Quais são os ensinos básicos dos adventistas do sétimo dia a respeito das profecias inspiradas da Bíblia? Em que e por que diferis dos pós-milenialistas e futuristas? Que dizeis acêrca das profecias do “reino” e da restauração dos judeus? Por que discordais da interpretação dos pós-milenialistas e futuristas? Por obséquio, sêde explícitos.

Três coisas impressionam profundamente o estudante da profecia ao examinar êle o testemunho dos séculos: (1) O imutável propósito de Deus (Isa. 14:27); (2) Sua divina presciência (Isa. 46:10; Atos 2:23) e a inspirada revelação do delineamento das épocas por meio dos profetas bíblicos da antiguidade (Amós 3: 7); e (3) Sua infinita paciência com os obstinados sêres humanos que não correspondem ao objetivo que Êle tem para com êles.

Quanto às grandes profecias gerais da Escritura Sagrada, os adventistas do sétimo dia creem que elas são uma divinamente inspirada descrição dos séculos. Grande parte de nossa interpretação de profecias dessa espécie não se originou conosco. Baseia-se nas descobertas de muitos dos mais piedosos e eminentes sábios de várias seitas através dos séculos. Nós, bem como a igreja primitiva, sustentamos que o cumprimento profético deve ser buscado nos eventos históricos, e na História encontramos um progressivo e contemporâneo reconhecimento das sucessivas épocas e dos principais cumprimentos do esbôço profético.

Como a maioria dos expositores desde os primeiros Pais da Igreja até os tempos modernos, cremos que as potências mundiais das profecias de Daniel foram os impérios Neobabilônico, Medo-Persa, Grego (Macedônico) e Romano; que Roma não deveria ser seguida imediatamente por um quinto império mundial, mas sim dividida num certo número de reinos fortes e fracos; que o cumprimento dessa desintegração verificou-se no quarto e quinto séculos; que isto deveria ser seguido pelo aparecimento de um poderoso anticristo; e que o anticristo por sua vez seria destruído por ocasião do Segundo Advento, que será acompanhado pela ressurreição literal dos justos mortos, e pela prisão de Satanás durante o milênio; e que o milênio então será seguido pelo eterno reino de Deus.

Nós, bem como o faziam muitos líderes da Reforma, cremos que a divisão de Roma nos dez reinos que representam as várias nações da Europa foi seguida pelo anticristo papal, como o predito poder dominante da Idade Média (Ver pág. 336). Por conseguinte, mantemos o ponto de vista histórico da profecia. Rejeitamos o futurismo e o preterismo não apenas porque ambos os sistemas foram inventados pelos católicos romanos na Contra-reforma, para combater as opiniões protestantes, mas porque achamos que estas interpretações estão em desarmonia com as especificações das Escrituras. Também não aceitamos a tese do pós-milenialismo, agora amplamente desacreditada, de um gradual melhoramento do mundo e de vindoura paz universal num reino de Deus feito pelo homem. Os adventistas do sétimo dia crêem que a única esperança do mundo é o pessoal e premilenial segundo advento de Cristo, que, pelo estudo da profecia bíblica, achamos estar iminente, mas para o qual não marcamos data alguma.

Cremos que as profecias simplesmente formam a base para a grande atividade redentora de Deus, centralizada nos dois adventos de Cristo. A primeira vez Cristo veio para viver entre os homens como o Imaculado, e para morrer como o todo-suficiente, vicário e expiatório sacrifício pela redenção da raça perdida. E Seu ministério sacerdotal no Céu cobre o período entre Sua ascensão e Seu segundo advento como Rei dos reis, para ajuntar os remidos e acabar com o trágico domínio do pecado.

1. Concepções Adventistas da Profecia

O assunto da profecia e do cumprimento profético é por demais extenso para ser tratado adequadamente aqui. A resposta, pois, restringir-se-á aos pontos que parecem ser mais aplicáveis aos tópicos considerados nestas perguntas e respostas.

1. Classificação das Profecias Bíblicas. — A palavra “profecia” tanto significa predizer como expor; um profeta expõe a mensagem de Deus, transmitindo reprovação, correção e instrução ao homem; às vêzes também prediz eventos imediatos ou futuros, anunciando antecipadamente o desenvolvimento do propósito divino, ou o que ocorrerá na realização de certas circunstâncias.

