Através do Espírito Santo, Jesus habita em nós, obedecendo e trabalhando através de nós

O trabalho pastoral pode se tornar um pesado fardo, às vezes, cheio de ansiedade e estresse, até que aprendamos a verdadeiramente descansar em Cristo Jesus. Uma vez que experimentemos essa união, todas as coisas mudam. Passamos a reconhecer a alegria decorrente do serviço prestado ao Mestre; e os fardos são aliviados.

Muitos cristãos já descobriram a paz resultante da permanência em Cristo. Inicialmente, eles se deparam com anos de falhas, derrotas e desencorajamento, o que lhes dá um profundo senso de necessidade, o sentimento de que alguma coisa foi perdida em seu caminhar com Deus. Tornam-se despertos para a inconsistência da sua vida de serviço e obediência a Deus. Então, voltam a desfrutar tempos de maravilhoso companheirismo com seu Senhor bem como superam as experiências do deserto pelo qual passaram.

Antes de serem alcançados pela experiência de permanecer em Cristo, eles ouviram mensagens e aprenderam versos bíblicos sobre o assunto. Contudo, o que ouviam e liam não representava a realidade em sua vida. Sentimentos de derrota podem causar dúvidas a todo cristão e, possivelmente, comprometer sua salvação.

Uma descoberta

J. Hudson Taylor, que foi missionário na China, no século 19, escreveu a respeito da mudança que ele experimentou depois de fazer essa descoberta. Antes disso, seus fardos eram demasiadamente pesados, algumas vezes, esmagadores. Certo dia, ele recebeu uma carta de John McCarthy, colega e amigo missionário. Enquanto a lia, ele abriu os olhos para a maravilhosa verdade da presença constante de Cristo. Posteriormente, em uma carta enviada à sua irmã na Inglaterra, Taylor escreveu sobre sua experiência: “Quanto ao meu trabalho, ele nunca foi tão abundante, exigente e difícil como agora; mas o peso e as tensões já não existem. Os últimos meses têm sido, talvez, os mais felizes da minha vida.”1

Ele descreveu a bênção que a nova experiência representava em sua vida, e a alegria encontrada no Senhor. Então, escreveu sobre as mudanças que, a partir daí, aconteceram em seu ministério: “A parte mais doce, se é que podemos classificar uma parte como sendo mais doce que a outra, é o descanso resultante da plena identificação com Jesus. Já não vivo ansioso em relação a coisa alguma; pois sei que Ele é capaz de dirigir tudo segundo a Sua vontade, e Sua vontade é a minha. Para mim, é melhor que Ele tome tudo em Suas mãos; pois nas situações menos complicadas, Ele me dará Sua graça. Nas mais difíceis, essa graça é suficiente.”2

O fardo e a ansiedade passaram. Taylor aprendeu a lição de repousar plenamente em Cristo. Ele sabia que Cristo estava vivo nele, e podia lhe dar sabedoria, direção e força. Agora, compreendia que ele estava simplesmente trabalhando com o Mestre e seguindo

Sua direção. Sabia que Cristo providenciaria toda graça necessária para conduzir todo peso de responsabilidade.

H. B. Macartney, pregador anglicano de Melbourne, Austrália, escreveu sobre a atitude de Taylor: “Ele era um exemplo de quietude. Parecia ter sacado do banco celestial todo centavo de sua quota diária de paz – ‘a Minha paz vos dou’. O que não perturbasse o Salvador também não lhe tirava a paz…. Ele nada sabia sobre agitação ou preocupação, alteração de nervos nem aflição de espírito. Taylor sabia o que era viver em paz, indiferente a toda incompreensão, e que simplesmente nada podia fazer sem ela.”3

Macartney surpreendia-se com a paz demonstrada por Taylor em todas as circunstâncias. Sobre isso, ele continuou dizendo: “Ali estava um homem com quase sessenta anos de idade, conduzindo tremendos encargos, porém, absolutamente calmo e imperturbável. … Permanecendo em Cristo, ele partilhava de Seu próprio ser e recursos, em meio a muitos problemas. E fazia isso com um ato de fé, tão simples como se fosse rotina.”4

Taylor sabia que Cristo vivia nele e descansava continuamente nesse fato. Conhecendo essa verdade, ele não tinha necessidade de se preocupar ou ficar ansioso. Certamente, tudo no ministério requer esse tipo de repouso e paz que J. Hudson Taylor descobriu. Todos os servos de Deus podem encontrar nEle esse pleno descanso.

Cristo em nós

Certa ocasião, falando a Seus discípulos, Ele garantiu que estes não ficariam sozinhos depois que Ele ascendesse ao Céu: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros” (Jo 14:18). Antes dessa afirmação, o Mestre indicou que viria habitar nos discípulos através do Espírito Santo (Jo 14:16, 17). O apóstolo Paulo mostrou ter compreendido isso, quando escreveu: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim” (Gl 2:19, 20).

