O século XIX viu surgir dentro dos seus limiares duas tendências humanas que, apesar de atuarem em esferas diferentes, estabeleceram conceitos antagônicos sobre a origem dos seres vivos e da sua finalidade. Uma tinha caráter científico e sugeria que os seres vivos incluindo o homem são o resultado de um processo natural de transformação. A outra possuía caráter espiritual e advertia o mundo com uma mensagem de juízo, da sua destruição mediante a intervenção de Deus que criou os céus, a terra, e o próprio homem.
Sendo que as duas tendências atuaram em campos diferentes, poderia ser causada a impressão de que entre elas não se relacionavam mutuamente, mesmo sendo para aproximá-las ou para definir seu antagonismo. No entanto, o centro vital de cada uma delas reside na aceitação ou não de um Deus todo-poderoso e criador do Universo.
Embora os conceitos sobre a origem natural dos organismos vivos tenham uma antiga procedência, com fracas expressões durante o transcurso da história do pensamento científico, o século XIX marca o afloramento definitivo dessa tendência que estabelece a idéia do surgimento natural das espécies com a chamada “Teoria da Evolução”. Foi nesse mesmo século, embora atuando em outro campo da atividade intelectiva humana, que se ergueu com sólido embasamento profético, a convicção do pronto retorno de Jesus. Forma-se então um movimento que aparece em forma difusa em diferentes lugares do mundo, mas que se torna sólido na América do Norte, com uma mensagem de Juízo e de exaltação à Divindade criadora.
O propósito do presente estudo é verificar o paralelismo histórico do surgimento e desenvolvimento dessas duas tendências do século XIX.
Identificação
Pode-se supor que o estabelecimento do Evolucionismo no século XIX foi o resultado de um processo natural de desenvolvimento embrionário dessa teoria, desde sua gestação em tempos antigos até seu aparecimento à luz, mediante parto espontâneo. O evolucionismo do século XIX não foi o resultado de um processo progressivo e constante de idéias que ao longo dos séculos de história científica lhe teriam dado forma e expressividade.
A teoria evolucionista surgiu no século XIX como o brilho inadvertido de um meteorito; como as ondas sísmicas que repentinamente deixam perceber seus efeitos desastrosos; como a inesperada erupção vulcânica que violentamente derrama sua massa magmática. Destarte, a razão histórica para explicar o surgimento do evolucionismo, é obviamente inadmissível. Por que teve que ser no século XIX?
Na Bíblia, livro Sagrado do Cristianismo, encontra-se registrada uma parábola de Jesus relacionada com o surgimento da falsidade, do erro doutrinário, dos conceitos que negam os atributos divinos e da sua eficácia, num ambiente onde fora plantada e revelada a verdade, a pureza doutrinária e a exaltação dos atributos divinos. É a parábola do Trigo e do Joio (Mat. 13:24-30).
O evolucionismo do século XIX que rejeita o poder criador de Deus, que atribui à Natureza propriedades ilimitadas e que nega a própria intervenção divina nos eventos naturais, não pode menos que representar o Joio, com suas propriedades nocivas e deletérias. Por outro lado, a exaltação do Ser Divino, com Seus atributos criadores e redentores, a observação de instituições que identificam e comemoram o poder criador de Deus, o reconhecimento das leis morais e naturais e sua vigência, como procedentes do Ser Eterno, são as características identificadoras daquilo que constitui o Trigo.
Alguns setores do cristianismo têm assimilado de formas diferentes os postulados evolucionistas, aceitando, através de uma visão racional, as evidências indemonstráveis que sustentam essa teoria. Ainda mais, têm permitido o declínio de sua fidelidade ao Deus todo-poderoso, maculando sua fé com a concepção de que o Criador é menos poderoso que a natureza criada. Essas expressões de fé relativa não podem ser representadas pelo Trigo genuíno da verdade. Dessa maneira a indicação da representação do Trigo vitaliza-dor recai na expressão de fé dos que reconhecem o atributo criador de Deus, conforme é relatado no capítulo primeiro de Gênesis; e ao mesmo tempo manifestam submissão voluntária a Seus preceitos, obedecendo Seus mandamentos que incluem a observância da única instituição comemorativa da criação — o Santo Sábado.
