Introdução

1. Se é verdade que vivemos numa sociedade competitiva, é provável que este traço seja mais evidente ou visível no âmbito da propaganda.

a) Há um constante bombardeio da mente com uma infinidade de fatores.

b) São gastas fabulosas somas de dinheiro.

c) São contratados os melhores talentos entre os técnicos e especialistas.

2. Nesse mar quase sem limites, o evangelista lança a “casquinha de noz’’ de sua propaganda.

a) Não possui os recursos das grandes empresas.

b) Não pode contratar especialistas.

c) Mesmo que os conseguisse, não poderia financiar os custos da campanha publicitária.

3. Pelo menos poderia fazer algumas coisas:

a) Estudar e aproveitar os descobrimentos de leis que regem a mente.

b) Estudar e utilizar os métodos de Cristo.

c) Utilizar um grande capital de que não dispõem as empresas seculares:

(1) O potencial leigo, com seus diversos dons e talentos;

(2) O poder do testemunho cristão; e

(3) O poder do Espírito Santo.

4. Que enfoque daremos ao assunto?

a) Poderíamos optar por expor detalhadamente a propaganda que está dando êxito neste momento. Seria bom, mas estes tempos cambiantes fariam com que perdesse a validade a curto prazo.

b) Prefiro considerar princípios (e objetivá-los dentro do possível), deixando a cada um a possibilidade de aplicá-los.

c) Não pretendo dar todos os princípios, mas abordarei alguns dos que considero chaves.

I. Aprender a Olhar Através dos Olhos do Público Que Pretendemos Alcançar

1. Até os princípios de propaganda corretos poderão produzir resultados opostos aos desejados se não aprendermos a utilizar a óptica do público.

a) Ilustração; Quando Siam (a mais prestigiosa marca de geladeiras na Argentina) decidiu penetrar no âmbito dos ferros elétricos, eles pensaram em explorar o prestígio de sua marca. Produziram um cartaz em que aparecia um ferro Siam com a legenda: “O ferro se compra por sua marca.” Acontece que na Argentina a marca de ferros elétricos mais famosa não é Siam, mas Atma… Nunca foram vendidos tantos ferros Atma como na ocasião em que a firma Siam produziu esse cartaz.

b) Esses publicitários encararam o assunto da marca do ponto de vista da fábrica Siam, e não do mercado comprador.

2. Ao trabalhar na difusão da notícia, tradicionalmente somos informados a respeito dos elementos sine qua non que deveriam compô-la: Quê? Quem? Quando? Onde? Como? 

a) Além de ser uma boa fórmula para o periodismo, pode ser-nos útil na propaganda evangelística.

b) Se os usarmos sem basear-nos no princípio que estamos considerando, produzirão resultados contraproducentes. Por exemplo:

Que? Qual é o dia de repouso? Conheça as razões bíblicas que apresentam o sábado, sétimo dia da semana, como o dia designado por Deus.

Quem? Ouça João Delfino, pastor adventista do sétimo dia, em sua exposição bíblica do quarto mandamento da lei de Deus.

Quando? A classe bíblica será realizada no próximo sábado, dia santo do Senhor, às 20 horas.

Onde? No templo da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Rua Palma, 421.

Como? A entrada é franca, pois tudo é pago pelos dízimos que os membros da Igreja devolvem ao Senhor e pelas generosas ofertas que eles trazem cada sábado.

c) Que avaliação poderíamos fazer dessa propaganda?

(1) Aparentemente, é honesta: Diz tudo.

(2) Da perspectiva de um adventista, filho de adventista, criado na Igreja, parece lógica.

(3) Que entenderia um batista com esse anúncio? Como o traduziria mentalmente um católico? Eles têm sua lógica baseada no seu senso comum, que difere consideravelmente do nosso.

3. Como funciona o senso comum?

a) Ele é o resumo de pelo menos três coisas:

(1) O que nos foi ensinado.

(2) O que experimentamos por nós mesmos.

(3) O que crê e pratica nosso meio-ambiente.

b) Reconsideremos nosso anúncio do ponto 2-b, a fim de imaginar o que o senso comum dirá a nosso respeito para um católico praticante:

Quê? “Estes são hereges. Desde quando o sábado é o dia de repouso, sendo que todo o mundo sabe que é o domingo, e guarda esse dia! Meus pais e meus avós me ensinaram isto e guardaram o domingo. Eu mesmo o tenho guardado durante toda a minha vida. Essa gente está enganada!”

