Pergunta 12

Muitos cristãos têm a impressão de que os adventistas do sétimo dia são legalistas por ensinarem que é necessário guardar a lei a fim de sermos salvos. Qual é a exata posição adventista para com a lei? E como vossa crença se compara à posição histórica protestante?

A posição adventista do sétimo dia em relação aos Dez Mandamentos é apresentada sucintamente em nossa declaração de Crenças Fundamentais, parte 6, que assim reza:

6. Que a vontade de Deus relativamente à conduta moral se acha compreendida em Sua lei dos Dez Mandamentos; que êstes são grandes preceitos morais, imutáveis, obrigatórios a todos os homens, em tôdas as épocas. Êxo. 20:1-17.

Os Dez Mandamentos proferidos por Deus no Monte Sinai são distintos de todos os demais preceitos divinos registrados na Bíblia, pela sua própria natureza e pela forma como foram entregues. Em si mesmos contêm a prova de seu caráter per-manente. A natureza moral do homem a êles corresponde com aprovação, e é impossível a um cristão esclarecido supor que não estejam em vigor, enquanto Deus fôr Deus e o homem, criatura moral.

Vista corretamente, a lei moral é muito mais do que um código legal; é um transcrito do caráter de Deus. Diz A. H. Strong, teólogo batista:

A lei de Deus é, por conseguinte, simplesmente uma expressão da natureza divina em forma de reivindicações morais (Sal. 19:7; cf 1). Todos os homens testemunham a existência desta lei. Mesmo a consciência dos pagãos a testifica (Rom. 2:14 e 15). Os que têm a lei escrita reconhecem esta lei básica como a de maior extensão e penetração (Rom. 7:14;  8:4). A perfeita concretiza

ção e o perfeito cumprimento desta lei são vistos unicamente em Cristo (Rom. 10:4; Fil. 3:8 e 9). — Systematic Theology, pág. 538.

Ellen G. White expressou estas verdades em palavras ligeiramente diferentes:

A lei de Deus é tão sagrada como Êle próprio. É uma revelação de Sua vontade, uma transcrição de Seu caráter, expressão do amor e sabedoria divinos. A harmonia da criação depende da perfeita conformidade de todos os sêres .. . com a lei do Criador. — Patriarcas e Profe-tas, pág. 52.

A divina beleza do caráter de Cristo, de quem o mais nobre e mais suave entre os homens não é senão um  pálido reflexo; de quem Salomão, pelo Espírito de inspiração escreveu: “Êle traz a bandeira entre dez mil. Sim, Êle é totalmente desejável’ (Cantares de Salomão 5:10-16); de quem Davi, vendo-O em profética visão, disse: “Tu és mais formoso do que os filhos dos homens” (Salmo 45:2); Jesus, a expressa imagem da pessoa do Pai, o resplendor de Sua glória, o abnegado Redentor, através de Sua peregrinação de amor na Terra, foi uma viva representação do caráter da lei de Deus. Em Sua vida se manifesta que o amor de origem celeste, os princípios dos cristãos, fundamentam as leis de retidão eterna. — O Maior Discurso de Cristo, pág. 50.

Para a compreensão exata e completa do que Deus tem em mira com Sua lei moral, precisa o cristão volver-se para Cristo. É Êle quem habilita a alma nascida de nôvo a viver nova vida. Esta é, de fato, a permanência de Cristo em seu coração, e daí o crente, pela sua submissão a seu Senhor, corporifica no coração e na vida os princípios do caráter de Deus.

A posição adventista em relação aos Dez Mandamentos com a salvação é exposta nas “Crenças Fundamentais dos Adventistas do Sétimo Dia”, parágrafo 8:

