerava uma mensageira do Senhor. Creio que a questão que a preocupava era a autoridade e a veracidade de suas mensagens — não a sua originalidade. Para Ellen White, toda verdade, afinal de contas, tinha origem em Deus.

Esta segunda conclusão sugere algumas áreas para estudo proveitoso. Embora encontremos correspondentes para as fontes em todos os tipos de materiais do DTN, talvez necessitemos fazer uma precisa comparação do conteúdo das semelhanças e o das seções independentes.6 E pode ser que encontremos diferenças, quando estudarmos os outros livros publicados como resultado de seus escritos sobre a vida de Jesus — Parábolas de Jesus e O Maior Discurso de Cristo.

Necessitamos também prestar atenção no conteúdo de suas visões. Deixou ela algum registro — o que ela viu e quando — que nos possibilite identificar o conteúdo da visão, independentemente de seu comentário sobre a vida de Cristo, que mostre o uso de fontes? E o que dizer daquelas ocasiões nas quais foi ela impressionada a escrever? Teve ela experiências reveladoras sem ser as que em geral se entendem como visão? Deve o uso de fontes desempenhar qualquer função em tais experiências?

Há também o assunto do plágio. Já conseguimos identificar agora várias das fontes que ela usou. Conhecemos os tipos de literatura que essas fontes representam. E temos uma idéia da natureza e extensão da dependência literária de Ellen White, no que se refere a seus escritos originais. Com todos estes dados em mão, deveríamos estar capacitados a examinar a questão do plágio nos termos das convenções literárias que disciplinavam o uso de tais obras religiosas entre seus contemporâneos.

3. O caráter especial do comentário de Ellen White deve ser notado em seu uso prático das Escrituras e em seu realce sobre as realidades espirituais e devoção pessoal.

Embora os escritos de Ellen White pareçam ter sido grandemente derivados, não têm falta de originalidade. Uma justa avaliação da evidência, não deveria negar ou subestimar o grau de sua dependência; mas tampouco deve passar por alto ou desprezar sua independência. A despeito de sua falta de instrução convencional e de sua dependência de fontes e auxiliares literárias, Ellen White pôde escrever. Obviamente, teve ela a capacidade de expressar claramente suas idéias. Ela não foi dependente servil de suas fontes, e a forma como introduziu seu conteúdo mostra claramente que ela conhecia as melhores construções literárias. Sabia como separar o trigo do joio.

Talvez não possamos identificar as “impressões digitais” de Ellen White no material que Marian Davis editou, mas certos traços de sua obra são prontamente visíveis. Ela não se aproxima do texto bíblico como uma exegeta erudita. Antes, examinou-o de um ponto de vista prático, apanhando o significado óbvio, quase literal. Confiou a Marian Davis a responsabilidade de decidir onde a publicação inicial necessitava ser desenvolvida. Em alguns casos, a revisão incluiu uma alteração na ordem dos acontecimentos para pôr os seus escritos em harmonia com o texto das Escrituras.

Outro característico distinto de sua obra é o realce posto naquilo que chamei de “realidades espirituais”. Ela difere de suas fontes no realce que deu às descrições das atividades ou pontos de vista de Deus e Seus anjos e de Satanás e seus anjos. Ela parece estar muito mais informada e à vontade do que suas fontes, quando fala sobre o “outro mundo”, o real embora invisível mundo dos seres espirituais do Universo. Seu interesse pela realidade é também evidente na substituição das expressões de probabilidade, suposição e imaginação encontradas nas fontes com descrições concretas, dadas no estilo de um jornalista ou testemunha ocular.

A “assinatura” de Ellen White pode também ser vista na proporção do comentário dispensado aos apelos morais ou cristãos, ou lições que comumente aparecem no fim de um capítulo. Esse aspecto deveria naturalmente ajustar-se ao propósito evangelístico que a motivou a escrever sobre a vida de Cristo. É entre seus comentários devocionais e em toda a sua apresentação do que chamei de “realidades espirituais” que temos mais probabilidade de ver sua independente mão na obra.

A independência de Ellen White deve ser também vista em sua seletividade. As fontes foram suas escravas, nunca suas senhoras. Estudos futuros bem fariam em comparar o seu texto com o das fontes e verificar-lhe a maneira de selecionar, condensar, parafrasear e reagrupar em geral muito do material que usou.

