ENTREVISTA: JOHN GRAZ, DWAYNE LESLIE E GANOUNE DIOP
“A liberdade religiosa é um presente de Deus, um direito humano, um sinal do reino de Deus e uma mensagem profética”
por Derek Morris e Willie Hucks II
Sob a liderança de John Graz, Dwayne Leslie e Ganoune Diop, o Departamento de Deveres Cívicos e Liberdade Religiosa da Igreja Adventista se propõe a promover e defender esse tipo de liberdade para todos, em todo lugar, e contribuir para que a Igreja seja reconhecida como comunidade cristã, seguidora dos ensinamentos bíblicos.
John Graz tem cidadanias suíça e francesa, é teólogo, historiador e sociólogo, sendo mestre pela Universidade Montpellier, e doutor pela Universidade Sorbonne, em Paris. Graz foi pastor de igrejas, diretor de Comunicação, apresentador de rádio e televisão e escritor. Desde 1995, trabalha na Associação Geral da Igreja Adventista.
Dwayne Leslie estudou ciências políticas e econômicas na Universidade Andrews e, antes de trabalhar na AG, liderou departamentos em várias empresas fora da Igreja, tendo sido editor da revista International Tax & Business. Atualmente, também é membro da comissão financeira da Universidade Adventista da União do Pacífico.
Nascido em Dakar, Senegal, o pastor Ganoune Diop é mestre em Exegese e Teologia pela Universidade Collonges, mestre em Filologia pela Universidade de Paris e PhD em Antigo Testamento pela Universidade Andrews. Antes de se unir à equipe de Liberdade Religiosa, ele dirigia o Centro Adventista de Estudos em Missão Global, na sede mundial da Igreja.
Nesta entrevista, eles falam sobre os objetivos do departamento e ações para a manutenção da liberdade religiosa.
Ministério: Qual é a abrangência do Departamento de Relações Públicas e Liberdade Religiosa da Igreja Adventista?
Graz: O Departamento de Liberdade Religiosa foi organizado em 1901. Depois da segunda guerra mundial, foi criado o setor de Relações Públicas. Uma das nossas atividades é a promoção e defesa da liberdade religiosa. Trabalhamos através da Associação Internacional de Liberdade Religiosa, IRLA, para facilitar o acesso a autoridades. Também promovemos relações públicas. Outra atividade é o relacionamento interdenominacional. Finalmente, estão as atividades protocolares, ou seja, receber estadistas, governantes, ministros de governo e outras autoridades. Somos um departamento reconhecido pela Organização das Nações Unidas, ONU, e exercemos grande influência na busca de solução para muitos problemas internacionais. Estamos envolvidos na defesa e promoção dos direitos humanos.
Ministério: Quais são as atividades específicas de cada um dos senhores?
Dwayne: Parte das minhas responsabilidades é acompanhar de perto toda legislação sobre liberdade religiosa que possa causar impacto na igreja. Participo de muitas reuniões interdenominacionais que tenham interesse na proteção e promoção da liberdade religiosa. Devemos ser incansáveis na defesa dessa liberdade em todo o mundo. Regularmente, me reúno com chefes de Estado, membros de poderes legislativos e outras autoridades governamentais. Mantenho contato também com outras comunidades religiosas, a fim de que possamos contar sempre com a simpatia delas.
Diop: Represento a Igreja Adventista do Sétimo Dia na ONU. Meu trabalho é convencer líderes mundiais, diplomatas, legisladores, executivos, de que seus respectivos países só têm a ganhar com a presença dos adventistas. Assim, tenho oportunidade de informar sobre quem somos, em que cremos e qual é nossa teologia. A ONU tem três fundamentos: 1) Paz e segurança, isto é, busca de instrumentos para resolver conflitos internacionais; 2) desenvolvimento e justiça; e 3) direitos humanos. Isso pode ser subdividido em três pilares: Liberdade, igualdade e dignidade humana. Nós, adventistas, temos muito a oferecer nesse contexto, porque somos cristãos, e Jesus falou de paz, segurança, liberdade, igualdade e dignidade. Na verdade, temos contribuído nas áreas de educação, saúde, jovens, mulheres, questões humanitárias e direitos humanos. Somos poucos, comparados a outras organizações, mas podemos construir uma infraestrutura que nos habilite a fazer diferença no mundo.
