Como desenvolver um ministério relevante e efetivo em meio a filosofias conflitantes

Trevor O’Reggio, Ph.D., diretor do programa de Mestrado em Artes e Religião na Universidade Andrews, Estados Unidos

A sociedade encontra-se à mercê das ondas do secularismo. Marcos intelectuais e espirituais dignos, permanentes, parecem coisa do passado. A relatividade substituiu a constância e a certeza; a mudança parece a única constante. Em muitas mentes, Deus foi reduzido a nada. Já não é um Ser transcendente, todo-poderoso e pessoal, mas uma simples influência.

Verdades eternas que uma vez nortearam a sociedade são rejeitadas como mitos antiquados que nada têm a nos dizer. As pessoas estão em busca de si mesmas, porém a rejeição das verdades divinas torna sua busca infrutífera. A solidão é sentida mesmo nas grandes populações. Cônjuges vivendo juntos há anos são incapazes de preencher a necessidade mútua de companheirismo. Uma cosmovisão naturalista substituiu a teísta. Como disse o astrônomo Carl Sagan, “o cosmos é tudo o que é, foi e será”.1 A História é vista como uma série de eventos ou ciclos de ação sem destino definido. O certo e o errado já não estão enraizados no caráter de um Deus imutável. A verdade é o que os homens pensam, sentem e percebem.

O humanismo secular é a orientação prevalecente no ensino de muitas escolas e universidades. Embora esse humanismo afirme princípios enraizados na tradição judaico-cristã, nega a veracidade da Fonte dessas idéias. Nele há lugar para pontos de vista pluralísticos e contraditórios. Mas os que abraçam tais contradições acabam se perguntando como poderiam integrar o confuso mundo de idéias resultante. Não surpreende que a humanidade sofra de um tipo permanente de esquizofrenia espiritual.

Cosmovisões seculares

Um Manifesto Humano Secular audaciosamente decreta: “Encontramos pouca evidência para crer na existência do sobrenatural. … Como não-teístas, começamos com os humanos e não Deus; natureza, não deidade. A natureza talvez seja mais ampla e profunda do que conhecemos agora; porém, qualquer nova descoberta aumentará nosso conhecimento do natural. … Mas não descobriremos nenhum propósito divino ou providência para a espécie humana. Embora não conheçamos tudo, os humanos são responsáveis pelo que são ou serão. Nenhuma deidade nos salvará; devemos salvar-nos a nós mesmos.”2

Junto com o naturalismo existe a filosofia Nova Era que influencia e desloca a religião tradicional. Stanley Krippner, cientista do sonho no Centro Médico Maimonides, em Nova York, escreve: “A Nova Era… chegou. Muitos que acreditavam em eventos parapsíquicos foram convencidos por experiência pessoal, não pela pesquisa. Hoje muitas pessoas estão tendo experiências que interpretam como para-normais. … Mais e mais pessoas estão fazendo meditação, hipnose e usando drogas psicodélicas… estão prestando atenção ao sono e sonhos. Todas essas experiências provêem terreno fértil para eventos paranormais.”3

Apesar dos avanços da tecnologia e da ciência, e a difusão do naturalismo na sociedade, as pessoas anseiam pelo sobrenatural e o paranormal. Desejam um estado alterado de consciência. A filosofia Nova Era declara que tudo e todos têm “essência divina” em si mesmos. Basta uma mudança de consciência para que desperte essa divindade inata. E as teorias da Nova Era estão infiltradas nos campos da literatura, educação, lazer, esportes, artes, ciência e saúde.

Fala relevante

Como pastor, algumas vezes me sinto esmagado pelo desafio de falar com credibilidade, relevância e efetividade a pessoas afetadas por tais filosofias. Às vezes sou propenso a falar apenas a pessoas de minha cosmovi-são. Mas tenho a responsabilidade de alcançar todos, e nem sempre sei como comunicar de modo que a minha fala cause o impacto desejado.

Em minha luta para ser relevante nesta era de ceticismo, tenho em mente algumas idéias: 1) Minha mensagem precisa ser universal. 2) Devo falar às mais profundas necessidades das pessoas em todo lugar. 3) Devo responder às questões que todos enfrentam. 4) Devo apresentar Deus como o único capaz de preencher o vazio e dar estabilidade, paz, segurança e amor à vida humana. 5) Devo mostrar que a contínua difusão de guerras, imoralidade, pobreza e outros males somente prova a falácia do que é humano. 6) Minha vida deve ser exemplar. 7) Devo comprometer-me com a educação moral dos jovens, transmitindo a verdade à próxima geração.

Questões fundamentais

Pessoas de todos os tempos têm lutado com questões tais como: De onde vim? Para que estou aqui? Para onde vou? Filósofos e eruditos têm tentado respondê-las, e algumas vezes as respostas tocam vários aspectos da verdade. Mas ainda são limitadas, inadequadas e insuficientes. As pessoas continuam buscando significado, propósito e destino. Cada geração faz essa busca de maneira diferente, mas ela é sempre absorvente. É aqui que meu ministério se torna relevante.

