CARLYLE B. HAYNES

(Takoma Park, Maryland, EE. UU.)

ESTUDAMOS o assunto do chamado divino que comissiona os homens para a tarefa especial de embaixadores do Rei dos reis, sem cujo chamado nenhum homem deve sair a pregar. Consideremos, agora, o motivo de Deus chamar os homens para o ministério, o propósito para que são comissionados e consagrados, e a tarefa principal em que suas energias devem ser empregadas.

Vejamos primeiramente as palavras da comissão evangélica. Rezam elas, como as encontramos registadas por S. Marcos: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a tôda a criatura” (S. Mar. 16: 15). A isto acrescenta Mateus a obra de ensinar os conversos a “guardar tôdas as coisas que Eu vos tenho mandado” seguidas do batismo no caso de crerem (28:20). Diz Lucas: “Em Seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em tôdas as nações, começando por Jerusalém” (24:47).

Na busca dos objetivos definidos do ministério cristão, acrescentarei a êstes passos mais os seguintes: “Dos gentios, a quem agora te envio para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus: a fim de que recebam a remissão dos pecados, e sorte entre os santificados pela fé em Mim” (Atos 26:17 e 18). “E êle mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastôres e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Efés. 4:11-13). “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo e pôs em nós a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus” (II Cor. 5:18-20).

Assim como um colecionador de pedras preciosas abre seu cofre e examina detidamente uma após outra as pedras, examinemos nestes passos as declarações que apresentam o que aos ministros de Deus é encarregado que façam — os grandes objetivos do ministério cristão.

Devem êles ir a todo o mundo e pregar o evangelho. Seus conversos devem ser ensinados a observar tôdas as coisas que Cristo haja ordenado. Isto é, devem êles ser cabalmente instruídos e completamente doutrinados. O arrependimento e a remissão dos pecados devem ser pregados no nome de Cristo entre as nações. Os ministros cristãos são enviados para abrir os olhos dos homens, para voltarem-se das trevas para a luz, e do poder de Satanás para o poder de Deus, para que os pecadores recebam o perdão dos pecados, e, afinal, participem da herança dos salvos. Pelo trabalho do ministério os santos são aperfeiçoados, o corpo de Cristo é edificado; e isto deve ser prosseguido até que todos cheguemos à unidade da fé, ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura de Cristo. O ministério da reconciliação foi confiado aos embaixadores de Deus, a fim de que, como representantes de Cristo, apelem a todos os homens para que se reconciliem com Deus.

Por mais que imaginemos, não podemos conceber modificação maior nem mais sublime do que a que o ministério cristão está destinado a produzir. Sua missão é uma modificação profunda e radical nas relações dos homens para com Deus. Para realizar isto tem que haver primeiramente uma modificação completa de caráter e vida individuais.

Um Instrumento Simples

Para a realização destas modificações estupendas que ao ministério cristão está destinado produzir, Deus supriu Seus embaixadores de um instrumento que Êle pretende que sempre usem, e nunca o abandonem em troca de outro substituto, por mais atraente e eficaz que pareça. Êsse instrumento, porém, que é o instrumento principal para a realização do grande propósito do ministério, é tão simples, e aparentemente tão fútil, que existe a tentação constante de buscar outros instrumentos, de desvio da maneira de Deus fazer a Sua obra, e a adoção de métodos humanos e de meios de feitura humana.

O instrumento principal fornecido pelo próprio Senhor ao Seu ministério para a realização do grande objetivo do evangelho e das transformações por êle operadas, não é senão — a Palavra. Tem o ministro que entrar em contato com os homens, homens perdidos que precisam da salvação, por meio da verdade falada, e a fonte da verdade que deve transmitir é a Palavra de Deus.