Tão logo os pastores compreendam essa maravilhosa verdade, podem crer que Jesus Cristo Se manifestará neles e através deles. Podem estar seguros de que Cristo partilhará com eles Sua obediência, sabedoria, fé e todas as demais coisas de que necessitam para servi-Lo. Assim, já não precisam viver ansiosos a respeito de coisa alguma. Jesus nunca os abandonará (Hb 13:5).

Na verdade, é Cristo quem ministra através de nós. Em nossa obediência, é Ele quem obedece. Habitando Ele em nós, obedecemos e trabalhamos como Ele o faz. É justamente o que acontecia com Ele e o Pai: “Não crês que Eu estou no Pai e que o Pai está em Mim? As palavras que Eu vos digo não as digo por Mim mesmo; mas o Pai, que permanece em Mim, faz as Suas obras” (Jo 14:10).

O ministério e a obediência de Jesus foram manifestações e resultado da permanência do Pai nEle e vice-versa. Hoje, os servos de Deus podem ter a mesma experiência. Como eles permanecem em Cristo e Cristo habita neles, tudo o que dizem e fazem significa a manifestação do próprio Jesus neles e através deles. Por essa razão, não existe lugar para temor, ansiedade, preocupação excessiva, ou sentimento de peso esmagador, no exercício da obediência e do ministério pastoral. Cristo é tudo. Nós simplesmente permitimos que Ele efetue Suas obras através de nós. Ao compreendermos e experimentarmos essa presença, Deus será glorificado em tudo o que fizermos em Sua causa (1Co 1:31).

Desafio pastoral

Estando no ministério pastoral há mais de trinta anos, conheço o perigo de tomar as coisas nas próprias mãos, de fazer planos pessoais e pedir que Deus os abençoe. Na causa de Cristo, devemos nos conservar em constante união com Ele de modo que estamos sob Sua direção, ao elaborar planos, métodos e cumprir nosso ministério. Devemos orar, pedido Sua direção, e Ele nos conduzirá se o permitirmos. Então, cumprirá em nós “tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade” (Fp 2:13).

Vemos esse princípio ilustrado na comissão evangélica e na maneira como o Espírito Santo facilitou o cumprimento dela, depois que Cristo ordenou que Seus seguidores fizessem “discípulos de todas as nações” (Mt 28:19). Ao ouvirem essa ordem, provavelmente, os apóstolos poderiam ter concluído que deviam ir, pessoalmente, pregar o evangelho em todas as cidades. No entanto, ao lermos o livro de Atos, percebemos como o Espírito Santo dirigiu Paulo em seus esforços para cumprir a grande comissão:

“E, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia, defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu. E, tendo contornado Mísia, desceram a Trôade. A noite, sobreveio a Paulo uma visão na qual um varão macedônico estava em pé e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos. Assim que teve a visão, imediatamente, procuramos partir para aquele destino, concluindo que Deus nos havia chamado para lhes anunciar o evangelho” (At 16:6-10).

Aqui, vemos um claro exemplo da importância de os ministros cristãos não seguirem suas próprias idéias no que tange a quando, onde e como servir ao Senhor. Todo servo de Deus deve reconhecer que é fundamental estar sob a direção do Espírito Santo, e isso somente acontece quando vivemos em Cristo e Ele em nós.

Evidentemente, isso não significa que não devamos investir qualquer esforço para seguir a direção do Espírito. A experiência de Paulo requereu inspirada determinação e esforço. Nem sempre será fácil trabalhar para o Senhor, contudo, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, podemos encontrar refrigério e paz na dependência de Jesus.

Não é fácil para ninguém enfrentar controvérsia. Pode ser uma experiência esmagadora ter que administrar problemas financeiros, tratar de pessoas com crise pessoal e satisfazer as expectativas de membros e líderes da igreja. Entretanto, quando os pastores compreendem que Cristo é sua sabedoria (1Co 1:30), eles experimentam a libertação da ansiedade e dos fardos.

O fundamento de todo o nosso trabalho é o seguinte: através do Espírito Santo, Cristo habita em nós, obedecendo e ministrando através de nós. Portanto, podemos descansar nessa bendita realidade e submeter-nos à Sua direção. Ao experimentarmos essa realidade, nosso ministério jamais continuará o mesmo. A vida será plena de alegria, amor, paz, fé – todos os frutos do Espírito. Experimentaremos vitórias pessoais e ministeriais jamais vistas. Cristo será tudo em nós.

Referências:

  • 1 V. Raymond Edman, They Found the Se-cret (N. P.: Zoondervan Publishing House, 1984), p. 19.
  • 2 Ibid., 20,21.
  • 3 Ibid., 21.
  • 4 Ibid., 22.