(Continuação)

Em cada caso o cumprimento da profecia era condicional à obediência: (a) sua posição como povo escolhido, Êxo. 19:5 e 6; Deut. 28: 9; (b) nação grande, Deut. 28:1, 7, 9, 10 e 13 (comparar com os versos 15, 25 e 48); (c) nação santa, Êxo. 19:6; Deut. 28:9; (d) bênçãos, Deut. 7:9-14; 28:1-14 (comparar com os versos 15-68); 30:16 e 19; (e) a terra, Deut. 8:1 e 7-9; 30:19 e 20 (comparar com Lev. 18:26-28; Deut. 28:15 e 64); I Reis 9:3, 6 e 7; I Crôn. 28:8; II Crôn. 7:16, 19 e 20; Ezeq. 33:24-26; 36:26-28; (f) a linhagem davidiana dos reis, I Reis 2:3 e 4; 8:25; 9:4 e 5; I Crôn. 28:4-9; II Crôn., 6:16; II Crôn. 7:17-22; e (g) bênção às nações, Ezeq. 36:23 e 33-36; 37:23 e 28.

Mas como as condições foram apenas parcialmente satisfeitas, as promessas só se cumpriram parcialmente na história dos hebreus.

3. PROMESSAS A DAVI E SALOMÃO. — Em Davi, o qual Deus escolheu “para que eternamente fôsse rei sôbre Israel” (I Crôn. 28:4), e em seu filho Salomão, cumpriram-se muitas das antigas promessas feitas a Israel — um grande nome, uma grande nação, prosperidade, vitória e paz, dominar sôbre outras nações, “desde o rio do Egito até o grande rio Eufrates” (Gên. 15:18; comparar com I Reis 4:21). Demais, no tempo de Davi, Deus in-tencionava que Israel habitasse “no seu lugar”, e não fôsse mais “perturbado” (II Sam. 7:10; I Crôn. 17:9).

Isto não contradiz as afirmações anteriores de que Israel devia possuir a terra sob a condição de obediência (Deut. 8:1, 19 e 20 etc.), nem é invalidado pelo fato de que êles mais tarde foram removidos dela. Não era desejo de Deus que Israel fôsse expulso de sua terra por cau-sa de seus pecados, assim como não é Seu desejo que alguém se perca por rejeitar a salvação (Ezeq. 33:11; II Ped. 3:9). Davi sabia que esta promessa era condicional, como se vê em seu último discurso na coroação de Salomão, quando admoestou o povo reunido: “Guardai todos os mandamentos do Senhor vosso Deus, e empenhai-vos por êles, para que possuais esta boa terra e a deixeis como herança a vossos filhos para sempre.” I Crôn. 28:8.

Além disso, êle reconhecia que a promessa concernente a Salomão também era condicional: “Estabelecerei o seu reino para sempre, se perseverar êle em cumprir os Meus mandamentos e os Meus juízos, como até o dia de hoje.” Ver-sos 6 e 7.

Após a conclusão do Templo, Deus repetiu a mesma promessa ao próprio Salomão, baseando a permanência da realeza, do Templo e do domínio de Israel sôbre o país, na condição de fidelidade a Deus (I Reis 9:3-9; II Crôn. 7: 16-22).

A declaração de Deus, manifestando Seu propósito de que Israel não fôsse mais “perturbado” (II Sam. 7:10), e que a casa de Davi se estabelecesse para sempre no trono (verso 13), demonstra que Êle desejava cumprir as bênçãos prometidas a Israel, a partir do tempo de Davi e Salomão. Se as condições fôssem cumpridas, êles jamais teriam ido ao cativeiro.

