(Conclusão)

No número passado relatamos a primeira parte de nossa palestra com Carlos R. Ausherman, diretor do Programa de Planejamento da Paternidade, dos Serviços Mundiais de Igreja. Para expor nosso ponto de vista, usamos declarações do Espírito de Profecia que apontavam a responsabilidade e as normas cristãs do marido e da esposa ao trazerem filhos ao mundo.

Ellen G. White salientava o fardo não só para os pais e as próprias crianças, mas para a sociedade em geral, se os maridos e as esposas aumentassem sua família sem tomarem providências quanto ao cuidado, alimentação, vestuário e educação dessas crianças. Êsse conceito de sobrecarregar a sociedade com filhos que não recebem os devidos cuidados, não era amplamente compreendido no tempo em que foi dado êsse conselho para o povo de Deus. Até mesmo na época atual a maioria dos habitantes da Terra se mostram insensíveis a êsses pensamentos.

A outra pergunta foi a seguinte: Como limitar o número de filhos? Que dizer do uso de meios anticoncepcionais como métodos legítimos para limitar o tamanho da família? Destinam-se as relações sexuais exclusivamente para finalidades de procriação? O Espírito de Profecia não fala diretamente a respeito do uso de meios anticoncepcionais. Setenta e cinco anos atrás, as considerações abertas acêrca dêsse ponto eram tabu. No entanto, são delineados definitivamente amplos princípios gerais, que proporcionam suficiente evidência para tirar uma conclusão prática.

“Excesso Sexual”

Em primeiro lugar, estabelecemos o princípio do planejamento da família. Êste princípio é claro e positivo. Depois então lemos para o Sr. Ausherman algumas declarações referentes às relações matrimoniais. Salientamos que Ellen G. White reiteradas vêzes deu ênfase ao fato de que o “excesso sexual” conta com a desaprovação divina. Notai algumas dessas declarações: “O excesso sexual destruirá com efeito o amor para com os cultos devocionais.” — O Lar Adventista, pág. 124. (Grifo nosso.)

Faz-se alusão à responsabilidade da esposa no sentido de possuir o seu corpo “em santificação e honra.” “Ela não pode aviltar seu corpo, cedendo a excessos sexuais.” — Idem, pág. 126. (Grifo nosso.)

E ainda mais: “Muitos pais não obtêm o conhecimento que deviam em sua vida matrimonial. Não se guardam para que Satanás não se aproveite dêles, controlando-lhes a mente e a vida. Não vêem que Deus requer que êles controlem sua vida matrimonial, evitando qualquer excesso.” — Testemunhos Seletos, Vol. 1, pág. 267. (Grifo nosso.)

“Uma Bênção Tem-se Feito Uma Maldição”

Deduz-se que se existe a possibilidade de excesso, certamente deve haver uma medida normal e correta de envolvimento sexual. Dizemos que a verdadeira temperança é o uso moderado das coisas boas e a abstinência total daquilo que é prejudicial. A possibilidade de excesso nas relações conjugais indica que o apropriado ato sexual pertence à categoria da-quilo que é bom.

A cuidadosa leitura de tôdas essas declarações de Ellen G. White no tocante ao “excesso sexual” não descobre uma só palavra ou insinuação de que as relações sexuais devam restringir-se à procriação. Ela estabelece um contraste entre paixões baixas e excessos sexuais, e a relação correta e apropriada.

Notai as declarações equilibradas nestes trechos referentes aos deveres e privilégios conjugais: “A alcova, onde anjos de Deus não podem estar presentes, é profanada por práticas perversas…. O que Deus deu como uma bênção tem-se feito uma maldição.” — O Lar Adventista, pág. 124. E ela afirma ainda mais: “Quando o espôso tem a nobreza de caráter, a pureza de coração, a elevação de espírito que cada cristão deve possuir, isto se revelará na associação matrimonial.” — Idem, pág. 125. Referindo-se a homens cuja paixão desenfreada os torna piores do que os brutos, ela declara: “Não conhecem os elevados, enobrecedores princípios do amor verdadeiro e santificado.” — Ibidem.

O Controle da Natalidade Não é Proscrito

Depois de ler essas declarações para o Sr. Ausherman, juntamos os dois conceitos — dos quais o primeiro, considerado no artigo anterior, dizia respeito à necesidade de planejamento da família; e o segundo tinha que ver com a moderação das relações sexuais dentro da estrutura do amor puro, genuíno e respeitoso.

