Nota da Redação: — Embora o presente artigo haja sido escrito há quase duas décadas, a atualidade dos seus conceitos nos aconselha reproduzi-lo neste número.

Se estamos de fato preparando almas para o reino e não meramente procurando relatar batismos, o cuidado pelo indivíduo não cessará após haver ele sido recebido na igreja. Os obreiros deverão ter o máximo de zelo no ajudar as almas que tomaram posição ao lado do Senhor, lembrando que foi após Seu batismo que Cristo foi levado ao deserto para ser tentado, e que para muitas dessas almas a maior batalha surge após o batismo.

Quando uma série de conferências está em prossecução o interessado está sempre em contato com a mensagem e seus representantes pessoais, e noite após noite sua alma freme pelas mensagens maravilhosas que ouve. Formando amizade com o grupo evangelístico que o visita sempre e o ajuda em seus problemas, o entusiasmo do momento poderá levá-lo longe.

Chega porém ao fim a série de conferências. A pessoa foi batizada e é então membro da igreja. Muitas vezes é deixada a prosseguir sob a influência das reuniões evangelísticas agora no passado, e espera-se que a inspiração de sua experiência batismal a mantenha no caminho que iniciou. Mas nada perdura muito pelo próprio impulso. O ciclista pode pedalar até desenvolver grande velocidade e deixar então que as rodas o levem, mas logo a velocidade começa a diminuir até que finalmente param. De igual forma não se pode esperar que um novo converso prossiga em sua experiência cristã apenas pela boa ajuda que lhe dermos no início. Quando começam os morros e rampas, o ciclista necessita imprimir novo impulso, e quando surgem as montanhas de dificuldades e provas, o novo converso necessita de adicional ajuda para prosseguir.

Há na velha vida certos hábitos que poderão ter sido formados através dos anos. Há também certas relações de idéias que por muito tempo tem estado associadas. Tudo isso precisa ser mudado, e novas associações e relações devem ser formadas para lhes tomar o lugar. Consideremos uma pessoa que tenha formado o hábito de ir ao cinema todas as noites de sábado. Para ele, cada noite de sábado sugere aquela lembrança. Esta relação de idéia pode ter sido formada através de anos de prática. O converso por certo abandonou isto sinceramente quando se batizou. Sem dúvida tomou a decisão de jamais voltar a freqüentar o cinema. Isto contudo não muda o fato de que ao vir a noite de sábado o velho hábito de tanto tempo inconscientemente se manifeste. Fica um vácuo na vida quando esses velhos hábitos são expulsos, e no estranho vazio que disso resulta, o novo converso pode, num momento de fraqueza, reverter ao velho hábito arraigado. Durante este período é que se torna necessária a paciente atenção do ministro, primeiro para guardar o converso de render se à tentação, ou, se ele fraquejou, ajudá-lo a vencer da próxima vez.

Se o obreiro se aproxima bastante do indivíduo, terá aprendido em muitos pontos como sua mente trabalha. Conhece os pontos perigosos em que o converso está sujeito a enfrentar suas maiores provas, e estará apto para fazer provisão para enfrentar esses perigos antes que eles surjam. Se a medicina preventiva é útil para a saúde do corpo, deve ser igualmente boa para os problemas da mente e da alma.

Uma igreja pode satisfazer às necessidades deste período de transição na vida dos novos conversos, procurando descobrir quando os impulsos de sua velha vida são mais fortes, e então providenciar para eles outros interesses para essas ocasiões.

Os Problemas do Tentado

Um homem que abandonou uma carreira de negócio bem promissora para tornar-se um dos obreiros mais em evidência na organização adventista, diz que um dos fatores que mais concorreram para mantê-lo firme na verdade nos primeiros dias de sua experiência cristã foi que à noite, após o seu batismo, o obreiro que fora o instrumento para levar-lhe a mensagem, o visitou com uns poucos amigos, e de tempos a tempos, depois disto, se detinha para levar encorajamento ao novo converso, conforme sentisse que fosse necessário.

Certo homem havia abandonado o fumo; não estava fumando havia várias semanas. Foi então batizado. Tudo correu bem durante certo tempo. Então este homem, o único membro da família que professava uma religião, envolveu-se numa terrível questão de família. Em seu desânimo ele instintivamente voltou ao que lhe fora antes a fonte única de consolo — o cigarro.

Com efeito, antes do batismo o converso foi amplamente instruído sobre o poder de Cristo para salvá-lo, ensinando-se-lhe que não se deve render à tentação. Devem os obreiros reconhecer que a tentação virá, e que os infantes na fé estão sujeitos a cair. Assim o perigo pode não ser tanto um determinado pecado que tenha sido cometido, mas o fato de que esse pecado pode levar a outros. Tudo pode começar com um ato insignificante como a perda da calma. Em seu estado de alma a pessoa lança mão de um cigarro, como no passado. Isso o faz sentir-se pior. Então procura um cinema para desanuviar das preocupações a mente. Nesta altura poderá raciocinar: “Não adianta tentar ser cristão. fui demasiado longe. Quebrei o voto batismal. É melhor abandonar tudo”. Tudo isto pode acontecer no espaço de poucos dias, ou mesmo um. Aqui está onde o trabalho ativo e zeloso do obreiro é necessário, pois quanto mais longe for uma pessoa na apostasia, mais difícil será reconquistá-la. O novo converso necessita do auxílio de um amigo nas primeiras semanas após seu batismo.