Quem? “Pastor adventista? Com razão ensina essas barbaridades. O padre da paróquia nos disse que os ministros religiosos que não são católicos, embora sejam bem-intencionados, não têm o carisma certo da verdade.”

Quando? “Se é no dia santo deles, eu não devo ir.”

Onde? “No templo adventista? Como a gente vai saber o modo de entrar e o que fazer num templo adventista? Será necessário fazer o sinal da cruz e molhar os dedos com água benta? Haverá algum rito especial?”

Nalguns lugares o clero tem espalhado a falsa informação de que, ao abrir a porta, há no piso um quadro da virgem, e que, ao entrar, tem-se de pisotear a virgem, e isso um bom católico jamais poderá fazer.

Como? “É bom que seja grátis; mas, como? É preciso dar dízimos e ofertas semanalmente? Esses indivíduos são uns exploradores!”

4. Apliquemos nosso princípio à magnífica fórmula de cinco perguntas, e teremos bons resultados:

a) Quê? A fim de que nossa propaganda chame a atenção e desperte o desejo de assistir às reuniões, deve fazer com que a pessoa sinta que o assunto supre sua necessidade pessoal.

(1) Isto nem sempre coincidirá com as nossas necessidades e as da igreja.

(2) Ilustração Carnegie: Eu gosto imensamente de pudim de creme com morango. Não consigo entender como os peixes possam gostar de minhocas, mas quando vou pescar não ponho pudim com creme e morango no anzol, porém uma minhoca…

(3) A percepção seletiva natural em todo ser humano levá-lo-á a ver quase só o que lhe interessa.

(4) Que interessa às pessoas? Em linhas gerais, fala-se dos seguintes motivos impelentes:

— autoconservação

— propriedade

— poder

— reputação

— afetos

— sentimentos

— gostos

Outros enunciaram-nos assim:

— benefício

— notícias

— curiosidade — suspense

— alegria

— segurança

__rapidez e facilidade para obter benefícios

— sexo

— o vital

— o raro

— o parecido

— o oposto

— o animado

— o concreto

(5) Deve adaptar-se às necessidades da pessoa e do lugar.

Ilustração: Alguém disse que um volante fazendo propaganda de gelo aos esquimós que vivem nas proximidades do Pólo Norte, não os impressionaria muito; mas a mesma propaganda num cálido deserto da África produziria uma resposta diferente.

Devem ser levados em conta tanto o lugar como a cultura.

b) Quem? Imaginemos o que o senso comum poderá dizer para três pessoas diferentes, sobre o anúncio: Falará João Delfino, pastor adventista do sétimo dia:

(1) Um adventista: É meu pastor; a melhor pessoa que conheço.

(2) Um batista: Se é adventista, é um legalista; não crê na graça. Que me poderá ensinar? Além disso, é perigoso: um ladrão de ovelhas.

(3) Um católico: Se é ecumênico: um irmão separado. Cumpre visitá-lo, orar com ele; mas só falar de pontos nos quais estejamos de acordo. Não estudar pontos em dissidência. Ele não tem o carisma certo da verdade. Pouco ou nada poderá dar-me.

Se não é ecumênico: Esse homem está enchendo o inferno de renegados da fé católica. A mim ele não agarra. O padre nos proibiu de ouvi-lo.

Exagerado? Isto do senso comum se aplica desde os dias do Novo Testamento (ver I Cor. 1:18-24).

Que disse Ellen G. White quanto à organização patrocinadora?

Gradualmente

“Não precisais pensar que toda a verdade deva ser pregada de uma vez ou em todas as ocasiões aos descrentes. Deveis planejar cuidadosamente o que tiverdes de dizer, bem como o que tiverdes de silenciar. Isto não é enganar o povo; é trabalhar como Paulo trabalhou. Ele diz: ‘Sendo astuto, vos tomei com dolo.’ II Cor. 12:16.” — Evangelismo, pág. 126.

Não Dizer Logo Quem Somos

“Ao trabalhardes em um novo campo, não penseis ser o vosso dever declarar imediatamente ao povo: Somos adventistas do sétimo dia; cremos que o dia do descanso é o sábado; acreditamos que a alma não é imortal. Isso havia de levantar uma formidável barreira entre vós e aqueles a quem desejais alcançar.” — Idem, pág. 200. (O resto também é interessante.)

Não Dizer Tudo o que Faremos

“O Senhor me mostrou que não era o melhor plano revelar aquilo que iremos realizar, pois logo que nossas intenções fossem conhecidas nossos inimigos se levantariam para pôr obstáculos. Pastores seriam convidados a virem para resistir à mensagem da verdade. De seus púlpitos advertiriam as congregações,… dizendo-lhes as coisas que os adventistas pretendem fazer.