Nosso estudo suscitou outra pergunta que merece maior atenção: ficou Ellen White endividada para com as fontes que usou para seus comentários devocionais e espirituais? Encontramos várias semelhanças em uma ou duas obras desse tipo, mas nossa pesquisa não foi tão intensa, com respeito a estas obras, a ponto de deixar claro se sua aparente independência é devida à sua originalidade ou aos limites de nossa investigação. Se estendermos a pesquisa de possíveis fontes a sermões e literatura devocional, seremos capazes de dizer quão exatos são nossos dados com relação a sua independência, e apresentar de maneira exata quanto de suas seções de comentários corresponde ou difere das fontes que ela usou.

Sem dúvida alguma, um exame completo do uso feito das Escrituras por Ellen White, também será proveitoso. Limita-se a interpretação bíblica hoje a sua maneira prática de pensar? Há lugar para cuidadosa exegese? Se há mais de uma forma de abordar, legítima, para o estudo das Escrituras, deveriam os pontos de vista de Ellen White regular a interpretação adventista das Escrituras?

Finalmente, com respeito ao conteúdo, como os escritos de Ellen White sobre a vida de Cristo se comparam entre si? Já não podemos pedir a Ellen White ou àqueles que a conheceram, que nos expliquem o que ela entendia por aquilo que escreveu. Para sermos honestos para com ela e evitarmos o uso incorreto de sua autoridade, devemos ser cuidadosos com respeito à maneira como apresentamos aquilo que ela escreveu e como definimos qual foi sua posição sobre determinado assunto. Meu estudo de seus escritos sobre a vida de Jesus me tem deixado a impressão de que alguns dos seus pontos de vista mudaram várias vezes. O próprio fato de que o texto do DTN representa uma revisão de sua obra anterior, sugere que seus escritos formam uma tradição textual.

Se a investigação contínua indica que há algum progresso em suas idéias, não deveria ela sugerir que seus comentários precisam ser considerados em termos de “tempo e lugar”, não apenas em sua própria experiência de vida e tradição textual, mas com respeito ao cenário mais amplo dos seus tempos, tanto dentro como fora da igreja adventista? Talvez precisemos que autores adventistas e/ou o Ellen G. White Estate forneçam introduções para seus escritos nos moldes do que consideramos proveitoso ao estudar os escritos do Antigo e do Novo Testamento. Seja como for, não podemos necessariamente saber seu ponto de vista simplesmente encontrando uma harmonia entre todos os seus escritos sobre determinado assunto. Seu ponto de vista mais recente bem pode ser uma correção ou pelo menos uma modificação de sua posição anterior.

4. Ellen White usou um mínimo de 23 fontes de vários tipos de literatura, que incluía ficção, em seus escritos sobre a vida de Jesus. 7

Na verdade, não temos nenhum meio de saber quantas fontes são representadas na obra de Ellen White sobre a vida de Cristo. Além dos 62 capítulos restantes do texto do DTN, há dois outros livros a considerar: O Maior Discurso de Cristo e Parábolas de Jesus. Estes 23 escritos são suficientes para responder às perguntas que tantos têm feito: De que escritores Ellen White tomou emprestado? De que espécie de livros são seus escritos?

O espaço não nos permite examinar aqui todos os 23. Contudo, não há nenhuma necessidade de abranger toda a série, uma vez que muitos entram na categoria literária de “Vidas de Cristo Vitorianas”. Os livros dessa categoria jamais são considerados como biografias. Hoje em dia, provavelmente fossem classificados como ficção histórica.

Um deles, claramente considerado como fictício, é The Prince of the House of David (O Príncipe da Casa de Davi), de Ingraham, um livro que Albert Schweitzer considerou como um dos “romances ‘edificantes’ sobre a vida de Jesus, destinado à leitura da família”.8 Ingraham lançou seu livro como uma coleção de cartas escritas por uma testemunha ocular da Palestina para seu pai no Egito.

O livro muito cotado de William Hanna, destinava-se a ser “prático e religioso”9 Não admira que as semelhanças com Hanna possam ser encontradas em 13 dos 15 capítulos do DTN que examinamos.

Os livros encontrados na biblioteca de Ellen White na época em que ela faleceu, parecem corroborar o que seus escritos revelam. Ela se valeu grandemente da leitura de livros de tipos literários, perspectiva teológica e profunda erudição, diversas.

5. As assistentes literárias de Ellen White, de modo especial Marian Davis, são responsáveis pela forma publicada de O Desejado de Todas as Nações.

O papel das assistentes literárias de Ellen White não constituiu uma das principais preocupações do estudo. Este assunto, porém, não pode ser totalmente excluído de qualquer tentativa séria de tratar do uso que ela fez das fontes. Seu método de escrever inevitavelmente envolveu o trabalho de suas secretárias, especialmente o de suas “compiladoras”. Uma parte significativa da introdução ao relatório da pesquisa, envolve este, de certo modo, interessante lado da obra literária de Ellen White.