Que a lei dos Dez Mandamentos revela o pecado, cuja penalidade é a morte. A lei não pode salvar do pecado o transgressor, nem lhe comunicar poder que o guarde de pecar. Com infinito amor e misericórdia Deus provê um meio pelo qual isso se torna possível. Depara um substituto, o próprio Cristo, o Justo, para morrer em lugar do homem — “Aquêle que não conheceu pecado, O fêz pecado por nós; para que nÊle fôssemos feitos jus-tiça de Deus.” II Cor. 5:21. O homem é justificado, não pela obediência da lei, mas pela graça que há em Cristo Jesus. Aceitando a Cristo, é êle reconciliado com Deus, justificado por Seu sangue quanto aos pecados cometidos no passado, e salvo do poder do pecado pela permanência de Sua vida nêle. Assim o evangelho se toma “o poder de Deus para salvação de todo aquêle que crê”. Êste processo é efetuado pelo agente divino que é o Espírito Santo, o qual convence o homem do pecado e o conduz Àquele que levou sôbre Si os pecados, introduzindo o crente na comunhão do nôvo concêrto, sob o qual a lei de Deus lhe é escrita no coração, e pelo poder que lhe comunica o Cristo que nêle habita, sua vida é posta em conformidade com os preceitos divinis. A honra e mérito dessa maravilhosa transformação pertencem unicamente a Cristo. I S. João 3:4; Rom. 7:7; Rom. 3:20; Efés. 2: 8-10; I S. João 2:1 e 2; Rom. 5:8-10; Gál. 2:20; Efés. 3:17 e Heb. 8:8-12.

E isto está em plena harmonia com o que é ensinado nas históricas confissões de fé:

Catecismo Valdense (c. 1500) e a Confissão dos Valdenses (1655) citam os Dez Mandamentos e a Oração do Senhor como “fundamentos de nossa fé e de nossa devoção.” E mais: “A fé viva consiste em crer em Deus, ou seja, amá-Lo e guardar Seus mandamentos.” (Schaff, The Creeds of Christendon, vol. 1, págs. 572, 573 e 575; Vol. 3, págs. 757 e 768.)

Pequeno Catecismo de Lutero (1529), depois de citar os Dez Mandamentos, conclui: “Devemos, portanto, amá-Lo e confiar nÊle, e jubilosamente obedecer-Lhe os mandamentos.” (Schaff, vol. 3, pág. 77.)

Catecismo Heidelberg (1563), o mais popular de todos os símbolos da Reforma, (e o primeiro a ser introduzido em solo americano) entre as igrejas reformadas da Holanda e da Alemanha (Idem, vol. I, pág. 549), depois de extensa série de perguntas sôbre o Decálogo, declara que os Dez Mandamentos são rigorosamente ordenados para que possamos “buscar com mais zêlo o perdão dos pecados e a justiça em Cristo”; e “transformar-nos mais e mais à imagem de Deus.” (Idem, Vol. 3, págs. 340-349.)

Fórmula de Concórdia (luterana, datada de 1576) afirma que os cristãos estão livres da “maldição e sujeição da lei” mas não da lei em si mesma. Sôbre êstes Dez Mandamentos devem êles meditarem dia e noite, e “exercitarem-se continuamente na guarda dêles.” Condena como “falsa e perniciosa” a idéia de que o Decálogo não é a norma de justiça para o cristão. (Idem, págs. 130-135.)

Confissão Escocêsa de Fé (1560), artigo XV, destaca a perfeição da lei e a imperfeição do ho-mem (idem, págs. 456 e 457).

Catecismo Menor de Westminster (1647), adotado pela Igreja da Escócia em 1648, pelo sínodo Presbiteriano de Nova York e Filadélfia em 1788, e por quase tôdas as igrejas calvinistas, presbiterianas e congregacionais. É a mais adotada que qualquer outra, exceto o Pequeno Catecismo de Lutero e a Confissão de Heidelberg (id. pág. 676). Declara que os Dez Mandamentos, ou lei moral, revela o dever que Deus requer do homem. E acrescenta: “Estamos ligados à guarda de todos os Seus mandamentos.” (Idem, págs. 678, 684 e 685.)

Confissão Batista de New Hampshire (1833), aceita pelos Estados do Norte e do Oeste dos EE. UU. Artigo XII, “Da Harmonia da Lei com o Evangelho,” declara que a lei de Deus é “a eterna e imutável regra de Seu govêrno moral,” e que devemos, por meio de nosso Mediador, “sincera obediência à santa Lei,” como um dos grandes fins do evangelho. (Idem, pág. 746.)

Além disso, os adventistas partilham com milhares de homens eminentes de várias confissões religiosas — Calvino, Wesley, Clarke, Barnes, Spurgeon, Moody, G. Campbell Morgan, Henry Clay Trumbull, Billy Graham — na crença da perpetuidade da lei moral de Deus que são os dez mandamentos, e em estarem em vigor em tôdas as dispensações, como se pode confirmar por estas citações:

CALVINO — Eterna Regra de Vida. — Não devemos supor que a vinda de Cristo nos tenha livrado da autoridade da lei; pois ela é a eterna regra de uma vida santa e devota, e é, portanto, tão imutável como a justiça de Deus, que ela abrange de modo constante e uniforme. — Commentary on a Harmony of the Evangelists (1845), vol. I, pág. 277.

