Nossos planos nem sempre são os de Deus. Bem pode ver Ele que o melhor para nós e para Sua causa é pôr de lado nossas melhores intenções, como o fez no caso de Davi. De uma coisa, porém, podemos estar certos: Ele abençoará e utilizará no avançamento de Sua causa aqueles que se dedicam sinceramente com tudo que têm à glória de Deus. Se Ele vê ser melhor não aceder aos desejos de Seus servos, dará compensação a Sua negativa, concedendo-lhes sinais de Seu amor e confiando-lhes outro serviço.
Em Seu amoroso cuidado e interesse por nós, muitas vezes Aquele que nos compreende melhor do que nos compreendemos a nós mesmos, nega-Se a permitir-nos que busquemos egoistamente o que possa agradar a nossa ambição. Não nos permite que passemos de largo os deveres caseiros mas sagrados que estão diante de nós. Muitas vezes estes deveres levam consigo a verdadeira preparação indispensável para uma obra superior. Muitas vezes nossos planos fracassam para que os planos de Deus a nosso respeito tenham êxito.
Nunca somos chamados a fazer um verdadeiro sacrifício por Deus. Muitas são as coisas que Ele nos pede que sacrifiquemos, mas ao assim fazê-lo não nos despojamos mais do que daquilo que nos impede de avançar no caminho em direção ao Céu. Mesmo quando somos chamados a deixar coisas que naturalmente são boas, podemos estar seguros de que Deus está assim preparando para nós algo bem maior.
Os mistérios que aqui nos têm incomodado e decepcionado ficarão claros na vida futura. Veremos que as orações que nos pareciam haver ficado desatendidas e as esperanças frustradas terão sido dentre nossas grandes bênçãos.
Devemos considerar cada dever, por mais humilde que seja, como sagrado por ser parte do serviço de Deus. Nossa oração cotidiana deveria ser: “Senhor, ajuda-me a fazer melhor meu trabalho. Dá-me força e alegria. Ajuda-me a empregar em meu serviço o amante ministério do Salvador”.
Uma Lição Tirada da Vida de Moisés
Considerai o que aconteceu a Moisés. A educação que recebera no Egito como neto do rei e herdeiro presuntivo ao trono, foi muito completa. Nada fora descuidado daquilo que se achava pudesse fazê-lo sábio, tal como os egípcios entendiam a sabedoria. Recebeu o mais elevado ensino civil e militar. Sentia-se completamente preparado para a obra de livrar a Israel da escravidão. Deus, porém, pensava de modo diferente. Sua providência designou a Moisés um período de quarenta anos de preparo no deserto como pastor de ovelhas.
A educação que Moisés recebera no Egito foi para ele uma ajuda em muitos aspectos, mas o mais proveitoso preparo para sua missão foi o que recebeu enquanto guardava o rebanho. Moisés era por índole muito impetuoso. No Egito acostumara-se a sua qualidade de comandante militar afortunado, e o favorito do rei e da nação, a receber louvores e adulações. Tinha granjeado as simpatias do povo. Esperava levar a cabo em suas próprias forças a obra de libertar a Israel. Muito diferentes foram as lições que teve que aprender como representante de Deus. Ao conduzir seus rebanhos pelos desertos dos montes e pelos pastos verdes dos vales, aprendeu a fé, a mansidão, e a paciência, a humildade e o esquecimento de si mesmo. Aprendeu a cuidar dos débeis, a atender os doentes, a sair em busca dos desgarrados, a tratar com os indômitos, a guardar os cordeiros, e a alimentar os velhos e os fracos.
Nesta obra Moisés era levado mais próximo do supremo Pastor. Chegou a unir-se intimamente ao Santo de Israel. Já não intentava mais uma grande obra. Procurava fazer fielmente, como para Deus, a tarefa que lhe fora ordenada. Reconhecia a presença de Deus em tudo quanto o rodeava.
A Natureza inteira lhe falava do Invisível. Conhecia a Deus como Deus pessoal, e ao meditar em Seu caráter compreendia mais e mais perfeitamente Sua presença. Encontrou refúgio nos braços do Eterno.
Depois desta experiência, Moisés ouviu o chamado do Céu para mudar o cajado do pastor pela vara de comando, para deixar seu rebanho de ovelhas e encarregar-se da direção de Israel. O mandato divino o encontrou desconfiado de si mesmo, tardo no falar, e tímido. Sentia-se confuso pelo sentimento de sua incapacidade para consentir em ser porta-voz de Deus. Aceitou, porém, a obra, pondo no Senhor toda a sua confiança. A grandeza de sua missão pôs em exercício as melhores faculdades de seu espírito. Deus abençoou sua pronta obediência e Moisés se tomou eloqüente, cheio de esperanças, dono de si mesmo, habilitado para a maior obra jamais dada a homem algum. Dele foi escrito: “E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera cara a cara”. Deut. 34:10.
