Sou o ancião de uma igreja onde nosso pastor, tal como Roger Bryant (Ministério março-abril 93), deixou a atividade ministerial por causa de uma outra mulher de nossa congregação. Senti-me compelido a escrever, a fim de que os leitores desta revista considerem o outro lado da história. Nossa igreja sofreu um dos mais terríveis golpes que Satanás poderia ter engendrado, quando nosso querido pastor abruptamente deixou o ministério. Ele abandonou sua família e mudou-se com uma senhora que era líder do Departamento de Jovens. Minha reflexão está diretamente ligada à nossa desapontadora experiência local e à restauração que seguiu.
As vítimas mais visivelmente afetadas por essa crise foram, obviamente, as famílias, incluindo crianças, que foram deixadas para trás. Imaginemos a absoluta devastação que pode representar para os membros de uma igreja, e para a própria família, a contemplação de duas crianças deserdadas assistindo a uma programação do Dia das Mães ou Dia dos Pais. Independentemente de quão forte espiritualmente seja uma pessoa, e de quão pronta seja para perdoar, essa experiência deixa cicatrizes emocionais que jamais desaparecerão.
Outras vítimas do adultério cometido por nosso pastor foram os recém-conversos. Apresso-me em dizer que os membros da igreja, mesmo os mais novos, são responsáveis pelas escolhas que fazem e não podem responsabilizar um ex-pastor por sua apostasia. Permanece, porém, o fato de que os pastores carregam uma porção significativa de responsabilidade espiritual; as pessoas olham para eles como guias espirituais. E quando os membros são decepcionados pelo pastor que os ligou às verdades de Deus, eles sentem parecer não haver mais nenhum padrão a ser seguido. Muitas vezes eles perdem o senso de companheirismo permanente, quando a perda do seu pastor deixa um vazio que nem sempre é preenchido por qualquer outra pessoa da congregação.
Os jovens, por sua vez, vulneráveis a muitas questões e dúvidas, também foram afetados, assim como os de fora da comunidade que apontam e dizem: “se é isso o que o adventismo faz por uma pessoa, nós não queremos ter parte com ele”. Enfim, a verdade é que muitas pessoas acabam afetadas pelo adultério cometido por um pastor.
Sim, caro ex-pastor, eu sei que você não se divorciou de nós, mas algumas vezes todos na igreja sentimos como se tivesse acontecido exatamente isso. Fico agradecido porque temos um Deus perdoador, que vê iguais todos os pecados. Ele olha o adultério escancarado e confesso da mesma maneira como olha os pecados secretos acariciados. Pecado é separação de Deus, e um adultério difere apenas no aspecto de que afeta a muitas pessoas.
Por que isso aconteceu?
Evidentemente qualquer pessoa, pastor ou leigo, pode cometer um pecado quando deixa de olhar para Cristo e passa a contemplar-se a si mesma. Nosso ex-pastor pecou quando recusou entregar completamente a Deus os sentimentos que já não podiam ser mais controlados por ele próprio. Bem antes de cometer o ato de adulterar, ele escolheu centralizar em si mesmo as atenções, e não no Senhor. A razão pela qual tudo aconteceu pode ser resumida em uma palavra, também pecaminosa: EU.
O irmão Bryant enumera alguns fatores aos quais atribui a razão de sua queda. São pontos que devem ser lidos e relidos por todos. Eu creio sinceramente que Deus o perdoa na medida em que se mostre verdadeiramente arrependido. Mas ninguém em tal situação pode assumir um comportamento presunçoso, como se nada tivesse acontecido. Uma atitude do tipo “não fiz nada errado”, é inadequada e somente aumenta o grau de mágoa e dor experimentadas pela congregação. Conquanto seja absolutamente verdade que a nenhuma pessoa deva ser negado um cumprimento, por oficiais de igreja, o sentimento de traição e decepção existente em uma comunidade, nesses casos, é muito profundo. E quando subitamente confrontados com a presença do transgressor, os membros frequentemente não sabem o que fazer ou dizer. A falta que acabam cometendo, ao ignorá-lo, também não é pequena. Provavelmente até se sintam culpados por terem agido como agiram.
