Todo casalpode vencer suas diferenças, por maiores que sejam, e não permitir que
elas superem o amor que um dia os uniu
Certamente já ouvimos, em algum lugar, que “os opostos de atraem”. A frase não é nova e, muitas vezes, essa afirmação extraída do campo científico é utilizada para a aproximação de dois jovens que iniciam o período de namoro em direção ao casamento. Será essa uma afirmação verdadeira, quando relacionada à questão conjugal? Podemos fazer uso dela, em todos os sentidos, quando tratamos da união de um homem e uma mulher?
A experiência, tanto com casais jovens como com casais maduros, mostra que algumas diferenças entre um homem e uma mulher são fatores de aproximação. Especialmente entre os casais que estão iniciando a vida a dois. Já entre os casais maduros, algumas diferenças que persistem através do casamento, mal administradas, podem ser fatores de separação.
“Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tomando-se os dois uma só carne” (Gên. 2:24). Essa é a primeira e mais importante diferença entre os seres humanos. No casamento estabelecido por Deus, a diferença de gêneros é o principal fator de aproximação. Mu-danças no conceito de casal são estranhas ao plano proposto no Éden.
Em outras áreas também há diferenças que podem produzir união. Uma moça introvertida poderá sentir-se segura na presença de um rapaz extrovertido e vice-versa, por exemplo. Tais diferenças parecem produzir um senti-mento de complementação. Um procura no outro algo que lhe falta. E, quando se unem, se completam. Assim, podemos afirmar que as diferenças nessas áreas podem gerar resultados positivos.
São várias as áreas nas quais os aspectos negativos das diferenças podem influenciar um casamento. Diferenças culturais, sociais, econômicas, genéticas, raciais e religiosas estão no topo da lista. Nessas áreas não há campo natural para a união. Em todas elas é possível estabelecer um relacionamento estável, desde que alguém esteja disposto a ceder alguma coisa. O espírito de renúncia e de sacrifício pessoal deve ser bem mais evidente quando há diferenças nessas áreas.
Imaginemos uma moça, filha única, educada por seus pais com muito carinho e cuidados especiais. Desde peque-na, teve tudo o que gostaria de ter. Em tenra idade ainda, aprendeu a organizar-se dentro de casa, tendo cada coisa no seu próprio lugar, horário para cada atividade, etc.
Chega o período em que naturalmente será atraída a algum rapaz. Um dia, ele surge, atraente, simpático, determinado a conquistá-la. Finalmente encontram-se e enamoram-se um do outro. Contra isso, não há vacina. A química produzida pelos hormônios, tanto os femininos como os masculinos, entra em ação no tempo certo em cada corpo humano. Nenhum pai necessita dizer para os filhos: “a partir de hoje, você já pode gostar de alguém.” Isso é algo que vai acontecer naturalmente.
Mas, quem é “aquele rapaz”? De onde vem? Como foi criado? Inicialmente, o coração não presta atenção a esses detalhes. Mesmo com o aconselhamento dos pais e de educadores cristãos, além da leitura de bons livros sobre o assunto, alguns só acordam para os detalhes depois de estarem casados.
Bem, e o rapaz? Ele é o terceiro de uma família de cinco irmãos, todos homens. Criado em uma família simples, sem muitos recursos, mas que aprendeu com o amor ao trabalho a vencer na vida. Já não reside com os pais; divide um quarto com outros co-legas. Foi criado por uma mãe que sempre fazia as coisas em sua casa, sem a ajuda dos filhos. Talvez até porque achasse que deveres domésticos são assuntos femininos. Agora, morando com os amigos, os reflexos do tipo de orientação doméstica recebida na infância aparecem, mas ninguém se intromete na vida do outro. Cada um cuida das suas coisas.
Enfim, chega a ocasião do casamento, uma bela festa como todo jovem cristão sonha ter. Eles não têm outras diferenças acentuadas. São da mesma classe social, possuem a mesma cultura, professam a mesma religião, nada que aparentemente possa indicar um casamento destinado à catástrofe. Passam os dias românticos da lua-de-mel e, finalmente, começam a vida a dois em seu novo lar.
Começam a aparecer os detalhes não observados durante o namoro. Ela, acostumada a ver peças de vestuário guardadas em seus devidos lugares, o que vê agora? Sapatos, meias e peças íntimas espalhados pelo chão do quarto, pela sala, nas maçanetas das portas do quarto ou do banheiro. Vê toalhas estendidas no encosto das cadeiras ou sobre o parapeito das janelas.