Do ponto de vista bíblico, o conselho de Paulo em I Coríntios 7 indica que a procriação não é necessàriamente o objetivo da união sexual. O versículo 2 declara: “Cada um tenha a sua própria espôsa e cada uma o seu próprio marido.” A imoralidade não se baseia na tentação de ter filhos, mas antes na satisfação da paixão sensual da carne. Sendo assim, o ponto salientado por Paulo ao dizer que cada um tenha a sua própria espôsa e cada uma o seu próprio marido abrange, entre outras coisas, a satisfação de relações normais além das que dizem respeito à procriação.

Paulo salienta ainda mais êsse conceito nos versículos oito e nove: “Aos solteiros e viúvos digo que lhes seria bom se permanecessem no estado em que também eu vivo. Caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado.” Esta passagem não declara que é melhor casar do que ficar sem filhos!

No versículo 36, o apóstolo afirma ainda mais: “Se alguém julga que trata sem decoro a sua filha [“noiva” na Revised Standard Version], estando já a passar-lhe a flor da idade, e as circunstâncias o exigem, faça o que quiser. Não peca; que se casem.” Neste texto não há nada que ordene que as relações sexuais devem ter a finalidade de trazer filhos ao mundo.

Estaríamos forçando o sentido da Bíblia e dos escritos do Espírito de Profecia se declarássemos que a combinação dos dois princípios expostos pelo Espírito de Profecia, mais a admoestação de Paulo, não condenam métodos apropriados de controle da natalidade, que não prejudiquem a saúde da pessoa? Achamos que não!

O Casamento Não é Abrigo Para a Lascívia!

Indivíduos não consagrados poderão usar os trechos acima para defender a condescendência com a lascívia. Os que fizerem isso, estarão causando sua própria destruição. Paulo dá ênfase à terna e pura relação que deve existir entre marido e espôsa. “Os homens devem dar às esposas o amor que sentem naturalmente para com seu próprio corpo. O amor que um ornem dedica à esposa constitui a ampliação do amor que êle tem para consigo mesmo, para poder abrangê-la. Ninguém odeia ou negligencia seu próprio corpo; antes o alimenta e dêle cuida.” Efés. 5:25-27 — Versão Inglêsa de Phillips.

Pedro expõe o mesmo conceito. “Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, por isso que sois juntamente herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações.” I S. Ped. 3:7. Nenhum homem que se esforça por alcançar o reino de Deus permitirá que suas paixões sensuais exerçam o domínio na relação matrimonial. Amor verdadeiro não é sinônimo de paixão.

A compreensão dos princípios e do espírito que regem as legítimas relações sexuais implica respeito e autocontrole. Essa compreensão só pode provir mediante submissão diária à vontade de Deus. Quando o amor de Cristo se apodera tanto da mente do marido como da espôsa, o futuro promete mais íntima união física e espiritual, repassada de maiores alegrias e felicidades. Respeito próprio e dignidade são resultados adicionais dessa espécie de união. Quão poucos têm experimentado esta realidade em nosso mundo obcecado pelo sexo!

Por outro lado, se domina a egoísta paixão física, o inevitável resultado será descontentamento, desgôsto e aversão mútua. Muitos maridos e esposas estão fartos de se magoarem e ferirem de encontro às rochas da paixão selvagem. Não percebem que “pode-se encontrar no casamento paixão de tão baixa qualidade, como fora dêle” (O Lar Adventista, pág. 124).

Para que o marido e a espôsa palmilhem a vereda certa nas relações matrimoniais, é preciso que tenham santificado discernimento e autocontrole. Do mesmo modo que em outros aspectos da vida, o perigo do extremismo sempre está presente. Relações inocentes com facilidade podem ser canalizadas para os regos de desejos e práticas imoderados. A ênfase excessiva de mera união física pode conduzir à ruína. Amor genuíno é perfeito equilíbrio mental, físico e espiritual, mantendo-se constantemente alerta contra quaisquer excessos ou perversões. Certificai-vos de que o amor puro controle tôda ação do marido e da espôsa, tornando assim duradouro o benefício do matrimônio. “Se o amor provém da mente e do coração, bem como do corpo, sempre será sensível a qualquer elemento que o ameace; e sempre que o marido e a esposa tiverem a impressão de que sua união física não ocasiona mais profundo amor espiritual, e, sim, a sensação de saciedade e descontentamento mútuo, ou, pior ainda, de repugnância, êles precisam dar atenção ao sinal de perigo.

Quanto mais longe se mantiverem dessa experiência, maior será a segurança de seu amor. E quanto mais cultivarem a natureza espiritual e intelectual, maior será sua satisfação nos prazeres mútuos de seu enlace, e menos freqüentemente — até o devido limite — sentirão êles a atração física do sexo.” — The Home Physician, pág. 676.