O trabalho conjunto de pastores e colportores resulta no crescimento saudável da igreja local
Em suas atividades, o pastor deve contar com uma equipe de apoio ao seu lado. Isso é imprescindível para que o planejamento da igreja funcione e ele não sofra de sobrecarga e isolamento em seu trabalho. Um dos segredos da liderança é delegar atividades, redistribuindo funções e atuando em conformidade com os demais líderes.1 Esse foi o conselho que o sogro de Moisés lhe deu, e que ele fez muito bem em atender (Êx 18:13-27).
O pastor pode contar com diversos colaboradores, por exemplo: anciãos, diáconos, líderes de ministérios, obreiros bíblicos e membros que voluntariamente separam algumas horas por semana para
acompanhá-lo em suas atividades ou atender as demandas da administração da igreja. Neste artigo, porém, o objetivo é destacar um obreiro que, em seu trabalho cotidiano, exerce atividades correspondentes ao serviço pastoral, e que pode atuar junto ao ministro, tanto no atendimento aos membros quanto aos interessados. Esse obreiro é o colportor-evangelista.
Ele ocupa uma posição ministerial, atendendo àqueles que foram confiados à sua missão. Ellen G. White, cofundadora da Igreja Adventista do Sétimo Dia e grande apoiadora da obra da colportagem, declarou que um “colportor inteligente, temente a Deus e amante da verdade, deve ser respeitado porque ocupa uma posição igual à do pastor”.2 A natureza de seu trabalho é profética e de cunho missionário, com o objetivo de proclamar a tríplice mensagem angélica e preparar um povo para o segundo advento de Cristo.3
Desse modo, no exercício de sua função, o colportor cumpre a obra de um ministro. Visitando, orando, descobrindo interessados e pregando por meio da literatura, ele atende ao seu “distrito pastoral”, assemelhando-se ao pastor. Tal similaridade permite que pastor e colportor formem uma dupla ministerial, que foi valorizada por Ellen G. White quando declarou que a importância da colportagem “é perfeitamente igual à do ministério. O pregador vivo e o mensageiro silencioso são ambos necessários à conclusão da grande obra que está perante nós”.4
Considerando essa correspondência e compartilhando os objetivos comuns da missão, pastor e colportor formam uma dupla eficaz no atendimento ao distrito. Quando o ministro apoia o colportor, mobilizando os membros de suas igrejas a evangelizar com publicações ou até mesmo separar seu próprio tempo para distribuir literatura, ele está realizando uma obra “da mais elevada espécie”.5
De que maneira pastor e colportor podem trabalhar juntos? Abaixo seguem alguns exemplos de como essa relação pode funcionar.
Nutrição espiritual
Cada membro da igreja precisa ter acesso a materiais que favoreçam seu crescimento espiritual. Todos devem ter Bíblia, Lição da Escola Sabatina, livros teológicos denominacionais, obras sobre família, saúde e relacionamentos, e periódicos como as revistas Adventista, Vida e Saúde, Nosso Amiguinho, entre outras.
Esse “banquete literário” favorece o processo de comunhão, aprendizado e crescimento intelectual da igreja. Para que os adventistas sejam profundos no conhecimento de Deus e Sua Palavra, será preciso que eles se dediquem ao estudo e à leitura.
A fim de ajudá-los quanto a esse propósito, o colportor distrital pode dispor parte de seu tempo para oferecer-lhes obras do interesse deles. Nas reuniões de quarta-feira, domingo, e também aos sábados à noite, ele pode disponibilizar uma estante em uma área adequada da igreja, para que membros e convidados conheçam a literatura com a qual trabalha.
O pastor pode identificar, nas visitas que faz, as necessidades referentes à literatura religiosa e, com isso em mente, indicar o trabalho do colportor, a fim de atender aos que estão sendo visitados.
Ele ainda pode compartilhar com o colportor as informações de membros e amigos interessados, para que trabalhem juntos em favor da nutrição espiritual do distrito.
Liderança local
Embora o colportor possa atender todo o distrito, inevitavelmente sua carta de membro estará em apenas uma congregação. Nessa condição, o pastor poderá contar com a ajuda dele em funções administrativas da igreja local. Por exemplo, de acordo com os dons e habilidades do colportor, ele pode se engajar em algum departamento; de preferência, aquele que mais corresponda à natureza de seu ministério. Lembro-me de que no período em que trabalhei como colportor permanente, as atividades do Ministério de Publicações sempre ficavam sob minha responsabilidade. Assim, eu podia promover a literatura da Casa Publicadora Brasileira. Recordo-me de várias assinaturas e livros que tive a alegria de entregar aos irmãos daquele distrito.