A jovem esposa faz que não vê anormalidade alguma, nos primeiros dias. Nos próximos, tenta arrumar a bagunça masculina. Começa a reclamar com o sujeito desarrumado com quem ela decidiu viver a vida inteira na mesma casa. Ele diz que sempre viveu assim e, por sinal, muito bem. Ela insiste, depois de algumas discussões e semblantes fechados, ele promete que vai ajudar. Alguns dias depois, as meias sujas do esporte são esquecidas no chão do banheiro e, então… ninguém poderá prever como tudo isso vai terminar. Se não houver bom senso, pode terminar até em divórcio. Ela fala demais, ele nunca reclama. Ele nada faz para mudar de atitude. A razão do divórcio? Incompatibilidade de gênios.
Os gênios individuais até que poderiam ser incompatíveis, mas essa razão não existe. A razão para o desastre conjugal, nesse exemplo, está bem atrás. Muitos anos atrás, quando começou a educação doméstica do menino que agora é um homem casado. Por isso, Tomas Fuller afirmou, com muita propriedade: “Abre bem teus olhos antes do casamento; e conserva-os meio fechados depois de realizado.” – A Arte de Compreender Seu Cônjuge, pág. 195.
Para quem enfrenta dificuldades no casamento há consolo: não existe problema para o qual os dois não possam encontrar a solução, desde que a estejam buscando juntos.
Podemos contar como aprendemos a crescer juntos. Estávamos recém-casados, era nossa primeira semana após a lua-de-mel. Nossa casa era pequena, com poucos cômodos, mas era um ambiente que irradiava felicidade. Até que um dia, as diferenças, antes não percebidas, apareceram.
Naquela inesquecível primeira sexta-feira, antes do pôr-do-sol, a casa já estava arrumada. O banheiro estava tão limpo e cheiroso que até parecia uma suíte presidencial. Cada coisa es-tava no seu devido lugar. Mas, no chão, estavam dois tapetes de pano. Um em frente à pia; e o outro, na entrada para o box do chuveiro.
Quando a esposa viu aqueles tapetes, tão enroladinhos que pareciam terem acabado de chegar da loja, iniciou-se uma discussão que durou algumas horas de mau-humor, no primeiro início de sábado depois de casados, e posteriormente algumas palavras de perdão e reconciliação. Onde estava a raiz do problema? Nos tapetes do banheiro? Não. Ela estava lá atrás, muitos anos atrás, na maneira diferente em que cada um havia sido criado para os deveres domésticos e os cuidados do lar.
Daquele dia em diante, tomamos uma decisão importante. Venceriamos cada problema ajudando-nos mutuamente. Cada um procuraria enaltecer as virtudes do outro e tomá-las mais evidentes. Por outro lado, cada um ajudaria o outro a vencer seus defeitos. Dessa maneira, crescemos juntos. O segredo para vencer como casal cristão e pastoral é buscar o crescimento juntos. Hoje, vinte anos depois, já não há tantos tapetes no banheiro. Por outro lado, quando eles aparecem lá, sempre existe alguém que dá uma olhada antes de sair do local. Nada se compara com a alegria de ver um cônjuge feliz por causa de um ato de renúncia do outro.
Há uma frase que brotou da nossa experiência conjugal e costumamos usá-la no aconselhamento de noivos e jovens casais. Sempre a repetimos no momento de uma cerimônia de casamento: “Todo casal tem semelhanças e diferenças. As semelhanças e as diferenças podem unir ou separar. Não permitam que aquilo que os separa seja mais forte do que aquilo que os une.”
Devemos aprender a lidar com nossas diferenças culturais e educacionais, pois algumas delas só aparecem no convívio diário. Todo casal, por maiores que sejam suas diferenças, pode vencê-las e não permitir que elas sejam mais fortes que o amor que um dia os uniu. Não há poder no Universo mais forte que o amor. Ele tem sua origem em Deus e de Deus é transferido para as pessoas. O alimento que nutre o amor conjugal é composto pela solidificação diária das semelhanças entre um homem e uma mulher que se amam, ajuda mútua para crescerem juntos e a presença do poder de Deus.