Na atualidade, como instituição religiosa organizada sob princípios éticos alicerçados nas Sagradas Escrituras, e estabelecida sobre uma base doutrinária genuinamente bíblica; a Igreja Adventista do Sétimo Dia é talvez a única comunidade que propaga sua fé criacionista conforme é descrito no livro de Gênesis, e que comemora esse fato observando como sagrado o sétimo dia semanal.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia cum-pre dessa maneira a comissão escatológica prefigurada nas mensagens angélicas do capítulo 14 do livro de Apocalipse, onde é destacado o imperativo: “Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegado a hora do Seu juízo; e adorai Aquele que fez o céu, e a terra,…” (Apoc. 14:7). Essa instituição religiosa teve sua origem no século XIX, mediante a propagação de uma mensagem de Juízo, preparando a Segunda Vinda de Jesus, e de adoração ao Deus criador. Cabe, portanto, à Igreja Adventista do Sétimo Dia a designação de Trigo, no contexto da parábola, pelo seu papel de portador da verdade divina.
Deveria impressionar a mente de todo aquele que procura a inesgotável fonte da verdade, o fato de que no mesmo período, no ocaso da história da humanidade, quando os últimos raios celestiais permitem ainda diferenciar o grão de trigo do joio; se verifique o desenvolvimento do Adventismo e do Evolucionismo, como duas plantas preparadas para a ceifa.
O florescimento dessas duas ideologias num mesmo período cronológico, já seria um fa-to suficiente para inferir uma aplicação da parábola do Trigo e do Joio. No entanto, o sincronismo verificado no desenvolvimento histórico dessas duas tendências, revela ainda mais os valores espirituais e eternos de uma, e materiais e temporais da outra.
Eventos preliminares
A difusão tanto das idéias adventistas como as do evolucionismo do século XIX surgiu de fontes variadas de expressão e em diferentes lugares do mundo. Essas duas ideologias nos seus começos, tiveram vários expositores que prepararam suas trajetórias definitivas, atuando como raízes separadas que convergem para sustentar o tronco de uma árvore frondosa.
Ao raiar o século XIX o adventismo foi propalado em diversos lugares e por instrumentos variados. Talvez a obra que causou maior impacto foi o livro intitulado A Vinda do Messias em Glória e Majestade, do sacerdote jesuíta Manuel Lacunza, editado na Itália em 1801, algum tempo depois da morte do seu autor.1 Essa obra converteu personalidades notáveis das Américas como o general Manuel Belgrano, patriarca da independência argentina, e José Gervásio Artigas, patriarca da independência uruguaia; e da Europa como o bispo de Astorga, Espanha, Dom Felix Torres Amat, quem propiciou a tradução da Bíblia para a língua espanhola.
Na Europa destacaram-se como pregadores do Adventismo, o suíço Jean G. de la Fléchère; os alemães Johann Petri, Johann Richter, Daniel Wilson e Joseph Wolff; o inglês Henry Drumond, que fora professor da Universidade de Oxford e membro do Parlamento Britânico.
Nesse mesmo período, a semente do evolucionismo era depositada por ilustres homens de ciência como Treviranus, que publica na Alemanha em 1802, sua obra sobre Biologia, na qual expõe a idéia de que as formas originais de vida, transformaram-se em organismos mais evoluídos e mais complexos através de um processo gradual de desenvolvimento.2 Na França, Jean Baptiste Pierre Antoine de Monet, Marquês de Lamarck, naturalista de excepcionais condições, publica sua Philosophie Zoologique, onde pela primeira vez aparece exposta a idéia da evolução dos animais, baseada no princípio da adaptação ao meio ambiente.3
Outros eminentes cientistas que no mesmo período difundiram as primeiras idéias sobre a Evolução, foram: Erasmo, na Inglaterra; Manterpuis, na França; Oken, na Suíça; Herder e Goethe, na Alemanha.4 No entanto, o expoente máximo do adventismo, por cuja pregação consolidou-se mais tarde a organização eclesiástica que crê na segunda vinda de Jesus e reconhece a atuação de um Deus criador, foi Guilherme Miller. De igual forma, quem solidificou o conceito da Evolução no século XIX, que rejeita a ação criadora de Deus, foi Charles Darwin. É na obra dessas duas eminentes personalidades do séc. XIX que pode-se apreciar o desenvolvimento progressivo do adventismo criacionista e do evolucionismo ateísta.