WESLEY — Permanece em vigor. — Mas a lei moral contida nos dez mandamentos, e aplicada pelos profetas, Êle não aboliu. Não era objetivo de Sua vinda revogar qualquer parte dela. Trata-se de uma lei que jamais pode ser violada, que “permanece como fiel testemunha no Céu.” A lei moral assenta-se em fundamento diferente daquele em que repousa a lei cerimonial ou ritual. . . . Tôdas as partes desta lei permanecem em vigor sôbre tôda a humanidade, em tôdas as épocas; não depende de lugar, ou quaisquer outras circunstâncias sujeitas a alteração, mas sim da natureza de Deus e da natureza do homem, e suas imutáveis revelações recíprocas. — Sermons on Several Occasions, vol. I, págs. 221 e 222.

MORGAN — Obediência Pela Fé. — É sòmente quando a graça capacita o homem a guardar a lei, que êles ficam livres dela; assim como o’ homem que vive de acôrdo com as leis do país está livre de ser prêso. Deus não põe de lado a lei, mas encontrou uma maneira pe-la qual o homem pode cumpri-la, e assim esteja livre dela. — The Ten Commandments (1901), pág. 23.

SPURGEON — A Lei de Deus é Perpétua. — Grandíssimos erros se têm cometido acêrca da lei. Não há muito havia ao nosso redor os que afirmavam estar a lei totalmente abrogada e abolida, e ensinavam abertamente que os crentes não estavam na obrigação de fazerem da lei moral a regra de suas vidas. O que teria sido pecado em outros homens, êles não consideravam pecado em si mesmos. De um antinominianismo como êste Deus nos livre . . .

A LEI DE DEUS TEM QUE SER PERPÉTUA. Não há nela nenhuma abrogação nem emenda. Deve ser ajustada à nossa condição de sêres caídos; mas cada um dos juízos justos de Deus permanece para sempre. . . .

Eis que alguém me diz: “Olhe, em lugar dos dez mandamentos recebemos dois, e êstes são mais fáceis de guardar.” Respondo que esta compreensão da lei não é, de modo nenhum, mais fácil. Esta interpretação denota falta de conhecimento e de experiência. Êsses dois mandamentos abrangem os dez em sua mais plena extensão, e não podem ser considerados como exclusão de um jota ou til daqueles. . ..

Cristo, pois, não abrogou ou mesmo enfraqueceu a lei em vir de encontro à nossa fragilidade; manteve-a em tôda a sua sublime perfeição, como sempre deve ser deixada, e demonstrou quão profundos são seus funda-mentos, quão elevadas suas alturas, quão imensuráveis seu cumprimento e largura. . ..

Para mostrar que Êle jamais pretendeu abrogar a lei, nosso Senhor Jesus exemplificou em Sua vida todos os seus mandamentos. Em Sua própria Pessoa havia uma natureza perfeitamente conformada com a lei de Deus; e como era Sua natureza, também o era Sua vida. Podia dizer: “Quem de vós me convence de pecado?” e acrescentar: “Tenho guardado os mandamentos de Meu Pai e permaneço em Seu amor.” . . .

Por meio de Sua morte vindicou Êle a honra do govêrno moral de Deus, e o fêz por iniciativa própria, para ser misericordioso. Quando o próprio legislador Se submete à lei, quando o próprio Soberano suporta a extrema punição dessa lei, então é a justiça de Deus posta num trono glorioso e exaltado para que todos os mundos admirados possam maravilhar-se à vista dela. Se, pois, está claramente provado que Jesus foi obediente à lei, até ao ponto de morrer, certamente Êle não veio para aboli-la ou abrogá-la; e se Êle não a mudou, quem pode fazê-lo? Se Êle declara que veio para estabelecê-la, quem a subverterá? . . .

A lei é absolutamente completa, e nada podeis acrescentar a ela ou tirar dela. “E qualquer que guardar tôda a lei, e tropeçar num só ponto, toma-se culpado de todos. Porque Aquêle que disse: ‘Não cometeras adultério, também disse, Não matarás. Se tu pois não cometeres adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei.” Se, portanto, nenhuma parte dela pode ser desfeita, ela permanece, e permanece para sempre. — The Perpetuity of the Law of God, publicado no Spurgeon’s Expository Encyclopedia, por Baker.