Em sua época ela era, sem dúvida, mais conhecida por suas pregações públicas do que por seus escritos. Ela gostava de falar — aproveitava toda oportunidade para falar — e confiava em sua habilidade para falar. A mesma coisa não acontecia com seus escritos. Embora pesasse sobre ela a responsabilidade de escrever, sua confiança em sua habilidade como escritora não era grande. Ela sabia que seu grau de instrução não a qualificava para escrever para publicação.

A evidência sugere que ela escrevia todos os dias em seus jornais, passando de um assunto para outro quando o tempo e a ocasião permitiam. Sem dúvida, ela trabalhava com uma fonte durante algum tempo e depois mudava para outra fonte e outro assunto. Aqueles apontamentos seriam copiados e corrigidos de acordo com a gramática, sintaxe e ortografia, quando ela entregasse aquele jornal a uma de suas secretárias. Vários jornais deveriam estar em atividade ao mesmo tempo.

Dessas compilações, suas assistentes deveriam preparar artigos para os jornais adventistas. Parece que as maiores publicações foram tiradas de compilações de materiais reunidos num álbum de recortes. Ao menos esta parece ter sido a maneira seguida com respeito aos capítulos destinados a O Desejado de Todas as Nações. Parece que suas assistentes nessas ocasiões ampliavam os manuscritos de todos os jornais. Vários manuscritos constam, em grande parte, de excertos de escritos anteriores e não trazem a assinatura de Ellen White.

A comparação que fizemos de manuscritos com o texto concluído e nosso estudo das cartas que Ellen White e Marian Davis escreveram, revela os passos requeridos para preparar o texto para publicação. Estes passos revelam claramente que Marian Davis tinha liberdade para modificar a estrutura da sentença, reformular os parágrafos e estabelecer o comprimento do capítulo. Ellen White estava mais interessada no conteúdo geral do livro, no custo, e em entregar o mais rápido possível o material ao público. Demonstrou também um vivido interesse na arte usada para ilustrar seus escritos.

Não percebi nenhuma evidência de que Marian Davis se tenha envolvido na composição original de qualquer texto de Ellen White. Mas sem os manuscritos originais é impossível provar que isso não tenha acontecido com qualquer parte do texto do DTN. Talvez fosse interessante fazer um estudo do estilo das cartas de Marian Davis e do material manuscrito de Ellen White. Se suas “impressões digitais” aparecessem, teríamos alguma base para determinar mais precisamente o nível de envolvimento que Marian Davis apresentou em seu papel como “compiladora”. Poderá ser até que ela mereça algum reconhecimento público por seus serviços, nesse sentido.

Quanto a um pronunciamento final sobre o projeto da pesquisa, acho que seria bom dizer que, com respeito ao texto de O Desejado de Todas as Nações, Ellen White foi ao mesmo tempo derivada e original. Estudos futuros trarão sem dúvida à nossa apreciação não só mais fontes, como também uma compreensão maior do papel originador de Ellen White. Com o auxílio de suas assistentes literárias, ela extraiu da pederneira comum não uma réplica da obra de outrem, mas uma primorosa composição literária que reflete a fé pessoal e a esperança cristã que ela pretendia partilhar com seus pares adventistas e a comunidade cristã em geral.

Talvez seja mais apropriado e proveitoso falar do uso criador e independente que ela fez dos seus escritos e dos escritos de outros, do que minimizar sua dependência dos escritos de outros. Seja a sentença, o parágrafo, o capítulo ou livro, é o produto final que deve, em última análise, ser levado em consideração. A leitura completa do relatório revelará prontamente que os múltiplos aspectos da dependência ou independência literária, em especial das grandes quantidades de texto, são às vezes muito sutis, muito entrelaçados, quando não muito complexos para ser precisa e devidamente avaliados.

Dr. Fred Veltman, ex-presidente do departamento de religião do Colégio União do Pacífico, Califórnia

Referências:

1. Ver o primeiro artigo desta série: Ministry, outubro de 1990.

2. Não afirmo que suas secretárias não copiaram das fontes. Meu ponto de vista é que não encontrei nenhuma evidência de que elas compuseram o texto usando fontes literárias e há farta evidência nos manuscritos de Ellen White que indica ter ela assim agido.

3. Ver “Pós-escrito Pessoal” para a referência da declaração de O Grande Conflito sobre esta questão.

4. Ver as citações 5, 6 e 7 no primeiro artigo desta série: “Projeto O Desejado de Todas as Nações: Os Dados”, Ministry, outubro de 1990.

