“Ah! se eu soubesse onde O poderia achar!”, exclamou o profundamente perturbado Jó. Quando lemos o capítulo trinta e um do livro de Jó e compreendemos que admirável homem êle foi, ficamos perplexos de ouvi-lo reconhecer que de alguma maneira perdera o contato com Deus. Os comentaristas bíblicos chamam êsse capítulo trinta e um de “A Justificativa de Jó,” em que êle se defende de tôdas as acusações que lhe foram feitas. Êle não se deixara subornar. Fôra um bom pai, um compassivo administrador para os seus servos. Repartira o pão com o faminto e manifestara hospitalidade para com o estrangeiro. Conservara-se moralmente puro e adorara a Deus. Mas agora o Senhor parecia estar bem distante. Quão fácil é perder o contato com Deus — na nação, na igreja, no lar e no coração humano.

Talvez O tenhamos perdido por sermos tão auto-suficientes que deixamos de apegar-nos a Sua sabedoria e poder. Em vez de um “Assim diz o Senhor”, escolhemos nossas próprias autoridades — a sabedoria humana em lugar do conselho de Deus, o poder da organização em lugar da fôrça divina, riquezas materiais e segurança social em lugar da providência de Deus. Não admira que tantas pessoas percam a Deus por se basearem em suas emoções — o que sentem a respeito disso ou daquilo; ou em sua erudição — aquilo que seu influente professor disse na universidade.

Muitos perdem a Deus por se basearem em sua própria experiência e desconsiderarem a experiência de todos os demais. Alguns perdem a Deus nas interpretações particulares da Bíblia. Outros se distanciam dÊle nas interpretações particulares dos Testemunhos. Essas interpretações tornam-se sua autoridade. Alguns encontram sua autoridade na revista oficial da igreja, encarando tôdas as suas declarações como sendo afirmações ex-cathedra da verdade. É surpreendente o número de cartas que o pas-tor F. D. Nichol recebe solicitando-lhe que sirva de árbitro em questões de controvérsia. Alguns encontram sua autoridade na tradição, co-mo faziam os fariseus. Enquanto eu fazia par-te do corpo docente do Colégio Missionário Emanuel, levou muito tempo até nos desvencilharmos do autoritarismo do que foi realizado no Colégio Battle Creek, na década de 1880.

No entanto, o Senhor sempre está dizendo: “Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte na sua fôrça, nem o rico nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em Me conhecer e saber que Eu sou o Senhor, e faço misericórdia, juízo e justiça na Terra; porque destas coisas Me agrado, diz o Senhor.” Jer. 9:23 e 24. Por que tateamos tão constantemente à procura de Deus, se Êle declara que não está longe de qualquer de nós?

Alguns parecem incapazes de ver a Deus noutro lugar que não a igreja. Sentem- se perto de Deus ao estarem junto ao púlpito, mas não em volta do altar da família, por ser talvez algo superficial. Encontram-nO numa música vespertina tocada ao órgão, mas não no canto duma ave sonora, num dia de primavera. Disse Paulo: “O Deus que fêz o mundo e tudo o que nêle existe, sendo Êle Senhor do Céu e da Terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas.” Atos 17:24. Que declaração surpreendente! O quê? Estas belas e majestosas igrejas do país, com seus lindos ornatos de pedra, em estilo gótico, com seus vitrais artísticos, que filtram a luz solar para dentro de lindos santuários em que a toalha do altar, o cálice de prata e o báculo de ouro combinam com o silêncio imperante, despertando uma disposição religiosa — êstes, declaras tu, amado Paulo, não serem lugares em que Deus habita? E à minha mente obscura vem a revelação de que embora êstes santuários, construídos para Seu louvor, sejam lugares em que Deus Se reúne com os homens, Êle não habita dentro das paredes de edifícios feitos por mãos humanas, ainda que sejam construídos de mármore e dos cedros do Líbano.

Onde, então, O poderemos encontrar? Isaías nos dá a resposta: “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lu-gar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e vivificar o coração dos contritos.” Isa. 57:15. Sim, Deus habita no ser humano, e princípalmente com aquêles cujo coração é submisso à Sua vontade. Pôsto que habite na eternidade, Êle condescende em estar conosco no tempo presente; e assim como Cristo Se tornou carne e habitou entre nós, podemos tornar-nos unidos em espírito e comunhão com Êle.

Certa ocasião, e’m que eu me encontrava em grande sofrimento físico, minha atenção foi atraída para I Coríntios 10:22: “Provocaremos zelos no Senhor? somos acaso mais fortes do que Êle?” Lembrei-me das muitas vêzes em que procurara resolver as dificuldades em minhas próprias fôrças. Para solver o meu problema, confiei na experiência, no orgulho intelectual e em vários recursos disponíveis, e olvidei o fato de que fui pôsto numa situação difícil para que Deus pudesse revelar-Se a mim. E ali ao lado estava o benigno Senhor em pé, com os braços cruzados, cioso dos meios que eu estava empregando, quando, com uma palavra, Êle poderia solucionar satisfatoriamente tôdas as minhas dificuldades. E ao submeter-Lhe eu a minha vontade, Êle o fêz.

Com relação a isso, sempre me tenho admirado das maneiras simples que Deus muitas vêzes usa para resolver um problema que parece insolúvel. Recordo-me do pastor cristão, que vivia bem no interior da África, ao qual uma senhora, que apenas tinha pequeno conhecimento de Deus, solicitou que orasse por seu filho, aparentemente atacado de malária. Êle não era médico, mas numa ocasião que estivera num hospital, vira serem colocadas bôlsas de gêlo em pacientes com febre alta. Disse à mulher que seria presunção orar por gêlo nesse lugar de temperatura bastante elevada. Ela porém perguntou: “Se Êle é Deus, por que não pode fazê-lo?” O pobre homem não teve outro recurso senão honrar a fé dessa senhora, e enquanto êle orava, uma repentina tempestade amontoou ao redor da cabana pedras de granizo do tamanho de um ôvo. Êle colocou algumas delas sôbre o enfêrmo, e o menino adormeceu e sarou. Ora, o Senhor poderia curá-lo sem isso, mas Sua Palavra diz: “Faça-se-vos conforme a vossa fé.”

Tiago Gilmour, da Mongólia, não possuía preparo médico, mas como tantos outros missionários, tinha de encanar ossos, arrancar dentes e assim por diante. Certo dia um mongol excessivamente gordo caiu e fraturou alguns ossos. Instaram com Gilmour para que atendesse o homem. Não sabia como descobrir onde se encontravam as fraturas. Não era especializado em anatomia. Não havia aparelhos de raios X ou luz fluorescente naquelas planícies da China do Norte. Que fazer? Os nativos estavam em pé ao redor dêle, prontos para matá-lo, se não socorresse o homem. Como o Senhor resolveu êsse problema? Enviou para lá o homem mais magro que Gilmour já vira. Podia-se contar os seus ossos. E por meio dêste cadáver ambulante o missionário pôde realizar um excelente trabalho de reparação em seu paciente.

Deus não é um Deus denominacional. Êle não é um Deus de formas e cerimônias que originaram os fariseus, nem um Deus de jejuns e vigílias que produziram os eremitas e os celibatários. Mas é maravilhoso pensar a Seu respeito aquilo que Êle disse por intermédio de Jeremias: “Eis que Eu sou o Senhor, o Deus de todos os viventes; acaso haveria coisa demasiadamente maravilhosa para Mim?” Jer. 32:27.