Que aqueles que se afiguram que seu trabalho não é apreciado, e que anseiam um posto de maior responsabilidade, considerem que “nem do oriente, nem do ocidente, nem do deserto vem a exaltação. Mas Deus é o Juiz; a um abate, e a outro exalta”. Sal. 75:6, 7. Todo homem tem seu posto no plano eterno do Céu. E que o desempenhemos com honra depende de nossa fidelidade em colaborar com Deus.
Precisamos evitar compadecermo-nos de nós mesmos. Jamais permitais sentir que não sois devidamente apreciados, tampouco que não o são vossos esforços, ou que vosso trabalho é demasiado difícil. Que a lembrança do que Cristo sofreu por nós faça calar todas as nossas murmurações. Somos tratados melhor do que o foi nosso Senhor. “E procuras tu grandezas? não as busques”. Jer. 45:5. O Senhor não tem lugar em Sua obra para os que mais desejam ganhar a coroa do que levar a cruz. Ele precisa homens que pensem mais em cumprir com seu dever do que em receber sua recompensa; homens que sejam mais solícitos pelos princípios que por promoção.
Os que são humildes e que desempenham seu trabalho como para Deus, talvez não brilhem tanto como os presunçosos e turbulentos; mas sua obra é de mais valor. Geralmente os que fazem muito alarde chamam a atenção para si mesmos, interpondo-se entre o povo e Deus, mas sua obra resulta em fracasso. “A sabedoria é a coisa principal: adquire pois a sabedoria; sim, com tudo o que possues adquire o conhecimento. Exalta-a, e ela te exaltará e, abrançando-a tu, ela te honrará”. Prov. 4:7, 8.
Muitos, por não resolverem fazer uma reforma em si mesmos, caem rotineiramente no erro. Mas não há motivos para que isto continue assim. Devem cultivar suas faculdades para desempenhar do melhor modo o seu serviço, então sempre será pedida sua cooperação. Serão apreciados como um todo pelo que valem.
Se há pessoas qualificadas para um posto mais elevado, o Senhor lhes imporá a carga, e não somente a elas, mas aos que os hajam posto à prova, e que conheçam seu mérito, e que tenham motivos para alentá-los a seguir adiante. São os que fazem fielmente dia após dia a obra a eles determinada, os que ouvirão no momento assinalado por Deus, Seu convite: “Sobe mais para cima”.
Enquanto os pastores guardavam seus rebanhos nas encostas de Belém, anjos os visitaram do Céu. Assim também atualmente enquanto o humilde obreiro de Deus faz seu trabalho, anjos de Deus estão a seu lado, ouvindo-lhe as palavras, observando o modo como o trabalho é feito, para ver se ao referido obreiro podem ser dadas maiores responsabilidades.
A Verdadeira Grandeza
Deus não estima os homens por sua fortuna, sua educação, ou sua posição social. Aprecia-os pela pureza de seus motivos e a beleza de seu caráter. Fixa-Se na medida que possuem do Espírito Santo, e no grau de semelhança de sua vida com a divina. Ser grande no reino de Deus é ser como uma criança em humildade, em fé simples, e em pureza de amor.
“Bem sabeis”, disse Cristo, “que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso Serviçal”. S. Mat. 20:25, 26.
De todos os dons que o Céu pode conceder aos homens, a comunhão com Cristo em Seus padecimentos é a maior confiança e a mais alta honra. Nem Enoque, o que foi trasladado ao Céu, nem Elias que ascendeu num carro de fogo, foram maiores ou mais honrados que João Batista, que morreu esquecido no calabouço. “A vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nEle, como também padecer por Ele”. Filip. 1:29.
Planos Para o Futuro
Há muitos que são incapazes de idear planos definidos para o futuro. Sua vida é instável. Não sabem entrever o desenlace dos acontecimentos, e isto os enche freqüentemente de ansiedade e de desassossego. Recordemos que a vida dos filhos de Deus neste mundo é uma vida de peregrino. Não temos sabedoria, para fazer planos para nossa própria vida. Não é tarefa nossa a de formar nosso futuro. “Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia”. Heb. 11:8.
Cristo, em Sua vida terrena, não fez planos para Si mesmo. Aceitou os planos que Deus traçou para Ele, e dia após dia o Pai os fazia saber. Assim deveríamos nós também depender de Deus, para que nossa vida fosse simplesmente o desenvolvimento de Sua vontade. Se Lhe entregarmos nossos caminhos, Ele dirigirá nossos passos.
Muitos ao idear planos para um brilhante futuro, chegam a um completo fracasso. Deixai que Deus faça planos por vós. Como crianças confiai na direção dAquele que “os pés dos Seus santos guardará”. I Sam. 2:9. Deus nunca dirige Seus filhos de maneira diversa daquela por que eles próprios haveriam de preferir ser guiados, se pudessem ver o fim desde o princípio, e perscrutar a glória do desígnio que estão realizando como colaboradores Seus.