5. Por exemplo, o Capítulo 53 sobre “A Bênção dos Filhos” inclui muito comentário sobre maternidade, paternidade, e a família. Até que examinemos a literatura que conhecemos, Ellen White leu sobre assuntos tais que não podemos saber se as sentenças deste capítulo realmente merecem a classificação de independentes que lhes temos dado.

6. Para um bom exemplo de análise de conteúdo, ver “As Fontes Esclarecem a Cristologia de Ellen White”, de Tim Poirier, Ministry, dezembro de 1989, págs. 7-9.

7. A declaração sumária do primeiro artigo enumerou 28 escritos e 32 fontes, tanto para o texto do DTN como para o do pré-DTN. Apareci com o número 23 ao omitir as duplicações entre os dois exames textuais e, num esforço por estar certo de que havíamos apresentado fontes fidedignas, pela eliminação da contagem de todas as fontes que apresentavam menos de cinco semelhanças em um determinado capítulo.

8. Albert Schweitzer, The Quest of the Historical Jesus (Londres: A. & C. Black, Ltda. 1910), pág. 328, nota 1.

9. Daniel L. Pals, The Victorian “Lives” of Christ (San Antonio: Trinity University Press, 1982), pág. 69.

Pós-escrito pessoal

Algumas das perguntas que me têm sido feitas sobre esta pesquisa, relacionam-se com assuntos de fé e com minhas perspectivas como adventista. Visto que me considero não só pastor mas erudito, gostaria de responder abreviadamente a quatro dessas perguntas. Os comentários seguintes constituem minha resposta pessoal àquilo que descobri, e não conclusões tiradas dos dados pesquisados.

1. “Se o senhor acredita que Ellen White foi inspirada por Deus, por que está gastando tanto tempo, examinando possíveis fontes favoráveis a seus escritos?”

Há várias razões. Justifica-se o estudo, baseando-se no interesse adventista — muitos, na igreja, perguntam sobre sua dependência literária. Nenhuma fé em Ellen White e seus escritos pode ser persuasiva se não puder subsistir à luz da verdade. Vários amigos meus — e me têm falado de muitos outros que me são desconhecidos — teriam abandonado a confiança na inspiração de Ellen White, se não no adventismo, quanto a esta questão. Caso haja aqueles que já não acham possível acreditar em Ellen White ou no Adventismo, eu preferiria que sua decisão se baseasse numa compreensão adequada, em lugar de numa compreensão errada.

Há também uma base profissional para meu interesse nesse assunto. Como estudioso da Bíblia, estou consciente de que nosso conhecimento das Escrituras se deve, em grande parte, a estudos similares do texto bíblico, sua composição, história e cenário. Em minha maneira de ver, é imperativo que desenvolvamos a compreensão e os instrumentos para entender de maneira apropriada os escritos de Ellen White. Devem estes princípios surgir do entendimento do texto; e não, ser impostos ao texto.

2. “Acha o senhor que Ellen White foi culpada de plágio, como alguns têm dito?”

Como salientei em meu relatório, a pesquisa não trata do assunto do plágio. Conquanto não possamos esclarecer aqui esta questão, nem eu tenha a intenção de minimizar-lhe a importância, minha opinião pessoal é que ela não foi culpada dessa prática. Encontramos citações textuais de autores aos quais não foi dado crédito. Mas a questão do plágio é muito mais complexa do que dizer simplesmente que um escritor usou o trabalho de outro sem dar o crédito. Só se pode acusar legitimamente de plágio a um escritor, quando os métodos literários desse escritor contrariam práticas estabelecidas da comunidade geral de escritores que produzem obras do mesmo gênero literário sem um contexto cultural comparável.

No processo de fazer a nossa pesquisa, verificamos que as fontes de Ellen White haviam usado umas às outras anteriormente, da mesma forma que ela as usou mais tarde. Às vezes a semelhança entre as fontes era tão grande que tínhamos dificuldade em decidir que fonte Ellen White estava usando.

3. “Como o senhor harmoniza o uso de fontes por Ellen White com suas declarações em contrário? Acha o senhor que a declaração introdutória ao Grande Conflito constitui um reconhecimento adequado de dependência literária?”

Devo admitir, de início, que segundo o meu julgamento, este é o problema mais sério a ser enfrentado em ligação com a dependência literária de Ellen White. Ele fere o sentimento de sua honestidade, sua integridade e, por conseguinte, de sua fidedignidade.