O que o Mestre confiou aos Seus embaixadores é “a palavra da reconciliação” (II Cor. 5:19). Tal como o semeador, o ministro “semeia a palavra” (S. Mar. 4:14). Como pregador, prega “a palavra” (II Tim. 4:2). A palavra que prega é a “palavra da . . . salvação” (Atos 13:26). Esta Palavra é a precursora da fé, bem como de tôdas as demais graças salvadoras. “A fé vem pelo ouvir, e o ouvir da Palavra de Deus” (Rom. 10:17). Assim, o ministro cristão não somente é um homem de Deus, mas é um homem enviado por Deus, enviado por Deus para falar por Deus o que Deus lhe dá para falar, para proclamar a mensagem de Deus, uma mensagem contida num livro, e êsse Livro é a Palavra de Deus.

Assim, o grande instrumento do trabalho do ministro é tão somente a Palavra de Deus. Consideremos isso. Uma “palavra”! Apenas uma “palavra”! Como parece fútil, fraco, débil! No entanto, quão poderoso! As palavras sempre têm exercido enorme influência e poder na História. “Onde existe a palavra de um rei, há poder”.

E a palavra de Deus é o maior dos poderes do universo. Foi pela palavra que o universo foi criado. Em tôda a Bíblia a palavra do Senhor se destaca como a maior fôrça do mundo. Em todo o tempo, Sua palavra por meio de Seus servos, tem sido o único supremo poder a controlar os homens. “A Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Heb. 4:12).

O Instrumento Supremo

Tudo quanto o ministro tem que fazer entre os homens, centraliza-se na pregação da Palavra. Esta é a sua ocupação principal. Para isso é êle chamado, e escolhido, e enviado, e comissionado, e instruído, e equipado. Deve ser-lhe, sempre, a principal e mais importante de tôdas as transações e esforços humanos. O seu esfôrço de tôda a vida deve ser uma melhor, mais convincente mais eficaz pregação da Palavra.

Não importa que outros meios empregue a igreja para realizar os grandes desígnios de Deus, além das instituições e organizações, e da multidão de campanhas e esforços, e fundos, e alvos, que possam auxiliar a grande missão, sempre é verdade que a pregação é o instrumento supremo para a regeneração dos homens.

O fundador da igreja escolheu homens, instruiu-os, e enviou-os para serem pregadores. Tudo quanto lhes disse acêrca de seu trabalho se centraliza na pregação da Palavra. Nenhum trabalho no mundo nem mesmo pode, por um momento fugaz, ser comparado em importância, em beleza, em perícia, nos resultados e nas satisfações permanentes, com a pregação do evangelho, assumindo o lugar de Cristo, falando a verdade de Cristo, revestido do espírito de Cristo, ensinando e persuadindo os homens a se reconciliarem com Deus.

Existe hoje perigo real na tendência para negligenciar a pregação. Muitas coisas cooperam para desprezá-la. Uma multiplicidade de atividades e esforços e campanhas exige tempo, atenção e energia. Mais fácil é planejar um entretenimento do que forjar um sermão. Mais fácil é administrar uma organização ou um programa do que preparar um grande discurso. Mais fácil é acionar uma complicada maquinaria humana do que transmitir uma mensagem divina.

Aos nossos ministros, quer estejam em serviço no campo ou em trabalho departamental, em trabalho administrativo ou de instituições, aos nossos estudantes ou aspirantes ao ministério apelo para que dêm atenção especial à pregação. Fazei dela a feitura e o motivo principais de vosso trabalho. Ponde mais empenho na pregação do que em outra coisa. Dai à pregação o melhor que possuis.

Infelizmente, tem havido entre os ministros quem acha difícil crer que êsses tremendos resultados possam ser alcançados com o instrumento simples com que o soldado de Cristo tem sido enviado para en-frentar o Golias que desafia as hostes do Deus vivo. Através de tôda a História, a sabedoria do mundo inclina-se a desprezar a funda e a pedra, e está preparada para aconselhar o abandono dos atavios simples do pastor, em troca das mais complicadas, aparatosas, imponentes e aparentemente mais eficazes armaduras e armas.

