Reavivando a paixão pelo evangelismo público

Desde os primórdios do cristianismo, o evangelismo público tem sido uma ferramenta fundamental na disseminação da mensagem do evangelho e no crescimento da igreja. Essa estratégia, com base na pregação aberta e acessível das boas-novas de Jesus, desempenhou um papel central na missão de alcançar e transformar vidas, e os frutos seguem sendo colhidos.

Na história da Igreja Adventista do Sétimo Dia, o evangelismo público não apenas atraiu novos crentes, mas também expressou de forma real a missão de proclamar as verdades bíblicas em todo o mundo. Desde o início, os pioneiros enfatizaram a importância de levar a mensagem do advento ao público em geral. Essa abordagem dinâmica ajudou a estabelecer e fortalecer as raízes da Igreja Adventista, moldando sua identidade e orientando seu compromisso com a missão evangelística.

Bases e princípios do evangelismo público

De acordo com John Stott, evangelismo é a propagação do evangelho, e esse fato nos dá condições para definir o que o evangelismo não é.1 Compreender o evangelismo requer uma visão mais abrangente do que simplesmente considerar aqueles que ainda não aceitaram Jesus como Senhor e Salvador. A mensagem das boas-novas não é exclusiva para os não batizados, mas também para os batizados. A essência do evangelismo reside na contínua edificação da fé, tanto daqueles que estão sendo alcançados pela primeira vez quanto daqueles que já fazem parte da comunidade de fé.

O evangelismo também não pode ser definido pelos resultados. O uso da expressão “evangelizar” no Novo Testamento não significa necessariamente que as pessoas foram batizadas, mas sim que tiveram contato com a mensagem de Cristo.

Em um sentido mais amplo, o evangelismo também não pode ser definido em termos de métodos. Fazer evangelismo não depende da metodologia que foi usada, mas é o anunciar das boas-novas por quaisquer meios e de acordo com as oportunidades. Essa responsabilidade não pode e nem deve ser delegada a outros, porque cabe a cada um dos cristãos compartilhar sua experiência pessoal.

Centralidade da missão e desafios atuais

Para Mark Dever, de acordo com os princípios bíblicos, a prática da evangelização cristã é a tarefa mais importante da igreja.2 Todos os cristãos devem estar envolvidos na missão: ouvir as pessoas, conhecer suas necessidades e abordá-las com compaixão e respeito. Não se deve desistir do evangelismo, mesmo quando se enfrenta oposição ou resistência. Uma nova abordagem e uma nova estratégia devem ser desenvolvidas para se adequarem à situação e às necessidades.

A ordem de Jesus, segundo MacArthur, enfatiza a importância do evangelismo público para a salvação das pessoas.3 O autor defende que o evangelismo é uma responsabilidade de todos os cristãos e não apenas de alguns líderes ou pastores. Evangelismo é uma forma de compartilhar a mensagem de amor de Cristo com os outros, para que estes possam ser salvos. Assim, enfatiza a importância de ser sensível à cultura e ao contexto em que se está evangelizando para ser respeitoso com as pessoas. O evangelismo não é uma forma de intolerância ou de imposição de crença aos outros, mas sim uma forma de amor e de compartilhar a mensagem de salvação.

Joseph Kidder ressalta que o evangelismo não deve ser encarado apenas como um programa, mas sim como um estilo de vida que permeia todas as esferas da vida do cristão.4 No entanto, o autor aponta uma série de desafios que precisam ser superados nesse contexto. Uma das questões é que o evangelismo público não tem sido tão eficiente como no passado. Mudanças sociais, culturais e tecnológicas têm impactado a forma como as pessoas recebem e respondem à mensagem do evangelho. Além disso, a maioria dos membros da igreja não está envolvida de forma significativa com o evangelismo relacional, ou seja, em estabelecer relacionamentos pessoais com não crentes para compartilhar sua fé de maneira contextualizada e relevante.

Liderança preparada

Outro desafio é a falta de uma estratégia abrangente de evangelismo nas igrejas locais. Muitas vezes, as ações evangelísticas são pontuais e desarticuladas, não contando com um plano estruturado e integrado para alcançar diferentes públicos.