Diante disso, todos os “irmãos Bryants” devem ser pacientes. Deus está trabalhando conosco, assim como trabalha com eles.
Como a igreja reage
Já tive a oportunidade de presenciar oficiais de igreja agindo de modo diferente daquele que o irmão Bryant experimentou. Já vi um presidente de Associação cumprindo fielmente seu dever de encorajar e reerguer nosso ex-pastor. Vi uma amorosa igreja sofrendo a agonia de ter que desligar de seu rol de membros uma pessoa que nasceu, cresceu e foi batizada ali. A ação disciplinar não foi o primeiro passo dado para restaurar o ex-pastor e sua companheira. Mas ambos ficaram amargurados e acusadores quando confrontados com o seu comportamento adúltero. Exatamente como acontece com qualquer pessoa que cai em pecado, a disciplina não foi aceita naturalmente. Nesse caso, eles não foram chutados enquanto estavam caídos, mas consideraram como se o fossem.
Ao disciplinar alguém, a igreja não está dizendo: “você não é tão bom para continuar entre nós”; mas, antes: “você está em erro; nós o amamos e queremos que deixe o seu erro. Sua permanência nele trará consequências eternas profundamente lamentáveis”. Quando um membro da igreja — seja pastor ou leigo — continua em seu caminho de destruição espiritual, o precedente bíblico é a tomada de amorosa, mas firme providência. Desafortunadamente as pessoas envolvidas com o pecado de adultério tendem a fazer qualquer coisa para defender seu estilo de vida, indiferentes aos conselhos dados por cuidadosos e amorosos irmãos.
Eu imagino que o irmão Bryant esteja desligado da igreja, e muito do que ele fala atinge em cheio o alvo. Necessitamos, realmente, não apenas de um programa de recuperação, mas de um sistema de constante aconselhamento para as necessidades do pastor, antes que surjam as crises.
Eu lamento muitíssimo quando ouço que há um grande número de pessoas que embora amem os ensinamentos da igreja, estão se afastando de sua comunhão. Se permanecerem dentro dela, serão alcançadas e ajudadas. Como resultado, crescerão espiritualmente e contribuirão para que outros também cresçam. Abandonar tudo não é a melhor saída. Felizmente o irmão Bryant encontrou uma cuidadosa congregação. A igreja que foi abandonada pelo nosso ex-pastor também é assim, e somente reagiu de outro modo em virtude da intensidade de sua decepção.
O que pode ser feito
Gostaria de apelar a todos os ministros e líderes no sentido de examinarem francamente sua vida conjugal. Há muitos relacionamentos que apenas têm a aparência de harmonia, mas estão destroçados. Por favor, sejam honestos o suficiente para admitir que há problemas, e então busquem a necessária ajuda. Pela graça de Deus, nunca é tarde para corrigir.
Outrossim apreciaria perguntar ao irmão Bryant se ele já considerou a possibilidade de fazer uma confissão pública diante daqueles aos quais frustrou com seu adultério. Em seu artigo, senti que deseja retornar, mas isso deve ser motivado por um verdadeiro e sincero arrependimento. Considere o irmão Bryant a magnitude da ferida feita em sua antiga congregação, e a cura que terá lugar quando efetuar uma confissão pública do seu pecado. A questão não é racionalizar e procurar justificar o ato, mas dizer: “irmãos e irmãs, pequei contra Deus e contra todos vocês. Por bondade, perdoem-me”.
Testemunharemos a redenção de muitos ex-membros, quando ex-pastores corajosamente se levantarem para fazer essa confissão. Muito amor e abundante perdão serão o resultado de uma tal atitude.