Foi no ano de 1816 que Guilherme Miller torna-se consciente do seu estado de pecaminosidade ao mencionar em forma leviana o nome de Deus, um hábito adquirido quando servia no exército.5 Num domingo de outono desse mesmo ano, no mo-mento em que fazia a leitura do sermão no culto dominical, Miller sentiu uma força interior que o impedia de continuar. “Subitamente o caráter de um Salvador ficou gravado profundamente no meu ser”, escreveu mais tarde.6 Aquela experiência marcou o início de uma devoção em busca do criador e da Sua vontade através da oração e a leitura da Palavra, “.. .comparando plenamente a Escritura com a Escritura”.7
Por outro lado, o ano de 1816, registra o início da devoção ao estudo sobre a transformação das espécies, estimulada pela publicação na França do livro Histoire Naturele des Animaux Sans Vertebres, de Lamarck. Nessa obra seu autor sustenta a doutrina de que todas as espécies, incluindo o homem, descenderam de outras já existentes como resultado de uma lei natural e não por um mecanismo miraculoso.
Em 1818 Guilherme Miller conclui pela primeira vez que a vinda de Jesus será em 1833. Mais tarde relatou este fato na sua obra Apology and Defense, com as seguintes frases: “ao final dos meus dois anos de estudo das Escrituras, cheguei à conclusão de que dentro de 25 anos todos os afazeres da nossa vida presente, terão chegado ao seu final.”8 Nesse mesmo ano o ambiente científico conclui pela primeira vez no reconhecimento do princípio da Seleção Natural, após a apresentação dos estudos do Dr. W. C. Wells diante da Real Society de Londres, e publicados no famoso livro Two Essays Upon Dew and Single Vision.9
O crescimento
O ano de 1831 surge como uma eminência sobre a planície histórica onde se desenrola a lide ideológica do adventismo e do evolucionismo. Esse ano constitui-se no marco referencial dos começos propriamente ditos dessas duas tendências.
Pode-se afirmar que 1831 registra o início da pregação adventista quando Guilherme Miller, persuadido por 15 anos de estudo das profecias bíblicas, sente o impulso de dar a conhecer suas conclusões.10
Por semanas, meses ou talvez anos, a comissão sagrada: “vai e dize-o ao mundo”, havia impressionado profundamente seu coração. Uma e outra vez havia respondido “não posso ir, Senhor”11. Finalmente resolveu fazer um pacto com Deus. Escreveu ele mais tarde: “…estabelecí um solene pacto com Deus, que se Ele abrisse o caminho, eu iria e cumpriría a minha obrigação para com o mundo, … se recebesse um convite para falar publicamente em algum lugar, eu iria e falaria o que encontrei na Biblia”.12
Menos de uma hora mais tarde, o jovem Irving Guilford chegou até a residência de Miller, procedente da localidade de Dresden, trazendo consigo um convite para que pregasse na sua igreja no dia seguinte. Era precisamente um sábado de manhã. Guilherme Miller nessas circunstâncias saiu em direção ao bosque para orar. Sentia-se atônito pelo convite recebido, desejando ficar livre do compromisso assumido perante Deus. Ao final dessa agonia decidiu cumprir com a vontade divina de pregar a mensagem do ad-vento de Jesus.13 Assim, no segundo domingo de 1831, ele proferiu seu primeiro sermão sobre a Segunda Vinda de Jesus. Ao final do serviço, ele foi convidado a prosseguir com suas mensagens durante os seguintes dias da semana.14
O ano de 1831, também registra a colocação dos alicerces sobre os quais foi erigido o edifício da teoria evolucionista. Foi em agosto desse ano, precisamente no mesmo mês, quando Miller recebera o convite para pregar pela primeira vez a mensagem sobre a vinda de Jesus, quando Charles Darwin participa de uma excursão científica de observação de formações geológicas acompanhando seu amigo Sedgwick, na região de Wales. Durante os trabalhos, Darwin ficou extasiado ao descobrir nas camadas geológicas daquela região central da Inglaterra, uma concha espiralada, comum nas regiões tropicais.15 Então, sua mente começou a elaborar conjeturas referentes à possibilidade de transformação das estruturas anatômicas dos seres vivos, para se adaptarem ao meio em que vivem.
