Onde o papai está indo?”, perguntou-me meu filho de cinco anos, enquanto ambos pressionávamos o nariz contra a janela e observávamos a rua e um grupo de casais que estava reunido no pátio da igreja, perto de nossa casa.
“Papai está indo fazer visitas”, eu respondi, olhando a multidão que o esperava lá fora. “Ele está indo falar de Jesus.”
Enquanto isso, eu permanecería em casa, como sempre, cuidando das crianças. Normalmente, a maternidade é um papel que me realiza, mas naquele dia senti-me infectada pela impaciência. Pensei então: “Quão prazeroso seria falar a outros a respeito de Jesus. Mas quem virá bater à minha porta e perguntar-me a respeito dEle?” E voltei, mal-humorada, à tarefa diária de lavar roupas.
Quando eu me casei com um pastor, imaginei-me trabalhando lado a lado com ele, fazendo minha parte para salvar o mundo. Mas agora, pensei comigo mesma, tenho de limitar-me a apoiá-lo, à distância.
De fato, antes de tornar-me mãe, sentia-me mais ativa nos trabalhos da igreja. Todavia, quando as crianças chegaram, uma a uma, isso mudou muito. Mas nem os muros da minha casa estancaram meu desejo de es-tar ativamente envolvida num ministério mais amplo. Embora eu ensinasse a Bíblia para minhas crianças e desempenhasse algum papel no programa da igreja, sentia-me demasiadamente confinada ao lar.
“Senhor, de que maneira podes usar-me?” tornou-se minha oração diária, enquanto meu esposo pastoreava, e eu voltava a entoar os mesmos sombrios corinhos. As tarefas diárias tornavam-se insípidas. Eu não estava com inveja do meu esposo; ele era um pastor, e eu era sua ajudadora. Meu desejo não era substituí-lo em seu trabalho, mas que o Senhor pudesse contar comigo de alguma forma.
Soldado ou prisioneiro
Na igreja, eu freqüentemente cantava sobre ser um soldado da cruz, mas estava começando a sentir-me como uma prisioneira de guerra, acorrentada em minha própria casa. Senti-me limitada para realizar a missão devido a algumas unhas afiadas -as minúsculas mãos de minhas crianças. Meu dilema era justamente uma reflexão sobre um problema familiar. Não se tratava de um conflito entre família e carreira profissional, mas um equilíbrio entre família e serviço para Deus.
Seria esse, realmente, o problema? Desejava eu, de fato, um ministério de linha de frente, dado por Deus, ou estaria procurando experimentar um sentimento de glória passageira? Se meus motivos eram puros, de fato, como poderia um desejo inspirado por Deus produzir insatisfação, especialmente quando eu compreendia que meu primeiro dever era para com meus filhos?
Tentando conciliar meu desejo com meu dilema, busquei nas Escrituras alguns modelos de mulheres e seus respectivos papéis. Não trabalhava Priscila justamente ao lado de Áquila? Encontrei também paralelo em Paulo e João Batista, dois prisioneiros na linha de frente da batalha.
Porventura Paulo sentia-se desgastado, ao ser levado aos tribunais quando pesava-lhe nos ombros a enorme tarefa de evangelizar o mundo? Em mais de uma ocasião, ele escreveu sobre o “desejo” de estar em outro lugar. Seria o tempo em que permanecera em prisões desperdiçado e infrutífero? Ou, que dizer sobre João Batista, que preparou o caminho para Cristo e morreu numa prisão?
Seguramente, meu desejo de servir a Deus O agradava, ao contrário do meu descontentamento. Afinal, Ele aprovava minha missão de mãe. Ele me abençoou com filhos, e acompanhava minhas limitadas responsabilidades no ministério de linha de frente. Minha atitude readquiriu a perspectiva própria, quando eu me vi não como uma mãe confinada ao lar, mas como uma “prisioneira de Cristo”.
Paulo, como um “prisioneiro de Jesus Cristo” continuou servindo a Deus apesar das algemas que o prendiam. Quando aprisionado em Roma, continuava tendo a Cristo como seu Mestre. A servidão do apóstolo ja-mais se curvou aos romanos. Seu carcereiro supremo era Cristo. Se, de igual forma, eu reconheço Jesus como o Senhor de minha vida, posso estar segura de que nada foge a seu controle ou sua atenção. Conquanto pareça que nossa sujeição às circunstâncias signifique desperdício de tempo, energia e oportunidades, as Escrituras apresentam muitos exemplos de pessoas escolhidas por Deus, vivendo em tais situações.
Daniel foi um cativo em terra estranha. Jacó, durante muitos anos, foi um escravo. Épocas de restrições e provas, quer permanentes ou passageiras, modelam a argila de nossas almas. Finalmente, “aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças” (Isa. 40:31).
