Em nossa experiência como conselheiro matrimonial, dirigindo muitos “encontros de casais” por todo o Brasil, temos conversado com muitos pastores e suas respectivas esposas, sobre os problemas do matrimônio pastoral. Como defini-los? Como encará-los e resolvê-los? Pode não ser fácil mas é possível.
Alguns pastores continuam pensando que eles e suas famílias estão acima dos problemas que afligem os outros mortais. Precisamos abandonar tal absurdo e encarar a vida como fazem as demais pessoas. Os problemas e conflitos surgem ao examinarmos e considerarmos o desempenho dos diferentes papéis atribuídos a cada um de nós, no lar, na igreja e na sociedade.
Ao formar-se, o pastor aparentemente sabe quais os papéis que deve desempenhar, e procura fazê-lo da melhor maneira possível. Entretanto, ao seu lado está sua esposa que, embora esteja disposta a atuar e desempenhar suas funções da melhor maneira possível, nem sempre sabe exatamente os papéis que deve executar nos diferentes setores onde atua, tais como o lar, a igreja e a sociedade.
Sob intensa pressão e grandes expectativas vindas da sociedade, dos membros da igreja e, muitas vezes, do próprio marido, que também vive sob pressão, ela procura fazer o seu melhor. Entretanto, nem sempre consegue agradar a todos ou a si mesma. E assim, devido a falsas ou errôneas expectativas, surgem os problemas do matrimônio.
Mulher primeiro
Segundo o Dr. Charles E. Wittschiebe, professor jubilado da Universidade Andrews, nos Estados Unidos, a esposa do pastor deveria ser, em primeiro lugar, mulher. Depois, esposa de pastor. Ele explica sua opinião, dizendo que uma jovem mulher, com freqüência, tem em mente um quadro de que uma esposa de pastor deve ser um tipo mitológico, uma imagem quase artificial. Se ela se esforça e trabalha duro para se tornar esse modelo de mulher, pode perder um pouco da sua própria humanidade, sua naturalidade e espontaneidade.
Então, ela deveria ser, em primeiro lugar, ela mesma, no amor de Deus e com seu marido, expressando esse amor de maneira calorosa e com intensidade emocional. Conseqüentemente, seria fácil para ela adquirir ou desenvolver as amorosas qualidades de uma esposa de pastor, no relacionamento com as pessoas.
Se um pastor vai à sua esposa, enquanto ela está junto à pia da cozinha, e a acaricia, ele não lhe diz algo como: “Oh, eu estou tão feliz por estar com a minha obreira predileta e favorita!” Ou: “Oh, estou tão feliz por estar com a minha ovelha!” Ele a acaricia, como um homem acaricia uma mulher, fazendo-a sentir-se desejada. Ela até pode dizer: “Oh, pare com isso.” Mas no fundo não é isso o que realmente quer dizer.
É essencial manter viva a qualidade de relacionamento romântico entre o homem e a mulher.
Para os familiares de um pastor existe uma forte pressão oriunda das expectativas por um comportamento correto e perfeito. A pessoa necessita desempenhar um
papel de maneira correta, e isso interfere na vida amorosa do “matrimônio pastoral”. É uma visão tão limitada, que caracteriza a experiência conjugal do pastor e sua esposa como sendo um relacionamento sem nenhum calor, nenhuma intimidade, nenhuma paixão, nenhuma vitalidade, nenhuma alegria.
É muito bom namorar e “paquerar” o cônjuge. Não apenas é bom, mas é necessário. Chego a essa conclusão lendo, na Bíblia, os Cânticos de Salomão. Seria bom que o casal lesse junto esse texto bíblico romântico e enriquecesse seu relacionamento amoroso.
Viúvas da igreja
Em nosso trabalho de aconselhamento, temos encontrado mulheres cujos maridos pensam ser mais importante espalhar o evangelho do que dedicar algum tempo para atender às necessidades da esposa, manter o matrimônio. São as “viúvas da igreja”. A esposa de pastor freqüentemente tende a ser uma viúva da igreja, e os filhos, os órfãos da igreja. Às vezes, os homens são ativos na Obra porque eles preferem fazer isso a estar em casa, o que lhes dá uma piedosa desculpa para ausentar-se.
