Freqüentemente tenho sido convidado para pregar. Várias vezes durante os sábados, ou dirigindo semanas especiais de oração, tenho encontrado muitos pastores. Tenho conversado com eles e tomado conhecimento das alegrias, tristezas, dos desafios, problemas e pressões que fazem a vida de um ministro.
Se por um lado o pastor alegra-se ao ver almas sendo batizadas, viciados tornarem-se livres, lares à beira da destruição serem restaurados, pelo poder de Deus usando sua vida, não é agradável enfrentar o demônio face a face, conviver com “irmãos problemáticos”, enfrentar comissões difíceis e com pouca margem de negociação.
Falando francamente, a vida de um pastor tem alegrias, mas possui muitas pressões. Alvos de batismos a serem alcançados, construções inacabadas, escolas, viagens, preocupações familiares, finanças, entre outros.
Quando os membros da igreja enfrentam problemas, recorrem ao pastor. No entanto, quando o pastor se depara com alguma dificuldade, a quem vai recorrer? A igreja e a sociedade dizem que ele deve ir a Deus; e isso está correto. Se há alguém que deve lançar seus fardos sobre Deus é o ministro. Mas, muitas vezes, ele bem que gostaria de poder desabafar com algum amigo e colega.
Infelizmente nem sempre é possível. So-mente Deus sabe as lágrimas que o pastor já derramou em silêncio. Somente Ele sabe a solidão que o Seu ministro teve que enfrentar, passando pelo vale de sombra e morte.
O Pastor do pastor
Como nem tudo na vida são flores, todos enfrentamos espinhos e cardos. A Palavra de Deus nos lembra: “No mundo tereis aflições, mas, tende bom ânimo, Eu venci o mundo”.
Deus não nos promete ausência de problemas. O que Ele garante é Sua presença em meio às dificuldades. O salmista explica como isso acontece: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum porque a Tua vara e o Teu cajado me consolam.” (Sal. 23:4).
Se o seu vale é de sombra e morte, não precisa temer. Deus, o supremo Pastor, promete Sua companhia.
Querido companheiro de ministério, nunca podemos nos esquecer de que no início deste mesmo Salmo, Davi assegura: “O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará.” Nada pode faltar a um pastor que vive como ovelha de Cristo. Ele é o nosso pastor. Um Senhor pastor. A garantia é infalível: “Tu estás comigo.” Mesmo que o vale seja escuro, de sombra e morte, o consolo é a presença do supremo Pastor Jesus Cristo, nosso Pastor.
Se existe alguém no Universo que entende de “vale da sombra da morte”, este é Je-sus. Aquele que ao mesmo tempo é Ovelha e Pastor.
Assim, o segredo da vida feliz de um pastor é ser ele uma ovelha de Jesus. A questão é “como ser uma ovelha num vale de sombra e morte”. Os sentimentos que nos invadem nessas situações são de desespero, angústia, ansiedade e, muitas vezes, de incontrolável agressividade.
Um grande amigo sempre dizia que “ninguém sai de uma crise da mesma forma que entrou. Ou saímos melhores ou piores”. Só o poder de Deus é capaz de fazer-nos sair melhores de uma crise, tentação ou provação. Sinto-me comovido sempre que me lembro que, quando Jó afirmou “eu sei que o meu Redentor vive”, ele havia perdido sete filhos, casas, bens materiais, amigos, prestígio, e estava doente, cheio de tumores, no meio das cinzas.
É impressionante lembrar que na ocasião em que Moabe e Amon se reuniram num mega-exército para destruir a Israel, a expressão do rei Josafá, “que tinha o coração cheio de temor” (II Crôn. 20:3), foi: “os nos-sos olhos estão postos em Ti” (v. 12).
Emociona-me pensar que quando Davi escreveu “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações” (Sal. 46:1), estava fugindo como um cão, de um rei mau e que estava ansioso por tirar-lhe a vida, impulsionado pela inveja.
Meu coração se enche de conforto ao pensar que quando Paulo escreveu aos filipenses “alegrai-vos sempre no Senhor, outra vez vos digo, alegrai-vos” (Fil. 4:4), ele estava velho, cansado, esquecido dos amigos e preso na terrível prisão Mamertina, em Roma.
Finalmente, Jesus, suando sangue no Getsêmani, elevou ao Pai uma prece de submissão e louvor: “Meu Pai: se possível, passe de Mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, sim como Tu queres.” (Mat. 26:39).
Como esses servos de Deus, e o próprio Jesus, puderam ter sentimentos tão estranhamente positivos, em meio ao “vale da sombra da morte”?
Jó mostrou-se confiante quando não tinha no mundo em quem confiar! Josafá olhava para Deus, em vez de olhar para o tamanho do problema que teria de enfrentar no dia seguinte! Davi sentia-se protegido numa situação de insegurança! Paulo estava alegre num lugar de total tristeza! Jesus foi submisso embora falasse claramente ao Pai que gostaria de estar noutra situação!
Foi pela fé que eles conseguiram vencer. E o instrumento para abrir as portas da fé em nossa vida é o louvor. Nós só podemos confiar e ter fé absoluta em Deus, se submetermos irrestritamente nossa vontade à vontade divina; e isso implica em aceitar todos os fatos que nos acontecem, como parte do plano perfeito de Deus para nós. “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.” (I Tess. 5:18).