Mas Salomão apostatou, e embora antes de morrer reconhecesse a insensatez de sua conduta, seu reino foi dividido e dez das tribos separaram-se permanentemente de sua dinastia. É verdade que seus descendentes governaram Judá enquanto continuou sendo uma nação, mas o reino finalmente acabou e a coroa da dinastia de Davi foi removida “até que venha Aquêle a quem ela pertence de direito” (Ezeq. 21:27). Isto se refere ao divino Filho de Davi (S. Mat. 21:5 e 9). Apesar de que Salomão e a linhagem real de Davi deixassem de executar as promessas, a profecia acêrca da descendência de Davi cumpriu-se em Cristo, que ain-da dominará sôbre um reino eterno (Sal. 89: 3 e 4; Isa. 9:6 e 7; Jer. 23:5; S. Luc. 1:32 e 33).

4. A CONDICIONAL AMEAÇA DE CATIVEIRO. – Foram os pecados da nação que fizeram com que o reino judaico terminasse no cativeiro babilônico (II Crôn. 36:14-17). Os judeus não precisavam ser levados para o exílio. Jerusalém, com seu Templo magnificente, poderia ter permanecido para sempre e tornar-se a metrópole em que entrariam reis e príncipes, se os judeus houvessem sido fiéis ao concêrto — mesmo que tivessem atendido à derradeira advertência de Jeremias (Jer. 17:21-27).

No capítulo que vem depois dessa mensagem de advertência, cuja aceitação teria evitado a destruição de Judá, Jeremias registra a clara e explícita declaração de Deus acêrca da natureza condicional das profecias de recompensas e castigos:

“No momento em que Eu falar acêrca de uma nação, ou de um reino para o arrancar, derribar e destruir, se a tal nação se converter da maldade contra a qual Eu falei, também Eu Me arrependerei* do mal que pensava fazer-lhe. E no momento em que Eu falar acêrca de uma nação ou de um reino, para o edificar e plantar, se ela fizer o que é mal perante Mim, e não der ouvidos à Minha voz, então Me arrependerei* do bem que houvera dito lhe faria.” Jer. 18:7-10.

Que êste princípio se referia a Israel, vê-se nos versos 11 e 13. Arrependimento nacional mesmo então poderia alterar o destino do reino, mas os apelos de Jeremias não foram atendidos, e em resultado veio o exílio.

*Êste arrependimento do bem ou mal que Deus prometera é uma expressão humana que não representa adequadamente a verdadeira natureza de Deus, mas é usada a fim de expressar a alteração nos efeitos. Não é Deus quem muda realmente. Êle proclamou de modo imparcial as conseqüências de o homem escolher o bem ou o mal; Sua atitude e Suas alternativas permanecem invariáveis; mas a mudança de conduta por parte do homem altera suas relações para com Deus e produz uma modificação das conseqüências.

5. PROFECIAS DA RESTAURAÇÃO E DO NÔVO CONCÊRTO. – A paciência divina, no entanto, não terminou com o cativeiro babilônico. Mesmo no exílio ainda havia esperança de que o arrependimento evitasse o cumprimento da profecia referente à ruína da nação. Por meio de Jeremias, Deus tornou a assegurar-lhes que embora êsse cativeiro fôsse um castigo, êle não era o fim de tudo (Jer. 5:10-18; 46:28). Já antes do exílio Deus começara a enviar mensagens proféticas prometendo um retorno e oferecendo uma completa e gloriosa restauração sob um nôvo concêrto (Jer. 31:27, 28 e 31).

Sob o concêrto nacional feito com Deus no Sinai e reafirmado várias vêzes, todo o Israel fracassou miseravelmente, como foi demonstra-do através de tôda a sua história nacional. As dez tribos apóstatas, há muito tempo separadas do santuário e da teocracia, já haviam sido removidas; agora era levado em cativeiro o remanescente de Israel — o reino de Judá — que caíra mais lentamente na apostasia, se bem que de maneira não menos fatal; e a linhagem de Davi perderia o trono até que viesse o Messias, “a quem compete reinar”. Nesta hora sombria — por intermédio de Jeremias na sitiada Judá, e Ezequiel entre os primeiros grupos de exilados que já se encontravam em Babilônia — Deus enviou mensagens semelhantes de um “nôvo concêrto,” “um concêrto eterno,” sob o qual abençoaria os exilados, ao voltarem. Reintegrá-los-ia como a santa nação de Deus, como uma vivida demonstração de Seu amor e cuidado, e portanto como um instrumento de bênção às nações do mundo (Ver. Jer. 31:31-34; 32:36-41; Ezeq. 37:19-28).