Primeiro, se fui chamado para dar uma resposta satisfatória a tais questões, devo cumprir meu chamado. Posso começar retratando a humanidade, como criada à imagem de um Deus amoroso que é transcendente, todo-po-deroso, onipotente, mas presente e cuidadoso. Isso satisfará o desejo de muitos em conhecer sua origem.

Se eu puder descrever o fato de que fomos criados para a glória desse Deus, que Ele tem um plano para cada vida, e está voltando, talvez ajude a responder à pergunta quanto ao propósito e ao destino. Se eu conseguir, sei que devo fazê-lo de modo relevante e significativo em relação à fé que partilho ao mundo no qual me encontro.

Em segundo lugar, devo comprometer-me a ser testemunha de Deus. Sproul disse: “Nosso trabalho é tornar visível o reino invisível de Jesus. O mundo está coberto de trevas. Nada é visível nas trevas. Não surpreende que sejamos chamados para ser a luz do mundo. Cada um de nós tem uma missão. Fomos enviados a testemunhar de Cristo. Isso significa que somos missionários.”4

Devemos nos identificar com as pessoas, como Jesus o fez. E então, alimentar o faminto, vestir o nu, abrigar o sem-teto, confortar o angustiado, partilhar esperança e encorajar o abatido de coração. Nossa força e nossa relevância não são encontradas em bem articulados dogmas de fé, mas em vidas motivadas pelo amor, purificadas do egoísmo, colocadas a serviço da humanidade.

No mundo, sem ser do mundo

Relevância não significa conformação cega ao mundo ou acomodação irresponsável às filosofias prevalecentes. Mas eu vivo no mundo, e não posso escapar da sua realidade. Nossa tarefa não é fugir do secular, mas do secularismo. Devemos abraçar o mundo e não a mundanidade. Jamais devemos promover o sincretismo, como alguns cristãos que tentam combinar cristianismo com secularismo.

Como advertiu Sproul, “se tentarmos fazer isso, o resultado será um grotesco híbrido. Será estéril, como uma mula, sem poder de reprodução. Se procurarmos fazer uma síntese entre cosmovisões radicais conflitantes, inevitavelmente vamos submergir uma na outra. O resultado de tal bastardiza-ção não será cristianismo nem secularismo. Se um cristão mergulha em secularismo, sua visão já não é cristã. Se um secularista imerge no cristianismo, já não é secularista”.5

Nossa relevância deve estar fundamentada nos imutáveis e eternos princípios da revelação de Deus na Bíblia, cujo clímax é a Palavra feita carne na pessoa de Jesus Cristo. A revelação especial de Deus nas Escrituras é nossa fonte primária. Esse conhecimento e experiência devem ser nosso ponto de partida. Sim! Porque os seres humanos ainda necessitam de Deus, como necessitavam desde o início da História. Apesar das nossas falhas e a supressão de nossa espiritualidade, temos uma necessidade que somente Deus pode preencher. As pessoas em qualquer lugar ainda querem conhecer um Deus a quem possam amar e em quem possam confiar. Deus, o Criador, escreveu isso em cada fibra do nosso ser.

Meu papel, então, como pastor e pregador, é apresentar a mensagem de um Deus amoroso, por palavra e exemplo, de modo que as pessoas vejam a Sua realidade, sintam necessidade dEle e O busquem para satisfazer-se.

Relevância e autenticidade

Levar significado e relevância a um mundo incrédulo requer vida exemplar. Não deve haver dissonância, nem entre-choque de valores. Não deve haver falha entre o que eu digo e o que faço. Tanto quanto possível, meus valores apregoados e praticados devem ser os mesmos. Minha vida deve seguir o modelo de Jesus, tão intimamente quanto possível. Minha religião deve ser autêntica.

Um sermão vivo é o melhor sermão. Na verdade, ele não é proclamado a menos que seja acompanhado por uma vida cristã autêntica. Tal autenticidade ou integridade pessoal tem muito a ver com a relevância de nossa proclamação do evangelho.

O poder de uma vida cristã bem vivida levará o mais determinado ateu a considerar a possibilidade da existência de Deus, mesmo quando ele não possa ser influenciado por argumentos racionais.

Referências:

1 Carl Sagan, Cosmos (Nova York: Randon House, 1980), pág. 4.

2 http://www.americanhumanist.org/about/ma-nifesto2.html

3 Stanley Krippner, em W. James Sire, The Uni-verse Next Doo (Downers Grove: InterVarsity Press, 1976), pág. 159.

4 R. C. Sproul, Lifeviews (Grand Rapids: Fle-ming H. Revell, 1986), pág. 38.

5 R. C. Sproul, Op. Cit., pág. 38.