A Palavra Descolocada

Bem cedo na história da igreja a Palavra perdeu a sua situação de preeminência, e a pregação cedeu lugar a uma multidão de ritos e cerimônias, paramentos e mitras, liturgias e formas, desfiles e procissões — destinados, todos, a atrair os olhares, a impressionar a mente, a despertar emoções, e fazer do padre e da igreja o centro da religião. O mundo afundou na insignificância perante êsses novos meios empregados para produzirem e aprofundarem impressões espirituais. Teve o ministro que tornar-se mais do que um servo, mais do que um arauto, mais do que um pregador — teve que tornar-se um sacerdote, membro de uma casta sagrada, possuidor, dentre outras faculdades místicas, do poder de perdoar o pecado e de dispensar graça, e do ainda mais espantoso poder de criar, de um pedaço de pão, o Salvador do mundo e oferecer Seu verdadeiro corpo e sangue como sacrifício pelos vivos e pelos mortos.

Os cultos da religião foram transformados em magnificentes espetáculos e ritos, destinados a produzir um impacto nos sentidos, e estilizados de maneira tal que intimidassem a alma. O trabalho principal do ministro, em lugar de pregar a Palavra, ficou sendo a realização dêsses ritos. Quanto mais completo fêz êle o seu ritual, e mais solenes e impressionantes as cerimônias, maior se lhe tornou o êxito.

A Reforma Protestante varreu grande parte dessas formas de culto falsas e espúrias, e buscou tornar central, uma vez mais, nos cultos da igreja, a Palavra. Teve êxito nisso, apenas parcialmente. Há em nossas igrejas grande número, não sòmente desnecessários mas positivamente prejudiciais, de Substituintes da simples Palavra do evangelho.

Ao chegar o tempo de a mensagem final do evangelho atingir o mundo todo, com base, como tem, na simples palavra do Deus vivo, chegou, também, o tempo do abandono total de todo substituto da arma simples que Deus deu aos ministros para usarem, e para a restauração da centralidade, em tôda a pregação, da Palavra viva e vivificante.

O ministro cristão hoje em dia, não mais é um ministro de ritos e cerimônias, de luzes e litanias, ministro de desfiles e procissões, de exibições e encenações, ministro de exibições espetaculares e demonstrações teatrais; não é ministro de filmes nem de auxílios visuais. Como foi no princípio, assim é agora, ou deve ser, categórica e exclusivamente, um ministério “da Palavra” (S. Luc. 1:2). “Cristo enviou-me,” disse Paulo “não para batizar, mas para evangelizar” (I Cor. 1:17). O batismo estava subordinado à pregação, e não esta àquele.

Em artigo anterior apresentei o assunto da propriedade de ordenar qualquer homem que não fôsse chamado de Deus para pregar em público a Pa-lavra de Deus. Analisemos agora outro assunto: Estamos nós em perigo de, em nossa apresentação pública da mensagem para os últimos dias, desviar a Palavra de Deus de seu lugar de centralidade na pregação, quer no púlpito da igreja ou na plataforma evangélica, quer no rádio ou na televisão, e substituir por várias formas de entretenimento, inclusive a representação de coisas irreais: peças dramáticas e dramatização de acontecimentos que são pura simulação, com a intenção de ressaltar um ponto ou uma lição que a simples Bíblia, destramente apresentada impressiona com eficácia mil vêzes maior; chapas luminosas e filmes que em sua maior parte não têm correlação alguma e só servem para distrair a atenção do assunto apresentado, e outros procedimentos semelhantes destinados a adornar e a modernizar a pregação da verdade?

Se os ministros de Deus hoje em dia não têm senão um instrumento adequado com que realizar o trabalho que Deus lhes mandou fazerem, então que suprema importância há em que nos tornemos peritos no uso dêsse único instrumento! Se “a Palavra” — a verdade divina falada — é realmente o instrumento principal de nosso ministério, torna-se evidentemente um assunto de transcendental importância que cada homem que usa êsse instrumento seja supremamente destro no seu uso.