Charles Darwin concebeu que a possibilidade de transformação dos seres vivos, teria sido um fato real no passado. Para confirmar essa suposição, seria necessário obter dados precisos de várias espécies. Darwin decide então, ouvindo o conselho do seu amigo A. S. Henslow, professor de Botânica na Universidade de Cambridge, participar como naturalista da viagem de observação científica que realizaria o navio H. M. S. Beagle, pelos mares do sul. Assim começou esse ano de 1831, a série de fatos que, segundo Darwin, “somente poderiam ser explicados sobre a base de que as espécies modificaram-se gradualmente”16.
O ano de 1832 registra o aparecimento de dois importantes trabalhos literários que impuseram grande influência no raio de ação tanto do adventismo como do evolucionismo.
Em maio de 1832 é publicado o primeiro de uma série de 16 artigos de Guilherme Miller relacionados com o final catastrófico do mundo.17 Os artigos apareceram no jornal batista de pequena circulação, The Vermont Telegraph. Aquele mesmo ano, Charles Lyell publica sua obra Principies of Geology, na qual estabelece o princípio do Atualismo em oposição à teoria catastrofista.18
Segundo as idéias de Lyell, universalmente aceitas ainda na atualidade, as camadas geológicas tiveram uma formação uniforme e regular ao longo de imensos períodos de tempo, sem que tivessem ocorrido mecanismos catastróficos.19 Lyell certamente adotou as idéias de William Smith, quem admitia que toda formação geológica, não importa onde se apresente, deve mostrar a mesma seqüência de camadas e os mesmos tipos de fósseis. As posições de Lyell foram conhecidas como princípio do Uniformismo.
O ano de 1836 foi um período de intensas atividades na vida de Guilherme Miller. Embora freqüentemente requerido para pregar, ele é solicitado para que o conteúdo das suas mensagens sejam condensadas num único livro. O resultado foi uma edição ampliada de Evidences From Scripture and History of the Second Coming of Christ About the Year A.D. 1843 and His Personal Reign of 1.000 Years10.
Naquele mesmo ano, voltando da travessia de 5 anos a bordo do navio H. M. S. Beagle, Charles Darwin, dedica-se a escrever o resultado das suas observações, iniciando dessa maneira uma frutífera produção literária científica que dará estrutura à teoria do evolucionismo. Suas primeiras conclusões foram publicadas com o título Narrative of the Surveying Voyages of Her Magesty Ships “Adventure” and Beagle Between the Years 1826 and 183611.
O ano de 1842 registra uma fase de desânimo na vida dos dois líderes dessas ideologias, pelo excessivo desgaste que demanda conduzir tão singulares empreendimentos. Não demonstram carência de fé nas suas convicções, nem temem pelos resultados que poderiam ser adversos. Não se vislumbra uma faísca de renúncia, nem redução das cargas que sobrelevam. O desânimo, provavelmente, foi o produto de não poder ser e fazer mais do que suas humanas limitações lhes permitiam.
Foi naquelas circunstâncias que Charles W. Steward, chefe dos correios em Morristown, Vermont, dirigiu uma carta a Guilherme Miller, na qual expressava: “… a mente das pessoas está poderosamente dirigida em V. S., e existe a impressão na mente de muitos de que algum grande evento poderá ocorrer… Muitos aguardam profundamente sua visita, enquanto outros manifestam grande desconfiança em que isso aconteça”22.
Aquelas palavras foram para Miller co-mo gotas revitalizadoras sobre plantas em crescimento, como os raios do ocaso que se refletem no firmamento permitindo a extensão do dia, como a fonte de energias adicionais para prosseguir com a sua tarefa.
Naquele mesmo ano de 1842, Charles Darwin, afligido pela carga do trabalho em que está empenhado, embora reduzido até os extremos o interesse daquilo que não está relacionado com suas idéias sobre a origem das espécies, sofre de mal-estares físicos que o conduzem à prostração. Necessita de energias extra-físicas para prosseguir. Assim, em resposta a um conselho recebido, decide mudar-se para Down, cujo ambiente natural favorece sua recuperação, e propicia-lhe condições para continuar. Foi assim que naquele mesmo ano, publica The Structures and Dis-tribution of Coral Reefs, cujo conteúdo apresentava a primeira parte da geologia estudada durante a viagem do “Beagle”.
O amadurecimento
O paralelismo histórico encontrado no desenvolvimento e expansão do adventismo e do evolucionismo, atinge sua definição plena num período quando o conteúdo de ambas ideologias deve ser submetido à prova da aceitação por parte dos seus seguidores.