“Enquanto tivermos liberdade devemos fazer tudo o que pudermos para alcançar outras pessoas”
Graz: Temos conversado com outras igrejas. O resultado é que elas reconhecem os adventistas como igreja cristã. Muitos nos consideravam uma seita, mas o diálogo tem ajudado a mudar esse ponto de vista. O Dr. William Johnsson, ex-editor da Adventist Review, é responsável pela iniciativa desses diálogos. O Dr. Diop é membro da comissão do Fórum Global Cristão, com representantes de várias igrejas. Durante dez anos, tenho sido secretário da Comunhão Cristã Mundial, o mais elevado grupo de líderes religiosos. Antes de mim, durante 32 anos, o secretário foi o pastor Bert Beach, meu antecessor no departamento de Liberdade Religiosa. Isso significa que, por mais de 40 anos, o secretário de um dos mais expressivos grupos interdenominacionais é adventista.
Ministério: Como os senhores veem a liberdade religiosa no mundo, hoje, e o que seu departamento tem feito para defendê-la e promovê-la?
Graz: Nos últimos 18 anos, a liberdade religiosa tem diminuído no mundo. Quando assumi o departamento, em 1995, eu tinha muita esperança em países como Rússia, cuja legislação foi aberta. Billy Graham foi a Moscou, e Mark Finley fez campanha evangelística no Kremlin. Hoje, o evangelismo público seria muito difícil. O centro da Ásia era aberto, mas hoje é mais difícil. Há um número limitado de igrejas e é muito difícil abrir novas igrejas. Necessitamos saber o que está acontecendo. Temos bons colegas que nos dão informações. E quando temos um problema em algum lugar, trabalhamos através do que temos. Um dos nossos recursos é construir uma rede de comunicação com quem podemos trabalhar. Assim, quando algo acontece, sabemos quem pode ajudar e não desperdiçamos tempo. As primícias da liberdade religiosa são o direito de pregar o que você crê; o direito de ser diferente e o direito de se unir a outros. Nós estamos defendendo esses direitos básicos. Mas, não podemos fazer isso sozinhos. Temos que trabalhar com outros, procurando fazer amigos. Isso é o que costumamos fazer na tentativa de aprovar leis que protejam os adventistas.
Dwayne: De acordo com relatório do Fórum de Igrejas, 75% da população do mundo vivem sob alguma forma de restrição religiosa. O relatório anterior assinalava 70%. Assim, a situação não está melhorando. Em lugares como Casaquistão, onde são implementadas leis religiosas restritivas, muitas igrejas, incluindo a adventista, perderam seu status legal e foram submetidas a testes qualitativos e quantitativos, a fim de serem restabelecidas como religião. Quando isso é permitido, a igreja deve funcionar em um edifício autorizado, sob proibição de pregar em outros lugares. Ou seja, estudos bíblicos nos lares são proibidos. Muitas igrejas que não são restabelecidas ficam sujeitas a invasões e depredação. Muitas denominações minoritárias são perseguidas e impedidas de seguir sua consciência. Necessitamos falar contra isso.
Diop: Quando falamos de restrições, temos, por um lado, as restrições governamentais. Por outro lado, temos a hostilidade da população. Entre 80% e 90% dos perseguidos por causa da fé são cristãos. Cada ano, aproximadamente 150 milhões de cristãos são assassinados. Em uma reunião sobre direitos humanos na ONU, alguém me falou sobre o que está acontecendo no Sudão. Ali, os cristãos são assassinados, ou forçados a deixar o país, e as igrejas são queimadas. Infelizmente, isso está aumentando em várias partes do mundo. Nosso trabalho é observar o que está acontecendo, informar a igreja e orientá-la como agir. Não vamos conter a onda do mal neste mundo. Entretanto, podemos ajudar a fazer alguma coisa, se os membros da igreja forem educados e treinados a se relacionar com outros. Os fundamentos e princípios bíblicos nos ajudam a interagir com outras pessoas, como Cristo fazia.
