Um desvio da rota prevista resultou no surgimento de uma nova igreja

Em 1996, depois de concluir o curso teológico na Faculdade Adventista da Bahia, fui chamado para pastorear o distrito de Ibotirama, no Oeste baiano. Em um determinado fim de semana, após ter visitado uma congregação, eu estava pronto para voltar para casa. Estranhamente, uma irmã insistiu para que eu desviasse da rota costumeira e voltasse por um povoado chamado Mulungu, a fim de visitar uma senhora que, segundo ela, estava interessada na mensagem adventista. Os habitantes de Mulungu, em sua maior parte, descendem de escravos e aquela irmã viu em mim a possibilidade de mais fácil aproximação daquelas pessoas.

Era segunda-feira. Eu estava cansado, não tinha automóvel e dependia de outros meios de transporte. Na verdade, o que eu mais desejava era chegar em casa e estar com minha família. Porém, a insistência da irmã foi tão grande que resolvi atendê-la e fazer a visita. Havia somente dois ônibus que iam para Mulungu. Um deles seguia direto. O outro passava por outra localidade chamada Velame. Tomei este ônibus, imaginando que fosse o da primeira rota.

Pensando ter chegado em Mulungu, comecei a procurar a senhora. Tinha o seu apelido (Dudinha), mas ninguém a conhecia. Depois de muita procura, já cansado e desanimado de tanto andar, resolvi ir embora. Contudo, ao me dirigir ao ponto de ônibus, um homem que se encontrava em um bar, me chamou e disse: “Ouvi quando o senhor perguntou por alguém daqui, chamada Dudinha. Não conheço ninguém aqui com esse nome, mas conheço uma senhora que se chama Tudinha.” Então, me deu informações sobre como encontrá-la, e eu decidi continuar a busca. Encontrei-a em sua casa, e ela me falou a respeito de uma irmã carnal, conhecida como Santinha, adventista que, havia pouco tempo, chegara de São Paulo e, juntamente com o esposo, desejava estabelecer ali uma igreja adventista.

Oração de fé

Fomos à casa de Santinha. Anunciamo-nos e, ao nos aproximamos, percebi que ela orava em voz alta junto a uma árvore. Dizia: “Senhor, manda-nos um obreiro bíblico, um pastor, um colportor ou algum irmão adventista fiel para realizar Tua obra aqui em Velame. O Senhor conhece nossos objetivos, ao voltarmos para este lugar. Ouve nosso clamor!” Terminada a oração, fui apresentado à irmã Santinha e nossas lágrimas de gratidão se confundiram naquele momento.

Naquele mesmo dia, à noite, foi realizada a primeira reunião evangelística naquela casa. Vizinhos e conhecidos foram convidados e estavam presentes. Outras reuniões foram realizadas e, posteriormente, o grupo foi organizado ali mesmo. Aproximadamente um ano depois, fui transferido, mas as possibilidades evangelísticas da região e sua configuração geográfica levaram a liderança do Campo a dividir o distrito e colocar um pastor mais perto de Velame. Uma campanha evangelística foi realizada pelo Pastor Edilson Alves do Amor Divino e, atualmente, temos uma linda e florescente igreja em Velame. Quanto a Mulungu, esforços para estabelecimento de uma congregação continuam sendo envidados e, certamente, o Senhor os frutificará.

Experiência marcante

Esse acontecimento marcou minha vida e meu ministério. Às vezes, quando as dificuldades parecem intensificar-se diante de mim, Deus me faz lembrar essa experiência, garantindo-me que está sempre ao leme. Não devo hesitar. Nenhum de nós, pastores, deve fazê-lo em circunstância nenhuma; não fomos chamados a uma tarefa qualquer, por um líder qualquer. Estamos sob ordens celestiais.

O casal de missionários, João e Santinha, também marcou minha vida. Jamais esquecerei esses irmãos. Ambos trabalharam muito tempo em São Paulo, já estavam aposentados, poderiam ter decidido acomodar-se onde estavam, mas a paixão missionária os levou de volta às suas origens com o objetivo de pregar o evangelho à sua gente.

Deus ouve as orações sinceras de pessoas desejosas de cumprir a missão, confiantes em Suas promessas. Ellen White diz: “Ministros de Deus, com o coração ardendo de amor para com Cristo e seus semelhantes, busquem despertar os que se acham mortos em ofensas e pecados… Que suas fervorosas orações lhes enterneçam o coração, levando-os em arrependimento ao Salvador.” – Evangelismo, pág. 22.

O Senhor está no controle da nossa vida. Sabe perfeitamente em que direção nos conduz e por quais caminhos o faz. Ele ouve nossas preces e as atende. Que precioso conforto!

Jaime Bonfim Barreto, pastor na Missão Bahia Central