Uma sugestão é que o colportor também auxilie o pastor na escala de pregação. Quando o distrito estiver recebendo uma equipe de colportores estudantes, o pastor poderá inserir no calendário homilético algumas datas para que os jovens preguem, apresentem testemunhos ou até mesmo dirijam o serviço de adoração. O culto de quarta-feira pode ser enriquecido com essa programação.
Quando atuei como colportor em campanhas de estudantes ou de colportores permanentes, lembro-me de que os pastores locais planejavam a escala de pregações para que a equipe de colportagem cuidasse do culto de quarta-feira. Nessas ocasiões, organizávamos a leitura do livro do ano ou fazíamos alguma série temática, além de inserir, em todos os cultos, um testemunho do campo de trabalho local, justamente para motivar os irmãos ao evangelismo. Clientes interessados também eram convidados a participar desses cultos. Todos eles eram encaminhados à igreja.
O pastor também pode separar ao menos um sábado no bimestre ou trimestre para que o colportor, ou a equipe de colportagem, apresente uma mensagem com testemunhos do que está ocorrendo naquele distrito por intermédio do evangelismo com publicações.
Os dois ministros, pastor e colportor, poderão aconselhar-se, orar e planejar juntos. O pastor contará com o apoio e as orações constantes de mais um líder ao seu lado, e o colportor, bem como sua
família, contará com o pastoreio de seu amigo ministro. Um movimento de mão dupla, de ministro para ministro.
Evangelismo
Além de atender os membros do distrito, pastor e colportor precisarão ter um plano definido de como evangelizar seu território. Em suas visitas diárias, seja nas casas ou nos locais de trabalho (empresas, escritórios e comércio), o colportor está em constante contato com pessoas que ainda não conhecem a Igreja Adventista. Desse modo, certamente ele alcançará locais que dificilmente o pastor, ou qualquer outro membro, conseguiria entrar. Conforme escreveu Ellen G. White: “Há muitos lugares em que a voz do pastor não pode ser ouvida, lugares que só podem ser alcançados pelas nossas publicações.”6
Nessas ocasiões, ele poderá identificar interessados em estudos bíblicos e que desejam conhecer mais sobre o adventismo. Tendo esses nomes devidamente anotados, ele deve entregá-los ao pastor ou à coordenadoria de interessados da igreja local, para que uma equipe devidamente capacitada vá ao encontro dessas pessoas, a fim de atendê-las em suas necessidades espirituais.
De acordo com seu tempo, o próprio colportor também pode ministrar estudos bíblicos a alguns desses interessados. Ellen G. White escreveu: “Quando o colportor visita as pessoas em seus lares, muitas vezes terá a oportunidade de ler partes da Bíblia ou dos livros que ensinam a verdade. Quando ele descobre aqueles que estão buscando a verdade, pode realizar estudos bíblicos com eles. Esses estudos bíblicos são justamente o que o povo necessita.”7 Outra iniciativa pode ser convidar os interessados para programações evangelísticas que ocorrem na igreja, tais como séries de evangelismo público ou classes bíblicas.
Uma certeza que se tem é de que os esforços dos colportores serão plenamente prósperos. “Deus abençoa o pastor e o evangelista em seus fervorosos esforços para colocar a verdade perante o povo. Assim Ele abençoará o colportor fiel.”8
A parceria entre pastor e colportor consolidará ambos os ministérios e, fortalecidos por essa comunhão ministerial, a igreja experimentará um crescimento saudável. Os membros serão atendidos pelos dois ministros em suas necessidades espirituais, sendo visitados, capacitados, ensinados e nutridos com literatura e a pregação da Palavra. Mais interessados serão encontrados por meio do trabalho do colportor, e estes receberão o atendimento do pastor e dos membros da igreja. Pela escrita e pela voz, a Igreja Adventista cumprirá sua missão de pregar o evangelho eterno no contexto da tríplice mensagem angélica (Ap 14:6-12), pois é “em grande parte por meio de nossas editoras que se há de efetuar a obra daquele outro anjo que desce do Céu com grande poder e ilumina a Terra com sua glória”.9 Na cooperação entre pastores e colportores, vemos essa profecia se cumprindo de maneira mais ampla, de ministro para ministro.
Referências
- 1. Stan Toler e Larry Gilbert, Treinador de Líderes: Desenvolvendo Equipes Ministeriais Eficazes (Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2014), p. 7.
- 2. Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 6 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), p. 321. Grifo nosso.
- 3. Ellen G. White, O Colportor-Evangelista (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1983), p. 13.
- 4. Ibid., p. 17.
- 5. Ibid., p. 15.
- 6. Ellen G. White, O Colportor-Evangelista, p. 13.
- 7. Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 6, p. 324.
- 8. Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 6, p. 340.
- 9. Ellen G. White, O Colportor-Evangelista, p. 13.