Como líderes, nós nos deparamos freqüentemente com a necessidade de tomarmos decisões importantes, ou respondermos a questões significativas. Mesmo assim, é possível que tenhamos sido surpreendidos pela tendência de deixar para depois. Qual é o seu caso? Que desafio está adiando? Que oportunidade está arquivando para o dia seguinte, e que deveria ser aproveitada hoje?

A esse tipo de comportamento dá-se o nome de procrastinação. Essa é uma palavra originada de duas raízes latinas: pro, que significa “para adiante”, e eras, que significa “amanhã”. Procrastinar, portanto, é prorrogar para amanhã, uma experiência que, no dizer de Erasmo, “traz perda, atraso e perigo”. Hesídio, por sua vez, afirmou que “o homem que procrastina está sempre em luta com a ruína”.

Acima de tudo, a procrastinação dificulta seriamente a realização das promessas de Deus. Isso ficou evidenciado na experiência dos israelitas, ao chegarem eles ao deserto de Padã, em Cades-Barnéia, nos limites de Canaã.

Ali, Deus ordenou a Moisés: “Envia homens que espiem a terra de Canaã, que Eu hei de dar aos filhos de Israel…” (Núm. 13;2). Em obediência ao mandado divino, Moisés selecionou doze homens fortes e valorosos, um de cada tribo, e os enviou ao Neguebe, a parte rochosa da Palestina. Esses homens se demoraram quarenta dias em sua missão. Ao retornarem, deram dois diferentes relatórios do reconhecimento que fizeram. O relatório da maioria foi caracterizado pelo negativismo, impregnado de temor e pânico. Já o relatório da minoria, prestado por Calebe e Josué, era inspirador de coragem e ousadia.

Lamentavelmente, porém, esse relatório não foi o vencedor na preferência do povo. A exposição da maioria temerosa atraiu a atenção dos demais. E foi adiada a aceitação da promessa de Deus.

O capítulo 13 do livro de Números apresenta quatro fatos perturbadores a respeito da doença da procrastinação. O relatório, na verdade é um convite à reflexão pessoal, pois a terra prometida de bênçãos, somente será nossa se ousarmos avançar e possuí-la.

1. Dúvida da promessa divina

A promessa do Senhor não havia mudado enquanto o povo esteve acampado na fronteira da bênção. Deus afirmara a Moisés e ao povo, repetidas vezes, que Ele seria fiel em dar-lhes a terra prometida. Mas o povo duvidou.

Quando ignoramos a presença e o poder do Senhor, na análise de um desafio, o pânico nos atinge e adiamos uma ação ou decisão urgente e significativa. O que Deus prometeu na claridade, questionamos na escuridão. Segundo a Sra. Ellen G. White, os israelitas “em sua incredulidade limitaram o poder de Deus, e não confiaram na Mão que até ali os guiara com segurança” — Patriarcas e Profetas, pág. 406.

Procrastinação é, geralmente, a alternativa do hesitante pusilânime.

2. A visão do medo

Os israelitas usaram a capacidade dada por Deus para formar um quadro pior do que realmente era. A confissão da derrota foi expressa nas palavras da maioria: “E éramos aos nossos olhos como gafanhotos, e assim também o éramos aos seus olhos” (Núm. 13:33). Ou seja, a imagem que faziam dos filhos de Enaque era distorcida, e a imagem que tinha de si mesmos, depreciativa. Tornaram-se o que eles pareciam aos seus próprios olhos. Gafanhotos impotentes e insuficientes. “Aqueles que não estiveram dispostos a abandonar todo o pecado e buscar fervorosamente a bênção de Deus, não a terão” — Idem, pág. 218.

3. Influência perniciosa

O medo dos dez espias apelou para o medo da nação inteira. Espalhou-se por todo o povo de Israel, deixando a nação prostrada.

Quando você e eu damos um passo em retrocesso, em lugar de enfrentarmos os desafios corajosamente, espalhamos essa disposição de espírito entre os membros da igreja, amigos e companheiros de aventura em Cristo. Precisamos absorver o exemplo de Calebe, à medida em que levamos outros a perseverar.

O Senhor provê os meios para a execução de tudo aquilo que nos ordena fazer. “A vereda da integridade não é isenta de obstáculos, mas em cada dificuldade devemos ver um chamado à oração.” — O Desejado de Todas as Nações, pág. 498.

4. A perda das bênçãos

O povo de Israel disse “não” às promessas de Deus. Mesmo após todas as evidências dos milagres divinos e de Sua provisão para a vitória, eles desejaram retornar ao Egito.

Como resultado, a maior parte da geração israelita que seguiu o relato da maioria procrastinadora, jamais viu a Terra Prometida, sendo forçada a vaguear no deserto durante mais trinta e oito anos, até que Josué e Calebe ofereceram nova-mente uma oportunidade de entrar na Terra para possuí-la.

Muitos líderes cristãos vivem como num deserto, sem espírito de aventura, impo-tentes, frios, sem a plenitude do poder de Cristo. Estão sempre dando um passo atrás nos desafios em que poderiam obter sucesso.

Qual é a nossa experiência como guias da Igreja? Temos verdadeiramente ousado em nossos planos e ideais? Na Missão Global? Ou seguimos o exemplo do povo de Israel no passado?

“Se todo soldado de Cristo houvesse cumprido seu dever, o mundo já poderia ter ouvido a mensagem de advertência. Enquanto os homens têm dormido, Satanás se nos há adiantado furtivamente” — Testemunhos Seletos, vol. 3, pág. 297.

Unamo-nos ao relatório da minoria. Juntamente com Calebe, vamos entrar e possuir a nossa Terra Prometida. “Subamos, e possuamos a terra, porque certamente prevalecemos contra ela” (Num. 13:30).