BILLY GRAHAM — Permanente e Imutável — A palavra “Lei” é empregada pelos escritores do Nôvo Testamento em dois sentidos. Às vêzes refere-se à lei cerimonial do Velho Testamento, que diz respeito a matéria ritualística e regulamentos sôbre alimentos, bebidas e coisas dessa espécie. Desta lei os cristãos estão, de fato, livres. Mas o Nôvo Testamento fala também da lei moral, que é de caráter permanente e imutável e se acha sumariada nos Dez Mandamentos. — Associated Press Dispatch, Chicago Tribune Syndicate.

MOODY — Lei Eterna: Obedecida Com Amor no Coração. — A pergunta a cada um de nós é: Estamos guardando-os (os mandamentos)? Se Deus nos pesar por êles, seremos ou não achados em falta? Guardamos a lei, tôda a lei? Estamos obedecendo a Deus de todo o coração? Prestamos-Lhe plena e espontânea obediência?

Êstes dez mandamentos não são dez leis diferentes; são uma só lei. Se me acho suspenso no espaço por uma corrente de dez elos, e quebro um dêles, venho abaixo, tão certamente como se quebrasse todos os dez. Se estou proibido de sair de um terreno cercado, não faz diferença o ponto em que posso romper a cêrca. “Todo aquêle que guardar tôda a lei e tropeçar num só ponto, tornou-se culpado de todos.” “A cadeia dourada da obediência se rompe se faltar um elo.” . . .

Por mil e quinhentos anos o homem estêve debaixo da lei, e nenhum se igualou a ela. Cristo veio e demonstrou que os mandamentos estavam além da mera letra; e pode alguém, depois disso, dizer que é capaz de guardá-la em sua própria fôrça? . ..

Posso imaginar o que estais dizendo a vós mesmos: “Se devamos ser julgados pelas leis, como devemos ser salvos? Cada um de nós tem quebrado uma delas — se não na letra pelo menos no espírito.” E quase vos oiço dizer: “Gostaríamos de saber se o Sr. Moody se acha preparado para ser pesado. Gostaria êle de passar por êsses testes?”

Com tôda humildade respondo que se Deus me ordenou a entrar nos pratos da balança agora, estou preparado.

“Como!” direis, “não tendes quebrado a lei?”

Sim, quebrei-a. Era, diante de Deus, um pecador co-mo vós; mas há quarenta anos, confessei-me culpado diante de Seu tribunal. Clamei por misericórdia, e Êle me perdoou. Se eu entrar nos pratos da balança, o Filho de Deus prometeu estar comigo. Não ouso entrar lá sem Êle. Se o fizesse, quão depressa os pratos se ergueríam!

Cristo guardou a lei. Se Êle a tivesse violado, teria que morrer por Si próprio; mas como era o Cordeiro sem mancha ou culpa, Sua morte expiatória é eficaz para vós e para mim. . . . Cristo é o fim da lei para a justiça a todo o que crê. Somos justos à vista de Deus devido à Sua justiça, que, pela fé em Jesus Cristo, é para todos e sôbre todos os que creêm . . .

Se o amor de Deus é derramado sôbre vosso coração sereis capazes de cumprir a lei. — Weighed and Wanting (Pesado e Achado em Falta) págs. 119-124.

“MOODY MONTHLY” — Cristo Ampliou o Objetivo da Lei. — Há alguns anos passados pu-blicou-se uma série de artigos na revista Moody Bible lnstitute Monthly (Mensário do Instituto Bíblico Moody) sob o título geral “Estão os Cristãos Livres da Lei?” Declara o autor logo no primeiro artigo: “Vejamos agora como a lei moral é realçada, ampliada e vigorada em todos os seus pormenores no Nôvo Testamento.” Demonstra como Cristo e os apóstolos trataram dela:

Longe de anular qualquer dos Dez Mandamentos, Êle (Cristo) ampliou-lhes o escopo, ensinando que um pensamento irado ou palavra amarga violava o sexto mandamento, e um olhar lascivo violava o sétimo (S. Mat. 5:21, 22, 27 e 28).

O ensino dos apóstolos sob a inspiração do Espírito Santo, é ainda mais enfático e explícito concernente ao escopo e obrigações da lei moral. — Moody Bible lnstitute Monthly, outubro de 1933.