O ano de 1844 é um período onde a pregação do adventismo chega a sua fase mais crítica, pois seu caráter ideológico e sua estrutura profética não precisam de outros ele-mentos para definir seus propósitos. O Adventismo alcançou a sua maturidade com a aceitação do sábado comemorativo da criação e a extrema prova de fé na segunda vinda de Jesus, que aconteceria naquele ano.
O Evolucionismo chega também a sua maturidade em 1844, quando eminentes homens de ciência e importantes centros acadêmicos definem sua posição em favor das idéias de Darwin.
O ano de 1844, como outra data relevante no paralelismo histórico das duas ideologias, registra o brilho da primeira estrela sabática que precedería à luminosidade da imensa plêiade de ministros adventistas guardadores do sábado. Essa primeira luz tênue foi Frederick Wheeler, que, após ouvir uma advertência de Rachel Oakes Preston sobre a obediência aos Mandamentos de Deus, dedicou vários dias meditando e estudando até que, convicto da validade do preceito, guardou seu primeiro sábado pregando um sermão alusivo a essa verdade. Era um sábado de março de 1844.”
Naquele mesmo ano na Inglaterra, Robert Chambers, reforçando as idéias de Charles Darwin, publica Vestiges of the Natural History of Creation, na qual sustenta que a criação consiste num código de leis através das quais as espécies surgiram sem intervenção divina.24
Em 1844, enquanto a verdade do sábado pretendia exaltar o poder criador de Deus, surgiu uma obra anônima sob o título de Vestigies of Creation, objetivando ofuscar a verdade criacionista. Segundo o autor dessa obra a transformação das espécies desde as formas mais simples às mais complexas, é o resultado de dois fatores: primeiro, de um impulso natural que permite sua elevação a um nível superior de organização; e segundo, de uma força vital que possibilita a transformação dos seres vivos segundo as necessidades do meio ambiente.25 Uma característica mais evidente do amadurecimento do evolucionismo, em 1844, foi dada pela publicação da obra de C. Darwin Geological Observations on the Volcanic Istands Visited During the Voyage of H.M.S. ‘‘Beagle” 26.
No mês de agosto de 1844 os Adventistas realizaram uma reunião campal em Exeter, New Hampshire, onde famílias inteiras chegaram de todas as regiões de New England estimuladas pela notícia antecipada de que “grandes coisas” seriam reveladas em Exeter.27 A reunião confirmou o dia do aparecimento de Jesus em 22 de outubro. No entanto, o evento não aconteceu e o adventismo foi seriamente atingido nos seus propósitos sagrados. Os dias que seguiram a esse desapontamento revelaram que só um remanescente fiel e obediente aos desígnios divinos permanecera como demonstração de fé madura. O trigo não poderia, naquelas circunstâncias, ser cortado, pois cabia-lhe desempenhar o papel único de portador da verdade diante do joio que adquiria aspecto de robusta maturidade.
Em 1846, Joseph Bates publica um panfleto de quarenta e oito páginas intitulado The Seventh Day Sabbath a Perpetuai Sign, o qual proporcionou um poderoso instrumento para propagação do sábado como instituição comemorativa da criação. O evolucionismo, em contrapartida, pretendia atingir à fé na doutrina criacionista, desviando da mente dos homens as evidências desse fato. A teoria que já fizera incursão nos centros acadêmicos, desfraldava naquele ano a bandeira do ceticismo com a obra do veterano geólogo M. J. Omalius d’Halloy, editado em Bulletins de l’Academie Royale, Bruxelles, na qual sustenta a opinião de que é mais provável que novas espécies tenham sido produzidas por descendência com modificações, do que tenham sido criadas em separado.28
Nos anos seguintes, os ensaios científicos publicados por C. Darwin sobre a Teoria da Evolução, brotam com espontaneidade. o célebre naturalista britânico deu especial ênfase às questões relativas à distribuição geográfica, à variação dos animais e plantas silvestres e domésticos, à herança e variação e à morfologia e desenvolvimento. Darwin foi a peça principal que outorgou categoria e autoridade científica à idéia da Evolução com seu trabalho máximo: The Origin of Species by Means of Natural Selection publicada em 1859, precisamente no ano quando o adventismo dava os passos definitivos na organização da Igreja Adventista.