Em meu caso particular, o reconheci-mento de Cristo como Mestre foi o primeiro passo para aceitar as restrições que me eram impostas pelas circunstâncias. Isso foi um processo difícil, assim como o foi para João Batista. Quando Jesus apareceu em cena, o fiel precursor simplesmente disse: “Importa que Ele cresça e que eu diminua.” (João 3:30). Este foi um ato voluntário de deferência, da parte de alguém que posteriormente lutou em aceitar a condenação que pôs fim a seu ministério público. Enquanto permanecia na prisão, seguramente João sonhava com o que poderia estar fazendo por Cristo. Dúvidas e questionamentos o atormentaram de tal forma, que ele enviou mensageiros a Cristo: “És Tu aquele que havia de vir, ou devemos esperar outro?” (Mat. 11:3). Jesus não removeu suas algemas, nem derribou as paredes da prisão, mas transmitiu a João a mensagem de que ele necessitava aceitar as circunstâncias.
Paulo também lutou, suplicando a Deus que lhe removesse um “espinho” da carne (II Cor. 12:7). Mesmo ao registrar a resposta de Deus, no sentido de que Sua graça era sufi-ciente para envolver o tal “espinho”, o anelo de Paulo foi satisfeito. Ele testemunhou que aprendera a “estar contente”.
O centro da questão com a qual devemos confrontar-nos, na submissão às circunstâncias, é: Pode Cristo ser glorificado nesta situação? Algumas vezes as provas surgem justamente para que possamos enaltecê-Lo. E nós diminuirmos, como disse João Batista. E ele o fez. Possivelmente ele não conhecesse a extensão de sua atitude de subjugar-se, mas compreendeu que era necessário fazê-lo.
Quantas vezes orei para que Cristo fosse glorificado em minha vida, apenas para logo após lamentar as restrições encontradas ao longo do caminho. A verdade é que nem sempre aproveitei as oportunidades já disponíveis. Agora, posso dizer que aprendi a lição. Por exemplo, quando testemunhas de Jeová batem à porta, não mais as despeço com uma polida desculpa de diferenças doutrinárias incontornáveis. Ao contrário, tomo tempo para partilhar com elas o Jesus que eu conheço.
Compreendendo o potencial
Uma vez adaptado às situações adversas, Paulo compreendeu o potencial missionário que elas possuíam. Certa ocasião, ele declarou: “…as coisas que me têm acontecido têm antes contribuído para o progresso do evangelho” (Fil. 1:12). Muitas de suas epístolas foram escritas dentro de uma cela. Pregou aos guardas e visitantes. Enquanto permaneceu aprisionado, seu coração pulsava com singular sentimento de realização.
O centro da questão com a qual devemos confrontar-nos, na submissão às circunstâncias, é: pode Cristo ser glorificado nesta situação?
Mas, que dizer de João Batista? Saiu de cena rumo a uma morte cruel e ignominiosa, significando que era uma estrela caída? Jesus não pensou assim. Ouçamo-Lo dizer: “Entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista…” (Mat. 11:11). João, mesmo isolado numa prisão, distante das multidões às quais ele havia pregado, agradou a Deus e compreendeu seu potencial. Isso deve ter feito seu coração regozijar, mesmo naquele escuro, fétido e sujo calabouço.
Quanto a mim, que procurava alguma tarefa enquanto meu esposo perfilava-se na linha de frente do ministério, finalmente compreendi o potencial existente dentro dos meus limites. Busquei maneiras de partilhar Cristo criativamente, quando circunstâncias adversas me assaltaram.
À semelhança de Paulo, consegui oportunidades para testemunhar como uma prisioneira de Cristo. Paulo teve a vantagem de suas audiências com Félix e Agripa. Ele falou aos guardas. Algumas vezes, tive como auditório os amigos dos meus filhos ou algum mecânico de automóvel. Posso ainda convidar alguém à minha casa. Através da oração, posso ir a todo o mundo sem sair de casa.
De meu próprio lar, não de algum lugar distante, posso reunir comida e roupa, e distribuir entre os pobres. As sementes que procurei cultivar em meus filhos constituem meu mais importante ministério. E por aqueles dias, semanas e meses atravessados sem uma reconhecida oportunidade na linha de frente, lembro-me do que Jesus falou imediatamente após Sua observação sobre João Batista: “mas o menor no reino dos Céus é maior do que ele.”
Agora, com algumas de minhas crianças na escola e uma enfermaria na igreja, retornaram as oportunidades para o ministério fora de casa. Mas onde quer que eu esteja servindo a Deus, sempre quero ser uma prisioneira de Jesus Cristo.