“Daquilo que o Senhor me revelou, tenho uma advertência a fazer aos nossos irmãos. Não conservam os generais prudentes suas atividades em estrito segredo, para que o inimigo não descubra seus planos e procure destruí-los? Se o inimigo não tiver conhecimento de seus movimentos — há vantagem nisto para eles.” — Idem, pág. 125.

Surpreender o Povo

“Esperai; armai as barracas quando chegar o tempo das reuniões. Armai-as rapidamente e, então, anunciai as reuniões. Seja qual for que tenha sido vossa prática anterior, não é necessário repeti-la sempre e sempre, da mesma maneira. Deus deseja que sigamos métodos novos e ainda não experimentados. Apresentai-vos rapidamente ao povo — surpreendei-os.” — Idem, págs. 125 e 126.

c) Quando? Utilizar a nomenclatura usualmente aceita pelo destinatário da propaganda.

d) Onde? Releia o que diz Ellen G. White acerca do uso de tendas e salões. No livro Evangelismo encontrará bastante material. Lembre-se: O lugar que aparece na propaganda determina o status, e o senso comum faz muito caso da questão do status. Mantenha-se dentro do que é aceito nessa cultura.

e) Como? Geralmente fica bem o que é gratuito, mas quando é muito, desperta certos temores. Às vezes é bom que as pessoas saibam que se aceitam donativos (não publicá-lo, porém).

II. Respeitar o Código de Recepção do Público

1. Toda notícia emitida é expressa em código.

a) As palavras têm seu sentido.

b) Nem sempre a mesma palavra significa a mesma coisa para todos.

c) Eventualmente pode acontecer que para o emissor (o evangelista ou o membro da igreja) signifique uma coisa, e para o público, algo diferente. Vejamos alguns exemplos exagerados.

— Esforço público

— Obreiro

— Espírito de Profecia

d) Vejamos agora outros exemplos aparentemente inofensivos que podem ser perigosos:

— Pastor

— Igreja Adventista do Sétimo Dia, etc.

O EVANGELISTA Dois CódigosO CONVIDADO
TransmissorReceptor

2. De acordo com o apóstolo Paulo, quem não respeita o código do receptor não tem o direito de pregar.

a) É o que consta em I Coríntios 14.

b) O princípio também se aplica a nossa propaganda.

III. Respeitar as Leis de Transmissão de Uma Notícia

A notícia se difunde num ciclo de dois tempos: transmissão e retransmissão pelos líderes naturais da opinião pública.

1. A primeira etapa é efetuada pelo evangelista e sua equipe (membros e obreiros): Transmissão.

2. A segunda etapa é efetuada pelos líderes naturais da opinião pública: Retransmissão.

a) Pessoas que influem sobre grupos, geralmente pequenos, por gravitação natural.

b) A influência real dessa gente é muito maior do que a dos meios de comunicação usuais.

c) Exemplo: A samaritana.

3. Antes de lançar a propaganda, pensar no senso comum e no código desses líderes de opinião.

IV. Procurar Criar Preconceitos Positivos

1. Todos temos conceitos formados antecipadamente, a favor ou contra.

a) Parece que a mente trabalha assim.

b) Não ganharemos nada pretendendo ignorá-lo; pelo contrário, perderemos algo se não aceitarmos e utilizarmos essa realidade.

2. Que sucedería se a propaganda despertasse um preconceito negativo nos líderes de opinião?

a) Eles não viriam.

b) Influiriam nos componentes de seu grupo, para que não viessem.

c) Colocariam em volta de sua gente uma barreira quase impossível de ser atravessada.

3. Quando há preconceitos negativos, as pessoas reagem contra nós com igual intensidade, mas em sentido contrário a nossa propaganda.

4. Quando há preconceitos positivos, os líderes de opinião trabalharão em nosso favor, enchendo o auditório de gente.

Conclusão

1. Antes de lançar a propaganda, devemos estudar:

a) As leis que regem a mente.

b) Prever as reações.

2. Respeitar as leis que regem as notícias:

a) Aprender a olhar através dos olhos do público que pretendemos alcançar.

b) Respeitar o código de recepção do público.

c) Recordar que a notícia se difunde num ciclo de dois tempos: Transmissão (pelo evangelista) e retransmissão (pelos líderes naturais de opinião).

d) Procurar criar preconceitos positivos.

DANIEL BELVEDERE, evangelista da Divisão Sul-Americana