Se um indivíduo entrega-se todas as noites à execução de um projeto evangelístico, é visto como um “grande homem”. Todos dizem: “É um obreiro fantástico, valente, precioso, maravilhoso.” Mas o que dizemos quanto a sua dedicação à família? E pode haver casos em que o louvado obreiro usa essa atividade como uma válvula de escape para não estar em casa. Ele pode não ter muito prazer em estar ao lado da esposa, e encontra um pretexto para ausentar-se.
É muito difícil manter uma conversação sobre o tempo gasto com a família, quando o marido e pai está sempre dizendo: “estou salvando almas.”
É difícil lutar contra Deus, por isso o homem é piedoso. O oposto também acontece às vezes e, por algum motivo, o relacionamento entre os dois torna-se insuportável.
Como podemos, no aconselhamento matrimonial, ajudar um casal a enfrentar e resolver tal situação? Inicialmente, devemos indicar que a religião está sendo usada, nesse caso, como uma cortina, um disfarce, uma fuga, como uma tática para rebaixar a outra pessoa. Devemos considerar as emoções que levam a esse tipo de ataque, abrir a infecção, drená-la. É necessário chegar à verdadeira razão pela qual um marido está agindo dessa maneira.
Buscando solução
O que dizer sobre aconselhamento matrimonial para um pastor e sua esposa? Quando o casal reconhece que há um problema em seu “matrimônio pastoral”, que não consegue resolver, o que deve fazer?
Em uma de suas entrevistas sobre esse assunto, o Dr. C. E. Wittschiebe fez uma declaração tão relevante e significativa, que acredito ser a melhor resposta a essa indagação. Disse ele: “Nós fomos longe demais na opinião de que um pastor está acima dos outros homens, de que ele está acima dessa fraqueza humana, de que nisso também ele é um modelo e exemplo. Na verdade, ele é um homem com fraquezas e falhas, e traz para o seu matrimônio pastoral todos os problemas de sua juventude.”
Imaginemos um pastor que teve um relacionamento pobre com sua mãe, ou seu pai, e está confuso emocionalmente. Ele traz tudo isso para o seu matrimônio e não é capaz de expressar amor e/ou raiva como deveria. Imaginemos ainda que a esposa teve uma visão horrível sobre sexo, e ela traz tudo isso para o casamento. Eles certamente precisam de algum aconselhamento. Sem dúvida, o pastor se tornará um melhor salvador de outras pessoas, tendo primeiro restaurado o seu lar.
Não podemos nos enganar pensando que todos os lares pastorais estão em perfeita saúde emocional. Pastor e esposa são seres humanos, contra os quais o inimigo direciona também suas armas; às vezes, com mais contundência que em outros casos. Um homem pode ter a necessidade compulsiva de trabalhar intensamente para Deus e acabar esquecendo-se da família. Certamente conseguirá bons resultados em seu trabalho, mas a família sofrerá. A esposa vai se tornar ressentida porque isso toma todo o tempo do marido; fica aborrecida com as mulheres que o procuram. Seus filhos o aborrecem pelo fato de não terem quando desejam e precisam a presença e companhia de um pai. E a primeira conseqüência, após os primeiros 15 anos, é um lar estragado. Talvez a esposa até se envolva com outro homem. E tudo poderia ter sido evitado.
Necessitamos de mais conselheiros qualificados a quem nossos pastores e esposas possam recorrer. Lamentavelmente, até pouco tempo, víamos a palavra psicologia como tendo uma certa conotação negativa. Mas devemos nos lembrar de que a psicologia, como estudo da mente e das emoções, é algo muito bom em seu devido lugar. As Escrituras estão repletas de princípios psicológicos.
No momento, temos uma proposta que poderá ser muito útil e benéfica aos casais pastorais. É o aconselhamento por correspondência, absolutamente sigiloso. Na verdade, já estamos fazendo isso esporadicamente, sem divulgação: mas agora sentimos que devemos tentar ampliar essa prestação de serviço a todos os pastores, esposas, e demais obreiros. Caso tenha interesse, entre em contato com: Dr. José Carlos Ebling, Caixa Postal 11, CEP 13165-970, Engenheiro Coelho, SP. Ou Dr. Antônio Estrada Miranda, Caixa Postal 11, CEP 13165-970, Engenheiro Coelho, SP, e-mail: aestrada@iaec2.br ☆
JOSÉ CARLOS EBLING, Ph.D, em Educação e aconselhamento, professor no Instituto Adventista de Ensino, Engenheiro Coelho, SP