Até agora não tenho e — quanto seja do meu conhecimento — ninguém tem uma resposta satisfatória para esta importante pergunta. A declaração de O Grande Conflito vem muito mais tarde em sua carreira de escritora e é muito limitada nas referências feitas a historiadores e reformadores. Admissões semelhantes não aparecem como prefácio em todos os seus escritos nos quais as fontes estão envolvidas e não há nenhuma indicação de que esta declaração especial se aplique a seus escritos de um modo geral.

Mas me parece que a declaração de O Grande Conflito fornece uma sugestão quanto ao lugar em que se pode encontrar a resposta. Aparentemente, Ellen White achava que a documentação só era necessária quando o escritor era citado como autoridade. Quando a fonte era citada para indicar “uma pronta e forçosa apresentação do assunto”, não se devia dar nenhum crédito.

A idéia de que Ellen White lidava com estas distinções em mente não resolve a questão do plágio. Nem responde cabalmente as perguntas feitas com respeito ao texto do DTN, no qual predominam as paráfrases em lugar das citações. Sugere, contudo, que Ellen White pode ter visto a dependência literária como indicando primordialmente autoridade e se aplicando grandemente a citações em lugar de ao parafraseamento.

Se a minha maneira de pensar estiver correta, responder a questão poderia exigir que estudássemos cuidadosamente suas respostas sobre o assunto da dependência literária em seu contexto histórico. Essa maneira de encarar incluiria um escrutínio de seus comentários e dos comentários de seus contemporâneos sobre o assunto da inspiração. Se muitos crentes hoje em dia acham perturbador para sua fé na inspiração dela o uso que fez de fontes, é razoável esperar menos dos adventistas do século dezenove? As negativas e/ou não aceitações de Ellen White podem ter significado para ela algo diferente daquilo que significam para nós hoje.

4. “Pessoalmente o senhor acredita que Ellen White tenha sido uma mensageira inspirada por Deus? Em caso afirmativo, o que o senhor entende por ‘inspiração’?”

Esta quarta e última pergunta é o “ponto-chave” quando aparecem perguntas sobre Ellen White. Embora não haja um único ponto de vista adventista sobre inspiração, seja dos autores das Escrituras ou de Ellen White, há margem para posições aceitáveis. Minha posição pessoal relativa a Ellen White, fundamenta-se, em primeiro lugar, em meu conhecimento do texto bíblico e, em segundo, naquilo que sei sobre Ellen White e seus escritos.

Conquanto eu não tenha todas as respostas às perguntas que são dirigidas aos escritos de Ellen White, minha crença em sua inspiração não está seriamente comprometida. Afinal, não temos todas as respostas às perguntas sobre o texto das Escrituras.

Não tenho nenhum problema com os escritores, por usarem fontes. De conformidade com minha maneira de pensar, a inspiração não é originalmente dependente. Muito das Escrituras não se preocupa em ser novo e diferente do que outros estavam dizendo ou do que foi dito no passado. Por que deveríamos esperar mais de Ellen White do que encontramos nas Escrituras?

Na verdade, como resultado de ter lido muitos de seus escritos tanto grafados a mão como a máquina, verifico que meu respeito e apreciação por Ellen White e seu ministério aumentou. Gostaria que indistintamente seus defensores e críticos tivessem a oportunidade de ler os seus escritos no contexto original. A fim de poderem sentir em primeira mão que a amplitude do seu interesse e envolvimento, de seu critério e devotamento, sua disposição e humanidade, sua piedade e espiritualidade foi tanto informativa como edificadora da fé.

Obviamente, ela era humana, teve fraquezas pessoais e de caráter, e estava longe de ser perfeita e infalível. Ela jamais pretendeu ser de outra maneira. No meu entender, seus escritos contêm declarações tanto de tempo condicionado como eterno. Estes devem ser classificados por meio dos princípios de interpretação, como acontece com as Escrituras.

Estou grandemente convencido, agora mais do que antes de começar esta pesquisa, de que a questão não é saber se Ellen White foi profetisa ou apenas uma líder religiosa. Não se trata de um caso de tudo ou nada, uma coisa ou outra. Não é o caso de saber quais de suas mensagens são inspiradas ou quando ela trocou seu chapéu profético por uma touca editorial.

Encontro fortes razões para vê-la como uma voz profética do século dezenove em seu ministério em favor da igreja adventista, bem como para a sociedade maior. Sua voz saída daquela comunidade cristã do passado, ainda merece ser ouvida hoje naquelas mensagens eternas que falam às realidades do nosso mundo no final do século vinte.

Ellen G. White, The Great Controversy, (Mountain View, Calif.: Pacific Press Pub. Assn., 1911), pág. 12.