A Recompensa
Quando Cristo chamou a Seus discípulos para que O seguissem, não lhes ofereceu lisonjeiras perspectivas para esta vida. Não lhes fez promessas de ganhos nem de honras mundanas, tampouco exigiram eles pagamento algum por seus serviços. A Mateus sentado na alfândega disse: “Segue-me. E ele, deixando tudo, levantou-se e O seguiu”. S. Luc. 5:27, 28. Mateus, antes de prestar qualquer serviço não pensou em exigir pagamento igual ao que cobrara em sua profissão. Sem reflexionar nisto e sem vacilar seguiu a Jesus. Bastava-lhe estar com o Salvador para ouvir Suas palavras e unir-se com Ele em Sua obra.
A mesma coisa aconteceu com os discípulos, chamados anteriormente. Quando Jesus disse a Pedro e a seus companheiros que O seguissem, imediatamente deixaram eles seus barcos e suas redes. Alguns destes discípulos tinham amigos que dependiam deles para sua subsistência; mas quando ouviram o convite do Salvador, sem mais vacilações nem cavilações acerca da vida material sua e de suas famílias, obedeceram ao chamado. Quando posteriormente Jesus lhes perguntou: “Quando vos mandei sem bolsa, alforje, ou alparcas, faltou-vos porventura alguma coisa? Eles responderam: Nada”. S. Luc. 22:35.
Hoje o Salvador nos chama a Sua obra, como chamou a Mateus, a João e a Pedro. Se nosso coração é tocado por Seu amor, o assunto do pagamento não predominará em nossa mente. Alegrar-nos-emos em ser colaboradores com Cristo, e não temeremos confiar em Seu cuidado. Se fazemos de Deus nossa força, teremos claras percepções de nosso dever e aspirações de abnegação; nossa vida será movida por um nobre propósito que nos elevará acima de toda preocupação baixa.
Deus Proverá
Muitos que fazem profissão de seguir a Cristo se sentem angustiados, porque têm medo de confiar em Deus. Não se entregaram por completo a Ele, pois retrocedem ante às conseqüências que semelhante confiança poderia implicar. Mas se não se entregarem assim a Deus, não sentirão paz.
Há muitas pessoas cujo coração padece sob o peso dos cuidados porque procuram alcançar o ideal do mundo. Escolheram o serviço deste, aceitaram as dificuldades conseqüentes, e seguiram seus costumes. Assim seu caráter foi pervertido, e sua vida se tornou insuportável. Os cuidados contínuos desgastam as forças da vida. O Senhor, porém, deseja que se livrem deste jugo de escravidão. Convida-os a aceitar Seu jugo; diz-lhes: “Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve”. S. Mat. 11:30. A preocupação é cega, e não pode vislumbrar o futuro; mas Jesus vê o fim desde o princípio. Em toda dificuldade tem provido algo que trará alívio. “Não negará bem algum aos que andam na retidão.” Sal. 84:11.
Nosso Pai celestial tem mil maneiras de prover nossas necessidades, as quais ignoramos completamente. Os que aceitam o único princípio de fazer do serviço de Deus o assunto supremo, verão desvanecer suas dificuldades, e estender-se diante de seus pés caminho claro.
Fé Alentadora
O fiel cumprimento dos deveres do dia-a-dia é o melhor preparo para as provas de amanhã. Não amontoemos as probabilidades e os cuidados do amanhã acrescentando-lhes a carga de hoje. “Basta a cada dia o seu mal”. S. Mat. 6:34.
Tenhamos confiança e sejamos corajosos. O desalento no serviço de Deus é pecaminoso e irrazoável. Deus conhece todas as nossas necessidades. O Deus que mantém aliança conosco acrescenta a doçura e o solícito cuidado do terno pastor à onipotência do Rei dos reis. Seu poder é absoluto, e é a garantia do seguro cumprimento de Suas promessas para com todos os que nEle confiam. Conhece meios de afastar toda dificuldade para que os que O servem e que respeitam os meios que emprega, sejam confortados. Seu amor está muito acima de qualquer outro amor, como o céu está acima da terra. Vela por Seus filhos com amor imensurável e eterno.
Nos dias escuros, quando as aparências parecem estar contra nós, tenhamos fé em Deus. Ele está efetuando Seus desígnios, e fazendo redundar todas as coisas em benefício de Seu povo. A força dos que O amam e O servem há de ser renovada dia após dia.
Deus pode e quer conceder a Seus servos toda a ajuda que necessitam. Dar-lhes-á a sabedoria que suas variadas necessidades requerem.
O experiente apóstolo Paulo disse: “E disse-me: A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade pois me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte”. II Cor. 12:9, 10.
Ellen G. White