Em noite de grande inspiração saiu o poeta pelo campo e, ao topar com um roceiro que embevecido contemplava o luar, disse-lhe:
— És um amante do belo! Acaso já viste também os róseos, dourados dedos da aurora, tecendo uma fímbria de luz pelo nascente, ou as sulfurosas ilhotas de sanguíneo vermelho pairando sôbre um lago de fogo a esbrasear-se no poente, ou as nuvens como farrapos de brancura obumbrando a Lua que flutua, esquiva, sôbre um céu soturno?
—Ùltimamente, não — respondeu o caipira. — Faz um ano que não boto pinga na bôca.
O poeta tentou comunicar-se com o indouto roceiro, mas fracassou em seu objetivo. As imagens literárias que empregou, não estavam à altura da capacidade de compreensão do humilde agricultor, e por isso o diálogo foi interrompido de forma abrupta e inesperada.
Êste jocoso incidente (evidentemente imaginário’) repete-se com freqüência em nossas igrejas. Quantas vêzes, como pregadores, fracassamos no esfôrço por comunicar a mensagem de Deus!
Em uma pequena igreja rural pregava certa vez um jovem aspirante ao ministério. Em sua eloqüente peroração empregou neologismos e vocábulos técnicos, analisou a semântica de algumas expressões, num esfôrço censurável por luzir os seus conhecimentos de psicologia. Um dos ouvintes, desencantado com a inoportuna exposição do pregador, dirigindo-se ao ancião, disse:
— Êste é um pasto demasiado alto! As ovelhas não podem alcançá-lo!
Que opinião teríamos de um médico que, dirigindo-se aos clientes, falasse em patologia Psicossomática, sintomas escorbúticos ou hiperplasia linfóide?
Que impressão teríamos como leigos se ouvíssemos o pastor digressar durante meia hora sôbre as provas ontológicas da existência de Deus? Que bênçãos receberíam os pecadores de uma erudita exposição dos ensinos escatológicos dos profetas pós-exílicos, ou de uma análise técnica dos aspectos forenses da justificação?
Êste é um pasto demasiado alto! As ovelhas não podem alcançá-lo.
O púlpito, já escrevemos em outro Editorial, não é lugar apropriado para a exibição pedante e sofisticada de uma oratória ornamental. Alguns pregadores, especialmente os jovens, com freqüência, cedem à tentação de pregar valendo-se de vocábulos rebuscados e expressões altissonantes.
Relevante se nos afigura o exemplo de Paulo, o mais erudito dentre os pregadores da igreja neotestamentária:
“Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem, ou de sabedoria. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder.” 1 Cor. 2:1 e 4.
Escrevendo sôbre a simplicidade na pregação, o Dr. T. DeWitt Talmage assim se expressou: “Havemos de apresentar-nos no vernáculo comum, se não o povo não nos receberá nem entenderá. . . Todo jovem que ingressar no ministério deve conhecer a terminologia teológica, porém não a deve empregar diante do povo. Depois que entramos no ministério, passamos os dez primeiros anos deixando o povo ouvir quanto nós sabemos; os dez anos seguintes conseguindo que êles saibam tanto quanto nós; e mais dez anos descobrindo que nem êles nem nós sabemos o suficiente.”
Um dos fatôres importantes do grande poder de Spurgeon, o “príncipe da pregação,” era a linguagem concisa, incisiva e simples que sempre usava.
Como mensageiros de Deus, devemos apresentar em forma clara e simples a verdade tal como é em Jesus. Devemos encaminhar os pecadores a Cristo como o fêz o apóstolo precursor e, com simplicidade e fervor, anunciar: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!”