DISTINÇÃO ENTRE O DECÁLOGO E A LEI CERIMONIAL

Pergunta 13

Em que base os adventistas do sétimo dia consideram como separadas a “lei moral” e a “lei cerimonial”, em vista daquilo que nosso Senhor cumpriu na cruz do Calvário?

Verificamos que há amplas bases bíblicas para fazer-se esta distinção. Os Dez Mandamentos, ou o Decálogo, constituem, em princípio, a eterna lei de Deus. Esta lei não é apenas eterna, mas imutável. É o fundamento de Seu trono; é a expressão de Seu caráter. Desde que ela representa Seu caráter — ou aquilo que o próprio Deus é — cremos que é eterna como o eterno Deus.

Esta idéia pode ser vista nos seguintes atributos inerentes a Deus e em Sua lei:

Deus éSua lei é
JustoEsdras 9:15JustiçaSal. 119:172
PerfeitoS. Mat. 5:48PerfeitaSal. 19:7
SantoLev. 19:2SantaRom. 7:12
BomSal. 34:8BoaRom. 7:12
VerdadeDeut. 32:4VerdadeSal. 119:142

Conquanto isso seja exato em relação à eterna lei de Deus como se acha expressa no Decálogo, não o é em relação à lei cerimonial que Deus deu a Israel. Esta lei compreende os tipos e sombras, diz respeito ao sistema sacrifical de Israel. Tôdas as ofertas sacrificais, dias festivais, e mesmo o sacerdócio — tudo que fôsse típico do sacrifício e ministério de Cristo nosso Senhor —encontraram seu fim na cruz do Calvário. Isto, cremos, é que o apóstolo expressou ao escrever que Cristo “na Sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças” (Efés. 2:15).

“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz.” Col. 2:14.

Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” verso 17).

A distinção entre a lei moral de Deus — o Decálogo — e a lei cerimonial pode ser vista nos seguintes fatos:

O Decálogo

  • 1. Proferido pelo próprio Deus. Êxo. 20:1 e 22.
  • 2. Escrito por Deus. Êxo. 31:18; 32:16.
  • 3. Sôbre pedras. Êxo. 31:18.
  • 4. Entregue por Deus, seu autor, a Moisés. Êxo.31: 18.
  • 5. Depositado por Moisés “dentro da arca”. Deut. 10:5.
  • 6. Trata de preceitos morais. Êxo. 20:3-17.
  • 7. Revela o pecado. Rom. 7:7.
  • 8. A trangressão “da lei” é “pecado” I S. João 3:4.
  • 9. Deve ser “guardada tôda a lei.” Tiago 2:10.
  • 10. Devemos “ser julgados” por esta lei. Tiago 2:12.
  • 11. O cristão que guarda esta lei é bem-aventurado no seu feito.” Tiago 1:25.
  • 12. “A perfeita lei da liberdade” 12. Tiago 1:25 (Cf. Tiago 2:12.)
  • 13. Estabelecida pela fé em Cristo. Rom. 3:31.
  • 14. Cristo devia “honrar a lei e torná-la gloriosa.” Isa. 42:21.
  • 15. “Sabemos que a lei é espiritual.” Rom. 7:14 (cf. verso 7).

A Lei Cerimonial

  • 1. Proferida por Moisés. Êxo. 24:3.
  • 2. Escrita por Moisés. Êxo. 24:4; Deut. 31:9.
  • 3. Num livro. Êxo. 24:4 e 7; Deut. 31:24.
  • 4. Entregue por Moisés, seu autor, aos levitas. Deut. 31:25 e 26.
  • 5. Depositada pelos levitas “ao lado da arca.” Deut. 31:26.
  • 6. Trata de assuntos cerimoniais e rituais. (Ver partes de Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.)
  • 7. Nenhum pecado em sua transgressão, pois agora está “abolida.” Efés. 2:15. (“Onde não há lei, não há transgressão”. Rom. 4:15).
  • 8. Os apóstolos não deram “nenhum mandamento” para “guardar a lei.” Atos 15:24.
  • 9. Não devemos ser julgados por ela. Col. 2:16.
  • 10. O cristão que guarda esta lei é “bem-aventurado (Ver, por exemplo, Gál. 5:1-6.)
  • 11. O cristão que guarda esta lei perde a liberdade: Gál. 5:1 e 3.
  • 12. Abolida por Cristo. Efés. 2:15.
  • 13. Cancelada “a cédula de ordenanças que era contra nós.” Col. 2:14.
  • 14. “A lei do mandamento carnal.” Heb. 7:16.