Diante dessa realidade, a capacitação de líderes para o evangelismo público se torna uma estratégia fundamental para a mudança desse cenário. Os pastores, por exemplo, desempenham um papel crucial na orientação das igrejas, sendo responsáveis por inspirar, equipar e mobilizar os membros a se engajarem no evangelismo público de maneira eficaz e coerente com os desafios e oportunidades do tempo presente.

Investir na capacitação em evangelismo público é essencial para que os líderes locais estejam preparados para enfrentar os desafios atuais, compreender as mudanças da sociedade e desenvolver estratégias relevantes e eficazes. Dessa forma, eles poderão liderar as igrejas na promoção de um evangelismo público dinâmico, que abrace o estilo de vida missionário e alcance as pessoas de maneira impactante, contextualizada e transformadora.

Além disso, durante a Comissão Diretiva Plenária de 2024 da Divisão Sul-Americana, foi aprovado estabelecer uma escola de evangelismo voltada para o ancionato. O objetivo é incentivar cada participante a assumir a liderança e o papel de pregador em campanhas de evangelismo dentro de suas comunidades locais. O programa oferece todo o suporte necessário, incluindo textos, apresentações e recursos adicionais, a fim de capacitar os pastores a preparar seus líderes locais de forma eficaz.

Evangelização contínua

Ellen White destaca que todo verdadeiro discípulo é, por natureza, um evangelista, pois “nasce no reino de Deus como missionário”.5 Essa convicção transcende a mera manifestação de um dom espiritual isolado. O discipulado, independentemente da metodologia empregada, abrange o envolvimento com pessoas, o treinamento, a capacitação e a preparação delas para compartilhar o evangelho aos outros. Esse ciclo se renova ao longo da vida do seguidor de Jesus, tornando-se uma parte intrínseca e vital de sua jornada espiritual. É nesse contexto que ressalto o propósito central das escolas de evangelismo: tornar cada adventista um evangelista.

É importante estabelecer no planejamento da igreja as datas para o encerramento dos ciclos de colheita, sempre com um evento evangelístico marcante. Antes mesmo do primeiro sermão ser proferido em uma campanha, uma série de eventos e atividades preparatórias se desenrola. A vida cotidiana da igreja desempenha um papel fundamental na preparação contínua para os ciclos de evangelismo, que devem ser incorporados regularmente ao calendário da congregação.

Igrejas acolhedoras

Ao analisar a dinâmica da igreja e a forma como ela se relaciona com a comunidade, é possível identificar os fatores que influenciam a permanência das pessoas e sua participação ativa na congregação. Isso envolve a criação de um ambiente acolhedor, o cultivo de relacionamentos genuínos e o desenvolvimento de programas e ministérios relevantes.

Compreender as necessidades, aspirações e desafios das pessoas ao redor é essencial para nutrir a motivação de retorno à igreja. Isso requer empatia, sensibilidade e um compromisso genuíno em oferecer suporte espiritual e prático às pessoas em sua jornada de fé. Além disso, reconhecer que o evangelismo vai além dos eventos pontuais e se estende para a vida cotidiana da igreja aponta para uma abordagem integral. Isso significa que o discipulado e a evangelização não devem ser vistos como atividades isoladas, mas como um estilo de vida permeado pelo amor, compaixão e serviço ao próximo.

Uma pesquisa conduzida por Robert Bast forneceu informações valiosas sobre a atratividade missionária de uma congregação.6 Segundo os dados obtidos, o calor humano e a amizade presentes na congregação são fatores determinantes para que as pessoas retornem a um culto em uma igreja. Os visitantes não buscam apenas transformação ou atenção pública, mas valorizam o cuidado pessoal recebido dos membros da comunidade. Essa atenção individualizada é essencial para cultivar relacionamentos significativos e promover um ambiente acolhedor e familiar.

Outro fator de grande importância é o estilo do culto e do louvor oferecidos pela igreja. Os visitantes consideram a forma de adoração um elemento decisivo para seu retorno. Um culto envolvente, inspirador e relevante é capaz de cativar a atenção das pessoas e despertar seu desejo de participar ativamente da vida da congregação.

