O Egito é sempre citado pelos historiadores como o primeiro país a crer e ensinar a imortalidade da alma, e praticar ritos relacionados com a vida além túmulo.

A mais notável descoberta arqueológica dos últimos tempos foi, sem dúvida, a de 2 barcos de madeira de cinqüenta pés, cavados na rocha de uma profunda câmara mortuária, nas proximidades da Grande Pirâmide. Concluíram os estudiosos que essas naves originais foram ali propositadamente enterradas, há uns quatro mil anos ou talvez mais, a fim de serem utilizados após a morte, pelo rei Kufu, ou Keops, construtor da Grande Pirâmide. De acôrdo com a crença dos antigos egípcios, a alma deixa o corpo por ocasião da morte, e aquêles barcos foram estratègicamente colocados perto do túmulo do rei, a pirâmide, de modo a servir em condução para que sua alma pudesse viajar através das regiões celestes, servindo um dos barcos para a viagem diurna e o outro para a viagem noturna, até juntar-se ao deus-sol Ra e outras divindades.

Os jornais e revistas do mundo inteiro deram destaque a essa notícia, pois as descobertas arqueológicas sempre lançam luz sôbre os costumes e crenças dos povos antigos, e essas peças encontradas pelos escavadores estão sendo de grande valor para o estudo das antigas civilizações. Seria ocioso dizer que êste precioso achado veio corroborar a procedência pagã da crença na imortalidade inerente de uma alma que sobrevive ao corpo. Keops, faleceu, porém os seus navios lá permaneceram no subterrâneo, sem serem utilizados, pois o rei-arquiteto, bem como outros faraós que estão em suas múmias, nas tumbas ou nos museus, não saiu ainda de sua casa mortuária, aguardando o despertar da ressurreição.

O célebre “Livro dos Mortos” — ritual necrológico dos egípcios destinado às almas — na sua primeira parte reitera a idéia de “viver outra vez depois da morte, e ter nascido outra vez como o Sol.” Na tradução feita pelo erudito Adolpho Birch, lemos: “Os mortos vivem de nôvo após a morte.” (pág. 183). E “Osíris vive após morrrer, como o Sol diàriamente; porque como o Sol morreu e nasceu ontem, assim nasceu Osíris.” (pág. 164).

Inscrições dos monumentos egípcios, denominam o caixão mortuário de “caixão dos vivos”.

O renomado egiptólogo francês Gastão Maspero, que empreendeu o desatêrro das pirâmides, na publicação “Resumo dos Trabalhos” (Recueil de Travaux), nos informa de muitas inscrições existentes nas paredes mais interiores das pirâmides localizadas a doze milhas ao sul de Cairo. Reproduzimos algumas ipsis verbis: “Ó Unas, fôste levado pela morte, mas vives.” — “Ó Rá, teu filho vai a ti, êste Unas vai a ti.” —“A vida de Unas é duração; seu período é eternidade.” — “Teti é o morto que vive.” — “Levanta-te, ó Teti, para não morreres mais.” — “Ó Pepi, não morres mais.” — “Êles (os deuses) tornam-te feliz através de tôda a eternidade.” — “Aquêle que te deu vida e eternidade é Rá”. — “Reunido a tua alma, tomas o lugar entre as estrêlas do céu.” — “A alma é tua, dentro de ti”.

Centenas de outras inscrições do mesmo teor puderam ser lidas.

O Dr. Howard Osgood, em um trabalho publicado na revista “Hebrew Student”, em fevereiro de 1885, sob o título “A Ressurreição entre os Egípcios”, cita a seguinte inscrição dos monumentos: “Osíris, o filho dos deuses, veio viver na Terra. Sua vida foi um modêlo para os outros. Êle foi morto pelo deus do mal, mas readquiriu o seu corpo, viveu de nôvo, e tornou-se no outro mundo o juiz de todos os homens”.

Como se percebe, criam na existência de uma entidade invisível, fluídica e imponderável, que se desprendida do corpo e escalava as alturas, e que Osíris ressuscitara. Fácil é de ver como tão errôneos conceitos escatológicos teriam influído noutros povos e nos próprios israelitas durante o cativeiro. Que essas crenças estavam sendo adotadas pelos hebreus cativos, provam as severas e reiteradas proibições de práticas necromânticas mencionadas no Pentateuco. E que tais concepções são infensas à revelação divina, se demonstra pela formal profligação vinda do próprio Deus, em declarações inequívocas que porejam nos livros da Escritura.

Não resta a menor dúvida: a crença na existência de “almas” e “espíritos” como entidades que são o homem real, bem como o atributo de terem vida própria e infindável, veio do paganismo. A igreja verdadeiramente de Cristo não pode crer em tais erros.

Objeção sem Fundamento

Os crentes da imortalidade natural costumam citar S. Mateus 14:26, realçando a expressão de espanto dos discípulos: “É um fantasma!” Afirmam que “fantasma” era “espírito desencarnado”. Ora, isso é avançar o sinal, de vez que o grego “phantasma” se traduz com mais propriedade por “aparição”. Sôbre isso há o insuspeito comentário de Broadus (batista), em seu livro sôbre S. Mateus, volume II, pág. 56: “Os discípulos criam em aparições, como também os judeus (excetuando-se os saduceus), e tôdas as nações parecem naturalmente inclinadas a essa crença. A opinião dos apóstolos, naquele tempo, não tem autoridade para nós, uma vez que êles ainda nutriam muitas noções errôneas, das quais só foram libertados pela subseqüente inspiração do Confortador que lhes fôra prometido.”