Deve-se também observar que as principais confissões de fé, e os credos históricos da cristandade, reconhecem a diferença entre a lei moral de Deus, os Dez Mandamentos, ou Decálogo, como separada e distinta dos preceitos cerimoniais. O que segue são alguns dêles:

Segunda Confissão Helvética (1566), da Igreja Reforma de Zurique, e um dos mais autorizados símbolos do Continente (Philip Schaff, The Ceeds of Christendom, vol. 1, págs. 391, 394 e 395), no capítulo 12 intitulado “Da Lei de Deus,” depois de contrastar as leis “moral” e “cerimonial”, diz a respeito daquela: “Cremos que tôda a vontade de Deus, e todos os preceitos necessários, para todos os deveres desta vida, são totalmente outorgados nesta lei” (não que devamos ser justificados por ela, mas que devemos volver a Cristo pela fé). Os tipos e figuras da lei cerimonial cessaram. “A sombra cessou quando veio o corpo,” contudo a lei moral não deve ser desdenhada ou rejeitada e todos os ensinos contrários à lei são condenados. (Ver Schaff, vol. 3, págs. 854-856.)

Trinta e Nove Artigos de Religião da Igreja da Inglaterra (1571). O Artigo VII declara que embora “a lei dada por Deus a Moisés” concernente a “cerimônias e ritos” não esteja em vigor, “nenhum cristão se acha livre da obediência aos mandamentos, denominados morais.” (Ver Schaff, vol. 3, págs. 491 e 492.)

Revisão Americana dos Trinta e Nove Artigos da Igreja Protestante Episcopal (1801) é idêntica à precedente. (Ver Schaff, vol. 3, pág. 816.)

Os Artigos Irlandeses de Religião (1615), que se admite terem sido compostos pelo arcebispo Ussher, depois de afirmar que a lei cerimonial foi abolida, conclui: “Nenhum cristão se acha livre de obediência aos mandamentos chamados morais.” (Ver Schaff, vol. 3, págs. 526 e 541.)

A Confissão de Fé de Westminster (1647), depois de mostrar a diferença entre as leis cerimonial e moral, a abrogação daquela e a perpetuidade desta, no capítulo 19 declara: “a lei moral obriga a todos para sempre,” não para justificação, mas como regra de vida, a fim de reconhecer o poder capacitador de Cristo. Esta lei continua a ser “uma perfeita regra de justiça.” E acrescenta: “Nem Cristo no evangelho de modo algum desfaz esta obrigação, mas a fortalece muito.” (Ver Schaff, vol. 3, págs. 640-644.)

A Declaração de Savóia das Igrejas Congregacionais (1658). Não há nenhuma alteração no capítulo 19, “De Lei de Deus,” extraído da Confissão de Westminster. (Ver Schaff, vol. 3, pág. 718).

A Confissão Batista de 1688 (Filadélfia), baseada na de Londres, de 1677, não apresenta nenhuma alteração da parte extraída da Confissão de Westminster no capítulo 19, “Da Lei de Deus.” Trata da distição entre as duas moral e cerimonial, e afirma que nenhum cristão está livre da obediência à lei moral. (Ver Schaff, vol. 3, pág. 738.)

Artigos Metodistas de Religião (1784). Êstes vinte e cinco artigos, redigidos por João Wesley para os metodistas americanos, são um resumo dos Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra, e declaram: “Embora a lei dada por Deus a Moisés, no que refere a cerimônias e ritos, não obriga os cristãos, e nem os preceitos civis necessitam ser recebidos em qualquer comunidade, contudo, nenhum cristão está livre da obediência aos mandamentos chamados morais.” (Ver Schaff, vol. 3, págs. 807 e 808.)

A conclusão de tudo que se mencionou atrás é, pois, clara: A posição mantida pelos adventistas do sétimo dia no que tange à relação com o Decálogo, e sua distinção entre as leis moral e cerimonial, é plenamente sustentada pelos principais credos, artigos de fé e catecismo do Protestantismo histórico. O conceito de que o Decálogo foi abolido pela morte de Cristo é relativamente recente. Certamente isto não estava na cogitação dos pais fundadores do Protestantismo, pois está em total conflito com a crença dêles.