Manter as novas gerações engajadas tem sido um grande desafio para todas as denominações. Vivemos numa época em que a igreja é muitas vezes rotulada como superficial e incoerente. Oferecer respostas à cultura do nosso tempo e lidar com a desconfiança em relação às instituições demanda, portanto, novos esforços.

Paralelamente à crescente onda de ateísmo, ­observa-se também o surgimento de novas formas de espiritualidade, caracterizadas por uma religiosidade “desigrejada”. A individualização da fé é uma das expressões do fenômeno dos “sem religião”. A chamada Geração Z, nome dado àqueles que nasceram entre a segunda metade da década de 1990 e 2010, não é necessariamente sinônimo do movimento “sem religião”, mas apresenta anseios e características similares, conforme pontua o pastor Danny Bravo, cuja dissertação de mestrado em Ciências das Religiões, defendida em 2021, analisou o tema. “A Geração Z e o movimento sem religião se encontram a tal ponto que, nos próximos censos, a tendência é que a incidência dos ‘sem religião’ cresça”, ressalta o líder de Desbravadores e Aventureiros da Associação Paulistana.

No último censo, realizado em 2010, eles representavam 8% da população brasileira. De acordo com pesquisas feitas pelo Instituto Datafolha em 2022, os “sem religião” passaram a somar 14% da população no território nacional, superando o número de católicos e evangélicos em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro.

Características

A maioria dos dados de pesquisas geracionais ainda provém de estudos norte-americanos, assim como as classificações utilizadas (Baby Boomers, Geração X, Millennials e Geração Z). Mesmo assim, esses panoramas podem expressar tendências mais globalizadas ou que, mais cedo ou mais tarde, poderão ser percebidas em outros lugares.

Um levantamento feito pelo Centro de Pesquisa sobre a Vida Americana, em agosto de 2023, constatou que ­nenhuma geração relata níveis mais baixos de envolvimento religioso na adolescência do que a Geração Z. A mesma pesquisa também revelou contrastes em termos de relacionamentos ao mostrar que os adolescentes da Geração Z socializam menos do que os das gerações anteriores. Outro indicador que chama atenção é a tendência de os mais novos recorrerem cada vez mais a ­terapias, o que também reflete os desafios enfrentados pelos jovens em relação à saúde emocional no pós-pandemia.

Como, então, transmitir esperança e fé a essa geração? O pastor Cândido Gomes, líder da juventude adventista para o estado de São Paulo, acredita que é fundamental oferecer três elementos: comunidade, verdade e espiritualidade. “Eles esperam encontrar na igreja um ambiente de aceitação, acolhimento e autenticidade, que ofereça experiências de adoração genuínas e conhecimento bíblico sólido”, destaca o autor do Devocional Jovem deste ano.

Estudos como o realizado pelo Grupo Barna em 2023, sob o título “Geração Autêntica”, destacam aspectos semelhantes. Um dos pontos mencionados é a busca dos jovens por lugares em que possam ser ouvidos e amados sem julgamentos. Buscam respostas sinceras às suas perguntas. Além disso, essa geração não tolera incoerências entre palavras e ações, reagindo vigorosamente às contradições na vida daqueles que se apresentam como exemplos. Por outro lado, encontram inspiração em líderes que são transparentes, genuínos e capazes de reconhecer suas próprias vulnerabilidades.

Na verdade, as pesquisas revelam um cenário que apresenta desafios, mas também oportunidades. Um exemplo disso é que, enquanto resistem ao autoritarismo e a abordagens hierárquicas, os jovens de hoje demonstram um espírito colaborativo e estão dispostos a participar ativamente da busca por soluções conjuntas e diálogos abrangentes. Eles também têm acesso a recursos ilimitados que seus antecessores não tinham e desejam impactar o mundo, desde que enxerguem claramente o propósito ou a causa por trás de suas ações. Ao compartilharem uma visão comum, estão determinados a superar quaisquer desafios para alcançar grandes conquistas. Além disso, essa geração demonstra um engajamento muito maior em movimentos sociais, causas ambientais, na defesa de direitos humanos igualitários e questões antirracistas, entre outras.