Graz: Temos visitado países onde o povo é perseguido. Passamos alguns dias no leste da Indonésia, depois da guerra entre cristãos e muçulmanos. Visitamos os dois grupos e os animamos a estar presentes no processo de paz. Vimos os resultados da intolerância religiosa – milhares de pessoas assassinadas, igrejas, mesquitas e casas queimadas. Há muitas pessoas nas prisões, como é o caso de Sijjad Masih, jovem adventista de 28 anos, condenado à prisão perpétua, acusado falsamente de blasfêmia. No Paquistão e em outros países, leis contra blasfêmia e apostasia criam situações extremamente opressivas para as minorias religiosas. Todas as vezes em que viajamos, encontramo-nos com autoridades e líderes religiosos, e verificamos o que podemos fazer para ajudar. Algumas vezes, apenas nossa presença pode ajudar.
Ministério: Qual é a razão de ser dos festivais de liberdade religiosa?
Graz: Quando a liberdade religiosa é ameaçada, todos são afetados. Por isso, em vez de ficarmos avaliando e dialogando em grupos limitados, ampliamos a participação e tentamos alcançar as pessoas. O conceito é simples: Cremos que chegou o tempo de dizer: “Muito obrigado” pela liberdade religiosa. Isso significa que, nos países em que temos essa liberdade, devemos dizer: “Muito obrigado!” a Deus e ao governo. Nossos irmãos devem compreender que, se vivessem na Arábia Saudita, no Paquistão, por exemplo, poderiam estar na prisão. Felizmente, estão em países com liberdade religiosa e devem ser incentivados a apreciá-la. De 2006 a 2013, 200 mil pessoas assistiram aos festivais. Mais de 50 estão planejados para 2014. Eles têm mudado a imagem da liberdade religiosa, que não mais é vista como coisa de especialistas, mas de todos. Aproveitamos a ocasião dos festivais para realizar simpósios, congressos e outros eventos relacionados à liberdade religiosa. A cidade de São Paulo declarou o dia 25 de maio, dia da realização do festival, como “Dia Anual de Liberdade Religiosa”. É a primeira megalópole do mundo a ter seu dia de liberdade religiosa.
Ministério: De que maneira os pastores e igrejas locais podem ajudar a defender a liberdade religiosa?
Dwayne: Uma das principais coisas que o pastor pode fazer é desenvolver a conscientização da igreja local. Muitos membros não estão conscientes das restrições à liberdade religiosa ao redor do mundo hoje. Porém, todos podem orar em favor daqueles que estão sendo perseguidos e, para isso, líderes e membros da igreja devem ser informados e conscientizados sobre a importância do assunto. Embora alguém possa pensar: “Bem, que influência eu posso ter sobre um país estrangeiro?” Ele pode se informar sobre o que acontece no mundo e manter a igreja em sintonia, engajando-a no plano de oração em favor dos perseguidos e sofredores. Siga o twitter @IRLA_USA.
Graz: O quarto sábado de janeiro é dedicado à promoção da liberdade religiosa na igreja. Ele não deve ser esquecido. Cada igreja deve ter um diretor de liberdade religiosa e uma equipe que promova eventos relacionados ao assunto. Espera-se que o pastor mantenha contato com as autoridades locais, colocando-se, bem como a igreja, à disposição para ajudar em projetos comunitários, educacionais, humanitários, entre outros.
Diop: Pessoalmente, não acho que as coisas vão melhorar, infelizmente, nem mesmo para os adventistas. Ellen G. White falou a respeito do agravamento das restrições à liberdade religiosa. Poucas vezes ela foi tão específica, especialmente ao falar dos Estados Unidos. Realmente, será terrível! Mas, ela também falou que, enquanto tivermos liberdade, devemos fazer tudo o que pudermos para alcançar outras pessoas. O tempo de fazer isso é justamente agora.
“Espera-se que o pastor mantenha contato com as autoridades locais, colocando-se à disposição para ajudar”
Graz: Ela disse também que devemos desfraldar a bandeira da verdade e da liberdade religiosa nestes últimos dias. Quando as pessoas me perguntam por que defendemos a liberdade religiosa, frequentemente respondo que ela é um presente de Deus, um direito humano, um sinal do reino de Deus e uma mensagem profética. Sabemos que um dia perderemos a liberdade religiosa. Por isso, algumas pessoas perguntam: “Se você sabe disso, por que a defende?” Eu respondo: “Sabemos que as pessoas morrerão, mas construímos hospitais. Defendemos e promovemos a liberdade religiosa, porque sabemos que ela faz parte do reino de Deus.” A liberdade religiosa é uma das maiores expressões do amoroso caráter de Deus.