O povo evidentemente se estava queixando de que sofriam pelos pecados de seus pais, pois Jeremias menciona o provérbio: “Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram.” Jer. 31:29. Então êle prossegue com a proclamação do nôvo concêrto, em que Deus lidará não com os pais, mas diretamente com os corações humanos. Poria a Sua lei “no seu interior,” e a escrevería “no s u coração,” e todo o indivíduo, desde o menor até o maior, conhecería ao Senhor. Perdoaria os seus pecados e não mais Se lembraria dêles (Jer. 31:31-34). No capítulo seguinte Jeremias chama-o de “concêrto eterno” (Jer. 32: 39 e 40), o qual é o concêrto feito com Abraão (Gên. 17:7).

Sob o “concêrto eterno,” Deus prometeu: “Porei o Meu temor no seu coração, para qua nunca se apartem de Mim.” Jer. 32:40. Em relação a isto, o Senhor lhes daria “um só coração e um só caminho,” a fim de que O temessem para sempre (verso 39).

Ezequiel, o profeta para os exilados que já se encontravam em Babilônia, mencionou que Deus lhes daria “um só coração” e um “espírito nôvo,” substituindo o “coração de pedra” por “um coração de carne,” para que êles andassem nos estatutos do Senhor, e prometeu: “Êles serão o Meu povo, e Eu serei o seu Deus.” Ezeq. 11:19 e 20. Noutra parte Ezequiel faz alusão ao “concêrto perpétuo” feito com os exilados, tanto de Israel como de Judá, e ao domínio de Davi sôbre um povo purificado de seus pecados (Ezeq. 37:19-28). Isaías também fala de um concêrto eterno (Isa. 55:3; 61:8).

6. O EVANGELHO NO CONCÊRTO ETERNO. — Mais uma vez Ezequiel emprega quase as mesmas palavras: “Dar-vos-ei coração nôvo. . . . Porei dentro de vós o Meu Espírito, e farei que andeis nos Meus estatutos.” Ezeq. 36:26 e 27. O objetivo do nôvo concêrto em capacitá-los a obedecer. — “Para que Me temam todos os dias,” “para que nunca se apartem de Mim” e “para que andem nos Meus estatutos” (Jer. 32:39 e 40; Ezeq. 11:19 e 20); e a maneira de habilitá-los para isso seria: “Porei dentro de vós o Meu Espírito” (Ezeq. 36:27). Mas no tempo do Velho Testamento, bem como no do Nôvo, o coração natural “não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar” (Rom. 8:7). É por isso que o escrever da lei de Deus no coração envolve o dar ao homem um coração nôvo em lugar de seu coração de pedra, o que constitui um dom gratuito e imerecido, que só pode ser obtido pela fé.

O nôvo concêrto, pois, não é nada menos do que salvação pela graça, através da fé — a recepção do Espírito de Deus, capacitando o indivíduo a andar em novidade de vida. Isto é o evangelho do Nôvo Testamento no âmago do Velho Testamento.