Tanto no Velho como no Novo Testamento, a mensagem é uma só: o espírito de louvor e adoração a Deus é a porta para as soluções que o Céu tem para nossas inquietações na Terra.
Grande parte do nosso problema deve-se ao fato de termos feito muitas orações de súplicas e poucas orações de louvor. Precisa-mos elevar a Deus mais orações de louvor. Bem poderiamos dizer, por exemplo, “Senhor, não sei por que isto está acontecendo comigo, mas, mesmo sem entender, louvo o Teu nome em meio a esta situação indesejável”. Ou, quem sabe, “Senhor, não consigo ter respostas para minhas indagações. Mas, pela fé, aceito com resignação o que está acontecendo comigo agora. Louvo-Te por isto. Adoro-Te com todo o meu coração”. Isso é viver pela fé.
O louvor não é um instrumento para fortalecer a nossa vontade, mas é um recurso divino que transfere nossos problemas, ansiedades e angústias para a gerência de Deus. Temos facilidade para entender o plano de Deus para nós, quando as respostas são “boas”, segundo a nossa vontade, nosso gosto e nossas opiniões. Mas quando acontece diferente do que desejamos, somos tentados a pensar: “Será que Deus ouviu minha oração? Será que esta é, realmente, a resposta de Deus para meus problemas?”
Não se trata de louvar a Deus pela desgraça em si mesma, mas em meio a ela. A Bíblia nos afirma que “todas as coisas contribuem juntamente para o bem” (Rom. 8:28).
Mesmo sem termos “evidências” ou “certeza” de que um limão vai transformar-se em limonada, não podemos nos esquecer que “se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rom. 8:31). “Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rom. 8:35). Gosto disto: “nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rom. 8:38 e 39).
Nosso problema é que muitas vezes somos mais pastores que ovelhas. Deus quer que Seus pastores sejam Suas ovelhas. Jesus, o supremo Pastor é também uma ovelha perfeita. Conhece a trilha da prova e da dor. Passou pelo “vale da sombra da mor-te”. Por isso mesmo, nos compreende e jamais nos abandona. Ele tem a solução perfeita para nossos problemas, “segundo Sua vontade”.
E faz-nos um maravilhoso convite de fé: “Vinde a Mim todos vós que estais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei.” (Mat. 11:28). Esse convite inclui quem não conhece a Jesus como seu Salvador pessoal, mas também inclui os pastores, ovelhas de Deus, por Ele comissionados para apascentar Seu rebanho terrestre. O convite de Cristo é mui-to pastoral e extremamente pessoal. É mais que uma promessa; é uma certeza. Se formos a Jesus quando tivermos cansados e oprimidos, Ele nos aliviará.
Sim, Deus sempre tem uma solução maravilhosa para todo e qualquer problema. Uma solução à Sua maneira. E essa maneira, muitas vezes, é estranha e incomum mas funciona. Para Jó, os bens materiais e a família foram devolvidos em dobro. Josafá experimentou a vitória quando os levitas cantores louvaram em alta voz ao Senhor, na linha de frente da guerra. Para Davi, o trono e a realeza foram a conseqüência da fé e confiança nutridas em seu Pastor. No entanto, Jesus e Paulo sofreram a morte e a humilhação, como resultado do regozijo e da submissão.
Segundo a visão humana, imediatista, a vida de louvor nem sempre tem um “final feliz”. Mas, do ponto de vista divino, olhando além do que é terreno e passageiro, pensando em vida eterna e salvação, todas as pessoas anteriormente mencionadas foram vitoriosas, mesmo tendo passado pelo sofrimento, por ansiedade, angústia, solidão, humilhação e morte. No momento em que os fatos aconteciam em suas vidas, sem dúvida, necessitaram de muita fé para aceitar que Deus tinha um plano perfeito e estava atuando em seu favor.
Não nos esqueçamos. Solidão em meio à crise jamais representou um problema para quem vive uma vida de confiança no Deus eterno.
A Palavra de Deus, que é rica em sabedoria e verdade, nos fala: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nEle e o mais Ele fará.” (Salmo 37:5). Às vezes, entregamos o nosso caminho ao Senhor, outras vezes chegamos até a confiar nEle, mas quando Ele realiza “o mais”, todo o resto, questionamos se é Deus quem realmente está agindo.
Ovelha feliz vive submissa ao Pastor mesmo que “ande pelo vale da sombra da morte”. Jesus promete consolo na dor e no sofrimento. Ter um pastor faz toda a diferença para a vida de uma ovelha.
Você deseja ser um pastor bem sucedido? Pense em ser ovelha de Cristo. Total-mente. Talvez você seja uma ovelha muito inteligente, esperta, cheia de iniciativa, vontade e ímpeto. Ou frágil, desanimada, atrasada, enferma, rebelde. Não há problema. Jesus o conhece muito bem, e quer fazer-lhe perfeito.
Tudo o que Ele espera é que O louvemos em tudo. Sua palavra promete que há poder no louvor. Há regozijo, esperança, fé, amor e divina paz no louvor. Que o Senhor nos faça ovelhas do Seu redil. Somente assim seremos pastores realmente capazes de apascentar o Seu rebanho na Terra.