No verão de 1859, o Pastor Tiago White propôs a antecipação da reunião anual dos adventistas, visando à organização definitiva dessa comunidade eclesiástica. Após efetuarem os preparativos necessários para a celebração dessa reunião e definirem as razões que deveriam ser expressadas na denominação da Igreja, aquela assembléia finalmente determinou a sua organização, definindo seu nome como: Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Certamente mais dados serão encontrados através de estudo acurado sobre o desenvolvimento do Adventismo Criacionista e do Evolucionismo Ateísta para demonstrar seu sincronismo. Em atitude de ceticismo pode-se qualificar até de simples coincidência casual. Porém a casualidade, sendo um fato não pré-determinado, só pode ser explicado como eventos que adquirem realidade sob o comando de Deus. Destarte, é possível inferir a proposição profética-escatológica da parábola do Trigo e o Joio. A Igreja Adventista do Sétimo Dia, surgida no Séc. XIX, é o trigo plantado por Deus num período por Ele determinado; o Seu inimigo plantou no mesmo período o joio, representado pelo evolucionismo.
O tempo da ceifa se aproxima. O joio será cortado e queimado, mas o trigo permanecerá pra vitalizar as nações.
Referências
- 1. Victor E. Ampuero Matta. Esta Era Maravilhosa y Nuestro Destino. Ass. Casa Ed. Sudamericana, Bs. As. 1964, pág. 76.
- 2. A. D. White. Histoire de la Lute Entre la Science et la Theologie, Guillaumin et Co. Paris, 1899, pág. 47.
- 3. ESPASA-CALPE, Enciclopédia Universal Ilustrada Europeo-Americana. Barcelona, 1924, vol. 29, vb. Lamarck, pág. 366.
- 4. A. D. White, Op. Cit., pág. 47.
- 5. Francis Nichol. The Midnight Cry, Review and Herald Pub. Ass. 1964, pág. 29.
- 6. Matilda Erickson Andress. Story of the Advent Message, Review and Herald Pub. Ass. 1926, pág. 12.
- 7. F. Nichol. Op. Cit. pág. 33.
- 8. Ibid., pág. 35.
- 9. Charles Darwin. Origin of Species, col. Great Books of the Western World, vol. 49, pág. 12.
- 10. Artur W. Spalding. Origin and History of Seventh-day Adventists, Review and Herald Pub. Ass., vol. 1, pág. 20.
- 11: M. E. Andress. Op. Cit., pág. 9.
- 12. F. Nichol, Op. Cit., pág. 43.
- 13. James Joiner. These Were the Courageous, Southern Publishing Association Nashville, Tennessee, 1968, pág. 12.
- 14. Emma Howell. The Great Advent-Movement, Review and Herald Pub. Ass. 1957, pág. 14.
- 15. Neal G. Gillespie. Charles Darwin and the Problem of Creation, The University of Chicago Press, 1979, pág. 42.
- 16. R. Maynard Hutchins. ed. Great Books of the Western World, vol. 49, Darwin, pág. 5.
- 17. J. N. Loughborough. Rise and Progress of the Seven Day Adventists, General Conference Ass. of the S. D. A. , Battle Creek, Mich., 1892, pág. 15.
- 18. W. F. Bynum e outros. Diccionario de la Historia de la Ciencia. Barcelona, ed. Harder, 1986, vb. Evolution, pág. 212. J. Huxley, em O Processo Evolutivo, citado por Gioconda Mussolini em Evolução, Raça e Cultura, Companhia Editora Nal., edit. da USP, 1969, pág. 24.
- 19. A. E. Wilder-Smith. Man’s Origin, Man’s Destiny, Bethany House Publishers, Min, Minesota, 1975, pág. 48.
- 20. Leroy E. Froom. The Prophetic Faith of Our Fathers, Review and Herald Pub. Ass., vol. 4, pág. 507.
- 21. C. Darwin, Op. Cit., pág. 13.
- 22. F. Nichol, Op. Cit., pág. 103. Manuscript Letter, fev. 21, 1842.
- 23. Everett N. Dick. “The Millerite Moviment 1830-1845” in Adventism in America, A History, ed. Garyland William B. Eerdmans Pub. Co. Grand Rapids, Mich. 1986, pág. 32.
- 24. N. E. Gillespie, Op. Cit., pág. 25.
- 25. C. Darwin, Op. Cit., pág. 15.
- 26. R. Maynard Hutchins, Op. Cit., vol. 1, pág. 92.
- 27. A. W. Apalding, Op. Cit., vol. 1, pág. 92.
- 28. C. Darwin, Op. Cit., pág. 15.