Por fim, a estrutura física do prédio da igreja também desempenha um papel relevante. Questões como acessibilidade, instalações sanitárias adequadas e sinalização clara são aspectos que merecem atenção. Um ambiente bem cuidado e preparado para receber os visitantes demonstra o cuidado da igreja em oferecer uma experiência positiva desde o primeiro contato.

Amizade e evangelismo: uma abordagem eficiente

Uma outra forma de evangelismo eficiente e que acompanha as campanhas de evangelismo público é o evangelismo da amizade. Essa é uma das maneiras mais simples e eficientes de cumprir a missão. Para Joseph Aldrich, as pessoas ouvirão a mensagem de boas-novas se os cristãos, antes, demonstrarem amor.7 A transformação operada pelo Espírito Santo gerará edificação, que é colocar todas as implicações do evangelho em cada área de vida. Uma vez que ocorre a edificação, o evangelista se torna cada vez mais semelhante a Cristo e começa a expressar o amor às pessoas que estão à sua volta. Sendo assim, o evangelismo da amizade reforça que uma vida consagrada é um atrativo poderoso para despertar interesse no outro e abrir caminhos para decisões espirituais mais profundas.

Ricardo Norton reforça a importância de aproximar-se das pessoas para apresentar as boas-novas do evangelho, o que ele chama de “princípio da atração”.8 Para alcançar uma sociedade pós-moderna, o autor defende que é necessário atrair as pessoas usando a analogia de um ímã. Quanto mais próximo do ímã, maior será o magnetismo. Sendo assim, a igreja deve estar perto das pessoas, entendendo e conhecendo a realidade delas, para desenvolver uma membresia magnética, pregações magnéticas, programas magnéticos e edifícios magnéticos.

Os resultados da pesquisa de Schwarz, baseados em mais de 1.600 cristãos da Alemanha, Áustria e Suíça, destacam a influência predominante de amigos e parentes (76%) e, em segundo lugar, do trabalho pastoral (22%) no processo de conversão e decisão de se unir à igreja.9 Esses dados reforçam a importância das relações interpessoais e da liderança religiosa na formação da fé. Nesse contexto, as campanhas de evangelismo, combinadas com o engajamento pessoal e o suporte da igreja, tornam-se estratégias muito importantes.

Conclusão

O evangelismo público continua sendo uma peça fundamental no cenário contemporâneo da missão da igreja. Desde os primeiros passos do cristianismo até os dias atuais, sua importância tem sido inegável, não apenas como meio de crescimento da comunidade de fé, mas também como preparação espiritual para a breve volta de Jesus.

A história da Igreja Adventista destaca a relevância do evangelismo público na formação e no crescimento da igreja. No entanto, enfrentamos desafios significativos, desde mudanças sociais e culturais até a falta de uma estratégia abrangente de evangelismo nas igrejas locais. Para superar esses obstáculos, é necessário investir na capacitação de líderes e membros da igreja, incentivando uma abordagem integrada que combine o evangelismo público com o evangelismo da amizade e o discipulado. Essa abordagem ampla reflete o exemplo de Jesus, que também priorizou o relacionamento individual na propagação das boas-novas.

Nesse sentido, é necessário um compromisso renovado com a missão de alcançar o mundo com a mensagem do evangelho. Cada membro da igreja é chamado a ser um evangelista, não apenas por meio de palavras, mas principalmente por meio de uma vida transformada pelo amor de Cristo.

Rafael Rossi, evangelista da Igreja Adventista para a América do Sul

Referência

John Stott, A Missão Cristã no Mundo Moderno (Viçosa, MG: Ultimato, 2010).

Mark Dever, A Arte de Evangelizar (São José dos Campos, SP: Fiel, 2015).

John MacArthur, O Poder do Evangelismo (São José dos Campos, SP: Fiel, 2014).

Joseph Kidder, Igreja Viva (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021).

Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021), p. 146.

Robert Bast, Attracting New Members (Nova York, NY: Reformed Church in America, 1988).

Joseph Aldrich, Amizade: A Chave para Evangelização (São Paulo: Vida Nova, 1987).

Ricardo Norton, Cómo Alcanzar al Mundo Hoy (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2010).

Christian A. Schwarz, Evangelização Básica (Curitiba, PR: Esperança, 2003).