Não existe aí incompatibilidade entre a lei e a graça. Mesmo no tempo de Israel não ha-via incompatibilidade entre a graça e a lei “cerimonial,” pois até Jesus morrer os ritos e sacrifícios eram a maneira indicada por Deus para dirigir os olhos da fé ao Salvador que iria vir. Só quando foi oferecido o Cordeiro de Deus, foi definitivamente abolido o sistema cerimonial (Efés. 2:15). Depois disso, a insistência na observância cerimonial tornou-se uma negação de fé no todo-suficiente sacrifício de Cristo (Atos 15:1 e 10; Gál. 5:1 e 2). O nôvo concêrto, mais tarde ratificado pelo sangue de Jesus (Heb. 8:6-13; S. Mat. 26:28) e mediado por Seu ministério sacerdotal (Heb. 8:6; 9:15; 12:24) — o concêrto que promete o divino ato de a lei ser escrita no coração, mediante a habitação do Espírito, que produz a justiça da lei na vida (Rom. 8:4) — nunca estêve em desacordo com a lei moral de Deus, tanto naquele tempo como agora.

7. DEPENDIA DA ACEITAÇÃO INDIVIDUAL. – Estas profecias da restauração de Israel propunham o nôvo concêrto a todos, pois “desde o menor até ao maior dêles,” todos deveriam conhecer ao Senhor (Jer. 31:34). Deus só oferece o perdão, a purificação do pecado e o nôvo coração, sob a condição do arrependimento individual. A restauração relacionada com o nôvo concêrto sòmente poderia efetuar-se na medida em que os israelitas aceitassem o concêrto individualmente. Daqueles aos quais Êle daria um nôvo coração, disse o Senhor: “Serão o Meu povo, e Eu serei o seu Deus.” O verso seguinte exclui os que recusassem ser purificados: “Mas, quanto àqueles cujo coração se compraz em seus ídolos detestáveis e abominações, Eu farei recair sôbre suas cabeças as suas obras, diz o Senhor Deus.” Ezeq. 11:20 e 21.

O concêrto perpétuo foi feito com Abraão, que é chamado o pai dos fiéis (Gên. 17:1, 2 e 7; comparar com Gên. 26:5). Isaías apresenta o concêrto perpétuo com o convite: “Inclinai os vossos ouvidos”, “vinde,” “ouvi” (Isa. 55:3); e continua: “Buscai o Senhor enquanto se pode achar”; “Deixe o perverso o seu caminho, . . . e volte-se para o nosso Deus.” Versos 6 e 7. Deus deu Sua palavra como garantia de Sua fidelidade (Jer. 31:35-37; 33:20-26); mas Seu concêrto é oferecido, não imposto à fôrça. Portanto, as promessas de restauração sob o nôvo concêrto dependiam da voluntária aceitação dos israelitas, e de pela fé agirem segundo essa aceitação.

Se todo o Israel, ou mesmo a maioria dêles, participasse sem reservas do nôvo concêrto e experimentasse o nôvo coração mediante a atuação do Espírito de Deus, produzindo uma obediência sincera, quais não teriam sido os resultados! Deus ainda desejava usar a Israel como Seu instrumento especial para partilhar as bênçãos do nôvo concêrto com outras nações.

8. PROFECIAS SÔBRE A RESTAURAÇÃO, PARCIALMENTE CUMPRIDAS. – As profecias da “restauração” ou do “reino” — algumas delas repletas de figuras poéticas, outras em linguagem literal — falam de vida longa e condições edênicas na Terra, da justiça de Israel e sua liderança mundial, atraindo as nações para si e espalhando o conhecimento do Senhor sôbre a Terra. A casa de Davi seria restaurada, e finalmente viria o Messias que seria “tirado,” que seria o Cordeiro de Deus que ratificaria o nôvo concêrto e dirigiría o reino com justiça e que afinal traria paz eterna. Entretanto, essa idade de ouro não haveria de ser tôda ela de paz; a inveja dos inimigos evidentemente traria guerra, a qual terminaria em decisiva vitória para o povo de Deus (Ezeq. 38 e 39), antes da segunda vinda de Cristo e da transição para o domínio eterno. — Questions on Doctrine, págs. 217-225.

“Uma das mais belas compensações desta vida é que nenhum homem pode sinceramente procurar ajudar a outros, sem ajudar a si mesmo.”