“As universidades, o mercado de trabalho, o exército, os partidos políticos e até os traficantes visam à força, beleza, criatividade e ao engajamento dos jovens. Eles são o que há de mais precioso na sociedade e, como igreja, também precisamos reconhecer isso”, ressalta o pastor Cândido, ao enfatizar que Deus não apenas tem interesse, mas também planos para a juventude.

Estratégia

Portanto, esses aspectos positivos precisam ser direcionados para a missão maior de fazer discípulos. O Plano Maranata, lançado durante a convenção jovem sul-americana em Brasília (DF), realizada de 29 de maio a 1º de junho, foi criado com esse propósito (veja o infográfico na página 15). A nova estratégia resultou na publicação de um livro, distribuído a cada um dos quase 20 mil jovens inscritos no evento (Maranata [CPB, 2024]). O pastor Stanley Arco, líder da igreja na América do Sul, enfatiza que o livro marca um momento histórico para o Ministério Jovem. “Esperamos que ele revolucione a juventude na igreja local”, ressalta.

Com base em 48 modelos de discipulado implementados ao redor do mundo, entrevistas com jovens sul-americanos e análises de es­tudos geracionais, foi elaborado um plano intencional fundamentado nas Escrituras. Este plano se desenvolverá a partir de quatro áreas do discipulado jovem: Missão (M), Relacionamento (R), Nutrição (N) e Templo (T). Mais do que um slogan, Maranata será, portanto, a visão que guiará o discipulado jovem na América do Sul nos próximos anos.

“Estamos trabalhando para estabelecer uma visão que perdure, para que esta seja a geração que testemunhará o retorno de Jesus”, afirma o pastor Carlos Campitelli, líder de Jovens da igreja na América do Sul. Nesse processo, é crucial que cada igreja se torne um ambiente de apoio, encorajamento e capacitação dos jovens. Por isso, os pastores e líderes, que já trabalham para nutri-los na fé e envolvê-los em programas, projetos missionários e estudos bíblicos, terão um papel fundamental na implementação do Plano Maranata.

“Os pastores são os principais promotores dos relacionamentos intergeracionais, incentivando os mais velhos a se tornarem mentores e exemplos para os jovens, criando uma comunidade na qual todas as gerações crescem juntas”, acrescenta o pastor Herbert Cleber, diretor de bem-estar estudantil na Faculdade Adventista da Amazônia (Faama) e um dos autores do livro.

“Os pastores também podem criar oportunidades de envolvimento em ministérios, na missão e na liderança. Se portas forem abertas, essa geração engajada responderá positivamente”, complementa o pastor Cândido.

Outro passo importante será a colaboração entre todos os ministérios, departamentos e faixas etárias, buscando a construção de uma igreja intergeracional em que haja troca de aprendizado. Para facilitar esse processo, pastores e líderes contarão com ferramentas como o portal MaranataJA.com, que oferece orientações, modelos de implementação, identidade visual e outros recursos necessários para capacitar a liderança e apoiar a execução do MRNT na igreja local.

Além do portal e do livro, que apresentam uma visão detalhada do plano, também existe o Portal do Líder JA (liderja.adventistas.org), no qual os pastores têm acesso ao Programa de Desenvolvimento de Líderes (PDL), que apresenta as 10 competências para a formação de líderes de jovens, além do Manual do Ministério Jovem da Divisão Sul-Americana. Outra ferramenta útil é a Maranata Academy, uma escola de treinamento missionário que oferece capacitações visando ao desenvolvimento de diversas habilidades.

O discipulado é uma missão essencial da igreja. Orientar e inspirar os jovens é fundamental para ajudá-los a desenvolver um relacionamento profundo com Deus, compreender e aplicar os ensinamentos bíblicos no dia a dia e crescer como líderes espirituais. Cada pastor, inclusive, pode escolher alguém para discipular pessoalmente.

“É nossa intenção que os jovens compreendam seu propósito e chamado para o discipulado, a fim de que possam desenvolver os dons e talentos que receberam de Deus e, assim, proclamar a mensagem de que o Senhor está prestes a retornar”, conclui o pastor Campitelli. 

Márcio Tonetti, editor associado da revista Ministério e da Revista Adventista