Às vezes o obreiro descuida deste ponto, e, sob a pressão de outras obrigações cessa seus esforços.

Consideremos o ministério de Paulo. Trabalhou ele em Corinto ano e meio — tempo bastante, diriamos, para estabelecer firmemente na fé os conversos. Depois viajou. Que aconteceu, então, na igreja de Corinto? Dificilmente se poderá nomear um pecado de que se não tivessem tornado culpados os crentes Coríntios. E aos gálatas, escreveu Paulo: “Maravilho-me de que tão depressa passeis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho”. Gál. 1:6.

De que maneira entrou Paulo em relação com essas coisas? Verificamos que fez alguma coisa em relação a eles, e na devida oportunidade. Não tivesse Paulo sido evangelista cuidadoso do bem-estar espiritual dos crentes, e nunca teríamos as epístolas do Novo Testamento. Elas foram um dos meios por que Paulo se mantinha em contato com os conversos. Notamos que o apóstolo conhecia a confissão espiritual dos crentes. Sabia onde reprovar, bem como onde louvá-los por seu progresso. O cuidado dos conversos nem sempre quer dizer censurar o mal. Lemos do ministério de Cristo:

“Muitas vezes Jesus encontrava pessoas que haviam caído no poder de Satanás, e que não tinham forças para romper os laços. A essas criaturas, desanimadas, doentes, tentadas, caídas, costumava dirigir palavras da mais terna piedade, palavras adequadas e que podiam ser compreendidas. Outros se Lhe deparavam que estavam empenhados numa luta renhida com o adversário das almas. A esses Ele animava a perseverar, assegurando-lhes que haviam de triunfar, pois anjos de Deus se achavam a seu lado e lhes dariam a vitória”. — Ciência do Bom Viver, p. 20.

Seguir o exemplo de Cristo no ministério significa estudar os conversos como o médico estuda seu doente. O trabalho pelas almas é chamado a “ciência da salvação”. Não é trabalho fortuito. É saber o que dizer, quando dizer ou deixar de dizer. Muitas vezes o ouvir com simpatia é o melhor auxílio que podemos prestar.

Podemos não sentir a pressão em que muitas dessas pessoas estejam vivendo, ou a força da oposição que continuamente experimentam da parte de parentes, amigos ou antigas relações. Ter alguém de quem buscar uma palavra de animação pode significar a permanência de uma alma na verdade ou sua derrota.

Apascentar os Novos Conversos

Paulo visitava suas igrejas muitas vezes para “ordenar” as coisas que necessitavam de atenção. Quantas vezes as pessoas expressam sua satisfação pelas visitas do obreiro quando ele as está conduzindo ao conhecimento da verdade, com esta declaração: “Nosso próprio pastor não toma tanto interesse em nós”. Se as pessoas apreciam essas visitas antes de se tornarem membros da igreja, quanto mais não as apreciarão depois do batismo! Muitas vezes, porém, as visitas cessam neste ponto. O novo crente fica perplexo, e não raro se lhe ouve dizer: “Agora que me levaram para a igreja, não mais se interessam por mim”.

Na verdade um obreiro não pode despender com a pessoa batizada o mesmo tempo que antes, e é nisso que o obreiro necessita de tato para ajudar o novo converso a ajustar-se a fim de permanecer firme por seus próprios pés e não esperar tanto auxílio da parte de outros. “A todos os que são acrescentados às fileiras pela conversão é designado o seu posto de dever”. — Serviço Cristão, p. 74.

O novo converso deve ser encorajado a tomar parte nas atividades da Escola Sabatina e dos Missionários Voluntários. Deve-se-lhe fazer sentir a responsabilidade que sobre ele pesa de ajudar a levar a obra da igreja, e que a igreja não existe para seu único benefício, mas para levar o evangelho ao mundo, e que lhe cabe participar de suas atividades. Isto lhe desviará atenção de si mesmo para mais largos horizontes, e ele não terá tempo de afligir-se quanto a se está ou não obtendo sua parte no que pensa que deva ser feito por ele, ou interrogar-se por que o obreiro não o visita mais vezes.

Há um acréscimo ao incentivo para ser fiel aos princípios que aprendeu, pois embora esteja sujeito a entregar-se ao desânimo, dizendo: “Que adianta?”, quando sente responsabilidade de ajudar alguém, pensará duas vezes antes de retornar a seus velhos caminhos.

Por isso devem os novos conversos ser animados a procurar alguém em sua própria casa ou entre os vizinhos, com os quais repartir fé. Em geral isto não é difícil, pois nesta altura de sua experiência ele vibra de entusiasmo e está ansioso por trabalhar com outros. Então é o tempo de capitalizar sobre esse entusiasmo, fazendo-lhe compreender a alegria de levar alguém a Cristo. Por que não se lhe há de dar uma parte no que será para ele uma fonte de felicidade no reino de Deus por toda a eternidade? Falar da verdade e ensiná-la a outros é confirmá-la em nossa própria mente.

É muito oportuno dirigir uma classe de estudos bíblicos para os novos conversos. O obreiro poderá ocasionalmente levar consigo para seus estudos um novo crente, princípalmente se os estudos são para amigos do converso. Desta maneira fica o obreiro livre de despender horas trabalhando com batizados, ficando com o tempo livre para os interessados.

Nossa obra até a vinda do Senhor é ensinar e confirmar os crentes. Vamos pois trabalhar fielmente por nossos conversos, tomando por alvo as palavras do apóstolo: “Para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo”. •