Ocasionalmente o profeta era chamado “vidente”, significando alguém que vê com visão sobrenatural. Às vêzes a mensagem de Deus é transmitida oralmente ao profeta; outras vêzes, por meio de ilustrações, em visão. Mas quer o profeta ouça ou veja a mensagem de Deus, êle a expõe como palavra divina, e não dos homens. “Porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana, entretanto homens falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo” (II S. Ped. 1:21).

A profecia pode ser classificada de diversas maneiras:

Pelo conteúdo, em —

a. Mensagens éticas de reforma para contemporâneos, como por meio de Elias, Jeremias;

b.  Predições, em que amiúde ocorre o elemento ético, como por meio de Isaías, Jeremias, Daniel.

Pela forma, em —

a.  Profecias imediatas ou de curto alcance;

b. Profecias figurativas ou simbólicas;

c. Profecias interpretativas;

d.  Parábolas proféticas.

Quanto ao alcance, em —

a.  Profecias imediatas ou de curto alcance;

b. Predições sôbre remotos eventos isolados;

c. Profecias expositivas de longo alcance, cobrindo extensos períodos;

d.  Profecias de dupla aplicação (imediata e futura; ou literal e figurativa).

Quanto ao cumprimento, a profecia pode ser dividida pelo menos em três categorias:

a. Predições de intenção divina (independentes do querer ou desígnio humano);

b.  Predições de presciência divina (predizendo as ações humanas);

c.  Predições de recompensa ou castigo divino (condicionais às boas ou más ações do homem).

Às vêzes pode ser difícil dizer com precisão se determinada profecia pertence a esta ou aquela categoria, mas tôdas as três classes de profecia são certas, se bem que de maneiras diferentes.

2. Cumprimento Dessas Três Espécies de Predições. — Exemplos de predições dessas três últimas classes tornarão isto claro:

As profecias da primeira classe (o imutável propósito de Deus) incluem, por exemplo, a predição divina de que Cristo iria morrer pela salvação do homem, e que o universo finalmente será purificado do pecado. As profecias dêsse tipo precisam ocorrer, pois são uma afirmação do eterno propósito ou desígnio de Deus, de fazer algo independentemente da vontade ou das ações do homem.

As profecias da segunda classe (presciência) incluem as predições da traição e crucifixão de Jesus. Esta espécie de profecia será cumprida, devido a que Deus não pode enganar-Se em Sua presciência. Em Sua onisciência, conhecendo “o fim desde o comêço”, Êle estava ciente de que homens ímpios iriam trair e crucificar a Jesus, mas as predições não forçaram qualquer dêles a pecar. Embora a profecia possa predizer “o que a presciência de Deus vira que iria ocorrer”, contudo, como disse um de nossos mais representativos escritores, “as profecias não moldam os caracteres dos homens que irão cumpri-las. Os homens executam sua própria e livre vontade.” – ELLEN G. WHITE, em The Review and Herald, 13 de novembro de 1900, pág. 721.

As profecias da terceira classe (as que indicam recompensa ou castigo) são exemplificadas pela dupla predição de Jeremias (cap. 17) a respeito da permanência ou destruição de Jerusalém. Além disso, podemos dizer que as predições dessa espécie também são certas, mas dum modo diferente: É certo, por exemplo, que um homem experimentará ou a recompensa ou o castigo predito. Se êle cumprir as condições para receber as bênçãos, as penalidades não serão infligidas; por outro lado, se êle incorrer no castigo indicado, as alternativas predições de bênçãos não serão cumpridas. O resultado está condicionado à escolha que o homem faz do bem ou do mal. Assim quando Deus profere quaisquer predições — promessas ou ameaças — ao mesmo indivíduo ou nação, é óbvio que, na própria natureza do caso, uma predição de recompensa ou castigo pode ser ou não cumprida, dependendo da liberdade da vontade humana de submeter-se ou não às condições; todavia a certeza da profecia não é de modo algum prejudicada, pois que uma ou outra alternativa — recompensa ou castigo — certamente irá ocorrer. — Questions on Doctrine, págs. 205-210.